quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Capítulo 32: O primo de Anne Marrie

_Como pode ser assim?

Fingirmos mais do que o real

Sabendo que o inevitável,

era mais do que provável.

Como o preto e o branco,

seguiram juntos como nós?

sabendo que no final

tudo era bem mais colorido.

Minha cor, meu desejo

Não temos culpa se o lápis no papel nenhuma cor deixava

Uh, Tudo branco,

Como o nada é.

E como se nada tivesse muita importância,

de nós dois o que era cor,

não passou de um mero filme Preto e branco.

Quadros que pintamos

Tintas que gastamos, pra no final

Virar parte da parede da minha casa.

Vermelho nos amamos,

Azul e verde, nada é igual.

Nós dois não somos cores,

Somos só preto e branco.

A banda Moroles era composta por quatro garotas e um garoto. Ele era o vocalista, enquanto elas se dividiam entre os instrumentos. O som deles era contagiante, alegre e agradável aos ouvidos, as letras sempre remetiam ao amor, aos amores. Anne já era fã, desde que os ouviu naquela noite. Uma mistura de blues com rock, dava o tom da banda, que tinha um estilo próprio, independente e sem medo. A banda estava prestes a gravar o primeiro CD, e para se divulgarem pediram para Lourdes um espaço na cerimônia do concurso. Espaço concedido? Eles deram um show.

Os 7 pulavam e tentavam acompanhar aos berros os versos da música. Riam, dançavam, rodavam, gritavam, saltavam, cantavam.

_Obrigado, obrigado pessoal. _Começou a dizer o Vocalista ofegante, quando a música acabou. _Essa música se chama “Preto e Branco” e vai estar no nosso primeiro CD, que ainda sai esse ano.

As palmas subiram no ar.

_Essa música fala de amor, de como ele pode ser confuso as vezes. Quando a gente acha muito, a dura verdade é que não existe nada. _Disse a Guitarrista.

_Amor dói quando termina, machuca. Mas quando a gente ama de novo, esquece tudo que passou, tudo que sofreu, acredita no impossível, faz milagres. _Disse a Percussionista.

_O amor é a esperança pintada de vermelho, porque quando ele chega a gente acha que é o certo, o ideal. _Disse a Saxofonista. _Mas nem sempre isso é verdade. Mas mesmo assim a gente corre em busca de outro, na esperança de que seja o próximo.

_O amor é mal, o amor é bom. Não tem como descrever, a gente só tem que sentir. Mal ou ruim, é a coisa mais linda que existe. Amar. _Disse a Baixista, dando introdução a outra música.

Seguida de um acorde de Sax.

A música fez todos pularem ainda mais, era alegre, divertida, como todas as músicas da banda.

_Tri legal o som das gurias. Tu não achou Juca? _Perguntou Olivier aos berros pra tentar saltar a voz por cima do som alto que a banda fazia no salão.

_Eu gostei mesmo foi do vocalista. Canta muito bem. _Disse Juca malicioso.

_Sei bem o que tu gostou nele. _Disse Olivier. E não foi a voz.

Juca só deu um sorriso de lado e voltou a curtir Moroles.

Olivier não ligou muito e seguiu Juca na curtição.

Anne e Rafael dançavam agarradinhos, e Anne sorria lindamente ao ouvir as letras das músicas que tanto lembravam o que ela sentia. AMOR.

_Porque tu tá tão feliz? _Perguntou Rafael.

_Essa noite está sendo muito especial pra mim. _Disse Anne sem tirar os olhos do palco. _Pra você não?

_Bá! Mas é claro que sim. _Disse Rafael sorrindo. _É o melhor natal que eu vou passar na minha vida.

_Jura? _Sorriu mais Anne Marrie, virando de frente para Rafael. _Mesmo com uma assassina como namorada?

_Mesmo com uma assassina como namorada. _Disse Rafael. _É até excitante sabia?

Rafael subiu a mão pelas costas de Anne e a puxou pra perto, num abraço esmagador e erótico. De um molhado beijo na boca Rafael desceu seus lábios direto pro pescoço de Anne.

Anne se assustou com as novas intenções de Rafael e o empurrou automaticamente.

_O que foi? _Perguntou Rafael assustado.

_Nada. Não foi nada. _Disse Anne, assustada tanto quanto Rafael com sua reação. _Eu só me assustei, só isso.

_Com o que? _Questionou Rafael.

_Com você. _Disse Anne sinceramente.

_Porque? _Perguntou Rafael.

_Você nunca tinha feito isso. _Disse Anne envergonhada. _Nunca tinha me beijado desse jeito.

_Fiz algo de errado? _Se preocupou Rafael.

_Não Rafa, claro que não. _Disse Anne. _O problema é comigo mesma. A muito tempo que eu não faço essas coisas.

_Que coisas? _Perguntou Rafael.

_Ah, Rafael você sabe. _Disse Anne. _Essa coisa de namorar, beijar, e dar uns amassos.

_Dar uns amassos? _Disse Rafael, com uma cara de deboche. _Tu é nova demais pra ter tua idade, mas quando fala assim é que eu tenho certeza de que não é mentira.

Ele riu.

_Pára de rir! _Pediu Anne rindo dando um tapa no braço de Rafael. _Mas é verdade, esse tempo que fiquei afastada, não fiquei com ninguém. Eu só namorei um homem na vida. O Humberto.

_Eu sei de tudo Anne. Eu sei disso também. _Disse Rafael. _Mas eu não estou cobrando nada, mas uma hora ou outra isso vai ter que acontecer.

_ISSO quer dizer AQUILO? _Perguntou Anne sem graça.

Rafael riu e balançou a cabeça confirmando.

_Não tem graça! _Disse Anne. _Você ri, porque não é com você.

_Não se preocupe com isso agora Anne, eu estou tranqüilo. _Disse Rafael. _Quando acontecer, aconteceu, fácil assim, natural. Sem cobranças. Eu imagino o quanto deve estar sendo difícil pra ti.

_É e não é. _Disse Anne. _Eu já pensei nisso várias vezes, mas eu tento não ficar imaginando, se não fico sofrendo por antecedência.

_Relaxa. _Disse Rafael sorrindo. _Relaxa!

Os dois riram. E em seguida ainda sorrindo Anne se aproximou de Rafael novamente ao som de Moroles.

_Eu não vou te cobrar nada, quando tu tiver preparada, eu vou saber. _Disse Rafael.

_Será? _Brincou Anne.

_E desculpa por mais cedo. _Começou Rafael no ouvido de Anne pra que ela ouvisse. _Eu disse uma coisa que não deveria dizer.

_Tudo bem Rafa, eu nem lembro mais. _Disse Anne. _Eu também não fui compreensível. Eu sei que você tem problemas com sua família, e pensei só em mim.

_Não foi isso. _Disse Rafael. _Tu estava certa. Tu é minha namorada e pronto, eu te escolhi pra te amar. Minha família que se dane. Se pra ti é importante, é importante pra mim também.

_Não precisa, se você achar melhor. _Disse Anne. _Tem certeza?

_Anne, tu é minha namorada. _Disse Rafael. _Feliz tu, feliz eu.

Os dois sorriram e se beijaram.

Piedra, João e Patrícia se divertiam também.

O show seguiu com mais três músicas, que também falavam de amor. Sempre. O show terminou e a banda deixou o palco por baixo de aplausos e gritos de bis. Mesmo com o palco vazio a ovação não cessava, somente quando Lourdes subiu ao palco as palmas pararam.

_Podem continuar, eu também quero. _Disse Lourdes.

Tidos riram e bateram palmas novamente.

_Gracias. _Disse Lourdes sorrindo. _Essa foi la banda Moroles. Muito boa não?

Todos levantaram as palmas novamente.

_Agora é chegada a hora, mis amigos. _Disse Lourdes. _Chamo ao palco agora pra fazer o anúncio do grande vencedor. Minha querida filha Piedra Schreisen.

_VAI LÁ PI! _Gritou Rafael, puxando as palmas pra garota subir ao palco.

Piedra foi linda e morena desfilando até o palco. As mãos pararam de bater e a festa voltou a prestar atenção em Piedra.

_Boa noite, só eu de novo. _Piedra arrancou risadas de alguns. _Acho que isso é bom.

Anne e sua turma gargalharam. Piedra sempre teve aquele jeito prepotente, mas não precisava fazer isso na frente de uma platéia. Mas era engraçado para eles.

_A noite foi linda, e já está perto do fim, infelizmente. _Começou Piedra. _Mas pra terminar as premiações e atrações dessa noite, nada melhor do que com um vencedor, não é mesmo? O vencedor dessa noite levara o titulo de melhor decoração natalina do ano, representado por um troféu maravilhoso, um premio em dinheiro de cinco mil reais e um esportivo japonês.

Todos vibraram em palmas.

_Quer coisa melhor? Impossível não é? _Disse Piedra. _Pronto mãe, agora me dê logo esse envelope, porque eu não agüento mais de tanta curiosidade.

Todos riram enquanto Lourdes avançou até a filha e lhe entregou um envelope dourado envolvido por uma fita vermelha.

_E o vencedor do concurso de dec... _Começou Piedra ao desfazer o laço. _...Ah, cansei de dizer o nome desse concurso, é muito grande. Todos nós sabemos o nome não é mesmo, não preciso repetir.

Todos riram.

Por fim Piedra puxou o papelzinho de dentro do envelope e fez uma cara de surpresa. Seus olhos brilharam com as lágrimas que começavam a surgir devagar.

_E o vencedor do concurso é? _Disse Piedra tentando segurar suas emoções. _Olivier DeVille.

Piedra começou a chorar, entregou o envelope para mãe, desceu do palco o mais depressa que pode e correu para o banheiro feminino. João percebeu a decepção da namorada com o resultado e correu atrás dela. Olivier se surpreendeu com o resultado, ele achava que o ganhador seria o dono de uma decoração mais tradicional, mas comum, não original quanto a dele. Alice se levantou tão empolgada, tão feliz, que as palmas da suas mãos chegavam a arder de tão forte que batiam uma na outra. Luis não chegou a levantar, mas também estava feliz pelo filho. Olivier passou pela mesa dos pais, os abraçou bem forte e chamou Marceline junto ao seu lado. A caminho do palco Juca foi ao teu lado sem contato físico, apesar do escancarado orgulho do “primo”. Anne e Rafael o acompanharam também e os dois igualmente orgulhosos. Olivier parou diante das escadas do palco e apertou ardorosamente a mão de Juca, até que por fim Juca não resistiu e o abraçou por um tempo consideravelmente, carinhoso demais, para dois primos distantes. Por fim os dois se soltaram e Olivier subiu ao palco de mãos dadas com Marceline que estampava um grande sorriso no rosto, se sentindo por subir ao palco com o irmão campeão.

Olivier pegou o microfone das mãos de Lourdes tremendo, além de ele estar surpreso e chocado por ter ganhado o prêmio, ele, como sua tia, não se dava bem com o palco, com público, com pessoas. Um turbilhão de coisas pra dizer passava por sua cabeça nesse momento. Ele sentia um frio na barriga comparável apenas a um bom passeio de montanha-russa.

_É... Eu não sei o que dizer. _Disse Olivier vermelho de vergonha, tanto que seus olhos chegavam a estar molhados, como se seu rosto estivesse queimando. _Eu só tenho a agradecer, só agradecer, só isso. Obrigado.

Todos bateram mais palmas, Lourdes vinha logo atrás de Olivier com um pequeno troféu. Era um pequeno moinho de acrílico. As palmas, gritos e assobios aumentaram quando Olivier segurou o troféu e levantou para o alto. Antes que ele percebesse Marceline já estava com o microfone na mão.

_Oi gente. Meu irmão tem muita vergonha, mas eu vou falar por ele. _Disse Marceline sorrindo, fazendo todos sorrirem. _Eu, minha mãe e meu pai viemos só pra ver ele ganhar. Eu sabia que ele ia ganhar, ele é artista. Ele é pintor.

Todos sorriram.

_É verdade, ele até pintou minha tia Anne. Ficou mias lindo do que todos os quadros do mundo, por que a minha tia é linda, a mais linda de todas. Até mais linda do que a minha mãe.

_Chega Marceline. _Disse Olivier pegando o microfone da mão da garota.

_TE AMO MÃE. _Gritou Marceline, que foi ouvida mesmo sem microfone.

Todos bateram palmas enquanto os três sorriam e deixavam o palco.

A turma estava toda em frente ao palco para dar os parabéns de Olivier enquanto no telão um slideshow das fotos da decoração vencedora era exibido.

_Parabéns Oli. _Disse Rafael cumprimentando Olivier.

_Você merece Oli. _Disse Anne ao fazer o mesmo com o sobrinho.

Quando chegou a vez de Patrícia ela pulou no pescoço de Olivier e abraçou o mais forte que pode.

_Obrigado Pati, mas tu tá me enforcando. _Disse Olivier sorrindo feliz da vida com o troféu na mão.

_Desculpa. _Disse Patrícia quando soltou o amado. _Eu só queria te dar os parabéns, a tua decoração era com certeza a melhor de todas, não tinha pra ninguém.

_Tudo bem. _Disse Olivier em meio a tanto parabéns.

Alice e Luis vinham se aproximando pra cumprimentar o filho.

_Espero que teu primo não fique bravo. _Disse Patrícia.

_Que primo? Nós não temos primo. _Disse Marceline.

_O quê? _Perguntou Patrícia sem entender.

Alice chegou abraçando forte o filho.

_Parabéns filho! _Disse Luis sorridente, antes de começar a conversar com um senhor da mesa de trás.

_Parabéns, meu lindo. Você merece tudo de bom querido, parabéns. _Disse Alice emocionada.

_Mãe, não precisa chorar. _Dizia Olivier sorrindo.

Alice fez bem em ter chegado nessa hora, por Olivier ela podia ficar ali abraçada com ele pelo resto da festa. Patrícia parecia estar confusa com a revelação de Marceline e ela queria explicações, ela queria a verdade.

_Eu estou feliz, só isso filho. Não posso? _Disse Alice quando soltou o garoto.

_Tudo bem. _Disse Olivier. _Cadê o Juca?

_Não sei Oli, mas eu vi ele saindo de perto da gente. _Disse Anne.

_Eu também vi o primo de vocês saindo daqui parecia que ele foi no banheiro, tava com uma pressa. _Disse Patrícia.

_Que primo? _Disse Anne, sem pensar.

_Como assim, que primo? _Disse Rafael. _O seu primo Anne.

_Que primo? _Perguntou Alice. _A Anne não tem primo.

_Espera ai. _Disse Patrícia. _O teu primo Olivier, não é primo da Anne também?

_É claro que sim! _Disse Olivier nervoso.

_É claro que não! _Revidou Alice. _Nossa família, não é grande para termos primo, papai é filho único, eu e Anne não temos tios, muito menos primos.

_Não entendi. _Disse Rafael.

_Eu menos. _Disse Patrícia. _Oli, quer explicar essa história direito?

_EU? _Assustou Olivier.

Juca se aproximou e sem querer ajudou Olivier.

_Ela está aqui Olivier. _Disse Juca alterado.

_Quem está aqui? _Perguntou Olivier aliviado pela mudança de assunto.

_Aquela menina que a Piedra bateu mais cedo. _Disse Juca. _Luisa não é?

_A Louísa. _Disse Olivier.

_Eu não acredito que ela voltou. _Disse Rafael.

_Quando você estava lá em cima eu vi ela no meio da multidão. _Disse Juca. _Dai eu corri até lá pra perguntar o que ela estava fazendo aqui.

_E ai? _Perguntou Patrícia.

_E ai, que ela disse que a festa pra ela ainda não acabou. _Disse Juca.

_Ela vai aprontar de novo. _Disse Rafael revoltado.

_E cadê a Piedra? _Disse Anne. _A Louísa vai atrás dela.

_Eu vou procurar por eles. _Disse Patrícia que se pos a correr em direção aos camarins.

_Vamos atrás dela também. _Disse Rafael.

_O que está acontecendo gente, o que essa menina fez? _Perguntou Alice.

_Mãe, só imagina alguém tão louca quanto a tia! Imaginou? _Disse Olivier. _Agora duplica isso! Essa é a Louísa.

_Meu Deus! _Alice se chocou.

_Credo Alice, eu não sou tão louca assim. _Disse Anne.

_Depois eu te conto mãe o que essa Louísa já fez. _Disse Olivier.

_Pra onde ela foi Juca? Tu que estava com ela agora. _Disse Rafael.

_Eu a perdi de vista. _Disse Juca. _Quando a entrega de prêmios acabou todos levantaram pra aplaudir o Olivier e eu me atrapalhei, e ela aproveitou pra fugir.

_Droga! _Disse Olivier. _Vamos.

_Então ele que é meu primo? _Perguntou Alice.

_Prazer. _Disse Juca sorrindo.

_Então vamos. _Disse Rafael. _Fica ai Anne, e cuidado.

Rafael, Olivier e Juca saíram em disparada em busca de Louísa.

_Anne Marrie DeVille, eu quero saber que história é essa de primo. _Disse Alice, sentando Anne no primeiro lugar vazio que viu.

_Eu vou te explicar. _Disse Anne. _Mas promete que não vai brigar heim.

_Mesmo se eu não prometesse. Eu não consigo brigar com você. _Disse Alice. _Agora me conta direitinho quem inventou essa história de Primo de Anne Marrie, e pra quê minha irmã?

Luis continuava a conversa com o senhor da mesa de trás, eles pareciam falar de algo relativo à bolsa de valores e a crise. Marceline ficou sem lugar e foi buscar algo para beber quando percebeu que o papo ia ficar sério. Ela não gostava muito de ouvir essas coisas, ela se sentia velha.

Louísa subiu ao palco, calmamente, sem chamar a atenção de ninguém, ela estava com um leve vestido branco que mais parecia uma camisola. O vestido era de seda e tinha algumas rendas dando a veste uma cara mais sofisticada, que não a deixava simples demais pra ser um pijama. A garota segurava nos braços um grande buquê de rosas vermelhas e perfumadas. Quando ela segurou o microfone a freqüência alta chamou a atenção de todos que olharam imediatamente para o palco.

_Eu gostaria de pedir a atenção de todos. _Começou a garota.

Rafael, Olivier e Juca olharam na mesma hora e ficaram paralisados diante do perigo eminente que era Louísa no microfone.

_Em homenagem ao brilhante artista vencedor do concurso desse ano, eu estou aqui hoje. _Disse Louísa sorridente. O rosto branco de pó, na tentativa de esconder os hematomas e arranhões no rosto, não funcionou muito. A garota estava estranha, doente, visivelmente perturbada, os olhos esbugalhados e vermelhos de tanto chorar, os cabelos mal arrumados para trás num coque mal feito, no nariz quebrado uma grande bandagem. A imagem deprimente de alguém moribundo e infeliz, ou seja, um morto-vivo. Um zumbi. _Ele mesmo me pediu para subir aqui no palco hoje e oferecer essas flores, essas lindas rosas, a pessoa que ela mais ama. E que está aqui neste salão hoje.

Ninguém se manifestou. O coração de Olivier saltou acelerado debaixo da costela e ele jurou que ouviu uma delas se partir, tamanha era a força que seu coração bateu. Juca foi mais racional, escutou calado, confiando que Louísa não tinha provas de que ela era o namorado de Olivier. Patrícia, Piedra e João vinham se aproximando bem nessa hora, saídos dos camarins.

_Vamos gente! Cadê as palmas? _Perguntou Louísa erguendo o buquê. Alguns bateram palmas sem entender, mas mesmo assim foram poucas. _Vermelho como o amor, essa rosas representam esse sentimento tão bonito, que tanto buscam, que tanto querem saber o significado. Lindo não?

_O que essa guria está aprontando agora? _Perguntou Piedra.

_Não sei Piedra, mas é melhor tu avisar tua mãe. _Disse João.

_Não precisa, ela sabe que essa guria pode acabar com a festa dela. _Disse Piedra. _Ela já deve estar tomando alguma providência, não é possível.

_Tomara né Pi. _Disse Patrícia com medo de Louísa.

_Esses dois vem se gostando a muito tempo, mas em segredo. _Recomeçou Louísa. _Não entendo, porque algo tão bonito, tão legal, pra esconder.

_Olivier, faz alguma coisa! _Disse Juca. _Se ela falar da gente, vai acabar tudo.

_O que? Acabar o que? _Perguntou Rafael. _Vocês sabem do que ela está falando?

_Calma Juca, não tem como ela saber de nada. _Disse Olivier. _A não ser que tu contou alguma coisa.

_Eu não. _Disse Juca automaticamente. _Quer dizer...

_Tu disse? _Tremeu Olivier.

_NÃO. _Disse Juca. _Não sei.

_Ai meu Deus! _Disse Olivier. _Meus pais estão aqui Juca, e agora?

_Eu não estou entendendo nada. _Disse Rafael.

_Espero que ninguém esteja cara. _Disse Juca.

_Chegou a hora de revelar o mistério, o próprio Olivier não quer mais esconder isso. _Disse Louísa sorrindo com dificuldades devido à dor que sentia no rosto. _Patrícia querida, suba aqui no palco e receba essas lindas rosas que seu amado Olivier lhe deu.

Luis abriu um sorriso.

Os pés de Patrícia saíram do chão, flutuaram num clarão, e devagar as cores de outras lembranças entraram veloz em sua mente, pensando em outras coisas, como se um filme estivesse sendo rebobinado na sua cabeça. Flores, bombons, cartas, buquês, perfumes, mensagens, declarações, quadro. Em um segundo ela estava de volta para a festa, tonta com tão rápida viagem e com tal absoluta certeza da verdade. Como doeu, como era triste saber enfim a verdade.

_Cadê a felizarda? _Disse Louísa. _Vamos Patrícia, cadê tu? Vai desperdiçar um buquê lindo desses? Tem gente que não se daria a esse luxo heim. E eu te conheço, sei bem que tu quer vir aqui pegar essas flores e colocar com aquelas outras flores mortas na sua casa, aquelas que tu já ganhou antes. Ou então junto com aquela flor seca. Aquela primeira que tu ganhou do Olivier, aquela que tu guarda no teu diário heim, na seção EU AMO O OLIVIER. Deixa de ser boba Pati, sobe aqui logo. Cadê tu?

Patrícia não suportaria enfrentar Louísa agora, não ali, não tão fraca como ela estava. Fugiu-lhe o coração, lhe fugiriam as palavras. A garota correu em direção a saída aos prantos. Piedra viu tudo, mas achou melhor não segui-la, ela sabia o que deveria ser feito. Louísa estava pedindo pra apanhar mais, e Piedra iria atender os pedidos da guria.

_Nem pense nisso Piedra. Isso agora não vai adiantar. _Disse João sério segurando o braço da namorada.

_Ela tinha que se vingar de mim, não da pobre da Pati. _Disse Piedra.

_Isso não tem nada haver contigo, a muito tempo que minha irmã vem recebendo essas rosas, achando que eram do Olivier, eu nunca disse nada porque não queria deixar o guri com vergonha. _Disse João.

_Eu vou chamar minha mãe agora! _Disse Piedra. _Cadê os seguranças dessa festa que até agora não tiraram essa garota de lá?

_Eu vou atrás da Pati, ver se ela está bem. _Disse João.

_Ela já saiu, vá com ela até em casa e vê se tenta acalma-la. _Disse Piedra. _Eu vou pra tua casa assim que colocar essa louca pra fora.

_Sem bater Pi. _Disse João.

_Pode deixar. _Disse Piedra dando um beijo no namorado.

_Foi embora? Ah que pena. _Disse Louísa fazendo beicinho. _Agora quem vai ficar com as rosas? Ninguém? Ninguém?

Lourdes vinha da portaria com cinco seguranças. Os seis marchavam por entre as pessoas abrindo caminho entre os convidados. Piedra encontrou com a mãe no meio do caminho e se juntou a tropa.

_Sabe o que é mais engraçado? _Perguntou Louísa no microfone. _É o porque Olivier ama tanto a Patrícia desse jeito? Não. Porque pelo o que eu sei os gays gostam de pessoas do mesmo sexo não é? O que define eles como homossexuais. Não é verdade? E disso eu tenho certeza, porque ele mesmo me disse. Não é Oli?

Alguns se chocaram, outros nem tanto. Olivier ficou assustado porque lembrou que era verdade o que Louísa falou, ele mesmo contou a ela sobre sua sexualidade, ingênuo na época não sabia que isso podia ser usado num discurso para o Moinho inteiro.

_Então sendo assim, o buquê fica pra quem vir pegar aqui primeiro. Ou a Patrícia se entrega a essa paixão louca, que nem eu mesmo entendo. Ou então o Juca, o primo bastardo que apareceu do nada. Isso mesmo Juca, pode vir aqui pegar também, mas só me responda uma coisa antes, tu é o passivo ou o ativo?

_DESCE JÁ DAÍ LOUÍSA! _Gritou Theodor no meio da multidão.

Louísa tremeu ao ouvir a voz do pai, ela tinha receio ao que ele poderia fazer.

_Eu ainda não acabei. _Disse Louísa segurando o microfone com força.

_EU NÃO ESTOU BRINCANDO! _Gritou Theodor novamente.

_Pois eu estou. _Disse Louísa no microfone. _Quem quer brincar mais?

A festa estava parada, todos os convidados congelaram em seus lugares e alguns copos pararam a meio centímetro da boca, os garfos erguidos no ar, garçons equilibrando pilhas de taças de champanhe, Louísa, Piedra e os seguranças também pararam no caminho ao palco, Anne parecia normal, serena e observadora ao lado de Alice, que fitava a toda hora a reação de Luis, às palavras de Louísa. O silencio era perturbador. Só o som da voz de trovão de Theodor e da fina voz de Louísa tomava conta do lugar.

_ACABOU TUDO LOUÍSA, SUAS BRINCADEIRAS, SUAS LOUCURAS, SUAS VINGANÇAS, ACABOU! _Disse Theodor duro de raiva.

_Mas querido paizin... _Começou Louísa.

_EU NÃO QUERO MAIS OUVIR A TUA VOZ, TER QUE OLHAR NA TUA CARA, TU ESTÁ COMPLETAMENTE FORA DE SI, FORA DA REALIDADE. VIVE NESSE MUNDINHO DOENTE QUE TU CRIOU NA TUA CABEÇA. _Disse Theodor. _TU VAI DEIXAR ESSES LUGAR EM PAZ, E ACEITAR QUE TU NÃO TEM NINGUÉM. MAS NÃO TEM NINGUÉM MESMO, NEM A MIM, NEM A TUA MÃE, NINGUÉM. TÁ SOZINHA COMO SEMPRE QUIS.

_Eu nunca vou ficar sozinha, minha mãe está comigo. _Disse Louísa pelo microfone.

_ATÉ A TUA MÃE DESISTIU DE TI LOUÍSA. ELA ME MANDOU AQUI ATRÁS DE TU, PRA TI MANDAR PRA LONGE, PRA UM MANICÔMIO, PORQUE NEM ELA TE AGÜENTA MAIS. _Disse Theodor.

_É mentira tua. _Disse Louísa começando a se abalar. _É MENTIRA!

Louísa jogou o buquê no chão com força e saiu correndo do palco envergonhada. Theodor contornou o palco depressa. Os seguranças de Lourdes já estavam esperando a menina quando ela tentou passar por eles correndo e chorando. Eles a seguraram com facilidade com uma só das mãos e nem foi preciso cinco seguranças, dois apenas foi o suficiente. Louísa começou a gritar e a se debater contra os fortes homens. Theodor então chegou também aos prantos diante dos gritos da filha que cortavam seu coração de pai. OS gritos eram feios, finos e tristes. Gemidos de dor soavam por todo o lugar, dor na alma, dor interior, não podia ser comparada a simples arranhões e ossos quebrados, a dor de Louísa era interior.

_Cuidado, não machuquem ela. _Pedia Theodor aos seguranças.

_A gente vai ter que tirar ela daqui Senhor Zurück. _Disse Lourdes.

_Meu carro está ai na porta. _Disse Theodor cansado daquilo tudo.

_Tudo bem, eles vão leva-la até lá, não se preocupe. _Disse Lourdes. _Ninguém vai machucá-la.

_Obrigado. _Disse Theodor.

Eles seguiram para a saída enquanto todos calados olhavam boquiabertos a situação.

João que não viu a discussão de pai e filha estava do lado de fora a procura de sua irmã. Os paparazzis e fotógrafos não perceberam sua saída e por isso permaneciam quietos, sentados em seus carros e espalhados no meio fio. João viu Patrícia de costas e logo correu em direção a ela que estava do outro lado da rua. Ao se aproximar mais, percebeu que havia um homem ao lado da irmã.

_Patrícia! _Gritou João.

Patrícia entrou na porta de trás de um carro preto de luxo, e o homem seguiu para o lugar do motorista, ao se virar João reconheceu o rosto não do homem, mas do garoto que acompanhava sua irmã. André entrou no carro feliz, como se carregasse no banco de trás um troféu. João correu, gritando ao berros o nome da irmã. André abaixou um pouco o vidro e sorriu para João, provocando o garoto ainda mais.

_Pára esse carro André! _Disse João ao se aproximar da janela do motorista. _Desce do carro Pati!

O carro cantou os pneus e deixou uma marca no asfalto. Com o barulho, os antes distraídos fotógrafos e repórteres, acordaram e se puseram a tirar fotos. João viu a irmã ser levada pelo jovem traficante no grande carro preto de luxo e em seguida vários flashes invadiram sua visão, e ele não pode ver a direção que o veiculo tomou. Quando os flashes diminuíram o carro havia sumido no ar. João tampou o rosto com as mãos tentando se esquivar da fotos e para melhorar a vista olhou para o outro lado e pode ver o grande moinho no centro da praça. O velho monumento estava com as pás girando levemente com o vento. A noite ainda continuava calma, climaticamente falando.

Capítulo 31: Dança Anne Marrie

Lourdes estava vestida com uma blusa branca de babados e uma caça preta e justa nas pernas, Os cabelos negros jogados sobre os ombros, estavam ondulados e armados com laquê, no pulso um grande relógio de ouro balançava enquanto ela gesticulava.
_Nós fizemos um trabalho simples. Eu e minha filha pedimos ao decorador ao mais clássico, inspirado nas decorações dos anos 50 dos paises europeus. Algo elegante, alegre e tão infantil e colorido quanto o natal. Ele conseguiu resgatar para nós algumas fotos, livros e revistas mostrando as idéias que ele teve. Nós encontramos uma foto em um livro que descrevia a decoração de um bordel espanhol dos anos 50. Eu e piedra minha filha ficamos encantada com a fotografia, era tudo bem colorido, havia uma coisa circense na decoração e a gente decidiu optar por essa.
Por cima do rosto de Lourdes escorregou a foto de que ela falava. Na imagem pintada, várias pessoas pareciam brincar, dançar, beber em baixo de uma árvore avermelhada homens vestido de vermelho brincavam de ser Papai Noel, mas traziam no rosto uma pintura branca e um nariz de palhaça. Em cantos espalhados da imagem, mesa postas com mulheres também de vermelho e azul usando na cabeça um gorro felpudo branco, nas vestimentas nada mais nada menos do que meias altas, e corpete justo na cintura. Havia também na foto grande labaredas de fogo saindo da boca de homens. Grandes perna de pau sustentavam cavalheiros elegantes, mas já amarrotados. Uma grande festa.
A foto escorregou tão rápido quanto apareceu, por detrás dela apareceu Piedra, com o cabelo amarrado em um rabo de cavalo no alto da cabeça e com uma blusa armada por cima de uma blusa segunda pele preta, no fundo vários homens pregando, martelando, colando.
_Eu adorei a idéia do circo no natal, acho que natal tem que ser alegre sabe. Divertido, acho que no inicio ele foi inventado para encantar todo mundo, para que fosse mágico. Crianças adoram circo, e adoram cores, acho que é isso que tem que ser. Natal pra mim é tempo de felicidade, tempo de esquecer dos problemas, pensar no ano que passou, deixa por Reveillon, agora não. Agora é a festa, não é despedida, é época de dar presentes para os amigos e familiares queridos como eu vou fazer. _Disse Piedra sorridente o tempo todo.
Uma breve imagem de homens pregando grandes ramos verdes nas portas, e colocando no quintal uma grande árvore vermelha, passou na frente do rosto de Piedra, e logo em seguida apareceu um homem de cabelos curtos e negros. Trajando uma blusa social rosa, coberta com um colete branco o decorador começou a falar:
_A Lourdes foi muito específica no que ela queria pra decoração desse ano. Ela me ligou e falou que precisava de algo alegre pra esse ano, tradicional, mas ao mesmo tempo diferente. Eu comecei a pesquisar nos livros na internet e encontrei algumas imagens, da decoração de natal da Europa dos anos 50. Ela adorou e a Piedra também. Ai eu comecei esse trabalho, eu fui comprar tudo por aqui mesmo, bem fácil de achar, mas tive que encomendar algumas coisas fora também. Tem algumas coisas daqui do Brasil, por exemplo, as rendas que revestem alguns cantos da fachada da casa, a sacada, e os pilares da varanda, vieram do Ceará. _Ele segurava na mão uma renda vermelha forte e bem amarrada. _A Lourdes não economizou nada pra essa decoração de 2008. Eu já tinha trabalhado com ela há alguns anos atrás, em algumas festas que ela produziu, mas nunca tinha feito um trabalho tão bonito, e tão intenso quanto esse. A pesquisa, os detalhes, as coisas que a gente aprendeu esse ano com a decoração do jardim, foi algo inspirador. Espero que ela ganhe.
Ele sorriu antes de mais imagens tomarem o vídeo. Piedra, Lourdes e o decorador estavam parados olhando e apontando em frente à casa, enquanto vários homens vestidos de azul andavam de um lado para o outro carregando escadas ferramentas, ajeitando enfeites, armações, bonecos, guirlandas, jogando um pouco de material especial, imitando a neve, em cima do jardim com uma máquina. Pendurando estrelas douradas, bolas de todas as cores, esticando grandes fitas formando grandes laços, amarrando cordas, pendurando balões grandes como bolas de praias. E pouco a pouco a casa foi tomando forma. Um grande circo natalino foi o resultado final. Uma outra foto da linda fachada da casa Schreisen, como normalmente era nos outros meses do ano, escorregou para o lado de outra foto da casa agora parecendo uma Espanha natalina. Antes e depois diziam as legendas respectivamente, as fotos ficaram paradas por alguns segundos no vídeo, para que se notasse a diferença.
Lourdes ainda estava sentada a mesa bem em frente ao palco, e se levantou para bater palmas quando o vídeo do making-of da sua decoração natalina acabou de ser exibido.
_Já ganhou, Já ganhou! _Dizia Lourdes aos berros e muito contente. _Agora eu vou lá dar uma olhada nessa Anne. Vou ver se ela está precisando de alguma coisa. Talvez eu convença ela a subir no palco.

Do outro lado do salão, pra ser exato nos fundos do salão, um pouco antes de se chegar a pista de dança, estava a mesa dos Zurück e Piedra se aproximava furiosa. Louísa percebeu a aproximação da garota e já colocou um sorriso no rosto.
_Essa noite está me saindo melhor do que o previsto. _Disse Louísa, fazendo Theodor olhar para onde a filha estava olhando.
Ele viu Piedra se aproximar bufando.
_Louísa, eu espero que não tenha nada haver contigo. _Avisou Theodor.
Piedra chegou a mesa de Louísa, e teve que frear os pés para não derrubar o móvel.
_Por que eu não me surpreendo mais contigo em Louísa? _Disse Piedra rangendo os dentes.
_Oi Piedra tu está linda hoje. _Disse Louísa, num tom totalmente contrário ao de Piedra. Ela estava serena.
_Foi tu não foi? _Perguntou Piedra apertando a barra do seu vestido com força, tentando deixar sua raiva escapar por ali.
_Eu o quê? _Perguntou Louísa, debochada, mesmo sabendo do que se tratava.
_Deixa de ser cínica guria. _Disse Piedra juntando as sobrancelhas. _Eu só não entendo o porquê, alias ninguém nunca entende suas loucuras não é? As razões pra fazer o que tu faz.
_O que tu fez dessa fez Louísa? _Perguntou Theodor duramente, ameaçando levantar da mesa. _O que ela fez Piedra?
_Eu não fiz nada. Eu sou mal incompreendida, eu tentei ajudar, só isso. Eu não tenho culpa de nada. _Disse Louísa fingindo sinceridade no rosto.
_Ela colocou o nome da Anne Marrie na lista para anúncios da noite. _Disse Piedra raivosa.
_Então foi por isso, que ela não apareceu? _Perguntou Theodor.
_Ela tem problemas emocionais, ela não gosta de se expor em público, e graças a tua filha de novo ela foi centro das atenções. _Disse Piedra. _O que tu tem na cabeça Louísa? Sério que não dá pra entender. Primeiro tu coloca ela na capa da Society, isso não se faz. Ela veio pra cá pra isso, pra fugir da imprensa, de tudo que assombra o passado dela. Ela não quer ninguém bisbilhotando a vida dela, achou o condomínio que oferecia discrição segurança, privacidade. Mas escolheu de olhar perto de quem ela iria morar. De tu.
_Eu sou culpada agora. Eu pensei que ela gostasse de aparecer, andando por ai com um garoto mais novo que ela. E ainda tem orgulho disso, sai por ai, de mão dada como se fosse normal. _Disse Louísa.
_É normal. Tu que não é. _Disse Piedra.
_Eu só prego pelos bons costumes, onde todo mundo se respeitava. Eu só faço valer o respeito. _Disse Louísa.
_Louísa, cala a boca agora. _Disse Theodor. _Onde esta a Anne Piedra, eu gostaria de me desculpar pela minha filha.
_A Anne está bem senhor Zurück. Mas não vai ser suas desculpas que vão melhorar as coisas, o estrago já está feito. A Louísa já existe. Não adianta o senhor dizer que vai mandar ela pra longe, por que sempre disse isso e nunca fez. Eu não confio mais no senhor, como não confio na Louísa. _Disse Piedra. Não dá pra se ter um dia de paz com ela por perto.
_Eu sei Piedra, mas eu não sei mais o que fazer. _Disse Theodor.
_Ela é doente, interna, manda pra outro lugar, fechado, um hospital, uma prisão. Qualquer lugar que ela vá ser monitorada, vigiada, sem agredir ou ferir ninguém emocionalmente. _Disse Piedra.
João chegava as pressas atrás de Piedra, e pouco depois chegou Olivier e Juca.
_Piedra vamos sair daqui, a Anne quer te ver. _Pediu João puxando Piedra pela cintura.
_Eu não vou sair daqui até descobri porque ela fez isso, eu quero saber. _Disse Piedra olhando ofensivamente para Louísa, que sorria.
__Vamos Pi, é melhor, deixa isso pra lá, não vale a pena saber. _Disse Olivier segurando a amiga pelo ombro.
_Olha quem chegou pra segurar a louquinha, Oli o bobão e o priminho amado. _Disse Louísa.
_Cala a boca garota! _Gritou Juca.
_Ficou nervosinho é por que é verdade. _Disse Louísa sorrindo. _Como que era heim? Só me diga. Quando vocês eram pequenos, dois priminhos descobrindo um ao outro. Vocês brincavam de médico ou o que?
_Cala a boca Louísa. _Disse Olivier preocupado com a reação que Juca pudesse ter.
_Fale mais alguma coisa, e eu mesmo vou ai te quebrar a cara. _Disse Juca.
_Juca calma. _Pediu Olivier deixando Piedra e segurando o namorado.
_Calma ai rapazinho, não vamos agir com violência, por favor. _Disse Theodor se levantando da cadeira.
_Se isso for preciso, precisamos agira com violência sim senhor Zurück. _Disse Piedra.
_Piedra, por favor. _Disse João segurando a cintura de Piedra.
_João querido, pode deixar ela, ela não vai fazer nada. É uma fracassada, assim como a carreira de modelo dela, que nunca foi pra frente. _Disse Louísa sorrindo. _Cá pra nós né Piedra, tu não é tão bonita assim.
_Louísa, eu vou quebrar a tua cara. _Ameaçou Piedra.
_Calma Piedra, calma! Vamos embora daqui agora. _Disse João puxando Piedra para trás.
_Vamos Pi é melhor. _Disse Olivier ao lado de Juca.
_João meu amor, deixa essa guria de uma vez e vem ficar comigo. _Disse Louísa, se levantando e abrindo os braços sorrindo. _A Piedra não te merece, eu e mereço. Ela é uma fracassada só isso, perdeu o pai, perdeu a carreira, só falta ela perder o namorado.
_Filha da P... _Piedra rangiu os dentes, e conseguiu se soltar dos braços de João. Piedra correu pra cima de Louísa, como um leopardo feroz, Olivier também tentou segurá-la, mas foi inútil, ela estava muito nervosa e aborrecida aquilo alimentava sua força e sua velocidade. Ela estava feroz.
Theodor pareceu surpreso com o ataque surpreso de Piedra pra cima de Louísa, ele não podia calcular o quanto aquilo doía no peito de Piedra, o quanto ela tinha raiva de Louísa. Piedra podia até entender que Louísa tinha sérios problemas psicológicos, mas o que a irritava não era isso, era o fato de não fazerem nada para detê-la, rapidamente ela pensou que se seus protetores percebessem que ela corria perigo, talvez eles tomassem alguma providência, a manteriam distante do Moinho, de preferência pra sempre.
A mão de Piedra chegou tão rápido no rosto de Louísa, que não deu tempo dela se esquivar, o tapa pegou em cheio na bochecha branquinha que logo ficou vermelho vivo, com a marca dos dedos. Louísa era uma idiota, sem experiências em brigas e não sabia se defender, a única coisa que fez foi levantar as mãos à frente do rosto. Piedra se aproveitou disso e agarrou os cabelos da garota. João, Olivier e Theodor seguraram Piedra por trás e tentaram separar as garotas. Piedra escapou e se jogou ainda mais pra cima de Louísa, fazendo-a a cair no chão. A raiva alimentava Piedra como a madeira alimenta a lareira fria, deixando a quente, ameaçadora, poderosa, indestrutível enquanto podia, enquanto tivesse madeira ela queimaria, lançaria chamas, consumiria o ar de calor. Dominada, Piedra passou as pernas por cima de Louísa, e prendeu os braços dela junto ao corpo com as pernas. Piedra não sabia dar um soco profissional, também nunca foi de briga, mas tentou fazer o que tinha visto pela TV. Fechou o punho e enfiou direto no nariz da inimiga. Doeu um pouco os ossos da mão de Piedra, mas a adrenalina que percorria e a estimulava fez a dor desaparecer e a razão sair correndo, sabendo que iria doer novamente, Piedra preparou outro soco e voltou a atingir Louísa no nariz. Os homens pegaram Piedra novamente por trás, e Theodor levantou Louísa do chão. Piedra deu um pinote para frente e novamente conseguiu alcançar o rosto de Louísa, As unhas fizeram um estrago em parte do rosto de Louísa e no pescoço dela também, que logo levantaram grandes vergões avermelhados de onde brotavam grandes fileiras de sangue. Theodor percebeu que a distância das duas ainda não era segura para Louísa e tentou afastar a filha mais, mas Piedra foi mais rápida ela conseguiu agarrar o cabelo de Louísa novamente, mesmo assim Olivier e João puxaram Piedra para trás, eles tomaram grandes passos para trás, até encostar em uma mesa vizinha que balançou com o impacto dos três, mas quando os dois olharam para Piedra ela ainda segurava nas mãos os cabelos de Louísa, que gritava ainda, pois havia sido arrastada até ali. Theodor segurava a filha pelos pés. Enquanto Eleonor escondia o rosto com a mão, aterrorizada com o que estavam fazendo com sua filha querida.
_Vamos embora agora, por favor, vamos embora agora! _Eleonor gritava desesperadamente aos prantos.
Juca foi até as mãos de Piedra com a intenção de abrir os dedos para que ela soltasse o cabelo da garota. Mas ele a subestimou achou que estava frouxo, que seria fácil abrir os dedos dela, Piedra estava forte por algum motivo que Juca desconhecia, ela estava motivada o bastante. Mesmo assim diante do desafio, ele aplicou mais força e assim conseguiu abrir os dedos dela com os seus, livrando assim os cabelos de Louísa das mãos de Piedra. O que restou apenas foram os tufos de cabelo loiro na mão de Piedra.
Louísa estava no chão, com o cabelo embaraçado e seu vestido amassado devido a queda, ela sentia seu rosto arder pelos arranhões que Piedra deixou em seu rosto, ela sentia uma dor forte na parte superior do seu nariz, a sensação era quente e escorria até sua boca, quando Theodor a ajudou a se levantar, ela pos a mão direto no nariz e ao levar a mão aos olhos viu uma mancha vermelha, então viu que estava sangrando. Sua boca também tinha um gosto estranho, alguma substância de origem desconhecida, mas ela já sentira aquele gosto antes, quando batia a cabeça com muita força em alguma coisa. Provavelmente essa sensação vinha dos puxões de cabelo que tomou da garota Piedra, seu coro cabeludo ardia como se tivesse queimando, uma dor física avisava Louísa de que ela havia perdido alguns fios de cabelo diretamente da raiz.
_Filha, vamos embora, tu está muito machucada. _Disse Theodor segurando uma Louísa destruída pelo braço.
_Vamos embora, por favor, que vergonha! _Repetia Eleonor que escondia o rosto o tempo todo com a bolsa de mão que carregava.
Piedra ainda fervia de raiva e poderia muito bem voltar a atacar Louísa, e por isso Olivier e João segurava-na, um de cada lado. Juca observava tudo apreensivo.
_Parabéns Piedra, tu se mostrou fraca, eu vou dar meu troco, só que eu sei lutar com outras armas, eu uso o cérebro, não sou uma modelo burro igual a ti. _Disse Louísa que sem perceber derramava lágrimas, e tentava enganar o corpo, mantendo um rosto sereno. Mas não estava dando muito certo. O sangue escorria do nariz até o pescoço, e agora os arranhões estavam altos e rosados na pele clara de Louísa e no meio deles uma fileira fina e vermelha do sangue que surgia devagar por sobre os vergões. A marca dos dedos abertos ainda estavam vermelhas e latejavam no rosto da garota.
_Cala a boca Louísa, e vamos embora daqui. _Disse Theodor puxando o corpo ferido da filha em rumo a porta.
_Tu não vai fazer nada? _Perguntou Louísa ao pai.
_O que tu espera que eu caia no braço com ela aqui no meio da festa? _Disse Theodor com pena da filha naquele estado. _Lógico que não. E além do mais, Tu estava merecendo essa lição.
_Eu não acredito, meu próprio pai, contra mim. _Disse Louísa com mais raiva do pai do que de qualquer coisa.
_Eu lhe avisei Louísa, das conseqüências dos seus atos, é uma pena que tu tenha chegado a este ponto. _Disse Theodor tentando se eximir se todo sentimento de amor que pudesse transmitir ao falar.
_Mas pai, foi ela que me atacou. _Disse Louísa se virando para o pai, encarando o nos olhos.
_Isso foi um erro meu, tu tem problemas sérios de comportamento, eu deveria ter agido antes. Escutar tua mãe foi um erro, um erro que teve conseqüências. _Disse Theodor friamente evitando olhar para a filha, para que ela não percebesse que seus olhos estavam molhados.
_Isso não é justo. _Gritou Louísa, se livrando dos braços do pai. _Eu vou acabar contigo Piedra, contigo e com esse seu clubinho da amizade.
Louísa se aproximou de Piedra novamente, o bastante para levar outro tapa, e não deu outra. Piedra que estava com as mãos livres estalou um tapa do outro lado onde não tinha batido antes. Louísa virou o rosto.
_Pronto, pra equilibrar. _Disse Piedra entre dentes.
_Eu vou te matar Piedra, eu vou acabar contigo. _Disse Louísa se levantando com o cabelo tampando o rosto. Parecia uma louca ao falar. Entre a cortina de cabelo loiro que ainda restaram na cabeça da garota era possível ver seu olho perfurante cortando Piedra.
_E eu vou estar lá pra te ver falhar, cair nas suas próprias armadilhas. Porque no final quem vai sofrer tudo é tu, sozinha. _Disse Piedra raivosa enquanto os garotos aplicavam mais força para segura-la no lugar.
_Vamos embora Louísa. Chega de ameaças vazias. Não piore a situação. _Disse Theodor pegando o braço direito de Louísa e puxando rumo à saída.
_Me solta! Ela precisa ouvir. _Disse Louísa tentando mesmo sem forças se livras do aperto do pai.
_Não seja ridícula Louísa, já não apanhou o bastante? _Perguntou Theodor, severo. _Eleonor leve ela até o carro, pelos fundos, a frente está cheio de fotógrafos, não quero nenhum escândalo na minha família, pode arruinar meus negócios.
_Eu saindo pelos fundos? Isso é inaceitável. _Disse Eleonor abraçando Louísa.
_Assuma os erros da tua filha e saia pelos fundos sim. É isso que tu ganha pelo jeito que tu criou ela. Tudo culpa minha e sua. Agora que venham as conseqüências de nossa irresponsabilidade com a Louísa. _Disse Theodor.
_E tu, aonde vai? _Perguntou Eleonor chorando. Louísa chorava no ombro da mãe.
_Eu vou me desculpar com a Lourdes e com a Piedra. _Disse Theodor. _E espero que dessa vez seja a ultima vez.
_Pedir desculpas? Mas a errada aqui foi ela. _Disse Eleonor rispidamente.
_Foi só uma reação diante da ação. _Disse Theodor. _Tudo tem conseqüências Eleonor. E nós vamos ter que assumir todas e agüentar firme. Louísa foi longe demais. A muito tempo ela já passou dos limites, eu que deixei ela solta pra aprontar. Minha culpa. Nossa culpa.
_A Louísa tem razão. Isso não é justo. _Disse Eleonor chorando. _Não é justo com nossa família.
_Já chega! _Disse Theodor rígido. _Agora faça o que eu mandei e vá para os fundos, me espere lá.
_Eu não vou sair por trás. _Disse Eleonor.
_Então fique a vontade pra sair pela frente, e aparecer na primeira página dos jornais de amanhã, com a filha pingando sangue. _Disse Theodor.
Eleonor olhou para os olhos de Theodor um pouco antes de lançar um olhar fulminante em Piedra que ainda tinha os meninos ao seu lado, preparados para qualquer surto de raiva possível, e em seguida saiu abraçada a filha, em direção a cozinha do salão.
Theodor encarou as mãos sujas com o sangue de Louísa, fechou os olhos procurando forças para ser totalmente frio e não se alterar com os garotos, até que então ele se virou e encarou os garotos. A passos lentos ele se aproximou dos garotos. Ao se aproximar Theodor olhou envergonhado para a multidão que assistiu a tudo desde o começo. Todos rodearam a pequena arena de briga, e dentro estavam Piedra, João, Olivier, Juca e Theodor, que agora já estava bem perto dos garotos.
_Eu não aprovo o que tu fez Piedra, não gosto de violência. Mas também não tiro os seus motivos por ter feito o que fez. _Theodor respirou fundo e fechou os olhos antes de recomeçar a falar. _Eu peço desculpas por tudo de ruim que a minha filha causou. É duro o que eu vou dizer agora, mas é verdade, Eu não digo que desejaria que isso acontecesse antes, mas fico feliz por ter acontecido. Eu venho tentando lutar contra isso tem muito tempo, admitir que a minha filha tem problemas emocionais sérios é bem difícil. Eu poderia ter feito alguma coisa antes, internado, tratado, qualquer coisa, mas no fundo eu tinha esperança de que ela melhorasse, esquecesse de tudo e seguisse a vida dela normalmente. Foi burrice minha não enxergar a verdade. Eu tapei o sol com a peneira.
Theodor deixou escapar uma lágrima.
_Eu vou mandar a Louísa pra algum lugar tranqüilo, pra ela se tratar, ser medicada, ser ouvida. Enfim, eu vou procurar um jeito de ajudar a minha filha e ajudar a todos nós ao mesmo tempo. Eu tenho que ir agora. Desculpem.
Theodor foi em direção a cozinha também atrás da mulher e filha.
Piedra, João, Olivier e Juca ficaram chocados com a declaração de Theodor.
_Fico feliz por ter acontecido? _Disse Juca. _Você tem certeza Oli que ele é pai dela?
_Tenho Juca. _Disse Olivier soltando por fim Piedra.
_Tá mais calma agora Pi? _Perguntou João.
_Não. _Disse Piedra, passando a mão no cabelo para ajeitá-lo. Ao contrário de Louísa Piedra não se machucou nem um pouco, nenhum simples arranhão. Ela só estava desajeitada.
_Eu não vou nem comentar o que tu fez Piedra. Foi ridículo. Tu sabia que era isso que ela queria? Ela queria te provocar. _Disse João.
_Eu gosto de realizar o desejo das pessoas. Pode me chamar de Jeannie. _Disse Piedra passando a mão no cabelo e no vestido.
Juca sorriu.
_Juca vamos até minha tia. _Disse Olivier.
_A gente também vai. A Piedra precisa se acalmar. _Disse João.
_Acabou a festa gente, circulando. _Disse Juca. _Foi bom enquanto durou eu sei, mas agora acabou. Vamos comer e beber.
Os quatro seguiram para trás do palco, rumo aos camarins.
A multidão formada em volta dos dois foi se dispersando aos poucos. Os cochichos começaram rápido, e se espalharam facilmente, e como na brincadeira, o fato verdadeiro foi destorcido. “Uma garota brigou por causa da Anne Marrie, porque aquela outra loira colocou alguma coisa na bebida dela, por isso que ela não pode fazer os anúncios.”

Quando os quatro chegaram ao camarim onde os outros estavam, Anne estava sentada ao lado de Patrícia em um sofá conversando com Rafael, bem calma e aparentemente feliz novamente, com seu belo e habitual sorriso no rosto. Piedra já estava novamente arrumada, seu vestido ajeitado seu cabelo devidamente no lugar, ela vinha caminhando tranquilamente, mas ainda estava nervosa, sua mão tremia. João vinha ao seu lado segurando seu ombro, Olivier e Juca vinham juntos logo atrás um ao lado do outro, Olivier arriscou pegar a mão do seu namorado, mas Juca se esquivou e deu uma olhada feia para o garoto.
_Hei Pi, e ai? Como foi o anúncio? _Perguntou Patrícia sorrindo.
_Foi ótimo. Eu e o Olivier somos concorrentes. _Disse Piedra tentando disfarçar o nervosismo e a tremedeira, com a voz meio embargada.
_Sério? _Perguntou Patrícia sorridente sem acreditar. _Parabéns Oli, tinha certeza de que tu conseguiria.
Patrícia correu pelo camarim e abraçou Olivier, sem que se desse conta da situação. Olivier a abraçou de volta, mas quando olhou para Juca o garoto estava de cara fechada e parecia aborrecido com a situação. Olivier afastou Patrícia o mais gentil que pode. Patrícia então se tocou que estava perto demais, mesmo sem saber do namoro de seu amado com Juca, e se afastou novamente e ficou ao lado de João.
_Desculpa, a intimidade. É que eu fiquei feliz por ti. _Disse Patrícia envergonhada.
_Tudo bem. _Disse um Olivier sorridente apesar de não rir por dentro, ele olhava para Juca o tempo todo, como se sentisse ameaçado.
_Tu não vai mesmo contar a eles o que aconteceu? _Disse João chateado com Piedra.
_João, eles não precis... _Começou Piedra.
_O que aconteceu Piedra? Conta logo. _Disse Rafael sorridente e curioso.
_Está bem. _Disse Piedra virando os olhos. _Não foi nada demais.
_Nada demais? Você quase arrancou a cabeça daquela garota fora. _Disse Juca sorrindo. Ele se divertiu muito com a briga.
_Quase arrancou a cabeça de quem? Fala Piedra? _Pediu Rafael. _O que aconteceu?
_Deixa que eu falo. _Disse João sério. _A Piedra brigou com a Louísa de tapa.
_Tapa, soco e arranhões. _Riu Juca. _E eu não diria que foi uma briga, a Piedra deu uma surra naquela menina.
_Guri, dá pra parar de interromper? Tem gente aqui que não sabe o que aconteceu. _Disse Patrícia zangada.
Juca assentiu com a cabeça e mesmo assim ele se divertiu e riu baixinho, mas quando olhou a cara feia de Olivier ele, fingiu estar sério.
_Piedra, é sério. Conta logo. _Disse Rafael não escondendo sua curiosidade.
_Vocês acreditam que foi ela que colocou o nome da Anne na lista para o anuncio dos finalistas? _Perguntou Piedra.
_Então a briga toda foi por isso? _Disse Juca. _Pelo amor de Deus galera, quantos anos vocês tem? 10, talvez 8. Aquela surra toda por causa disso.
_Juca, já chega, você não entende a situação e não conhece a Louísa. Então fica quieto e escuta, não atrapalha. _Disse Olivier já revoltado.
_Ela me disse que tinha colocado o nome da Anne na lista. E daí? _Disse Juca. _Nem ela achou isso demais. Porque é ridículo. Até agora eu não estou acreditando que a briga toda foi por causa dessa bobeira.
_Já chega Juca, eu já disse. _Gritou Olivier. _Eu vou voltar pra mesa da minha família galera, eles devem estar me procurando. E você vem comigo.
Olivier puxou Juca pelo braço, o garoto saiu do camarim com uma cara de tédio, como se fosse se chatear em breve.
_Agora está bem, conta de uma vez Piedra o que aconteceu. _Disse Patrícia também curiosa e aliviada por Juca ter saído de lá. Ela não gostava nem um pouco dele.
_Eu fiz o discurso, fiz o anuncio, normalmente, não estava ligando as coisas. Na verdade nem estava pensando em quem poderia ser, não quando eu estava lá em cima. Mas ai quando acabou tudo, eu desci pra minha mesa com a minha mãe e fui explicar pra ela o que havia acontecido contigo Anne. Foi ai que desconfiei da Louísa, quem mais seria? Ela vem querendo ti prejudicar nos últimos tempos. Não sei por que tu é o alvo dela no momento Anne. Mas é. Eu fiquei com tanta raiva daquela guria, mas tanta, que foi a única coisa que me passou pela cabeça. Eu tive que ir falar com ela, perguntar a razão, eu precisava saber o porquê. _Piedra estava serena aparentemente, mas sua voz era uma mistura de emoções, ela se sentia feliz pelo que fez, aliviada ao certo, mas ao mesmo tempo a raiva ainda estava ali. Ela estava em êxtase, um transe de adrenalina, suas mãos ainda tremiam de leve. _Mas ela não disse, não disse nada. Ficou lá como sempre, rindo, debochando, provocando. Eu não resisti e parti pra cima dela.
_E aí? _Perguntou Rafael sorrindo de felicidade.
_E ai, que a Piedra machucou ela feio, de verdade. Ela saiu daqui sangrando gente. _Disse João preocupado.
Anne não escondeu a felicidade e sorriu como não fazia a tempos. Rafael a seguiu juntamente com Piedra.
_Mas ela está bem? Será que ela vai ficar bem? _Perguntou Patrícia preocupada.
_Não sei Pati, ela saiu daqui muito machucada, com certeza o senhor Zurück vai dar uma passadinha no hospital antes de ir pra casa. _João também parecia preocupado e nem ele nem a irmã riram da situação.
_Qual é? Vocês dois estão mesmo preocupados com aquela guria? Depois de tudo que ela já aprontou pra gente? _Disse Rafael se divertindo.
_A gente não pode ficar alimentando a raiva dela desse jeito Rafael, nem a Piedra nem ninguém aqui tem o direito de agredi-la. Isso é o que ela sempre quis, agindo desse jeito, a gente está sendo pior do que ela. A gente tá jogando no mesmo nível, ou talvez num nível mais baixo. Violência é o limite, ela nunca feriu ninguém. _Disse João em seu sermão.
_Ela quase matou sua irmã. _Disse Rafael sério diante do sermão do amigo.
_Rafael, todo mundo aqui sabe que não foi ela que me deu aquela droga, eu consegui ela na festa da casa do André. Ela não teve nada haver com isso. _Se defendeu Patrícia.
_Mas desde sempre ela vive atrás da gente, perseguindo, prejudican... _Começou Piedra.
_Ela é uma criança ainda. Vocês não percebem que ela tem problemas psiquiátricos? Ela é doente. Ela acha que nós somos os brinquedinhos dela, mas pra ela nós estamos quebrados, ela só está tentando concertar. Ela vive de fazer joguinhos. _Disse João.
_Eu não estou acreditando João, que tu está defendendo está sujeita. _Disse Piedra.
_Eu não estou defendendo a Louísa, eu só estou fazendo uma critica contra nós, o modo como a gente está começando a agir com ela. _Disse João. _Se ela é uma louca, vamos fazer de tudo pra ficar longe dela. Nos defender, não atacar.
_Eu concordo com meu irmão gente. _Disse Patrícia.
_E de que outra forma nós faremos isso? Ela mora ao nosso lado, vai às mesmas festas que a gente. _Disse Piedra.
_O João só está com pena pela surra que ela levou. Ele tem o coração muito mole, só isso. _Disse Rafael.
_Não é essa a questão, Rafael. _Disse João.
_Não sei se uma surra foi a solução, mesmo porque tenho quase certeza que ela vai fazer de novo, e cada vez pior. É disso que o João está falando. Isso não ajuda em nada a gente. _Disse Patrícia. _Ele não está defendendo ninguém, nem eu.
_Eu entendi o que vocês quiseram dizer. _Disse Anne Marrie. _Mas a Piedra mandou bem na porrada. Dali, menina de ouro!
Rafael segurou o riso, mas não por muito tempo. Ele começou a rir e Piedra o seguiu, assim como Anne e também Patrícia, João virou os olhos na órbita, mas esticou a boca num sorriso, não gargalhou, mas achou engraçado no final, perverso, mas engraçado.
_Ah, e eu já ia esquecendo Pi, tua mãe saiu daqui um pouco antes de vocês chegarem. Ela tinha que correr, só passou aqui para dar uma olhada na Anne, ver se ela estava bem. Ela tinha que voltar correndo pro palco, ainda tem uma banda. Ela foi anunciá-los. Ela pediu, insistiu pra Anne ir, mas tu já sabe não é, como ela fica em relação as pessoas. _Disse Patrícia.
_E quanto a nós Anne, nós somos um grupo bem grande!? _Disse Rafael brincando.
_Eu tenho problemas com pessoas. E quem disse a vocês que vocês são humanos. _Anne riu.
Eles a acompanharam.
_Quem vai tocar? _Perguntou João.
_Ah, é uma banda daqui mesmo do Moinho. Eles procuraram minha mãe e pediram pra ela um espaço hoje pra tocar. Ela gostou do som deles e os convidou pra tocar hoje. _Disse Piedra. _Eu também ouvi eles tocando, são muito bons.
_E qual o nome da gurizada? _Perguntou Rafael.
_A banda deles se chama Moroles. _Disse Piedra. _Eu perguntei o que significava, e eles me disseram que é brincando com o inglês sabe? Tipo More or Less, mais ou menos em português. Entenderam? Moroles? Eles são os Maisoumenos.
_Legal. _Disse Anne sorrindo.
_Me concede esta dança, bela dama? _Brincou Rafael se levantando e oferecendo a mão para a Anne.
_Claro, lindo cavalheiro. _Anne sorriu e segurou a mão de Rafael, aceitando o convite.
Os dois deram alguns passos no camarim.
_Então vamos. _Disse João segurando a mão de Piedra. _Vamos tentar aproveitar o resto de noite que ainda temos.
_E quando vai ser feito o anuncio do ganhador do concurso? _Perguntou Patrícia seguindo os dois casais de volta para o salão.
_Logo depois do show dos Moroles. Eu provavelmente vou ler o nome vencedor, e espero que seja o meu. _Disse Piedra ao lado de João, virando a cabeça pra falar com Patrícia que estava atrás dela.
_Eu espero que o Oli ganhe. _Disse Patrícia.
_Sua traidora. _Piedra soltou o braço de João e levantou os braços imitando um golpe de karatê.
As duas riram e seguiram de braços dados para a pista de dança, junto com os outros.

Theodor saiu do escritório depois de beber uma boa dose de vodca pura. Ele só queria descansar depois de uma noite tão agitada. Sua cabeça doia de tantas culpas, desculpas, pensamentos, arrependimentos. Ele passou pela sala e Eleonor estava sendo servida pela empregada, ela estava tomando um chá de camomila.
_Onde está a Louísa? _Perguntou Theodor.
_A pior noite da minha vida. _Gritou Eleonor, assustando a empregada que logo tratou de sair da sala de estar correndo para cozinha.
_Eu não vou discutir contigo agora Eleonor. _Disse Theodor. _Eu só quero conversar com a nossa filha antes de dormir.
_Primeiro eu vejo minha filha ser espancada e o pai dela não fazer nada, segundo eu tenho que sair pelas portas do fundo da festa, pela COZINHA, como se fosse uma qualquer, e terceiro, passar num hospital no meio da noite, como se fosse uma doente. Me senti doente Theodor. _Disse Eleonor, colocando a xícara na mesinha de centro.
_Ela passou dos limites Eleonor. _Disse Theodor calmamente.
_TU, que passou dos limites Theodor. _Disse Eleonor se levantando num pulo. _Ela é nossa filha.
_E não por isso ela vai se safar de tudo Eleonor. _Disse Theodor.
_Ela foi surrada na tua frente e tu não fez nada. _Disse Eleonor começando a chorar.
_Choro não Eleonor. _Disse Theodor. _Tu tinha que ter mais pulso, ser mais firme com tua filha, é por causa dessa moleza que ela está fazendo o que está fazendo.
_Eu não consigo, ela é meu bebê. _Chorou Eleonor se sentando no sofá de novo.
_Eleonor, fica ai, tome o seu chá, se acalme. _Disse Theodor. _Eu vou tentar falar com a Louísa agora, antes que ela durma. Depois a gente conversa. A Louísa vai ser internada amanhã de manhã ,eu já liguei pro nosso médico, ele virá pela manhã para encaminhá-la para a clinica.
_Só não faz ela sofrer mais. _Disse Eleonor chorando antes de afundar o rosto nas mãos.
Theodor assentiu com a cabeça e fechou os olhos, já sofrendo pela grande conversa que teria com a filha. Tendo certeza de que teria de se segurar para não brigar com Louísa.
Theodor começou a subir as escadas pensando em como teria essa conversa. Como diria a filha que ela era louca e deveria se tratar, para o bem dela e de todos, antes que tudo piorasse. Theodor abriu a porta e mal abriu a boca para chamar pela garota, quando percebeu que dentro do quarto não havia ninguém.
_Louísa. _Gritou Theodor enquanto adentrava o quarto procurando pela garota. Ele foi até o closet de Louísa, mas nada encontrou lá. Procurou no banheiro, mas lá estava vazio também.
Ao voltar para o quarto, Theodor achou em cima da cama um pedaço de papel dobrado. Ele mais que depressa o pegou e o abriu:

Querido paizinho,
eu acho que você estava certo com relação as grades na janela, tu deveria me prender, assim eu não fugiria com tanta facilidade. Eu sou um animal, e animais deveriam ficar presos, não é verdade? Mas não se preocupe, eu fui a uma festinha, acho que a minha noite ainda não acabou. Mas assim que fizer o que tenho de fazer eu volto pra casa, ai o Sr. Theodor vai poder me mandar pra onde quiser. Até para um manicômio, já que todo mundo acha que eu sou doida. Combinado assim?
Até mais papai, não me espere acordada.

Piedra, João, Patrícia, Olivier, Juca, Rafael e Anne, estavam curtindo o som da banda Moroles quando Louísa chegou pelos fundos. Os sete dançavam felizes, apesar dos últimos acontecimentos, e a noite se transformou magicamente em uma noite agradável, tudo porque Louísa havia se retirado da festa. Alguém avisa pra eles que a Louísa voltou? Dança Anne Marrie! Aproveite a festa! Porque daqui a pouco você não vai ter mais motivos pra comemorar. Nem você e nem ninguém.

Capítulo 30: Muita Anne Marrie

Lourdes subiu no palco montado a frente do salão. A orla do palco estava enfeitada delicadamente com bolinhas de cristal e lâmpadas grandes do tamanho de laranjas, e também grandes fileiras de visco junto com pequenos ramos de estrelas-do-mar vermelhas pintadas a mão com pequenos detalhes em dourado. Ao fundo um grande telão rodeado de milhares de luzes natalinas, vermelha e branca. Na grande tela branca fotos de todas as famílias do condomínio, especialmente posadas para o natal, como em cartões de natal. No momento em que Lourdes subiu as escadas do lado direito do palco, no fundo estava a imagem da família de Anne, pequena. Na foto ela e Olivier estavam sentados à frente da mansão em que moravam, na Rua Canela. Todos no salão estavam distraídos conversando, e nos casos raros, alguns riam felizes e contentes. Anne estava virando um copo de leite na boca, quando avistou Lourdes subir as escadas, rapidamente percebeu que todos que estavam de pé se sentariam para ouvir o discurso. Então se apressou a procurar a sua mesa e torceu para que Rafael não tivesse tentando fazer o mesmo. Antes de raciocinar para se perguntar onde ele estava, seus olhos já o avistaram do outro lado do salão, olhando para ela. Quando ouve a troca de olhares os dois abaixaram a cabeça e saíram andando sem ter certeza de onde estavam indo. Anne percebeu que a cada passo Rafael se aproximava de sua mesa, e então ela apressou os passos para chegar primeiro. E esperava uma vez que estivesse lá, ele não se atreveria a se juntar a ela na mesma mesa. Rafael também estudou os atos de Anne assim como fez ela, e em seguida também estava correndo as pressas correndo pelo salão. Não era nenhuma corrida, nenhuma velocidade excessiva, mas também não era uma caminhada, os passos dos dois eram largos e apressados. Quase uma marcha olímpica. Parecia engraçado se alguém percebesse os dois correndo ao mesmo tempo na mesma velocidade indo em direção a um mesmo ponto no meio do salão. Anne tinha umas duas pessoas pra desviar antes de chegar a mesa, quando percebeu os dois se aproximarem todos da mesa olharam pros dois ao mesmo tempo. Rafael passou por um garçom que equilibrava várias taças na bandeja e como por milagre o garçom percebeu a tempo e deu um giro nos pés com a bandeja erguida para o alto dando espaço para Rafael alcançar a mesa, mas em seguida Rafael não foi tão sortudo, havia uma mulher com um longo vestido de renda indiana bem na frente dele e para sorte de Marrie o zíper da calça agarrou em um dos nós do tecido. Confusão feita, Rafael ficou unido à mulher que gritou de susto quando foi surpreendida pelo rapaz. O garçom que antes havia escapado acabou deixando as taças rolarem e caírem no chão quando a mulher bateu o braço frenético, enquanto tentava se livrar de Rafael que também fazia o mesmo, tentando manusear o zíper que mal se mexia preso ao vestido. Anne chegou à mesa e nem notou a cara de espanto e choque de todos. Olivier a olhava chocado, se perguntando o que a tia teria visto para correr dessa forma? Alice e Luis a encaravam, mas não estavam espantados, conheciam bem Marrie e tudo de estranho era totalmente normal para Anne “a torta”. Marceline pulou no colo da tia que nem percebeu a sobrinha, Anne só tinha olhos para Rafael que ainda estava enroscado na mulher do vestido indiano. Rafael trocava olhares com ela o tempo todo na mesa. Lourdes pedia algum microfone para um dos técnicos, o problema é que ela nervosa só estava falando em espanhol e o humilde técnico de som, não entendia uma palavra do que ela dizia, no telão a família de João estava bela e plenamente feliz na foto, tirada na sala da mansão Pinho Medeiros. Vendo a situação da mãe Piedra subiu no palco e traduziu calmamente para o técnico o que Lourdes queria. Rafael se sentou dos nós do vestido e rapidamente chegou até a mesa, lá Anne o encarou com um ar vitorioso, ao contrário do que ela pensava Rafael deu a volta na mesa e se sentou ao lado dela, no único lugar vazio da mesa. Entre Anne e Olivier. Alice e Luis se entreolharam se perguntando quem seria o rapaz que acabara de se juntar a roda. Rafael nervoso olhou para Anne esperando ser apresentado. Mas a garota mal olhava para ele, agora ela se concentrava, ou pelo menos tentava, prestar atenção no palco, onde Piedra ajudava a mãe a ligar o microfone. Olivier sabendo do que estava acontecendo entre a tia e o amigo, se adiantou a apresenta-lo aos seus pais, sabendo que Anne não o faria:

_Mãe, Pai? Esse aqui é o Rafael Cortez de Lacerda, ele é o namorado da Anne.

Luis virou os olhos e olhou para o palco também. Alice mesmo assustada sorriu.

_Muito prazer Rafael. Me desculpe é que a gente não sabia do namoro de Anne. _Riu sem graça Alice. _Ela é tão esquecida, que nunca nos contou sobre você.

_Que engraçado não é Alice, e você acredita que ele fazia o mesmo. Mas não porque ele é esquecido, mas sim porque ele tem vergonha de mim. _Disse Anne para Alice, mostrando que estava de ouvidos abertos mesmo estando visivelmente concentrada no palco.

_Isso não é verdade Anne. Eu não tenho vergonha de ti. _Disse Rafael.

_Tia pára. _Pediu Olivier.

_Mas não foi o que você disse, agora a pouco. _Disse Anne, agora totalmente virada para Rafael.

_Não foi mesmo. _Disse Rafael a verdade. _Eu disse apenas, que era difícil namorar contigo. Tu é famosa, o tempo todo tem gente atrás da gente, querendo saber, querend...

_Não é por isso, você disse que era difícil namorar comigo porque eu era um assassina. _Disse Anne com os olhos marejados.

_O que não é mentira. _Disse Luis.

_Luis, por favor, deixe os dois resolverem esse assunto? _Disse Alice, segurando o braço do marido que também mostrou estar de ouvidos abertos enquanto observava as duas se atrapalhando no palco.

_Parem de discutir, os quatro. _Pediu Olivier preocupado.

_A gente não está discutindo. _Disse o coro.

_fiquem quietos, porque agora vai começar a premiação olha lá. _Disse Olivier apontando por palco.

Todos olharam e silenciosamente deram uma trégua nas discussões.

Piedra se juntava a João na primeira mesa bem a frente do palco, e Lourdes já segurava o microfone agora funcionando normalmente.

_Alo? Som? Alo? Som? _Dizia Lourdes repetidas vezes.

Piedra virou os olhos.

_Mas esta mierda ainda no estas a funcionar? _Gritou Lourdes no microfone olhando para trás, esperando alguém vir ajudá-la.

Todos riram.

_Mãe, já está funcionando, fala logo! _Ordenou Piedra de sua mesa.

Lourdes ouviu a filha e se corou um pouco ao perceber a gafe que havia cometido. Ela ria quando começou a falar:

_Bem, bem, meus vizinhos amados e queridos do Moinho. Eu dou a vocês as boas-vindas ao 42º concurso anual de decorações natalinas dos jardins do Condomínio Moinho.

As palmas invadiram o salão. Juca estava sentado na mesa da família de Louísa, junto com Theodor e Eleonor, batendo desanimadamente uma mão na outra. Louísa ria do garoto, contente por ter encontrado alguém que poderia ajudá-la em seus planos.

_Pois muito bem. Esta noite é muito especial para mim, a muito tempo desde o ano passado não participava de uma festa tão grandiosa e elegante como essa. O ano de 2008 foi um ano, cheio de coisas boas e ruins, alegrias e tristeza, conquistas e derrotas, e muitas surpresas. Ganhamos novos vizinhos, perdemos alguns também. Enfim, esse ano tão maravilhoso pra alguns e talvez ruins pra outros não poderia terminar de forma melhor. _Disse Lourdes num discurso acompanhado de risadas e olhares diretos para Anne, quando as palavras “novos vizinhos” foram citadas.

_Tenho certeza que não. _Disse Louísa sorrindo para Juca.

Mais palmas irromperam o salão.

_O quê, o que você quis dizer com isso? _Perguntou Juca para nova amiga.

_Daqui a pouco tu vai entender. _Disse Louísa.

_Um concurso. _Recomeçou Lourdes, fazendo as palmas cessarem. _Um concurso de criatividade, talento e dedicação de todos nós. Juntos fizemos do condomínio um lugar mágico nesse final de ano. Um lugar de dar inveja até para o pólo norte.

Os convidados riram baixinho.

_Não, não. É verdade. _Riu Lourdes. _Se o Papai Noel passasse aqui pelo Brasil para umas férias, ele ficaria por aqui, no Moinho, por que aqui ele se sentiria em casa. No pólo norte.

Todos riram alto e bateram palmas.

_Durante o mês de dezembro todos tiveram o carinho, e a delicadeza de decorarem seus respectivos jardins não é mesmo? Tivemos lindos jardins esse ano. _Disse Lourdes. _Foi bem difícil chegarmos a somente cinco concorrentes, os melhores na opinião dos jurados. O nosso júri é formado pelos nossos cinco moradores chefes, criadores e administradores do condomínio, presidentes da associação de moradores do Moinho. César Alvarenga Castro, Rosário Di Lura, Sara Saramago, Kaleb Tud Cinco, e Marta Paneiras.

Mais palmas se ergueram no ar, quando dois homens e três mulheres se puseram de pé em lugares espalhados pelo salão.

_A avaliação dos jurados em busca do melhor jardim natalino ocorreu no último sábado. Eles fizeram um passeio pelo condomínio listando as melhores decorações, depois dessa avaliação geral, eles sentaram e cada um deles, separou dois preferidos, deixando assim 10 jardins concorrentes na disputa. Hoje à tarde eles se juntaram novamente e fizeram uma votação geral, e cada um escolheu dos dez os seus cinco jardins preferidos, numa cotação geral foi tirado os cinco mais bem votados, e eles vão ser anunciados agora.

As mãos se ergueram e o som afinado ecoou pelo ambiente novamente.

_Eu gostaria de chamar a nossa estrela maior do momento, a nossa moradora mais ilustre, para fazer esse anúncio oficial dos 5 finalistas do concurso. Ao palco agora eu chamo Anne Marrie DeVille.

A surpresa irrompeu o rosto de Anne no exato momento em que seu nome foi dito. Em meio as palmas a surpresa dos familiares e amigos da garota foi crescendo de pouco a pouco. Ninguém sabia daquilo, ninguém esperava um convite para Anne fazer um anúncio em cima do palco. Em meio às palmas, Alice e Luis olhavam para Anne sorrindo, era gratificante para eles perceber que ela tinha evoluído em ser mais social com as pessoas, na verdade, era muita evolução, se oferecer para um discurso em meio a milhões de pessoas? Nem uma pessoa normal faria isso facilmente. Para eles Anne tinha muita coragem. E eles sentiram orgulho.

_Vai tia! Eles estão te chamando, vai! Sobe lá! _Gritava Marceline para Anne, puxando a pelo vestido.

Anne se levantou e tentou fugir correndo para fora. Rafael correu atrás de sua namorada, a tempo de detê-la antes que ela tomasse caminho pelo salão de dança até o hall. Olivier se levantou também e se aproximou do casal, os três pararam não muito longe da mesa dos DeVille.

_Anne, espera um pouco, pára! _Disse Rafael segurando o braço de Anne. _O que tu está fazendo? Não saia lá fora, a imprensa está toda lá se tu sair assim correndo pra lá, eles vão querer saber o que é, e depois da festa vai ficar fácil descobrir que tu fugiu. Porque? Qual é o problema?

Rafael olhou a surpreso, tanto quanto ela estava. Assim fez Piedra e João da mesa na frente do palco e Patrícia da mesa reservada para sua família.

_Você se inscreveu para fazer um discurso? Anunciar os finalistas? _Perguntou Olivier.

_Foi a Lourdes que te convidou? _Perguntou Rafael.

_Calma gente, eu estou tão surpresa quanto vocês. _Disse Anne assustada. _Eu não fiz nada disso, eu não me inscrevi, nem me convidei. Eu não quero subir lá em cima.

As palmas continuaram, mas todos já estavam sussurrando.

_Vamos Anne, não seja tímida. _Disse Lourdes rindo, e percebendo que alguma coisa estava errada. _Anne chiquita, onde tu foi? Por acaso o champanhe estava tão ruim assim?

Todos continuaram a bater palma e riram com o comentário de Lourdes.

_Anne e agora? _Perguntava Rafael.

_Me ajuda. _Suplicou Anne.

_Anda Anne, o que está esperando, tem alguma coisa de errado? _Perguntou Alice da mesa, e das mesmas perguntas se munia Luis.

Piedra e João perceberam que a amiga estava tendo problemas e também pareciam surpresos pelo anuncio de Lourdes.

_O quê que a gente pode fazer? _Perguntou Olivier.

_Fazer para o quê? _Perguntou Alice. _O que está acontecendo?

_Anne ande rápido, eles estão te esperando. _Disse Luis, sem entender a não ação da cunhada.

_Esperem, eu não sei o que fazer. _Disse Anne nervosa e a ponto de chorar.

_Calma amor, calma! Não é tão ruim assim, é só subir lá e ler os finalistas em um papelzinho, só isso. _Disse Rafael.

_Eu não vou conseguir. Eu odeio pessoas, eu só gosto de vocês, não sei me dar com gente. Não sei agir em público, não consigo, não vou conseguir fazer isso. _Disse Anne desesperada.

Piedra e João chegaram ao grupo juntamente com Patrícia.

_O que está acontecendo? _Perguntou João confuso.

_Anne, tu se inscreveu pra anunciar os finalistas? _Perguntou Patrícia também surpresa com a convocação da amiga.

_Não gente, eu não fiz nada. Eu não me inscrevi, nem pedi pra Lourdes, nada, eu não quero anunciar! Não vou me sair bem, eu não sou normal, não sou sociável. Todos vão rir de mim. _Disse Anne se rompendo em lágrimas. _Me ajudem gente, por favor.

_Tia calma, a gente vai resolver. _Disse Olivier. Patrícia se juntou ao seu lado.

_Piedra porque tua mãe chamou o nome da Anne, tu sabe de alguma coisa? _Perguntou Rafael abraçando Anne.

_As inscrições são abertas pra quem quiser. Eu não contei nada porque achei que era uma surpresa, mas eu sabia que minha mãe iria chamar a Anne. _Disse Piedra ao lado de João. _Os jurados também escolhem quem vai fazer os anúncios, e quando viram que Anne estava na lista de inscrições, acharam interessante nomeá-la pro anúncio oficial aqui hoje. Ela está na mídia o tempo todo, é popular. Eles acharam que seria bom pro concurso, pro condomínio.

_Mas eu não me inscrevi pra nada, eu não iria conseguir, nunca quis aparecer, ser notada, queria sumir, e não ter as luzes todas em mim. _Disse Anne chorando. _Eu estou cansada.

_Calma Anne a gente vai resolver. _Disse Patrícia. _Nós vamos?

_Vamos sim Pati. _Disse João. _Rafa, leve a Anne lá para os fundos tem uma sala lá, onde ficam os camarins, tem um sofá, uma geladeira, tente acalmá-la, um copo d’água vai ajudar. Patrícia vá com ele.

_Eu quero ir com ela. _Pediu Olivier.

_Não Oli, fique aqui com tua família, explique pra eles o que está acontecendo, é melhor assim, quanto menos gente melhor. A Anne precisa se acalmar agora. _Disse João.

_Oli, explique pra tua mãe e teu pai o que aconteceu. _Disse Anne envolvida nos braços de Rafael.

_A Piedra vai assumir o teu lugar no anúncio dos finalistas. Tudo bem Pi? _Perguntou João.

_Tudo bem, eu consigo concertar tudo. _Disse Piedra confiante e no fundo feliz. Ela não poderia se inscrever para os anúncios porque era filha de uma das organizadoras do evento.

_Ótimo. Eu vou ficar contigo. _Disse João. _Agora saiam primeiro, antes que alguém mais perceba onde tu está indo Anne.

_Tá bem, vamos. _Disse Rafael, protegendo Anne com o corpo.

Patrícia acompanhou Rafael e Anne até os fundos do salão, onde ficavam os camarins, enquanto Olivier voltou para a mesa.

_Vamos Pi, tua mãe não vai conseguir segurar por muito tempo. _Disse João, antes de eles voltarem para a frente do salão.

Piedra subiu no palco correndo, e todos cessaram as palmas, pois perceberam que algo estava errado.

_ O que será que aconteceu com a Anne? _Perguntou Juca para Louísa.

_Fui eu. _Disse a garota sorrindo.

_Tu o quê? _Perguntou Juca novamente.

_Eu que coloquei o nome da Anne na lista para os anúncios dos finalistas, eu tinha certeza que iam chamar ela. _Disse Louísa.

_Mas cadê ela? _Perguntou Juca.

_Sei lá, pensei que ela subiria ao palco, quem matou um homem e uma mulher, deveria ter mais coragem. _Disse Louísa.

_Alguma coisa deve ter acontecido. _Disse Juca.

_Não se preocupe não, não deve ter acontecido nada, ela e aquele idiotinha do Olivier só devem estar, sei lá, se escondendo. _Disse Louísa. _Eles são estranhos.

_Se escondendo de quê? _Perguntou Juca.

_Sei lá guri, eles são teus primos tu devia saber. _Disse Louísa. _Eu nunca descobri a daqueles dois aqui viu? Porque eles estão aqui afinal?

_O Olivier veio por minha causa. _Disse Juca deixando escapar, alguns segredos.

_Por tua causa, porque tu? _Perguntou Louísa.

Juca se atrapalhou ao perceber que tinha falado o que não devia.

_Por nada. Nada haver. _Disse Juca embaraçado.

_Mas tu não morava em São Paulo que tu me disse? _Disse Louísa. _Porque o Olivier viria pra cá por tua causa? Não faz sentido.

_Não foi isso que eu quis dizer. _Disse Juca.

_A não ser que... _Pensou Louísa. _Ele já soubesse que tu ia vir morar aqui. E por isso veio antes com a Anne.

_Não tem nada haver com isso. _Disse Juca.

_Tu é mesmo o primo dele? _Perguntou Louísa maliciosa. _Claro que eu sou primo dele. Quer dizer, dos dois.

_Que eu saiba a Anne só tem uma irmã. Como tu é primo dele? _Perguntou Louísa.

_Ô, como dizem aqui no sul, guria? _Começou Juca na tentativa de concertar seu erro. _Tu nunca ouviu falar em primo de segundo grau? Eu sou primo da Anne, não do Olivier, eu sou primo de segundo grau dele. Sou filho do tio da Anne.

_Jura? _Debochou Louísa. _Eu sabia, isso é lógico.

_Porque você perguntou então? _Perguntou Juca.

_Só pra te testar. _Disse Louísa desconfiada.

_Você é loca garota! _Disse Juca. _Tô saindo fora. Fui!

Juca sai andando em meio a multidão que aplaudia Piedra no palco sem entenderem nada.

_Vai ver como tá tua priminha, vai? _Perguntou Louísa bem alto, em meio aos aplausos.

_Não. Eu vou ver como que tá o Olivier, ele deve tá precisando de ajuda, com a tia dele. A minha... Minha prima. _Disse Juca, com a cabeça virada para Louísa, mas os pés indo em direção a mesa dos DeVille.

_Sei, sei. _Disse Louísa, juntando as peça do quebra-cabeça na cabeça.

Todos ainda aplaudiam quando Piedra começou o seu discurso:

_Boa noite a todos. _Começou e assim o barulho de mão com mão parou. _Bom. Eu sei que foi anunciado aqui pela minha mãe que a nossa querida moradora Anne Marrie iria fazer o anuncio dos finalistas, mas aconteceu um imprevisto.

Várias vozes invadiram o espaço, dialogando, questionando, imaginando, supondo onde estaria Anne. Lourdes puxou a filha pelo braço para longe do microfone e a perguntou no ouvido:

_Que imprevisto? Onde está menina se meteu?

_Mãe, depois eu te conto melhor. _Respondeu Piedra antes de voltar para o microfone sorridente.

_Meus senhores e senhores, ela teve uma indisposição, e por isso não vai poder anunciar os finalistas. Mas asseguro a vocês que não há com o que se preocupar, ela passa bem, só sentiu um mal-estar, mas já deve passar. Ela vai voltar para a festa assim que se sentir melhor.

O cochicho ainda era alto e continuo denso, parecia difícil de quebrar.

_O Moinho essa noite vai ter uma surpresa. _Gritou Piedra no microfone, a voz saiu mais alta e fina do que ela imaginava, fazendo com que todas as vozes se calassem num segundo e as cabeças se virassem para ela. _Uma surpresa para todos nós. Nessa noite linda, como disse minha mãe, nessa noite mágica, teremos a surpresa de descobrir quem é o grande vencedor desse magnífico concurso.

Mesmo sentindo se enganados, os convidados juntaram as mãos em aplausos novamente.

_Conhecemos Anne ainda pouco, mas o suficiente para saber que ela é doce, gentil, divertida, alegre, uma pessoa linda por dentro e mais linda ainda por fora. A escolha dela para o anúncio não poderia ser melhor. A melhor representante para isso, para juventude do nosso condomínio é ela, que apesar da idade, tem uma alma jovem, um coração pequeno e frágil como o de uma criança. Tenho certeza que todos que a conhecem, concorda comigo, entende o que eu estou falando.

Todos permaneceram calados diante do discurso de Piedra. Alice ouviu cada palavra, e por mais que tivesse visto a irmã poucos minutos antes, a saudade ainda estava em seu peito e não havia morrido. Os olhos de Alice estavam marejados e Olivier sorriu para mãe ao vê-la emocionada.

_Eu como sua melhor amiga desde que chegou aqui no Moinho, fui incumbida por ela mesma, para substituí-la. Então acho que ao invés da deusa Anne Marrie, vozes vão ter que ficar comigo mesmo.

Os convidados sorriram.

Lourdes olhava a filha de lado orgulhosa por perceber que como ela, Piedra tinha o dom da palavra. A mãe se aproximou da filha e lhe entregou um pequeno envelope dourado enrolado em uma fita vermelha.

_Muito obrigada mãe. _Disse Piedra ao receber o envelope das mãos de Lourdes. _Essa aqui gente é responsável por essa festa linda. Parabéns mãe. Uma salva de palmas para Lourdes Amarante.

Piedra ergueu o braço da mãe no ar, e as palmas vieram logo em seguida.

Quando o silencio voltou a dominar a festa. Piedra se concentrou no envelope.

_And the Oscar goes to... _Brincou Piedra.

O salão se encheu de risadas.

_Sempre quis dizer isso. _Disse Piedra sorridente ao desatar o laço que amarrava a fita vermelha ao envelope dourado. Lourdes estava ao seu lado sorridente. Elegantemente Piedra colocou o cabelo atrás da orelha antes de puxar do encelope um pedaço de papel branco.

_E os indicados para a final do 42º concurso anual de decorações natalinas dos jardins do Condomínio Moinho são: Neide D’agosto, da Rua Madeiras; Daniel Ítalo Junqueira, da Rua Seiva; Diogo Saito, da Rua Nozes; Lourdes Amarant...

Piedra parou a leitura e ficou de boca aberta diante do resultado, Feliz e alegre ela pulou nos braços da mãe, e a duas comemoraram rapidamente. As duas foram ovacionadas.

_Nossa, desculpa gente, é que eu fiquei muito feliz agora, nem esperava a indicação. Obrigada Jurados. _Disse Piedra demonstrando toda sua felicidade em estar na final. _Bom, onde eu estava mesmo?

Todos sorriram e continuaram as palmas.

_Ah tá, fiquei até sonsa. _Disse Piedra rindo. _Lourdes Amarante Schreisen, da Rua Canela; e por fim não menos especial Anne Marrie DeVille; da Rua Canela.

As palmas se estenderam, enquanto as fotos dos cinco jardins passava no telão no fundo do palco. Piedra não ficara muito feliz com a ultima indicação, particularmente achava aquela decoração de muito mal gosto, sem graça, para ela o jardim de Anne não se aprecia em nada com o natal. Ela se garantia vitoriosa em relação a todos os outros candidatos de menos em relação a Olivier, que foi quem decorou o jardim de Anne. Por mais que ela achasse tudo horrível naquele jardim, no fundo ela temia uma derrota para o garoto.

A luz do salão cai, no telão começou um vídeo rápido mostrando o resultado final de todas as decorações, Quando Neide D’agosto começou a falar sobre sua decoração natalina, e detalhes de como foi feito começaram a aparecer na tela grande Piedra e Lourdes desceram do palco até a mesa reservada para elas.

_O que é isso mãe? Que vídeo é esse. _Perguntou Piedra assim que chegou a mesa com Lourdes.

_É aquele vídeo que gravamos no sábado, idéia dos jurados, mostrar os jardins de todos finalista em um vídeo, e seus respectivos decoradores falando como foi decorar tudo, Basicamente um making-of de cada jardim. _Disse Lourdes sorrindo. _Eu apareci no nosso vídeo falando como foi difícil encomendar aquelas bolas da Nova Zelândia. Ficou legal, eu já vi o vídeo final, aparece tu falando de como tu ajudou a mim e ao decorador no nosso jardim.

_Tudo bem. _Disse Piedra desanimada.

_Mas isso não era pra passar agora, eu mandei colocarem no telão, pa distrair os convidados. Eu quero saber o que aconteceu com a Anne ela está bem? _Perguntou Lourdes.

_Tá sim, ela não estava indisposta. Ela só estava assustada, com medo de subir ali no palco. Ela não gosta de se expor, já basta a vida de celebridade que a imprensa proporciona pra ela. Ela tem medo das pessoas mãe, ela não iria conseguir falar ali em cima, ela não queria. _Disse Piedra sentando com Lourdes nas cadeiras dispostas a mesa da família Schreisen.

_Mas Piedra, isso foi irresponsabilidade dela, foi ela que se inscreveu pra anunciar os finalistas. _Disse Lourdes.

_Não mãe, não foi ela, tu acredita. Alguém fez isso, pra prejudicar ela. _Disse Piedra.

_Pra quê? Isso prejudicou a comitiva da festa, a gente apostou na presença e no anúncio que a Anne faria, já tem nota disso nos jornais do condomínio de amanhã. Como que eu vou ficar em frente aos presidentes da associação de moradores. A organização da festa e da cerimônia de entrega do premio é de responsabilidade minha.

_Mas confesse mãe, que foi um erro ter guardado isso em segredo até o final. _Disse Piedra.

_Claro. Mas eu não esperava a reação de Anne, pensei que ela ficaria feliz com o convite, já que foi ela mesma que se inscreveu. _Disse Lourdes.

_Mas ela não se inscreveu. _Disse Piedra.

_Então quem? _Perguntou Lourdes.

_Eu já sei quem? Já devia saber desde o começo. _Disse Piedra antes de sair correndo da mesa.

_Louísa Zurück. _Disse Lourdes sozinha na mesa, descobrindo no momento em que a filha se levantou quem poderia ser.

Piedra atravessou todo o salão, enquanto o vídeo no telão começava a mostrar o making-of do jardim de Daniel Junqueira. A garota pisava alto enquanto caminhava até a mesa dos Zurück. Olivier acompanhou a garota com os olhos e quando percebeu pra onde estava indo, pensou no melhor que poderia fazer e se levantou puxando a mão de Juca para que ele não ficasse na mesa sozinho com sua mãe e seu pai e fosse interrogado. Juca não relutou e acompanhou o namorado.

João chegou na mesa de Lourdes e a encontrou sozinha.

_Cadê a Piedra? _Perguntou João.

_Eu não sei direito, mas do jeito que ela saiu daqui, suponho que ela foi falar com a Louísa a filha dos Zurück. _Disse Lourdes distraída com o vídeo. _Senta ai, daqui a pouco ela volta. Vai passar meu vídeo daqui a pouco. Senta e espera, pra ver comigo.

_Não, não posso. _Disse João aflito por saber onde Piedra poderia estar. _Fui saber da Anne lá atrás nos camarins, e vim pra cá direto quando ouvi o anuncio terminar. Vim levar Piedra pra lá.

_A Anne esta nos camarins? _Perguntou Lourdes.

_Está. Ela já está bem calma, a Piedra te contou o que aconteceu? _Perguntou João.

_Contou. Tudo muito confuso. _Disse Lourdes. Alias foi por isso mesmo que a Piedra saiu daqui revoltada, ela acha que quem colocou o nome da Anne na lista foi a Louísa. Eu não tiro a razão dela.

_Nem eu. _Disse João. _Eu vou atrás dela. Elas vão brigar. Se foi a Louísa que colocou o nome da Anne na lista, e Piedra não vai aceitar.

João rompeu o salão escuro atrás da namorada. Enquanto Anne, Rafael e Patrícia estavam nos camarins. Olivier e Juca também estavam indo a mesa dos Zurück.

A festa de natal do condomínio Moinho está longe de acabar, ainda teremos uma banda, dois barracos, Um beijo, um novo romance, uma revelação, e muita Anne Marrie. As portas de emergência se encontram ao lado e nos fundos do salão. Apertem os cintos porque a noite vai ser longa, e promete muitas turbulências.