quarta-feira, 17 de junho de 2009

Capítulo 34: Não deixe de sorrir Anne Marrie

Lourdes e Piedra estavam sentadas no sofá enquanto Ralf andava de um lado para o outro dentro do escritório da casa dos Schreisen.

_Fala logo cariño mio! _Pediu Lourdes curiosa. _Eu ainda tenho que adiantar muitas coisas para a ceia pra daqui a pouco.

_Calma mãe, deve ser uma coisa séria, não dá pra ver no rosto dele? Depois tu decide sobre a ceia, mas agora se concentre aqui, parece importante. _Disse Piedra.

_Obrigado filha. _Disse Ralf. _É bem sério o que eu tenho pra contar.

_Nossa! Agora que eu percebi a seriedade. _Disse Lourdes. _Pode dizer meu bem.

_Esta bem. É bem sério isso que eu tenho a dizer. _Começou Ralf se sentando na cadeira atrás da mesinha. _Eu tenho pensado em como contar pras duas, em como dizer isso sem machucar, sem ferir, mas é bem difícil pensar nisso, em como usar as palavras certas. O trabalho esteve incumbido todo este tempo de me distrair, de tirar da minha cabeça os pensamentos ruins. Mas essa bomba está armada muito tempo, e uma hora ou outra ela iria explodir. E ela já explodiu. Antes que isso chegasse a vocês de outra forma, ou por outra pessoa, o que provavelmente aconteceria, eu resolvi eu mesmo contar o que estava acontecendo.

Ralf abaixou a cabeça nas mãos e lentamente arrastou ela até a nuca, visivelmente derrotado.

_Pai, fica tranqüilo, a gente esta aqui pra isso, pra te apoiar em qualquer coisa. _Disse Piedra.

_O que for, terá nosso apoio. _Disse Lourdes sentada de frente a Ralf, no sofá ao lado de Piedra.

_Creio que isso não vá acontecer. _Disse Ralf.

_Pode dizer. _Disse Piedra recebendo o apoio da mãe.

_Não consigo mais guardar esse segredo, vou dizer de uma vez, e eu que agüente as conseqüências. _Disse Ralf.

_Bá! Que diga de uma vez, esse segredo, estou ficando angustiada já. Curiosa. _Disse Piedra.

_Piedra! _Repreendeu Lourdes.

Os olhos de Ralf dançavam ao olhar para Piedra e em seguida para Lourdes, como se esperasse alguma coisa delas, ou aguardasse dele mesmo a coragem de dizer, de achar as palavras certas, para revelar tão misterioso segredo.

_Vamos lá, eu não agüento mais guardar isso. _Disse Ralf olhando para as mãos repousadas em cima do móvel. _Eu tenho outra família.

Juliana entrou séria pela sala e Anne era só sorriso. A garota não poderia estar mais feliz por receber a amiga para as festas de final de ano. Juliana educadamente cumprimentou os familiares de Anne e pediu baixinho que as duas fossem conversar em outro cômodo mais reservado, muito distraída e eufórica Anne não percebeu a angustia na voz e na expressão de Juliana, na força que fazia para sorrir, para tentar esconder seu nervosismo. Na biblioteca vários livros e estantes ladeavam o cômodo, móveis antigos, rústicos completavam o ambiente. Sentadas nas cadeiras de uma mesa de leitura posta ao canto direito da biblioteca para leitura, Juliana se concentrou e começou:

_Anne, eu não vim aqui hoje para nenhuma ceia, não estou para festa hoje. Eu vim aqui pra lhe deixar isso.

Juliana retirou da bolsa um envelope amarrotado dobrado ao meio e passou para as mãos de Anne.

_O que é? Presente? _Perguntou Anne empolgada.

_Não é presente Anne, preste atenção! _Pediu Juliana. _Ai dentro estão as resposta que tu sempre quis saber e ninguém nunca lhe respondeu, tem coisas minhas e informações que eu consegui depois de umas pesquisas que eu fiz. É importante pra você, eu sei, mas como amiga eu gostaria de pedir outro favor. Não abra esse envelope antes de amanhã.

_Mas amanhã é natal. _Disse Anne.

_Esquece isso. _Disse Juliana. _Eu só quero que você espere mais um dia para abrir esse envelope. Eu quero que você se divirta essa noite, se permita ser feliz hoje. Aproveite cada segundo com todo mundo que tu ama, não deixe de sorrir Anne Marrie.

_Obrigada Ju. _Agradeceu Anne com um sorriso. _Mas o que tem haver o envelope com o meu sorriso.

_É que provavelmente ele vai sumir depois que o envelope for aberto. _Disse Juliana.

_Agora eu fiquei curiosa. _Disse Anne sorrindo e olhando para o envelope.

_Não! Não abra agora. Prometa pra mim que não vai abrir hoje. _Disse Juliana.

_Prometo Ju, claro que prometo. _Disse Anne. _Mas é que eu fiquei curiosa. Eu não vou sorrir mais? O que tem aqui dentro?

_Eu não posso dizer. _Juliana espremeu os olhos deixando uma fina lágrima riscar seu rosto forte. _Eu não quero dizer, não quero estragar tua noite, não tenho esse direito. Já lhe causei tanto mal, não quero ser responsável por isso também.

_Juliana, o que está acontecendo? Você está me deixando preocupada. _Disse Anne. _Eu acho que tem haver com essa carta.

_Não. Essa carta só representa minha covardia. _Disse Juliana chorando. _Mas você prometeu.

_Juliana, eu não vou abrir se é isso que você quer. _Disse Anne abraçando a amiga.

Juliana afastou os braços da amiga.

_Não me abrace Anne. Não posso me sentir mais suja. _Disse Juliana correndo água pelo olho.

_Está bem. _Disse Anne.

Juliana olhou para Anne e voltou a soltar mais lágrimas. Tão rápido quanto começou o choro mais rápido ela saiu da biblioteca enxugando as lágrimas. Anne olhou para o envelope, olhou para a porta por onde Juliana havia acabado de passar aos prantos e sorriu. Por mais que estivesse curiosa e que toda aquela conversa fosse intrigante, ou seja, motivo o bastante para o envelope ser aberto, Anne se recusou a abri-lo. Promessa feita é promessa cumprida, Anne não iria ser contrária ao que havia prometido, se o envelope só deveria ser aberto no dia seguinte, ele então só iria ser aberto no dia seguinte. A curiosidade mataria qualquer um por dentro e talvez manter essa promessa não fosse possível, mas Anne Marrie era diferente, ela apagou aquela conversa de sua memória, e fingiu que aquele envelope nem existia. Sorrindo da aparente sanidade que foi aquilo tudo, ela guardou o envelope em uma das gavetas de uma estante escura e voltou para sala feliz e cantante, como estava antes da amiga interromper sua véspera de natal.

Ralf disse isso de cabeça baixa, enquanto Piedra e Lourdes estavam com as cabeças bem erguidas.

_O quê? _Perguntou Piedra.

Lourdes permaneceu calada.

_Piedra não me faça repetir, é humilhante. _Disse Ralf. _Eu tenho outra família. Além da tua mãe e de tu eu tenho outros filhos e outra esposa.

Piedra entendeu então, ao ouvir as palavras novamente.

_Como assim outra esposa? _Disse Piedra com lágrimas nos olhos. _Como assim outra família?

_Piedra! _Disse Ralf.

_É que eu não entendi direito pai, o senhor está dizendo que tem outra família, outros filhos, outra esposa, então eu acho que não entendi direito. _Disse Piedra deixando uma lágrima correr.

Lourdes permanecia parada tentando não mostrar nenhuma reação, mas seus olhos a traiam.

_É isso mesmo que tu entendeu. Agora não me faça repetir outra vez, por favor. _Disse Ralf emocionado.

_Mas se for verdade, não custa contar não é. _Disse Piedra. _Ou tu espera que eu aceite isso sorrindo, sem perguntas, sem respostas? Só é porque é.

_Eu só não quero sofrer mais com essa história. _Disse Ralf.

_Tu que está sofrendo com essa história, tem certeza? _Perguntou Piedra aos prantos ao perceber que a mãe também chorava.

_Não quero parecer egoísta, mas para mim não é nada confortável ver minha filha e minha mulher sofrerem desse jeito. _Disse Ralf.

_Qual delas. _Disse Piedra chorando.

Lourdes se levantou emocionada e se pos para fora da sala. Piedra a seguiu desaparecendo pela porta atrás da mãe.

Ralf repetiu o gesto e escorregou a mão da testa à nuca várias vezes.

Tudo pronto? Que comecem as celebrações. Anne recebeu Rafael na porta da sua casa e o garoto se juntou aos DeVille para ceia. João ia animado à casa de Piedra. Patrícia se arrumava em seu quarto, ela colocava um vestido vermelho, feliz por passar aquela noite como fazia antigamente, com sua família. Olivier estava em seu quarto mostrando à Juca os presentes que ganhara e lá mesmo presenteou o namorado. Piedra estava com a mãe arrumando as malas para sair do país a tempo, as duas precisavam se afastar. Essa história iria repercutira rapidamente pelo condomínio e breve por todo estado. Para fugir do furor do escândalo Lourdes decidiu partir o mais rápido possível do país e somente voltar quando tudo estivesse resolvido.

_Mãe, pra onde nós vamos? _Perguntou Piedra.

_A cualquier lugar Piedra. _Disse Lourdes em espanhol, como fazia quando estava nervosa. _No sólo quiere ver a todos en la calle. Tu padre nos traicionó, como lo había valentía de decir que se siente mal, y como somos?

_Mãe se acalme. _Pediu Piedra preocupada com a mãe. _Não podemos sair assim, sem conversarmos direito, eu quero ouvir dele, eu quero ouvir ele se explicando, quero que ele se humilhe.

_¿Qué es lo que desea escuchar a mi hija? ¿Quieres escuchar tu papá diciendo cuánto le gusta la otra mujer, ¿Cuánto estuvo presente en la vida de los otros niños mientras usted estaba esperando para él aquí? No quiero oír nada más de ella. Voy, mi cabeza fría. _Disse Lourdes juntando todas as roupas nas malas.

_Pra onde nós vamos? Por quanto tempo mãe? _Perguntou Piedra chorando.

_Vamos a la Argentina o en cualquier otro lugar que me sentí en casa, aceptada, con el apoyo emocional. Yo no apoyo que me veo y me sugieren como traicionada, la córnea. Estaremos el tiempo que tarda, desde allí, en contacto con nuestro abogado y tomar todas las de su padre. Ni él ni la familia recibirá un centavo del dinero que es nuestro por derecho. Él paga, se paga. _Disse Lourdes que já não conseguia chorar tamanho era o ódio que saia de seu peito.

_Mãe, eu tenho que avisar o João, ele ia vir aqui hoje pra ceia. _Disse Piedra chorando.

_Pero la mayoría no tendrá la cena, o de Navidad, o novio actual, lo único que hacemos es que recibimos dos empacar e irse. Notificar a la Berta para llamar a un taxi para llevarnos al aeropuerto, no puedo ir a menos que la conducción es posible que se produce un accidente. Llame João y pro inventar una excusa. No dice nada acerca de su padre u otros familiares, no necesitamos que esa extensión chismes. _Disse Lourdes fechando a mala. _Ahora vaya a su habitación hacer sus maletas, antes de su padre y decide tratar de explicar aumento. No quiero oír su voz, que acabo de recordar que esto será para siempre en mi mente, me atormenta, me provoca pesadillas.

Lourdes puxou o braço de Piedra pelo quarto e as duas foram até o quarto de Piedra.

João caminhava em direção a casa de Piedra e olhando para casa de Louísa pode ver as luzes apagadas, o que era bom sinal. Na casa de Anne, muita conversa e risos, ele iria juntamente com Piedra dar um oi aos amigos mais tarde. Na casa de Rafael as luzes estavam acessas também, mas não muitas vozes, músicas e muito menos risos, João julgou ao ver vários carros parados à porta do amigo que a família dele já havia chegado, o que explica o silêncio. A poucos passos da casa da namorada, João se assusta com a porta se abrindo repentinamente. Lourdes puxava Piedra pelo braço enquanto a menina chorava seguidas pelos protestos de Ralf que gritava atrás delas:

_Lourdes, que loucura é essa? Tu está sendo irracional, vamos parar e conversar um pouco. Não vê que assim será pior para os três?

­_Si una persona ha causado daño a esta familia fue usted. No tire la culpa a mis acciones. Acción y reacción. Sería un infierno para escuchar de nuevo, tratando de explicar lo que pienso, que estoy seguro. También da tiempo a su familia, lo real. Ahora me dejen solo, yo y mi hija. _Gritou Lourdes no meio da rua enquanto puxava Piedra para o Táxi que as esperava na porta.

João apertou os passos afim de entender o que estava acontecendo.

_Ela é minha filha também Lourdes. _Disse Ralf. _Não seja boba e repense, olhe bem o que você está fazendo.

_Creo que vamos a salir y dejar por un tiempo. Quiero volver a ver la casa limpia de todo lo que yo recuerde usted. Si vuelvo y tiene fotos, ropa o cualquier cosa que es tuya, me enviará a la papelera, ¿estás escuchando? Cuando regrese de la Argentina hablar de la separación y la propiedad. _Lourdes colocou Piedra dentro do táxi enquanto o taxista colocava as malas no bagageiro.

João se apressou e chegou próximo ao carro.

_O que está acontecendo, pra onde vocês vão? _Perguntou João a Lourdes.

_La Piedra no te lo dijo? Así que tenemos más tiempo. Un avión está saliendo ahora, llame a su entonces ella se explican. Ahora tenemos que ir. _Disse Lourdes entrando no carro.

João abaixou a cabeça e viu Piedra chorando.

_Piedra! Piedra! _Gritou João enquanto o carro arrancava pela rua.

_Eu não entendi nada do que ela disse. _Disse João parado no meio da rua. _O que está acontecendo meu Deus?

_Ela disse pra tu ligar pra Piedra depois que ela vai te explicar. _Disse Ralf de cabeça baixa voltando pra casa.

_Senhor, o que aconteceu? _Perguntou João, indo atrás do sogro.

_Ligue pra Piedra que ela vai lhe explicar melhor. _Disse Ralf já na porta.

_Mas porque vocês brigaram? _Perguntou João. _Eu só consegui ouvir, mas não entendi direito, elas estão indo pra Argentina?

_Sim. _Disse Ralf. _Não me pergunte mais nada guri, ligue pra tua namorada que ela vai lhe explicar.

Ralf fechou a porta na cara de João.

João ficou intrigado ali parado sem entender o que estava acontecendo e o porque de sua namorada ir assim as pressas para Argentina.

Anne voltou à sala sorrindo.

_Anne, a Juliana estava estranha, ela mal me cumprimentou e já se foi. _Disse Alice.

_Ela estava atrasada Lice, teve que sair correndo. _Disse Anne sem mencionar a carta.

_Mas o que ela falou pra você lá dentro, era algo grave, a gente pode ajudar? _Se ofereceu Alice.

_Problemas com a família dela. Ela só estava chateada. Acho que agora ela vai pra São Paulo. _Mentiu Anne.

_Tomara que fique tudo bem. _Desejou Alice. _Na noite de natal vai ser horrível se acontecer alguma coisa.

_Imaginem só. _Disse Anne sorrindo.

Anne foi para seu quarto se aprontar para a ceia.

Rafael saiu de casa sob protestos da família. Indo para casa de Anne ele viu João sentado no meio-fio com o celular no ouvido.

_João o que tu ta fazendo ai, que não ta na casa da tua namorada guri? _Perguntou Rafael enquanto se aproximava.

_Ela não está em casa. _Disse João preocupado.

_Como não está em casa? Não é hoje o natal? Então! _Disse Rafael.

_Ela não está em casa. Quando eu tava chegando na casa dela a Lourdes saiu brigando com o Ralf e levou a Piedra embora. _Disse João.

_O pai da Piedra está ai? _Perguntou Rafael.

_Tá sim, e não sei porque motivo mas foi ele que fez a Lourdes levar a Piedra pra Argentina. _Disse João tentando falar com pIedra pelo celular.

_Pra Argentina? _Se espantou Rafael.

_É o que eu consegui entender. A mãe dela tava falando em espanhol foi o que deu pra entender. Ela estava nervosa, a Piedra chorando e o pai dela entrou sem me dizer nada. Eu to tentando ligar pra ela, mas ela não atende. _Disse João.

_Calma João, vamos lá pra casa da Anne comigo, lá tu se acalma mais e se ela foi pra Argentina mesmo como tu ta falando, não tem nada que tu possa fazer a não ser ir pra Argentina também. _Disse Rafael.

_É isso, eu vou pra Argentina também, eu vou atrás dela. _Disse João se levantando.

_Eu estava brincando João. Ir pra Argentina não é solução, se ela foi é porque ela quer ficar sozinha com a mãe. Tu nem sabe o que aconteceu lá na casa dela. _Disse Rafael segurando o amigo. _E tem outra, se tu for agora nem sabe onde vai encontrar elas na Argentina, tu vai se desencontrar delas.

_Mas o que eu vou fazer? _Perguntou João ao amigo.

_Tu não vai fazer nada, tu vai se acalmar e esperar. _Disse Rafael. _Se a Pi quisesse te avisar ela atenderia ao telefone. Relaxa ai e espera, espera passar um tempo, depois tu liga de novo.

_Tu tem razão. _Disse João desligando o telefone.

_Então vamos pra casa da Anne. _Chamou Rafael.

_Valeu Rafa, mas eu vou voltar pra casa. A Patrícia vai cear lá essa noite, minha mãe convenceu ela a ficar. _Disse João.

_Tudo bem, eu to indo então. _Disse Rafa. _Mas relaxa guri, ela vai te ligar mais cedo ou mais tarde.

_Espero mesmo, eu preciso saber o que aconteceu. _Disse João.

_Qualquer coisa tu sabe onde eu estou. _Disse Rafael ao amigo.

_Obrigado Rafa, eu vou pra casa agora. _Disse João indo à direção a sua casa.

Olivier gritou da sala:

_Tia, é o Rafa.

E Anne gritou do quarto:

_Eu já estou terminando, manda ele esperar.

E Rafael gritou:

_Eu não vou sair daqui.

Alice se aproximou do rapaz e se apresentou novamente.

_Aquela noite não tivemos tempo de conversar direito. Eu sou irmã da Anne, Alice. _Disse Alice cumprimentando Rafael. _Esse aqui é meu marido Luís, minha filha mais nova Marceline e meu outro filho você já deve conhecer não é?

Todos riram.

_Prazer meu nome é Rafael, sou namorado da sua tia. _Brincou Rafael cumprimentando Olivier.

Todos riram de menos Juca, que estava sentado em uma cadeira afastado de todos. Olivier animado resolveu apresentar Juca também:

_Bom se o clima está para apresentações, deixe então eu apresentar o Juca, meu nam...

_Todos já sabem disso Olivier. _Interrompeu Juca. _Aquela menina fez questão de gritar pra todo mundo, e se bem me lembro todos vocês estavam na festa também, então ouviram bem.

_Isso. _Disse Olivier sem graça.

O clima na sala pesou, todos se sentiram desconfortáveis. Rafael até tinha algo para falar, mas ficou calado para não piorar as coisas. Luis também tinha algo pra falar, mas como Rafael decidiu permanecer calado. Pra quebrar o clima Alice disparou:

_E ai, todos já compraram os presentes?

_Eu já comprei o da Anne há muito tempo, poderia ter dado antes, mas achei o natal uma boa data pra isso. Valeu a pena guardar. _Disse Rafael sorrindo.

_Nós também compramos nossos presentes antes, não é Luis? _Perguntou Alice risonha.

_O difícil foi achar um presente pra Anne, ela tem tudo que ela quer, e o que não tem é porque odeia. _Disse Luis sorrindo. _Vamos torcer pra gente não dar o mesmo presente pra ela.

Todos riram.

_Tomara que não. _Disse Rafael. _E tu Olivier, conseguiu comprar teus presentes?

_Consegui sim. _Disse Olivier desanimado com o comportamento de Juca.

_Se tu tivesse me pedido eu teria te levado pra alguns lugares super legais pra comprar presentes. Eu e o João vamos lá quando queremos dar um presente diferente. _Disse Rafael.

_Foi lá que tu comprou o presente da minha tia? _Perguntou Olivier.

_Não. _Disse Rafael. _Nem tente Oli, eu não vou te dar dicas.

Todos riram.

_Eu não agüentei e resolvi dar meu presente de uma vez não é Juca? _Insistiu Olivier.

_É. Levando em conta que eu odeio ler, eu até que gostei do livro. _Disse Juca. _Vai ficar ótimo pra enfeitar meu quarto.

Rafael decidiu fazer alguma coisa para parar Juca. Então ele se levantou e disse:

_Oli, eu vou até a cozinha pegar um pouco de água, tudo bem?

_Claro, pode ir. _Disse Olivier sem notar o que estava prestes a acontecer.

O clima na sala ficou pesado novamente, todos perceberam que algo iria acontecer de menos Olivier que de tão nervoso com a situação não estava prestando muita atenção.

Rafael passou por Juca, agarrou o braço dele com força e o levantou.

_O que você pensa que está fazendo? _Perguntou Juca zangado.

_É melhor você me fazer essa pergunta lá na cozinha. _Disse Rafael apertando com força o braço de Juca.

Sem opção Juca o acompanhou.

Olivier percebeu então o que estava acontecendo e se levantou em direção aos garotos. Luis também se pôs de pé e impediu que o filho os seguisse.

_Você vai ficar aqui sentado se não quiser que eu me intrometa nesse assunto também. _Disse Luis com a mão no ombro de Olivier.

Alice se levantou e acompanhou Olivier até ao sofá do outro lado da sala.

_Fique calma Oli, eles só vão conversar. _Disse Alice.

_O Juca pode se zangar comigo mais tarde mãe, o rafa não pode fazer isso. _Disse Olivier preocupado.

_Ele é seu amigo e está tentando te defender, como todos nós, ele não vai fazer nada pra te prejudicar. _Disse Alice.

_Se alguma coisa acontecer, a culpa vai ser de vocês. _Disse Olivier pensando no que poderia estar acontecendo na cozinha.

Chegando na cozinha:

_O que você está fazendo? _Perguntou Juca.

Rafael soltou o braço de Juca e o encarou.

_O que tu espera tratando o Olivier assim heim? _Perguntou Rafael.

_Eu só não estou entendendo o que você tem a ver com isso. _Respondeu Juca.

_Olha aqui, abaixa a sua onda, porque aqui o Oli não está sozinho, ele tem quem cuide dele. _Disse Rafael.

_Você e nem ninguém vai me dizer como falar com o Olivier. _Disse Juca.

_Mas a gente vai falar e tu vai obedecer sim senhor, do contrário haverá conseqüências. _Ameaçou Rafael.

_Se você está tentando me amedrontar, não conseguiu. Só porque eu sou gay, não quer dizer que eu sou mulherzinha, eu não sou fraco. _Disse Juca.

_Não confunde as coisas guri, eu estou falando pelo Oli, pelo modo como tu trata ele. Desde quando eu cheguei o Olivier está tentando te agradar, tentando te deixar a vontade com a família dele, com os amigos, ele sempre te defende e tu? _Disse Rafael.

_Ele gosta de mim. _Disse Juca.

_Não aproveite disso para tirar vantagem. _Disse Rafael.

_Você acha que eu quero tirar vantagem dele só porque ele é rico? _Se zangou Juca.

_Pára de se fazer de vítima. _Disse Rafael. _Pára de se colocar no lugar de prejudicado, não é porque tu é gay e muito menos porque tu é pobre que nós estamos tendo essa conversa. Essa tua reação é prova de como tu é um idiota.

Juca sorriu.

_Era só o que me faltava, uma louca vai embora e aparece outro louco. _Disse Rafael. _Já que eu estou falando com alguém que pouco se importa com o sentimento dos outros, eu vou tentar algo mais convincente. Se tu continuar a tratar o Olivier desse jeito, eu mesmo vou te colocar pra fora e ai de ti se voltar a colocar os pés aqui. Eu quero que tu trate ele como ele merece, no mínimo com respeito. Pelo menos essa noite.

_E porque eu deveria te obedecer diante dessa ameaça. _Disse Juca.

_Não entendeu né? _Perguntou Rafael. _Vou falar a tua língua então.

Rafael pegou o braço de Juca e o girou por cima da cabeça dele, torcendo bem e apertando forte nas costas. Juca sorriu apesar de estar sentindo dor. Luis chegou na hora e salvou o garoto.

_O que você está fazendo Rafael, solta ele! _Luis livrou Juca do golpe de Rafael.

_Tenta falar com ele então. _Disse Rafael com a adrenalina alta.

_Vamos manter a calma. _Disse Luis.

_Chegou o pai agora, e ai sogrão? _Disse Juca com o braço doendo e avermelhado.

_Olha garoto, eu não sei qual é a tua com o meu filho e tão pouco entendo o teu comportamento. Só digo que se magoar meu filho como tu vem fazendo até agora, eu acabo com a sua vida.

_Eu já tentei ameaçar, não adiantou. _Disse Rafael.

_Eu tenho um jeito de deixar ele com medo. _Disse Luis. _Eu conheço bem o seu tipo, não tem medo de nada, é fortão, metido a valentão, mas tem medo de uma coisa, humilhação publica.

Juca se enrijeceu. Rafael percebeu.

_Ah entendi Luis, eu saquei qual é a do guri. _Disse Rafael.

_Eu ainda não estou entendendo a pressão, o que é que eu fiz? _Disse Juca.

_Ficou nervoso né? _Riu Rafael.

_Se eu perceber que meu filho está sofrendo porque causa das suas loucuras, acho que eu vou ter muito o que falar com teus pais. _Disse Luis. _Só eles pra darem um jeito nos seus modos.

_Ninguém é obrigado a te agüentar. _Disse Rafael. _Muito menos o Olivier, que não merece ser tratado desse jeito.

_Meus pais ainda não sabem, vocês não vão contar vão? _Perguntou Juca amedrontado pela primeira vez.

Rafael sorriu, Luis acompanhou.

_Mais tarde eu vou pedir o Olivier pra me dar teu endereço. _Disse Luis. _Assim quando eu quiser fazer uma visita, eu sei aonde ir.

_Você nem mora aqui. _Disse Juca.

_Mas eu moro. _Disse Rafael. _A tia dele mora, os amigos dele moram, acho que é o bastante pra convencer seus pais. Se não, eu ainda tenho muitos jornalistas, e o moinho inteiro que estavam na festa do concurso e ouviram a Louísa.

_Não vamos partir pra agressão novamente, tudo bem Rafael? _Disse Luis. _Ele querendo ou não, é ainda uma criança.

_Eu não sou criança. _Disse Juca nervoso, mas contido.

_Eu quase esqueci Juca, juro, que eu nem notei que tu não é criança. _Disse Rafael rindo.

Juca fechou a cara.

_Vamos voltar para a sala. _Disse Luis. _Agora que nós estamos entendidos não é mesmo Juca? Vamos todos voltar pra sala e cear em paz. A Anne preparou tudo com muito carinho, o Olivier estava esperando por esse momento a muito tempo e não vai ser você Juca nem ninguém que vai atrapalhar a noite de natal dessa família.

Juca saiu na frente ás pressas enquanto Rafael e Luis o seguiam sorrindo.

_Eles já estão voltando está vendo, não aconteceu nada de grave, eles só conversaram. _Disse Alice para Olivier.

_Eu espero mesmo mãe. _Disse Olivier.

Os três sentaram na sala calados, Rafael esboçando um sorriso.

E então entrou Anne Marrie na sala. Não tinha mais clima, não tinha mais risada, ninguém esboçava nenhuma emoção, só perplexidade.

Duas palavras: Vestido vermelho.

Num tecido de cetim que percorria todo seu corpo, o que parecia mesmo é que uma calda de morango fora jogada no corpo de Anne Marrie.

Deslumbrante e sorridente como nunca Anne perguntou:

_O que aconteceu aqui enquanto eu não estava heim?

_Nem queira saber Marrie. _Disse Alice.

Anne usava o cabelo para trás com gel. Lindo! Ao entrar pela sala deixava um cheiro doce e vicioso por onde passava.

_Mas qual é o assunto? _Perguntou Anne novamente.

_O assunto agora é tu. _Disse Rafael sorrindo, feliz por aquela mulher ser tua.

_Realmente Anne depois dessa entrada, não tem como falar de outra coisa. _Disse Luis.

_Tia você está linda! _Disse Olivier sorrindo ao lado de Juca, que permaneceu calado.

_Cadê a Marceline? _Perguntou Anne.

_Ela está no meu quarto brincando com o presente que eu dei pra ela. _Disse Olivier.

_Mas tu já deu o presente antes da ceia? _Lamentou Anne.

_Ele resolveu estragar o natal da família perfeita. _Disse Juca de cara fechada.

_Oli meu filho, você já conheceu os pais de Juca? _Perguntou Luis.

Rafael riu, Juca enrijeceu na cadeira.

_Tudo bem, já que estamos todos aqui, vamos à mesa. _Disse Alice se levantando e evitando outro climão.

Todos se levantaram e seguiram para sala de jantar com a ceia já posta a mesa.

_Eu preciso de alguém que me ajude a trazer as comidas aquecidas da cozinha, quem me ajuda? _Convocou Anne.

_Eu ajudo. _Disse Rafael.

_Eu também ajudo minha irmã. _Disse Alice. _Olivier vá chamar tua irmã no quarto.

Enquanto os outros se acomodavam em suas cadeiras, Olivier foi buscar Marceline, e Anne, Rafael e Alice foram até a cozinha trazer a mesa os pratos quentes.

Chegando na cozinha Alice se adiantou e pegou uma travessa de arroz aquecida no forno.

_Eu preciso ligar pro João, ele esta preocupado com a Piedra. _Disse Rafael pegando o celular.

_O que aconteceu com a Piedra? _Perguntou Anne.

_Ela foi pra Argentina com a Lourdes. Não se sabe porque, foi isso que o João viu, parece que a Lourdes brigou com o pai da Pi. _Disse Rafael.

_Ela disse mesmo que o pai dela iria aparecer hoje. _Disse Anne. _Mas Argentina? Pra que elas foram pra lá? Será que eles brigaram feio?

_Imagino que sim, pra sair do pais assim quase fugida. _Disse Rafael.

_Que estranho, vou tentar ligar pra ela. _Disse Anne.

_Não adianta, ela não está atendendo nem o próprio namorado. _Disse Rafael.

_A amiga é diferente do namorado. _Disse Anne. _Talvez ela me atenda.

_Pode tentar. _Disse Rafael. _Eu vou tentar chamar ele pra cá de novo, aqui ele vai se distrair mais.

_Eu vou pegar meu celular, espera ai. _Disse Anne.

_Anne Marrie, aonde você vai? _Chamou Alice.

_Alô? _Disse Rafael quando João atendeu o telefone.

_Alô. _Disse João.

_Eu estou no carro, indo para o aeroporto. _Disse João.

_João, dê meia volta agora! _Ordenou Rafael. _Tu não vai para a Argentina atrás da Piedra.

_Ela deve está precisando de mim. _Disse João.

_Se tivesse ela teria lhe chamado. _Disse Rafael. _Se acalme João, volta pra casa.

João desligou o telefone.

_O que aconteceu Rafael, alguma coisa grave? _Perguntou Alice.

_Só o meu melhor amigo que está indo pra Argentina. _Disse Rafael.

_O que aconteceu? O que ele disse? _Perguntou Anne quando chegou a cozinha.

_Ele está indo pra Argentina. _Disse Rafael.

_Eu estou com a Piedra aqui no telefone. Fala com ela. _Disse Anne entregando a Rafael o celular.

_Alô Pi, é tu? _Perguntou Rafael.

_Sou eu sim Rafa, o que está acontecendo, eu não entendi nada que a Anne falou. _Disse Piedra.

_O João está indo pra Argentina atrás de ti. _Disse Rafael.

_Mas eu não estou indo pra Argentina, eu estou indo pra Espanha. _Disse Piedra.

Madri ou Barcelona?

Passa um SMS para o João, eu acho que ele gostaria de saber disso.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Capítulo 33: _Eu sei de tudo Anne Marrie.

Noite feliz.

O natal chegou e até que enfim! Depois de um mês de preparativos, decorações, concursos e neve artificial, os céus do Moinho receberam a noite encantada de natal. Sem exageros.

Com Louísa longe do condomínio a noite feliz estava realmente garantida. Ela e a família foram passar o feriado no Rio de Janeiro e segundo as palavras de Theodor, Louísa ia ficar por lá, mesmo depois do natal e do ano novo, para se tratar psicologicamente sob os olhos atentos da avó, que era bem severa.

Anne não podia estar mais feliz, ela estava super animada com a ceia na casa do namorado Rafael, ela preparava uma ceia na casa dela também por conta da irmã, o cunhado e a sobrinha que vieram passar o natal com ela no sul junto com Olivier e Juca. Anne estava nervosa com relação ao presente que ia dar a Rafael, ela já havia preparado tudo com cuidado, o lugar era perfeito e ela tinha bastante esperança que ele ficasse mega feliz com o regalo especial. O escândalo que Louísa aprontou na festa do concurso, acabou por revelar a todos o segredo que Olivier escondia desde que havia chegado a Rosa Velha, sem opções ele abriu o jogo com seus amigos, que o reprimiram, mas não pelo fato dele ser gay e sim pelo fato de ele ter escondido isso tanto tempo com receio da reação deles. Mas tudo acabou em risadas e brincadeiras. Juca que não ficou muito feliz por todos agora estarem sabendo do namoro dele com Olivier, ele era duro com a verdade, chegou a discutir com Olivier sobre isso:

_Ela falou que VOCÊ era gay, não eu. _Disse Juca nervoso. _Você não precisava dizer que nós somos namorados.

_Mas Juca que mal tem isso? Porque esconder isso por mais tempo? Eles iam acabar descobrindo mais cedo ou mais tarde. _Disse Olivier.

_Mas era um direito meu, é sobre minha vida, sobre mim, não sobre o que seus amigos idiotas pensam ou acham. Eu tô me lixando pra eles. _Disse Juca.

_Calma Juca, tá tudo bem, ninguém vai falar nada, nem te desrespeitar. _Disse Olivier.

_Eu só não quero voltar mais lá na tua casa. Não vou suportar ser olhado como diferente dos outros. _Disse Juca. _Nem quero voltar naquele Moinho.Todo mundo que mora lá estava lá aquele dia na festa. Seus amigos podem até ser liberais e cabeça aberta, mas não duvido que assim que eu chegar lá eles vão ficar falando pelos cantos sobre mim. _Disse Juca envergonhado e irritado.

_Você é diferente sim e daí, ninguém tem nada haver com isso. _Disse Olivier. _O que importa são as pessoas que se importam com você, o resto é resto.

_Eu não gosto Oli, só isso, dava pra respeitar? _Disse Juca roxo de raiva. _Eu não quero ser a aberração, quero ser normal. Não suporto indiferença. Eu já sou pobre, se souberem que eu sou gay, tudo só piora.

_Não fala isso. _Disse Olivier.

_É porque tu é rico, agora quero ver quando meus pais souberem e me colocarem na rua o que eu vou fazer. _Disse Juca. _Você foi fácil. Mudou pra outro estado e tem uma casa só pra você.

_Qualquer coisa você vai morar comigo. Mas fica tranqüilo que seus pais não vão saber de nada, fica calmo. _Disse Olivier esboçando um sorriso. _Eu falei pra eles que era segredo.

_Mas na sua vida não tem segredo, você está sempre na imprensa, e aquela menina gritou pra quem quisesse ouvir. _Disse Juca. _Eu sabia que isso ia acontecer, eu sou um idiota. Agora se meus pais souberem disso pelos jornais, revistas, ou seja lá quem quiser contar alguma coisa a respeito da gente. O que eu vou fazer?

_Já disse: Você vai morar comigo e com minha tia. _Disse Olivier sorrindo.

_Sua tia não gosta de mim. _Disse Juca.

_Pra falar a verdade, nenhum deles gostou de você lá. _Disse Olivier.

_E tu acha que eu não sei? Eu vi a cara deles aquele dia, sei bem o que eles devem ter andado falando de mim. _Disse Juca. _Por isso que eu não queria que ninguém soubesse que eu sou gay, muito menos que eu sou seu namorado.

_Pára Juca, não é por isso que eles não gostaram de você. _Disse Olivier. _ É pelo seu jeitão, sempre na defensiva, encrenqueiro, briguento, irônico, sarcástico. É por isso. Mesmo porque, antes eles não sabiam de nada e já não gostavam de você.

_E tu quer realmente que eu volte lá? _Disse Juca na portão da sua nova casa que ficava a poucos minutos do condomínio onde Olivier morava.

_Ainda dá tempo de mudar isso Juca. _Disse Olivier. _O teu problema, é que você é desse jeito porque tem medo que alguém perceba que você é gay. Não precisa mais se preocupar com isso, eles já sabem de tudo, pode se jogar agora.

_Eu não me jogo, porra nenhuma! Isso é coisa sua. _Disse Juca. _Eu sou homem.

_Que gosta de outros homens, qual o problema? Isso não diminui sua masculinidade. _Disse Olivier.

_Mas diminui a sua. _Disse Juca já sorrindo.

_Eu sou afeminado? _Perguntou Olivier.

_Nem é. Mas é menos macho do que eu. Artista né? É normal ser assim mesmo, sensível. Mas isso não tem nada haver com o fato de você ser gay, é só porque você é artista, qualquer artista é assim mesmo, sensível.

Os dois riram.

Por fim Juca aceitou voltar ao Moinho, com a condição de que ninguém fizesse piadinhas nem brincadeiras de mau gosto. Olivier prometeu uma segunda vez, e disse que já tinha avisado a todos, e por todos da turma já conhecerem o gênio ruim de Juca, eles aceitaram as condições. Somente Rafael disse que não ia ficar pensando no que dizer, pensando muito, com medo de magoar o namorado do amigo.

Patrícia não estava mais andando com o irmão e seus antigos amigos. Depois daquela noite ela resolveu se afastar de todos. Estava envergonhada por ter sido enganada por Louísa. Ela agora era da turma da rua de cima, a turma do André. Que péssimo! Nem ela gostava de ficar lá, ela não sorria mais, se fazia de divertida entre eles e principalmente quando alguém da turma do João a via de longe. Ela queria mostrar que estava bem sem eles. João estava preocupado com a irmã, mas não tinha muita coisa com o que ele pudesse fazer, ele só era rígido quanto ao horário que ela deveria voltar para casa e sempre pedia informação de onde ela ia com André e os outros. Marina e Roberto estavam mais que aflitos, estavam desesperados, o que poderiam ter feito era prender a filha no quarto como Theodor fazia com Louísa, mas eles eram totalmente avessos a isso, força bruta jamais seria usada. Ao invés disso, eles preveriam a conversa. Passou a ser rotina na casa dos Pinho Medeiros as reuniões de família, mas Patrícia estava relutante a mudanças no seu novo estilo de vida, ela não aceitava opiniões e muito menos conselhos.

_Filha! Tu vai passar a noite conosco hoje? _Perguntou Marina esperançosa logo de manhã quando Patrícia ia deixando a mansão.

_Não sei mãe. _Disse Patrícia friamente enquanto ia direto para saída.

_Eu vou mandar prepararem a rabanada que tu tanto gosta hoje à noite. _Disse Marina olhando com olhos suplicantes para Patrícia.

Patrícia parou como uma estátua e sentiu na voz da mãe uma leve melancolia. Ela tinha consciência de que estava deixando triste com seu afastamento. Patrícia estava travando uma batalha com sigo mesma, pesando coisas, revendo conceitos, não externos, ela estava fazendo uma faxina dentro de si mesma, e isso a confundia, colocava em testes seus sentimentos, seus amores, suas prioridades, sua vida. Ela só estava confusa, mas não menos triste que ninguém. Ela estava derrotada, acabada, machucada e precisava se recuperar de alguma forma, e ver a todo tempo Olivier não iria ajudar muito. E pra isso ela achava que deveria se afastar de novo do seu irmão e de todos seus amigos, como já tinha feito. Ela agora recorria a André porque não tinha mais ninguém, ficar sozinha seria dar chance a uma grande depressão e isso ela não queria, não agora. Só iria piorar as coisas. Então:

_Eu venho mãe. _Disse Patrícia antes de sair correndo pela porta, antes que começasse a corar.

Marina conteve as lágrimas antes que elas rolassem e abriu um grande sorriso por ter conquistado a filha, pelo menos por aquela noite.

Piedra estava super ansiosa para esse natal, o motivo? Seu pai Ralf Schreisen iria passar o natal com ela e a mãe, João também iria participar da ceia deles. O pai de Piedra sempre foi muito ausente, pouco ela e a mãe falavam dele, para evitar sentirem saudades. As duas o amavam muito, acima de tudo e de todos. Ele sabia disso para tirar proveito de muitas coisas. Ele trabalhava no meio agropecuário e usava isso como desculpa para suas longas e constantes viagens de negócio.

_Anne? _Disse Piedra ao celular.

_Hei Pi! _Disse Anne animada.

_E aí, tudo pronto pra surpresa do Rafa? _Perguntou Piedra excitada ao falar.

_Está tudo pronto sim, só eu que não estou. _Disse Anne.

_Como assim Marrie? _Disse Piedra revoltada.

_Eu só estive com um homem na minha vida, e logo já engravidei. Um ano depois eu perdi meu filho e matei o único homem que eu realmente amei na vida. O que você espera de mim agora? Que eu acha como se isso fosse fácil pra mim? Não é tão simples assim. _Disse Anne.

_Bá! Tu tem medo de quê guria? _Perguntou Piedra.

_De mim. _Disse Anne. _Eu tenho medo do que eu possa começar a sentir pelo Rafael a partir de hoje.

_Como assim? _Perguntou Piedra confusa.

_E se tudo que eu senti pelo Humberto, que me levou a fazer tantas coisas loucas, a ficar doente de amor como dizem né. E se tudo isso começou depois que eu dormi com ele? _Disse Anne aflita.

_Acho que não Anne. Tu tem que se esquecer do Humberto, pelo menos por alguns minutos. Cada homem é um homem, nenhum é igual ao outro. _Disse Piedra. _Não estou duvidando do teu amor pelo Rafa, mas sei que tu ama ele de um jeito diferente, mas ama. O sexo só vai vir pra aumentar isso ainda mais.

_É disso que eu tenho medo, que o amor aumente. _Disse Anne angustiada.

_Calma amiga! _Disse Piedra. _Vai dar tudo certo.

_Espero que sim. Só não quero amar ele demais, tenho medo de mim. _Disse Anne.

_Espero que você não ame não é. Eu gosto muito do rafa. _Brincou Piedra.

_Tá gozadinha assim logo cedo da manhã? Imagina a noite. _Anne sorriu. _E falando em noite como vai ser a tua? Teu pai vem mesmo?

_Ele disse que desmarcou muitos compromisso pra vir pra cá hoje. _Disse Piedra. _Mas não sei não, ele é tão enrolado que eu duvido que ele apareça. Agora Anne me responda, quem é que trabalha na noite de natal tirando o Papai Noel?

_É verdade, ninguém. _Disse Anne. _Mas ele vai aparecer, você vai ver ele ainda hoje. Que hora ele disse que chegaria?

_Ele falou que lá pelas sete da noite. Mas eu duvido muito. _Disse Piedra. _Quando ele fala que vai chegar sete é por que vai chegar as nove.

As duas sorriram.

_É verdade! Mas tudo bem, eu já estou acostumada. Eu só não vou perdoar se ele não vier ou não me trouxer um presente. _Disse Piedra sorrindo.

_Ele te conhece bem, não faria essa loucura. _Disse Anne sorrindo.

_Ele sabe disso, mas esquece as vezes. _Disse Piedra brincando, mas falando a real verdade.

_Tudo bem Pi, a gente se vê mais tarde então. _Disse Anne no celular. _O presente do Rafa já está pronto, foi difícil organizar tudo a tempo viu! Mas no fim deu certo. Espero que ele goste.

_Ele vai adorar, mesmo que tu mate ele minutos depois, mas ele vai morrer feliz. _Disse Piedra gargalhando.

_Pára de me torrar! _Disse Anne sorrindo também da brincadeira da amiga. _Mas agora é serio Pi. Tu não contou pro João nem pra ninguém né?

_Imagina Anne? Lógico que não, tu é louca? _Disse Piedra. _Mantive segredo mortal, ninguém está sabendo de nada, vai ser surpresa total.

_Assim está melhor. _Disse Anne. _E você sabe o que ele via me dar de natal?

_Claro que eu não vou falar não é Anne! _Exclamou Piedra. _Eu sei, mas não vou te contar nem sob tortura.

_É bem justo. _Riu Anne.

_Então até mais Anne. _Se despediu Piedra. _Qualquer coisa tu me liga, se precisar de ajuda.

_Pode deixar Piedra, mas está tudo bem mesmo, obrigada. Eu vou precisar de muita ajuda pra outra coisa, mas isso infelizmente você não vai poder me ajudar e nem ninguém. Eu vou ter que me virar sozinha. _Disse Anne voltando a angústia.

_Anne não se preocupe com isso, você vai se sair muito bem. _Disse Piedra. _E cuidado viu amiga, o Rafael é quente. MUITO quente.

_Obrigada Piedra, agora eu estou mais relaxada. _Brincou Anne ainda mais aflita.

Piedra sorriu elo telefone em seguida se despediu novamente e desligou.

_Quem era Anne? _Perguntou Alice.

_Era a Piedra, aquela garota que mora aqui do lado. Eu amo ela. _Disse Anne com um grande sorriso no rosto.

_Ela vai vir aqui hoje para cear conosco? _Perguntou Alice.

_Não. O pai dela vai chegar hoje para passar o natal com ela o namorado e a mãe dela. Então vai ser uma coisa mais em família, sem amigos. _Disse Anne. _Tipo a nossa noite aqui hoje, só para os íntimos.

_Vai ser ótimo, estar com minha família toda aqui hoje unida. Eu adoro o natal e não poderia estar melhor. _Disse Alice.

_O Luis que não está gostando muito né Lice? _Perguntou Anne.

As duas estavam no quarto de Anne, enquanto Luis, Marceline estavam no quarto de Olivier conhecendo tudo e onde ele estava morando agora. Marceline estava em um dos quartos da casa especialmente reservado para ela e Alice e Luis estavam dormindo em um dos quartos de hóspedes.

A casa de Anne era bem grande. Comparada às outras casas da Rua Canela a dele era a maior de todas. Na casa de Anne não havia outros andares como na casa de João, na de Rafael ou na de Piedra. A mansão tinha 8 quartos, todos com suíte, 1 cozinha, 2 escritórios, 1 biblioteca, e mais um cômodo perto da varando dos fundos que o Olivier usa como atelier, 2 salas-de-estar, 1 sala de jantar, 1 sala multimídia, Uma área nos fundos para lazer, e por fim a característica da casa que fez Anne escolhe-la, a casa não tinha piscina.

_Você conhece ele né Marrie? Essa história de ele vir pra cá, tão longe de casa, no natal, longe da família dele, e ainda chega aqui e vê o Olivier namorando com outro garoto? _Disse Alice. _Ele não está muito feliz não. Mas eu já tive uma conversa com ele. Ele vai se comportar.

_Espero mesmo Lice. Eu tô cheia de briga. A vida aqui tem sido só isso. _Riu Anne. _Mas até hoje o Luis não acostumou com a idéia do filho dele ser gay? Não tem como lutar contra isso e nem há porque lutar.

_Não adianta avisar Anne. Lá me São Paulo eu já cansei de brigar, de falar, mas não adianta. _Disse Alice. _Assim que vocês vieram pra cá, ele queria de todo jeito vir atrás de vocês.

_Pra quê? _Perguntou Anne.

_Pra levar o Olivier de volta. _Disse Alice. _Ele não entendeu e não entende até hoje o filho dele ser gay.

_Impossível, ter alguém assim até hoje. _Disse Anne. _E olha que eu sou antiga heim, era pra eu ser avessa a essas modernidades.

_Mas isso não é modernidade, o homossexualismo existe a muito tempo, o que acontece hoje é que a uma aceitação maior disso. _Disse Alice.

_É isso que eu quis dizer, pombas! _Disse Anne. _Parece que você andou pesquisando sobre os gays heim irmã.

_Não andei pesquisando, porque não há o que pesquisar, eu só fiquei mais atenta ao assunto. Nunca discriminei, mas agora sabendo que o meu filho é gay, passei a ver com outros olhos, olhos internos. Entendo como deve ser e respeito o Olivier e quem mais que seja Homossexual. _Disse Alice.

_Mas e o Juca? _Perguntou Anne. _Eu percebi que você não gostou muito dele.

_Mas isso não tem haver com ele ser gay. Eu só fiquei assustada, por meu filho estar namorando. Mesmo que fosse uma garota, tanto faz. De um jeito ou de outro, é o primeiro relacionamento sério do meu filho, eu imaginava isso desde pequena com as nossas bonecas, queria conversar com meu filho sobre isso, dar conselhos, saber de tudo, como foi o primeiro beijo. Tudo. _Disse Alice. _Eu fiquei... Eu fiquei... Chocada! Quando o Oli chegou pra mim e falou que o Juca era o namorado dele, mas só isso. Eu não o conheci direito ainda, mas me pareceu bem.. Bem...

_Bem chato! _Completou Anne. _Ele não é nada mais daquilo que ele pareceu pra você. Ele é imaturo, idiota, agressivo, grosso, estúpido, não tem educação nenhuma e nem é muito bonito.

_A ele é bonitinho, vai? _Disse Alice sorrindo.

_Não é não. _Disse Anne sorrindo.

_Mas esse Juca é tão ruim assim? _perguntou Alice.

_Pior! _Afirmou Anne.

As duas sorriram.

_Mas não é caso pra rir Lice, depois, já que tu vai ficar aqui até o Reveillon, senta com o Oli e conversa direito com ele, pedi pra ele te falar sobre o Juca, ver o que ele sente mesmo, ai tu vai entender o porque da minha reação. _Disse Anne.

_E porque essa reação? _Perguntou Alice.

_Porque eu estou me vendo. _Disse Anne. _O Juca não vale muita coisa, assim como o Humberto e o Oli faz de tudo pra ficar com ele, como eu fiz.

_O Oli parecido com você é preocupante. _Disse Alice.

As duas sorriram de novo.

_Lembra aquele dia do choro do Oli lá em São Paulo? _Perguntou Anne.

_Lembro. _Disse Alice. _Esse dia eu não vou esquecer jamais.

_Pois então. _Começou Anne. _Aquele choro todo, aquele desespero, você imagina que foi por causa do quê? Foi por causa do Juca.

_Sério? _Se espantou Alice. _Mas porque, eles já estavam juntos lá em São Paulo?

_Estavam, claro que estavam. Você não percebeu que o Juca não tem sotaque do sul? _Perguntou Anne.

_Nem reparei. _Disse Alice sinceramente.

_Eles namoravam escondidos lá em São Paulo. _Disse Anne. _O choro todo foi porque o Juca ia vir morar aqui no sul e o Olivier ia ficar sem ele, sozinho lá em São Paulo.

_Não acredito? _Alice estava espantada. _Então é por isso que ele queria vir pra cá desesperadamente. Aquele escândalo todo. Não entendi direito, mas agora está explicado.

_É isso mesmo que você entendeu. _Disse Anne. _É preocupante, e depois que eu conheci o Juca fiquei mais preocupada ainda.

_Porque tu viu que não valia a pena todo esse esforço do Oli. _Disse Alice ainda boquiaberta.

_Exatamente. _Disse Anne. _Eu tentei ser séria e conversar com ele, mas não consigo, eu sou pior do que ele, e nem tenho moral pra falar de amor com ninguém. Não sirvo de exemplo.

_Obrigada mesmo assim Marrie! _Disse Alice agora preocupada. _eu vou conversar com ele depois. O Luis não pode nem sonhar em saber disso.

_Claro que não. _Disse Anne. _Ele já está enfrentando muita coisa, isso só iria atrapalhar a situação.

_O Luis está passando por cima de muita coisa, a cabeça dele está a mil. _Disse Alice. Eu sei que é feio ter preconceito ou descriminar alguém, principalmente um filho, mas cada um é cada um e sabe o que faz. E o Luis também nunca destratou ninguém, ele é tolerante. Nunca foi grosso, ou mal educado com ninguém. Ele guarda pra si. E agora no caso do Oli, eu sei que ele deve estar se sentindo muito mal. Ele não gosta de falar muito sobre isso, mas eu sei, eu percebo. Eu entendo meu marido.

_Hoje a noite tu vai ver o que eu estou falando. _Disse Anne. _Você vai ter tempo o bastante pra conhecer seu genro hoje.

_Mas então me conta tudo, detalhes. Quero saber do Rafael. _Disse Alice animada.

_Ninguém mais pergunta sobre o meu filho. _Disse Anne.

_O quê? _Perguntou Alice.

_Ninguém mais quer saber sobre o meu filho desaparecido. _Disse Anne. _Todo mundo quer saber do Rafael, da minha casa nova, da minha nova vida de qualquer coisa, menos do meu filho.

_Não entendi você agora minha irmã. _Disse Alice. _Porque você está tocando nesse assunto agora?

_Porque ninguém está tocando nesse assunto agora. _Disse Anne com uma repentina revolta.

_Calma Anne! _Disse Alice sabida. _Fica calma, eu só perguntei, porque ele é seu novo namorado, depois do Humberto.

_Eu sei Lice, eu não estou revoltada com você, eu estou revoltada com todo mundo. _Disse Anne.

_Como assim Anne, que loucura é essa, porque esse assunto repentino? _Perguntou Alice.

_Eu não sei Alice. _Disse Anne. _Eu não sei.

Anne começou a se emocionar do nada.

_Anne, calma! Não vai chorar, o que é isso? _Disse Alice se levantando de onde estava e indo abraçar a irmã.

_Anne, pára de chorar garota! O que é isso? Que bobeira, pára de chorar! _Disse Alice enquanto Anne encostava a cabeça em seu ombro e chorava.

As duas ficaram por um tempo abraçadas enquanto Alice afagava as costas da irmã.

_Anne, mas será possível? Sempre tem que ter alguém pra cuidar de você? _Disse Alice. _Não fica assim, tua irmã tá aqui agora, eu vou cuidar de você. O que é que foi? O que tá acontecendo aqui?

Anne parou de chorar, enxugou as lágrimas que escorriam em seu rosto, se controlou e levantou a cabeça para encarar tua irmã.

_Ninguém fez nada pra mim. _Disse Anne. _Eu não sei o eu aconteceu, só me deu vontade de chorar.

_Ai Anne, não acredito vai? _Disse Alice. _É só me ver que tu já começa a sofrer, a chorar?

_Mas não é só por isso também. _Disse Anne chorosa.

_Porque mais? _Disse Alice.

­_Eu não sei, eu não sei. _Disse Anne.

_Tu falou do teu filho e depois começou a chorar. _Disse Alice. _Foi por isso?

_Acho que sim. _Disse Anne.

_Me fala então, o que é que foi? _Disse Alice.

Alice sabia que Anne só estava de manhã, ela precisava da irmã. Precisava chorar, desabafar, se sentir protegida, amparada. Necessitava de um ombro pra chorar. E só Alice tinha esse ombro, por enquanto. É nele que Anne Marrie podia ser Anne Marrie, sem fingir, sem forçar o social pra ser educada ou amiga.

_Meu filho. _Começou Anne. _Eu vim pra cá pra procurar meu filho. E o que estou fazendo? Estou caçando namorar.

Anne começou a chorar novamente e voltou a cabeça para o ombro da irmã. Alice se pos a rir.

_Mas Anne meu amor, não precisa ficar assim. Não quer dizer que você está namorando, que você esqueceu do seu filho. _Disse Alice.

_Mas é verdade. Eu não me sinto eu. Eu não sou assim. Legal, divertida, alegre, não amando. _Disse Anne quando levantou a cabeça de novo pra falar, enquanto enxugava as lágrimas.

_Mas você não me disse que está gostando do Rafael? _Perguntou Alice alisando os cabelos de Anne.

_Eu amo o Rafael. _Disse Anne.

_E qual é o problema? _perguntou Alice sem entender.

_Esse é o problema Alice. _Disse Anne. _Eu estou amando o Rafael, e não estou amando meu filho. Eu nem sei quem é meu filho.

Alice sorriu de novo.

_Mas Anne, não tem nada de mal nisso, amar não é nada demais. Quando aparecer seu filho, você ama ele também. _Disse Alice.

_Eu não sou normal Alice, eu não sou normal. Eu não tenho amor assim pra todo mundo. _Disse Anne olhando para a irmã. _Se eu gastar meu amor todo no rafa o que não vai ser difícil, não vai sobrar amor pro meu filho quando ele aparecer.

_Anne não é assim, amor não gasta. _Disse Alice.

_Mas o meu não é renovável. _Disse Anne. _Eu tenho medo de quando meu filho aparecer eu amar o Rafa demais e eu não me importar com meu filho.

_Isso nunca vai acontecer, é seu filho, não tem como não amar. _Disse Alice.

_Alice, até parece que tu não me conhece. Quando eu amava o Humberto eu até pensei em não ter meu filho se isso fosse condição pra eu ficar com o Beto. E quando eu já estava grávida eu tinha medo de quando ele nascesse eu não amasse ele, porque eu só amava o Humberto. Por isso eu o matei pra ficar livre, pra ter oportunidade de amar outra pessoa, e desde quando ele morreu todo o meu amor passou pro Gerárd. Meu amor é quantitativo, quando eu digo todo, é porque é todo mesmo, literalmente. _Se explicou Anne.

_E o seu medo é de não amar o teu filho? De você ter que escolher entre o Rafael e o Gerárd? _Disse Alice.

_Não é só isso. _Lamuriou Anne.

_O quê mais Anne? _Alice virou os olhos na órbita

_Eu não sinto meu filho mais. _Disse Anne. _Antes eu sentia ele mais, uma energia, uma vibração boa, um positivismo. Eu tinha certeza que eu ia encontrar ele, agora eu não tenho mais.

_Mas Anne, não a nada a se fazer. _Disse Alice. _E pra falar a verdade, eu não tenho esperanças nenhuma de que seu filho reapareça.

_Eu sei. _Anne chorou.

_Não precisa chorar por causa disso. _Disse Alice.

_É porque eu nunca pensei que não ia achar ele. _Disse Anne enxugado as lágrimas novamente.

_Mas desde quando você veio pra cá, você está sentindo isso? _Perguntou Alice.

_Não, eu vim pra cá pensando que ia encontrar, era bem forte. _Disse Anne. _Agora não é mais. Eu te contei do Roger e do cara suspeito na prisão dele. Mas a Ju me falou pra não confiar, ela acha que ele roubou meu filho, e essa história toda é armação dele.

_Será? _Se questionou Alice.

_Eu acreditei nela. _Disse Anne. _Mas também não é assim. Eu sinto que ainda vou encontrar ele, mas está mais fraco meus instintos maternos. O Rafa me distraiu dos meus objetivos. E eu não gostei disso. Não dele, não tem nada haver com ele. Estou com raiva do que está acontecendo comigo. Estou deixando de ser. Porque novamente estou ficando doente de amor por um homem. E não quero que isso atrapalhe minha vida de novo. Como aconteceu da primeira vez.

_Não vai acontecer isso. _Disse Alice. _Mas eu conhecendo você sei que isso é possível se teu filho não aparecer tipo, amanhã.

_Eu sei disso. _Disse Anne. _não acho que o Rafa vá me prejudicar igual ao Humberto, eles são completamente diferentes, mas o que eu estou percebendo é que eu estou mudando novamente o meu jeito de ser por alguém. É a minha doença de novo, só que não existe injeção pra curar.

_A injeção é o gerárd. _Disse Alice.

_É. _Disse Anne. _Mas cadê ele?

_Não sei irmã. _Disse Alice sorrindo.

­_Eu estou mais sociável, tenho vários amigos, sou gentil, simpática, converso e até ao shopping eu já fui. _Disse Anne frustrada. _Eu vim pra cá com essa intenção, confesso, de ser normal, encontrar meu filho e continuar minha vida, sem amores absurdos de novo. Mas ai o amor apareceu, o Rafael. Seria difícil ser sociável, uma pessoa normal, mas por causa do Rafael, ficou bem mais fácil. Eu vejo que eu passei a fazer coisas por causa dele, e que envolviam ter os mesmos amigos dele, ir em festas, sair pro shopping, conversar na praça. E eu fiz isso tudo quase sem perceber por causa do Rafa, por que pra ficar com ele eu tive que fazer isso. Eu me tornei mais sociável por causa dele e não por força de vontade minha, entende?

_Entendo. _Disse Alice.

_E eu tô vendo que é por causa desse amor absurdo que eu tô sentindo de novo que eu deixei de procurar meu filho. _Disse Anne.

_Anne, não tem como você achar seu filho sozinha, é quase impossível. _Disse Alice.

_Mas o Roger estava me ajudando e eu escolhi recusar a ajuda dele sabe? Me dei ao luxo de recusar uma ajuda. Coisa que eu estava fazendo antes sozinha. Eu me arrependi agora, até antes sabe. Mas o meu namoro com o rafa me fez esquecer disso. _Disse Anne.

_Eu entendi, eu sempre te entendo Anne Marrie. _Disse Alice. _Faz o que teu coração pedir.

_Eu só faço o que meu coração quer. _Disse Anne rindo finalmente.

_Eu quis dizer, que se você quer voltar a ter ajuda do Roger pra procurar teu filho, então volta. Volta a procurar, liga pro Roger, faz o que eu for preciso pra ter o que você quer. Pensa que nada vai atrapalhar você, nem o Rafa. _Disse Alice. _O Rafa inclusive não pode ser culpado disso viu Anne, não fale nada com ele, se não ele vai ficar chateado.

_Claro que eu não vou falar nada Lice. _Disse Anne. _Ele já é todo cismado.

_Então. Me fala do Rafa. Me fale detalhes de tudo. Porque eu já vi que o moleque é lindo e que você está apaixonada. _Disse Alice. _O Humberto deve estar se contorcendo no caixão.

As duas riram.

A tarde chegou e as duas continuaram no quarto fofocando, se atualizando uma sobre a vida da outra. Alice estava com saudades da irmã, sem contar que Anne precisava daquele ombro, daquela irmã, a despedida seria dura dessa vez, porque agora elas tiveram noção de quanta falta uma fazia pra outra. A tarde se estendeu e as duas se juntaram a Luis, Marceline e Olivier para se aprontarem para a noite, Anne tinha contratado um buffet natalino e quando caiu a noite já estava tudo pronto em cima da mesa. O combinado foi que Rafael fosse para a ceia na casa de Anne e depois da meia noite Anne iria para a casa de Rafael para ser apresentada oficialmente para a família do rapaz.

Piedra estava linda quando atendeu a porta e não ficou surpresa ao encarar teu pai. Ele não estava muito contente e não esboçava nenhuma felicidade no rosto ao ver a filha. _Mãe o pai já chegou! _Gritou Piedra

Eles se cumprimentaram.

_Credo pai! Que cara é essa? _Perguntou Piedra insegura com a reação do pai.

_Eu, tu e tua mãe precisamos conversar. _Disse Ralf.

Anne passava pela porta enquanto ia para o quarto se trocar para ceia.

Toc, toc, toc!

Anne parou no caminho e atendeu a porta.

_Pode deixar que eu atendo. _Gritou Anne.

_Anne, você precisa de uma empregada aqui nessa casa. _Disse Alice sentada no sofá.

Juliana estava com o semblante idêntico ao de Ralf, pai de Piedra, quando Anne a encarou sorridente.

_Hei Ju entra, que surpresa! _Disse Anne. _Agora que você tá aqui vai ter que ficar para o natal.

_Eu não vim pro natal. _Disse Juliana séria. _Eu vim pra conversar com você e é muito sério.

_Claro Ju, entra! _Disse Anne deixando a amiga entrar.

Juliana caminhou passo a passo para dentro da mansão DeVille.

_Você tá séria. Qual é o assunto? _Perguntou Anne quando reparou na inexpressão da amiga.

_Eu sei de tudo Anne Marrie. _Disse Juliana.

A porta dos desesperados.

Tenho a impressão de que Piedra e Anne Marrie vão se arrepender amargamente de ter aberto as suas portas.

Noite Feliz?