domingo, 28 de setembro de 2008

Capítulo 22: A Rua de Anne Marrie

Todos aguardavam nos corredores do hospital por notícias de Patrícia. A noite já ia caindo e ninguém sabia do estado de saúde da menina.

_Essa hora era pra eu estar dando uma festa. _Disse Lurdes chateada.

_Mãe, como a senhora pode pensar em festa agora? _Repreendeu Piedra.

_Eu não estoy a pensar em la fiesta Piedra. Yo entendo la gravidade do que está se passando, só estava ressaltando o fato de que ao contrário de todos estarmos aqui nesse hospital era para todos estarmos em una fiesta. _Se defendeu Lurdes. _Isso é que se pode disser de destino.

_Má sorte tu quer dizer. _Disse Louísa ao lado do pai e da mãe no canto da sala sentados em um sofá.

_Louísa, não quero ouvir um pio da tua boca. _Disse Theodor nervoso com a filha. _Grande culpa dessa tragédia é tua, e eu já estou bastante envergonhado.

_Filha o teu pai está certo, é melhor pra ti ficar calada. _Disse Eleonor passando a mão carinhosamente na cabeça da filha.

Todos na sala encaravam a garota com desprezo.

_Não me olhem com essa cara. Eu não amarrei ela e a obriguei a usar. _Disse Louísa transtornada e com os olhos lacrimejando.

_Faltou pouco. _Disse Rafael em pé do outro canto da sala junto a João e Piedra.

_Deixa pra lá Rafael. _Disse João com o olho ainda inchado e roxo.

_Eu me importava com ela. _Disse Louísa.

_Tu ainda se importa filha, ela não morreu.. _Disse Theodor firme. _Agora fica quietinha, calada.

_Sei até porque tu queria ficar perto dela. _Disse Piedra olhando pra João. _Aceita guria, ele não ti amou nem nunca vai amar.

_Tu nem sabe o que tá falando Piedra. _Disse Louísa. _Não foi isso que pareceu na noite que eu mostrei minha pulseira pra ele.

_Pulseira? Que pulseira? _Perguntou Piedra curiosa. _Que pulseira João? De que pulseira que ela tá falando?

_Piedra, por favor, agora não. _Disse João.

_Foi ontem não foi, quando eu entrei no quarto? _Disse Piedra nervosa. _Ela estava quase no teu colo, com certeza mostrando a pulseira dela.

_Ela estava se desculpando Pi... _Disse João.

_E tu quase caiu na mentirada toda não é João? _Disse Piedra.

_Não foi isso Piedra, calma e fala baixo, a gente está em um hospital. _Disse João calmamente.

_Porque tu não me contou ontem, quando entrou pela janela do meu quarto ontem? _Sussurrou Piedra.

_Como? Será que eu ouvi direito? _Disse Lurdes. _O João subiu até teu quarto, pela janela?

_Ai mãe não enche. _Disse Piedra.

_João, filho? Isso é verdade? _Perguntou Roberto.

_Pai? _Disse João pedindo compreensão do pai. _A gente já está com muito problema agora, não dá pra deixar isso pra depois?

_Claro filho, desculpa. _Disse Roberto que estava sentado ao lado de Marina que estava com a cabeça enterrada no ombro do marido.

_Olha desculpa Lurdes, é que eu precisava me explicar com a Piedra. _Disse João realmente incomodado por ter que fazer aquilo ali na frente de todos.

_Não tem problema chiquito, yo entendo como é a minha Piedra. _Mentiu Lurdes que em outra situação não deixaria aquilo passar assim tão barato, com um simples sorriso.

_Pra quê tanto aborrecimento todo mundo aqui sabe que a Piedra já dormiu com a dupla dinâmica mesmo. _Disse Louísa maldosamente.

Na sala todos viraram os olhos, Piedra pensou em retrucar, mas evitou quando olhou para João que e a fez calar com um só olhar de desaprovação.

_Já chega Louísa nós vamos embora agora. _Disse Theodor segurando o braço da filha e a levantando do sofá.

_Ai pai! O que tu pensa que tá fazendo? _Disse Louísa assustada coma reação do pai.

_Estou cansado de ficar assistindo, seus devaneios, suas loucuras, e não fazer nada. _Disse Theodor. _Se tu quer ser um animal, eu vou passar a ti tratar como um.

Theodor arrastou a garota pelo braço até a saída, enquanto ela chorava não pelo braço, mas pelo vexame.

_Me desculpe Roberto e Marina. _Pediu Theodor antes de deixar a sala com a filha.

_Theodor, solta a menina! _Pedia Eleonor atrás dos dois.

Rafael e Piedra sorriram quando os três deixaram o local, do corredor dava pra ouvir Theodor gritando com a filha enquanto ela choramingava baixinho. João se manteve sério, ainda preocupado com a irmã.

_Eu queria me desculpar mais uma vez por ter atrapalhado a saída de vocês. _Disse Anne encolhida num canto junto a Olivier.

Os dois ficaram caladinhos desde quando chegaram ao hospital acompanhando todos os outros. Depois da confusão de fotógrafos na frente da sua casa, a única maneira de fugir deles foi acompanhar os vizinhos até o hospital mesmo sem saber do que se tratava.

_Querida não foi culpa sua. _Disse Roberto.

_Ah nisso eu vou ter que concordar, la culpa foi toda minha Anne. _Disse Lurdes. _Eu autorizei a entrada da imprensa pra cobrir a fiesta, a sua fiesta.

_Mãe, a senhora não disse que ia contratar um fotógrafo particular? _Perguntou Piedra.

_Acontece querida que quando yo mencionei que la fiesta seria para Anne Marrie, várias revistas, jornais, e programas de TV quiseram cobrir. _Disse Lurdes. _Seria bom pros negócios uma publicidade dessas. Mas não dava pra imaginar que seria o desastre que foi. Quantos fotógrafos tinham ali? Mil?

_Me desculpem mesmo. _Disse Anne envergonhada.

_Tu não tem culpa querida. _Disse Roberto. _Agora é rezar pra não dar nada de errado com ela.

_Espero que não. _Disse Anne que se sentia apesar da insistência de todos pela sua inocência, talvez a menina tivesse alguma chance se o tumulto com os fotógrafos não tivesse acontecido.

Ela estava péssima, sua chegada a cidade Rosa Velha prometia ser gigantesca, uma festa seria dada em suas boas vindas, ao invés disso ela, Olivier e os seus ex-futuros melhores vizinhos estavam em uma pequena sala de espera de um hospital esperando o veredicto: Se Anne Marrie seria culpada de mais uma morte ou seria inocentada. É. Ou vocês pensaram que Anne está preocupada com a saúde da garota? O único interesse dela em isso tudo é que Patrícia saia bem, é verdade, mas só pra ela não ter que carregar mais uma morte nas costas.

_É injusto vocês perderem sua única filha. _Disse João triste.

_João cala a boca, eu já disse pra ti que não gosto quando tu fala assim. _Disse Marina chorosa em suas únicas palavras até aquele momento.

_João! _Disse Roberto. _Não diga essas coisas, você também é nosso filho, e nós não vamos perder a Patrícia.

Todos se entreolharam disfarçadamente.

_Não entendi. _Cochichou Anne para Olivier.

_Eu menos. _Disse Olivier baixinho. _Mas o que deu pra entender é que o João é adotado.

_O quê? _Se surpreendeu Anne.

_Foi o que pareceu. _Disse Olivier.

Sorria Anne Marrie, se é o que você está com vontade de fazer.

Anne abriu um sorriso, que o brilho dele chamou a atenção de todos ali na sala. Todos cochichavam sem entender: “Porque essa moça está rindo?”.

Olivier percebeu o clima estranho que se instalou na sala, todos olhando para ele e a tia. Foi quando ele encarou a tia e percebeu seu sorriso, e logo tinha certeza do que ela estava pensando, do que estava passando naquela cabecinha doentia, ele sabia o porque de tanta felicidade. Coisa de Alice.

Imagino que vocês também saibam o motivo de tanta alegria.

_Esta chica tem algum problema de cabeça? _Questionou Lurdes num tom que pra ela era baixo, mas se ouvia perfeitamente.

_Mãe? Fala baixo. _Disse Piedra.

_Eu estou falando baixo, e não estoy falando nenhuma loucura. _Disse Lurdes. _Deveria mostrar um pouco mais de respeito.

_Mãe sabe se lá do que ela está rindo! _Disse Piedra baixinho.

_Da desgraça dos outros, isso sim. _Disse Lurdes.

_Tia, pára de rir. _Disse Olivier preocupado com o que poderiam pensar da tia. _Eu sei o que você está pensando e isso não quer dizer nada. Faça o favor de se acalmar. E pára de rir.

_O que você acha que eu estou pensando? _Disse Anne ainda sorrindo, sem perceber que isso desagradava a todos ali.

_Não preciso nem dizer tia. _Disse Olivier envergonhado. _Agora pára rir, tá todo mundo olhando pra gente.

Anne recuperou a razão e parou de rir no instante seguinte. Há muito tempo ela não sorria com tanta vontade, tão descontrolavelmente, antes mesmo de saber o real motivo. Há tempos ela não era tão instintiva.

_É verdade. Parei. _Disse Anne quando percebeu que todos a encaravam.

_Obrigado. _Disse Olivier.

_Mas você entendeu como eu entendi? _Disse Anne segurando o sorriso.

_Entendi, mas não tem chances de ele ser quem você está pensando. _Disse Olivier.

_Chances tem sim. _Disse Anne deixando escapar um sorrisinho no canto da boca. _Mas seria sorte demais, não seria.

_É, seria. _Disse Olivier. _Mas você nunca pode contar com a sorte, então relaxe e esquece isso.

_Vou tentar. _Mentiu Anne que já havia te esquecido de Patrícia, onde estava e porque estava ali.

_Ai vem o médico. _Anunciou Rafael que avistou o médico se aproximando da sala.

Todos se puseram atentos e os que estavam sentados se colocaram de pé, mas somente Anne ficou perdida nos seus pensamentos acreditando na sorte.

_E aí como ela está doutor? _Perguntou Roberto aflito.

_Minha filha vai morrer? _Chorou Marina.

_Não precisa se desesperar senhora Pinho Medeiros, a Patrícia está fora de perigo. _Disse o Médico. _O procedimento todo foi muito difícil, e confesso que a gente quase a perdeu. Mas ela passa bem.

_Graças a Deus. _Todos respiraram aliviados.

_Mas o que aconteceu doutor? _Perguntou João choroso.

_Ela entrou em convulsão, e se o atendimento médico demorasse mais um pouco pra ser feito, talvez ela não resistisse. _Disse o Médico.

Todos olharam para Anne que nem prestava atenção.

_Qual foi à causa? _Perguntou Roberto.

_Uso excessivo de drogas fortes. _Disse o Médico. _Pelos exames a gente pode constar que ela usou um número muito grande de drogas, e a mistura com o álcool agravou o estado de saúde dela.

_Álcool? _Disse Lurdes. _Onde vocês estavam ontem a noche heim?

_Mãe deixa isso pra outra hora. _Pediu Piedra.

_Aconselho aos pais monitorarem os passos dela de agora em diante, se acontecer mais uma fez o que aconteceu aqui hoje, ela não vai ter muito tempo como dessa vez. _Disse o Médico.

_Sim doutor, a gente vai tomar as precauções possíveis. _Disse Roberto.

_Eu prometo que isso não vai mais acontecer. _Disse João convicto.

_A gente pode ver ela agora? _Perguntou Marina chorando. _Eu quero ver minha filha. Eu quero ficar com ela.

_Calma Marina, ela já está fora de perigo agora, calma. _Pediu Roberto tentando acalmar a esposa.

_Ainda não, ela está sendo levada para o quarto, quando for possível a visita a enfermeira virá avisá-los. _Disse o Médico. _Agora se vocês me dão licença.

O médico se retirou da sala e seguiu pelo corredor.

_Eu quero ver ela agora Roberto. _Chorou Marina no ombro de Roberto.

_Mãe calma, o médico disse que ela já está bem. _Disse João.

_Tia? _Chamou Oliver. Tia, tia? TIA!

Anne se assustou.

_O que foi? _Disse Anne surpresa. _O que aconteceu?

_A gente pode ir agora, vamos embora. _Disse Olivier.

_Ela morreu? _Perguntou Anne sem saber.

_Onde você estava tia? _Perguntou Olivier bobo com Anne. _O médico já veio aqui e disse que ela está bem.

_O médico veio aqui? _Se chocou Anne com sua distração. _E eu nem vi?

_Pra ver como você estava preocupada. _Disse Olivier. _Vamos agora.

_Tudo bem. _Disse Anne ainda meio aérea.

_Vocês já vão? _Perguntou piedra quando percebeu que Anne e Olivier iriam partir.

_Sim, a gente só queria ter certeza de que ela estava bem. _Disse Olivier. _A gente já incomodou demais.

_Imagina. É bom saber que vocês são pessoas do bem, e ficaram aqui o tempo todo apoiando a Patrícia. _Disse Piedra.

_A piedra tem razão, muito obrigado pela força. _Disse João.

E só isso Anne ouviu. Quando João abriu a boca ela abriu os ouvidos e um sorriso.

_Isso é o mínimo que eu e o Olivier podíamos fazer depois da confusão que nós armamos. _Disse Anne sorrindo.

_A culpa não foi sua. _Disse João.

_Isso João, pode me acusar. _Disse Lurdes.

_Mas eu não disse nada. _Disse João.

_Pero pensou. _Disse Lurdes.

Rafael riu e isso fez com que os outros se descontraíssem.

_Mas a gente precisa ir agora. _Disse Olivier. _Não é tia?

Anne ainda sustentava um sorriso no rosto e não conseguia parar de olhar para João.

_Tia? _Chamou Olivier envergonhado pelo comportamento estranho da tia.

_Oi. Sim. Claro querido. _Disse Anne ainda meio zonza. _Podemos ir agora.

_Até amanhã. _Disse Piedra.

_Até amanhã. _Disseram Anne e Olivier juntos antes de deixarem o local.

Todos acenaram com a cabeça e sorriram levemente.

_Chica estranha. _Disse Lurdes.

_Mãe? _Disse Piedra. _Pára de ficar pensando alto.

_No estoy a pensar alto. _Disse Lurdes corrigindo a filha. _Eu estou falando.

_Então filtra o que tu fala, que ninguém tá afim de ouvir seus pensamentos. _Disse Piedra. _E pára de falar espanhol, aqui é Brasil, não é a argentina.

_Yo sei. E acho que ninguém se incomoda. _Disse Lurdes.

Todos concordaram com ela.

_Viu. _Disse Lurdes risonha. _Relaxa Piedra. Quem tem que ser chata aqui sou eu, tu tiene que ser inconseqüente, rebelde, falastrona.

_É mãe. Eu chamo isso de troca de papeis, eu sou a mãe e tu é a filha. _Disse Piedra.

_A Lurdes tem razão Piedra, tu é muito chata guria, relaxa um pouco. _Disse Rafael.

_Rafael, cala a boca! _Disse Piedra.

_Deixa Rafael, deixa que isso ai é gaga igual ao pai. Estressada de berço. _Disse Lurdes.

_Talvez se eu fosse igual a Louísa tu ficaria mais satisfeita! _Disse Piedra.

_Não vamos exagerar tambien. Aquela menina é desequilibrada, precisa de um tratamento urgente de la cabeça. _Disse Lurdes. _Mas eu queria que tu fosse mais jovem, tá na idade filha, tem mesmo que aproveitar. Nada me deixa mais feliz quando yo descubro, por exemplo, que teu namorado entrou pela janela. O que vocês estavam fazendo heim?

Todos riram.

_Mãe, pára de falar essas coisas. _Disse Piedra. _Ele não entrou sozinho o Rafael estava com ele.

_Yo não sabia que vocês tinham una relação a três. _Disse Lurdes sorrindo.

Todos caíram na gargalhada de menos Piedra.

 

1 mês se passou e no condomínio o assunto sempre era Anne Marrie. Uma semana seguinte da quase morte de Patrícia, Anne e Olivier foram capa da revista Society novamente. Na foto, muito tumulto com fotógrafos e repórteres, Anne fazendo uma careta horrível e Olivier logo atrás com os olhos entreabertos parecendo que tinha se drogado. DE CASA NOVA: A PATRICINHA ANNE MARRIE TENTA SE LIVRAR DA FAMA DE PERIGOSA EM UM CONDOMÍNIO DE LUXO. Anne não parou pra rir da revista como havia feito da primeira vez com Olivier, ela apenas deu uma olhada e jogou a revista de lado. Ela só conseguia pensar em João. O fato de ele ser adotado chamou a atenção dela, que passou a vigiar o menino mais atentamente, procurando nele alguma semelhança com ela ou com Humberto. Certo dia quando Anne olhava da janela seu sobrinho Olivier conversando com Rafael e João na calçada, ela percebeu que João tinha uma mesma mania de coçar a nuca quando ficava envergonhado. Isso pra ela foi o resultado positivo de que ele era seu filho, e o resto do dia foi perfeito, só Olivier fazia a moça cair na real e perceber que era coincidência demais ela vir morar praticamente em frente à casa do seu filho perdido. Olivier passava a maior parte do tempo estudando, mas tinha um constante contato com os meninos da sua rua, sempre que tinha um tempo livre. Os garotos já chegaram a perceber que Olivier era gay, mas não tinham coragem de perguntar. Piedra ficava sempre decepcionada quando Olivier dava sinais de que era gay, ela o achava bastante bonito e mesmo que tivesse João como namorado isso não a impedia de se interessar pelo garoto. Patrícia ficou todo o tempo em repouso dentro de casa, proibida de usar a internet e o telefone, os pais passavam a maior parte de seus tempos livres vigiando a garota. João também ajudava a cuidar da irmã quando os pais não estavam em casa. Louísa foi obrigada a viajar com a mãe para o Rio e por lá elas ficaram uma semana até que Theodor decidiu busca-las. As visitas a Patrícia estavam proibidas tanto Roberto e Marina quanto Theodor e Eleonor decidiram evitar que as duas se encontrassem. Theodor obrigou a filha a freqüentar uma clínica psiquiátrica em troca de algumas horas livres. Quando Louísa tinha suas sonhadas horas ela saia e tentava de toda maneira se juntar ao grupo, observando-os de longe e desejando fazer parte da conversa entre eles. Em Olivier ela viu a chance de se aproximar da turma novamente, com a aproximação dele de João, Rafael e Piedra era óbvio que ele havia entrado na turma definitivamente. Além de pensar no filho, Anne começou a procurar uma escola profissionalizante de moda, mas a busca era difícil, enquanto ela não conseguia arranjar nenhum, ela começou um curso de modelista. Roger vivia enrolando a moça para marcar a reunião com o suspeito do seqüestro. Apesar das insistentes tentativas de Anne de fazê-lo marcar logo a reunião, ele sempre vinha com uma desculpa diferente. Olivier sempre avisava a tia que não confiava em Roger, ele não tinha obrigações de ajudar ela e a desculpa que deu pra isso, não foi o suficiente. Anne concordava, mas era só Roger ligar prometendo marcar o encontro dela com o seqüestrador que ela esquecia todos os conselhos do sobrinho.

Olivier estava sentado na calçada como fazia de costume. A rua estava calma, como o normal para aquela hora da manhã. Ele olhava para os lados enquanto o vento frio batia no seu rosto, e o sol só fazia brilhar no céu ao invés de aquecer. Era uma manhã de sábado e Olivier tirava os horários matutinos para pintar, conversar com os amigos, ou ir até a pracinha do Moinho. Ele costumava encontrar João, Rafael e Piedra que também saiam a essa hora pra conversar na calçada e pegar o sol da manhã, mas seu encontro matinal vai ter outra convidada. Louísa vinha se aproximando, se atreveu a sair sem seu pai notar, quando espiou da janela e viu Oliver sozinho finalmente. Já com más intenções ela se aproximou como quem não quer nada e se sentou ao lado de Olivier. O garoto olhou para a garota e sem querer ser mal educado a cumprimentou:

_Oi.

_Oi, tudo bem? _Disse Louísa simpática.

_Tudo bem. _Disse Olivier sem muito entusiasmo.

_Tá frio hoje né? _Tentou Louísa.

_Aqui sempre tá frio. _Disse Olivier.

_Tu e tua tia devem estar estranhando muito não é? _Perguntou Louísa. _Mudar de estado assim. São Paulo é bem diferente daqui. O clima é bem diferente.

_Aham. _Concordou Olivier sem estender a conversa.

_Eles falaram mal de mim não foi? _Perguntou Louísa, fingindo ser injustiçada.

_Eles quem? Os garotos? _Perguntou Olivier tentando sair da saia justa

_Eles mesmo. _Disse Louísa. _Eles te contaram o que aconteceu?

_Contaram. _Disse Olivier.

_Então deixa eu contar a minha versão. Aquela piranha da Piedra deve ter destorcido tudo. _Disse Louísa.

_Olha garota, eu sei o que você quer. Eles já me alertaram. _Disse Olivier sério. _Se você quer se aproximar deles, faça por merecer, não fique usando as pessoas como seus fantoches. A Patrícia podia ter morrido.

_É tudo mentira deles, eu não fiz aquilo com a Patrícia, eu nem sei onde ela arrumou aquelas drogas. _Disse Louísa.

_Não me interessa, eles me avisaram que você iria me procurar. _Disse Olivier ao se levantar. _Esquece todo mundo, deixa eles em paz.

_O que é isso guri, eu só estava querendo conversar contigo. _Disse Louísa se fazendo de ofendida. _Não precisa me agredir assim.

_Eu não estou te agredindo. _Disse Olivier.

_Então sai da defensiva, eu tô aqui só pra conversar, só isso. _Disse Louísa.

_Desculpa mesmo, mas eu tenho que entrar. _Disse Olivier.

_Mentira! Porque tu fica aqui a manhã inteira esperando eles. _Disse Louísa.

_Você fica me espionando? _Perguntou Olivier.

_Não. Lógico que não, cala a boca e me escuta. _Disse Louísa. _Eles são loucos, me odeiam porque eu tenho mais dinheiro que eles e sou mais bonita também. Eles te envenenaram contra mim. O que eles disseram?

_Que você iria se aproximar de mim e falar mal deles, como você está fazendo. Você ia inventar uma mentira pra justificar o que fez com eles e me colocar contra eles. Comigo do seu lado, você teria ajuda pra reconquistar o João de novo, porque é o que você quer. Era isso que você estava fazendo com Patrícia. Mas tarde você começaria a namorar comigo só pra causar ciúmes no João. Mas cai na real ele não gosta de você, ele te odeia. _Disse Olivier. _Assim como todos eles.

_E olha que essa idéia do namoro não é má, tu até que é bonitinho. _Disse Louísa segurando o braço de Oliver.

_Pra começar eu sou gay. _Revelou Olivier. _E mesmo se não fosse, você não faz o meu tipo.

Olivier entrou pra casa, batendo a porta com força quando passou. Louísa ficou parada no jardim da casa de Anne, sorrindo diante da revelação.

 

Olivier, não tinha pior pessoa pra você contar seu segredo. A Rua de Anne Marrie promete muitas capas da Society. Escândalo é que não vai faltar.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Capítulo 21: A patricinha e ex-presidiária Anne Marrie

Lurdes estava no telefone gritando freneticamente.

_Mãe, fala baixo! _Disse Piedra ao entrar pela porta. _Parece que tu tá comandando a terceira guerra mundial daqui de dentro. Eu entrei pra falar pra ti isso, antes que os vizinhos reclamem.

_Piedra, Cierra la boca! Su madre está en el teléfono, tratando de resolver um problema._Disse Lurdes com a mão sobre o telefone.

_Mãe não fale em espanhol comigo, eu já disse que não gosto. _Disse Piedra revoltada.

_PIEDRA, CALE! _Gritou Lurdes andando de um lado para o outro.

_Calei, calei. _Disse Piedra com as mãos erguidas.

_Chiquita? Eu só quero reservar seu prato principal. Es isso, só isso. É tão difícil de conseguir isso? _Dizia impaciente Lurdes ao telefone. _Tu claramente não fez faculdade para hacer este trabalho, e no era nem preciso, já que QUALQUER TONTO NÃO PRECISA DE DIPLOMA PRA ISSO!

_Mãe! _Disse Piedra.

_PIEDRA! Não vou pedir de novo hija. _Disse Lurdes inquieta.

_Só não precisa humilhar a coitadinha assim. _Disse Piedra zangada.

_Não estava falando contigo, ou tu se chama Piedra? _Disse Lurdes. _A Linda não está mesmo, eu queria mesmo falar com ela, angel. Esta conversa toda está me desgastando. O QUÊ? NO ESTOY A TI XINGAR, NO SENHORITA. SÓ ESTOU REVOLTADA PORQUE NÃO ESTOU CONSEGUINDO CONTRATAR O BUFFET, PARA UM JANTAR AINDA PARA ESTA NOCHE! CHIQUITA, EU QUERO FALAR DIRETO COM A LINDA. PORQUE? PORQUE AI É O LINDA’S BUFFET, E EU QUERO FALAR DIRETO COM ELA NÃO COM A ARRUMADEIRA.

_Mãe, pára de gritar com ela, seja lá quem for. _Dizia Piedra embaixo da gritaria.

Dessa vez Lurdes apenas lançou um olhar tenebroso para Piedra, o que fez ela se calar novamente e afundar no sofá.

_ESPERAR? ESPERAR? E YO TENGO OPÇÃO? Ok, só não demora chiquita, porque se não eu vou esquecer o dinheiro que eu já paguei E VOU CONTRATAR OUTRO BUFFET! _Disse Lurdes exausta com a mão na cintura.

_Mãe, quer ti acalmar, por favor? _Pediu Piedra ao perceber a veia saltada na testa da mãe.

_Piedra querida, EU PAGUEI! MEU DINHEIRO NÃO NASCE EM ÁRVORE. _Disse Lurdes. _Agora voy tentar hablar com esta tal de Linda do Linda’s Buffet e conseguir o jantar pra nossa vizinha.

_Mas o que está acontecendo mamita? _Disse Piedra. _Aí, tá vendo? Eu também estou falando espanhol. Pára de falar espanhol mãe.

_Eu não consigo controlar minha língua quando estou nervosa. _Disse Lurdes andando de um lado para o outro.

_Eu sei, mas fica calma, tu vai enfartar se continuar nervosa desse jeito. _Disse Piedra.

_Aí, até agora nada. Se aquela piranhinha desligou o telefone na minha cara, eu vou matar. Voy a matar a su. _Disse Lurdes.

_Mãe, calma! _Pediu Piedra.

_Eu estou calma. _Disse Lurdes sentando na poltrona. _O problema é que preciso da resposta desse buffet pra agora, é o único buffet francês da cidade.

_Mãe, não precisa ter comida francesa só porque o pai dela é francês. _Disse Piedra.

_Ela não é francesa? _Perguntou Lurdes com o telefone ainda no ouvido.

_Não. Eu li que ela é filha de francês. O pai dela era francês e a mãe dela era brasileira. _Disse Piedra.

_Não faz diferença, ela teve uma criação francesa e vai adorar o jantar. _Disse Lurdes.

_E se ela odiar comida francesa? _Disse Piedra.

_O quê? _Perguntou Lurdes que tentava prestar atenção no telefone e na filha.

_Ela pode sei lá, ter trauma de infância. Ela pode ter apanhado do pai e odiar a França. Ela pode ter comido quando pequena e ter passado mal. Ela pode ser alérgica a escargot. _Disse Piedra.

_Piedra tu quer ajudar ou me matar de nervoso? _Disse Lurdes nervosa. _Cala a boca! Ah até que enfim, é a Linda. Cala a boca.

_Mãe anda rápido, eu fui até lá falar com ela. _Disse Piedra.

_Esperai Linda. _Disse Lurdes antes de colocar a mão sobre o telefone. _Tu o quê? Foi falar com ela? Sozinha Piedra? Ela é uma assassina.

_Mãe eu não fui sozinha o Rafa tava comigo e nem precisava ela é um amor. _Disse Piedra.

_Mas ela ainda é una assassina. _Disse Lurdes. _Espera um pouco Linda, eu esperei três horas e tu podes esperar también.

_Mãe o quê é isso? A senhora está fazendo uma festa pra ela e agora vem com essa história. Ela vai ter que entrar aqui em casa sabia? _Disse Piedra. _Tu não se atreva a fazer grosseria com ela heim mãe.

_Piedra é claro que não, mas ficar visitando a casa dela sozinha é perigoso. _Disse Lurdes.

_Eu não estava sozinha e nem eu. Tem o Olivier. _Disse Piedra.

_É verdade, é o sobrinho dela não é isso? _Perguntou Lurdes. _CALMA LINDA! É um assunto sério que eu estou discutindo aqui, e se eu não resolver não vai ter festa e eu não vou contratar seu buffet então, esperai chica.

_Mãe, pára de gritar. _Disse Piedra. _O que tu tem heim? Você vai fazer uma festa pra garota e nem confia nela.

_Piedra querida, essa Anne é una assassina e isso ninguém vai poder mudar. Pero isso não vai me impedir de dar a minha festa de boas vindas para os novos vizinhos, como eu venho fazendo há anos. _Disse Lurdes. _É lógico que eu não vou tratar a moça mal, eu sou a anfitriã da festa e não posso fazer essa indelicadeza, vou tratar ela e o menino o melhor que eu puder.

_Bom, muito bom. _Disse Piedra. _Porque você concordou que ninguém vai comentar sobre o assassinato na festa.

_Isso faz parte do convite, não quero ninguém avergonzado na minha festa, seria horrível. _Disse Lurdes.

_Ótimo! _Disse Piedra.

_Ótimo o quê? _Perguntou Lurdes. _Esperai aí Linda, só mais um minuto. Ótimo o quê Piedra? O que ela falou?

_Ah, ela vem. Ficou assim meio sem graça, mas disse que vinha. _Disse Piedra. _O Olivier convenceu ela na verdade. Ele é um gato, tu vai ver.

_Não deixe o João ouvir isso. _Disse Lurdes se levantando. _Pronto Linda pode falar. Não. Eu preciso do buffet aqui em casa às 5 da tarde com os garçons e com as cozinheiras. Como não tem cozinheiras? YO NO VOY CORRER O RISCO, E SE ACONTECE ALGO ERRADO, DE ÚLTIMA HORA? VOU TER QUE IR PRO FOGÃO, É ISSO? Linda querida, eu só quero contratar o serviço de vocês. Solo isso. É pedir mucho? Yo entendo que foi de última hora, pero que foi um caso urgente. Tengo o compromisso de pagar o dobro pelo seu esforço. AGORA É CLARO QUE TU ENTENDES, TU FALA A MESMA LÍNGUA QUE YO: DINHEIRO.

 

O celular de Piedra tocou no bolso. Quem ligava era Rafael.

_O que foi Rafael? _Perguntou Piedra impaciente.

_Calma guria. _Disse Rafael. _Tu não mandou eu vir acordar seu namorado? Então, ele não quer levantar.

_Joga água nele, empurra ele dá cama, faz qualquer coisa, mas acorda ele. _Disse Piedra. _Ele tem uma festa pra ir e nem sabe disso.

_Adivinha Pi? _Pediu Rafael segurando o riso. _O olho dele tá todo roxo, fora o inchaço.

_O quê? _Se chocou Piedra. _Ele não pode vir pra festa assim.

Rafael ria sem parar no telefone.

_Rafael pára de rir. _Pediu Piedra. _A gente tem que fazer alguma coisa, maquiagem sei lá. Mas ele não pode aparecer assim hoje a noite, minha mãe contratou até um fotógrafo.

_Fotógrafo Piedra, a Anne Marrie não vai gostar disso não. _Disse Rafael.

_Quê não vai? Ela faz o tipo garota problema que diz que odeia as câmeras, mas no fundo adora. _Disse Piedra.

 

Anne e Olivier vasculhavam as caixas atrás de roupas para a festa da noite.

_Será que vai ter fotógrafo? _Perguntou Olivier.

_Não, a imprensa só entra aqui com autorização. _Disse Anne afogada em pilhas de roupas.

_Não tia, a imprensa não. Estou falando de fotógrafo normal, para o evento. _Disse Olivier jogando uma calça jeans pra longe.

_Tomara que não, já basta a capa da Society essa semana. _Disse Anne. _Não quero sair na semana que vem de novo. Chega de patricinha e ex-presidiária. Deixa a Britney quebrar outro guarda chuva na cabeça de alguém.

Riu os dois.

_E a manchete como seria? _Perguntou Olivier brincando.

_Anne Marrie vai a festa e bebe todas. _Sugeriu Anne sorrindo.

_Você vai beber? _Perguntou Olivier jogando uma blusa azul pra longe na mesma pilha da calça jeans.

_De jeito nenhum, ainda mais se tiver fotógrafo. _Disse Anne. _Vida nova a partir de agora lembra?

_Certo. _Sorriu Olivier feliz.

 

_Não sei Pi, melhor desmarcar o fotógrafo não? _Disse Rafael ao telefone.

_Rafa cala a boca, a festa quem tá dando é minha mãe igual pra todo vizinho e pra todos teve fotógrafo. Pra ela não vai ser diferente. _Disse Piedra.

_Ela é famosa. _Disse Rafael.

_Por sair na página criminal. _Disse Piedra. _Ela não é nenhuma lady, nem atriz e nem nada. Só tem dinheiro e é assassina.

_A festa é sua, depois não reclama se o tema da festa não aparecer. _Disse Rafael.

_Cala a boca guri e acorda o João ai rápido. _Disse Piedra tampando os ouvidos pra ouvir Rafael do outro lado já que sua mãe gritava ao telefone com Linda.

_Estou tentando. _Disse Rafael. _Que gritaria é essa ai?

_É minha mãe tentando contratar o buffet. _Disse Piedra.

_E a Louísa será que vai? _Perguntou Rafael.

_Minha mãe convidou os pais dela, tu acredita? _Disse Piedra. _Mas eu vou bater o pé. Aqui em casa aquela guria não entra.

_Boa sorte, porque sua mãe não vai deixar de convidar os pais delas por causa da sua briga com a guria. _Disse Rafael.

_Minha briga com a guria não, que todo mundo mundo brigou com ela. Ninguém conversa mais com ela, não sou só eu não. _Disse Piedra.

_Mas você vai brigar com o João por causa de ontem tenho certeza. _Disse Rafael. _Você já desculpou ele, isso e injusto.

_Deixa de ser nojento e pára de acobertar seu amigo. _Disse Piedra. _Eu desculpei pelo negócio do quarto, mas na festa do André lá tava ele conversando com ela de novo.

_Ele estava pedindo informação, é diferente. _Disse Rafael.

_Era só procurar mais um pouco que a gente achava, mas ele foi logo atrás dela. _Disse Piedra. _Nçao sabe esperar.

_Aquilo ali estava uma loucura Pi, e deixa de ser chata guria. Ciúme bobo. _Disse Rafael. _Por isso que eu terminei contigo, paranóica com tudo. Com o namorado com a carreira, com a mãe, com a carreira, com a carreira e com a carreira.

Rafael riu.

_Eu não sou paranóica com a carreira nem com ninguém. _Disse Piedra nervosa. _Ser modelo é um sonho meu.

_E de milhões de pessoas. _Disse Rafael.

_Rafael, eu não vou ficar aqui discutindo minha vida contigo, não fazia isso quando a gente namorava e agora fica ai colhendo sermão. _Disse Piedra.

_Piedra, se for pra brigar com o João olho roxo, eu não vou acordar ninguém. _Disse Rafael. _Se quiser vem tu aqui.

_Rafael eu tenho que ajudar minha mãe com a festa, acorda ele ai e manda ele vim pra cá agora. _Choramingou Piedra ao celular. _Por favor vai.

_Eu conheço sua tática, oh gatinho do Shrek. _Disse Rafael. _Não vou acordar ele mais. Tchau!

_Rafael não deslig... _Disse Piedra. _... Na minha cara.

Nervosa Piedra esperou a mãe virar as costas enquanto ela saia de fininho. Mas Lurdes percebeu.

_Piedra pode voltar aqui agora guria. _Disse Lurdes. _Esperai Linda. Onde a chica pensa que vai?

_Mãe não enche eu vou voltar rapidinho, eu tenho que acordar o João. _Disse Piedra.

_Fala pra ele que já inventaram o despertador, mas se ele prefere alguma coisa mais rústica manda ele comrpar um galo. Eles são pontuais. Agora volta, senta ai e me espera.

_Mãe, ele precisa de mim lá, o Rafa me ligou aqui pedindo pra ir lá. _Disse Piedra. _Por favor, mamita. Yo tengo que ir.

_Eu te conheço Piedra Amarante, falando espanhol pra amolecer el corazón de la mamá. _Disse Lurdes. _O pior é que funciona.

Piedra sorriu e correu pra porta.

_Calma! _Disse Lurdes. _Você também Linda, espera um pouco querida. Piedra volta aqui.

Piedra voltou devagar.

_Vou te dar cinco minutos pra tu ir e voltar. Compreende? Ni un solo segundo a más. Nós temos que ir ao centro pegar a roupa na loja, a minha e a sua que eu já deixei separada. Aproveitamos para almoçar e voltamos pra cá pra receber o buffet. _Disse Lurdes segurando o telefone.

_Mãe, eu tenho que ajudar aqui? _Disse Piedra desanimada.

_Tem lógico. _Disse Lurdes.

_E o que a gente conversou sobre a Louísa não vir? _Perguntou Piedra.

_Eu pensei e está fora de cogitação. Eu não vou deixar de convidar os Zurück por causa de uma briguinha de criança. _Disse Lurdes.

_Não é briguinha de criança. _Disse Piedra nervosa.

_Tanto faz a garota vai vir junto com os pais e ponto final. _Disse Lurdes. _Agora some da minha frente e nem pense em me atrasar heim.

Piedra zangada deu as costas a mãe e saiu de casa batendo a porta, ao sair pelo jardim Piedra enquanto caminhava até a casa de João olhou para casa de Louísa que estava na janela e deu um tchauzinho pra garota. Piedra parou sem acreditar no gesto de Louísa que soou para ela quase como um insulto. Piedra bateu o pé e de uma vez levantou o dedo médio da mão para a garota parada na janela. Louísa riu em saber que conseguiu provocar a garota com tão simples e inofensivo gesto. Piedra seguiu pisando alto até a casa de João enquanto Louísa observava tudo de sua casa.

 

_Louísa, tu ainda não foi fazer tua mala? _Disse Eleonor, mãe de Louísa.

_Que mala mãe? _Perguntou Louísa saindo da janela e voltando pra mesa.

_A mala pra nossa viagem de fim de semana pro Rio. _Disse Eleonor. _Vai ter um coquetel...

_Mãe, vai ser a festa da nova vizinha aqui da rua, a Anne Marrie. _Disse Louísa. _Lembra? A Lurdes convidou a gente.

_Claro que lembro, mas Louísa filha, eu não vou numa festa dar as boas vindas pra uma assassina. Nós moradores aqui do Moinho tínhamos que fazer um abaixo assinado contra a entrada dessa moça para o condomínio. _Disse Eleonor. _Ela vai acuar todo mundo a qualquer hora, não vai poder se sair na rua agora.

_Mãe, sem exageros. _Disse Louísa. _Ela já cumpriu a pena dela.E todos dizem que ela é um amor de pessoa.

_Dizem que ela é uma patricinha que herdou uma fortuna do pai e fica por ai matando as pessoas atrás de um filho desaparecido. É louca. _Disse Theodor Anton, pai de Louísa.

_Olha só gente, o velho também sabe usar a internet. _Disse Louísa zombando e rindo do pai.

_Eu leio jornal só isso e tu devia fazer o mesmo. _Disse Theodor frio e calmamente. _Tu viu a que horas essa menina chegou em casa ontem Eleonor?

_Não ouvi nada. _Disse Eleonor concentrada em raspar o mamão.

_Mas eu ouvi. _Disse Theodor. _Os garotos da rua tiveram que trazer ela até aqui carregada. Estava tão drogada que não se agüentava em pé. A Maria teve que levar ela pro quarto, tirar as roupas dela e dar um banho se não ela ia dormir aqui em baixo mesmo.

_Tu não estava acordado, foi a Maria, aquela fofoqueira, que contou isso pra você hoje de manhã. _Disse Louísa.

_É pra isso que eu pago. _Disse Theodor.

_Por favor, vocês dois não comecem com outra discussão. Dá um tempo pra mim, preciso descansar pra viagem, não posso me estressar. _Disse Eleonor.

_Mãe, já disse que não vou viajar, eu vou à festa na casa da Piedra. _Disse Louísa.

_Você devia ter vergonha, aparecer na frente de todos como se você não tivesse feito nada. _Disse Theodor.

_Ah vocês ficam fazendo estardalhaço por nada. Eu não fiz nada demais foi só minha forma de vingança, só isso. _Disse Louísa. _Grande coisa que eu fiz, como se ninguém soubesse daquilo.

_Mas tu não tinha o direito de contar. _Disse Theodor. _Não era da sua conta, não era a sua vida.

_Eles eram a minha vida. _Disse Louísa. _Não podiam ter feito o que fizeram comigo. E é isso mesmo que você ouviu, eles começaram.

_Eles só leram seu diário e daí. Coisa mais ridícula, coisa de menininha isso, escrever diário. _Disse Theodor.

_Me tiraram da vida deles, como se eu não representasse nada, como lixo. _Disse Louísa. _Eu vou fazer eles voltarem a falar comigo, mas ai quem não vai querer vai ser eu.

_Filha você devia deixar tudo isso de lado. _Disse Eleonor. _Pra que cutucar a ferida? Deixa como estão, se eles não querem conversar, deixa eles. Procura outras amizades, sai um pouco daqui desse moinho, vai pro centro, no cinema, conhecer gente nova, se divertir. Vamos pro Rio, quem sabe lá você não esquece isso tudo.

_Eu já disse que não vou pro Rio, essa festa é a chance de eu voltar pra turma. _Disse Louísa.

_Tu não é amiga da Patrícia? _Perguntou Eleonor. _Não tá ótimo? Ela é uma garota excepcional, muito fina. Uma graça.

_Ela é ridícula, faz tudo que eu mando, não tem personalidade sabe. _Disse Louísa. _É um fantoche que vai me ajudar a ficar junta deles de novo.

_Tu é que é ridícula. Devia arrumar o que fazer e deixar eles em paz. _Disse Theodor. _Ninguém é obrigado a gostar de ninguém Louísa, você fez algo errado e devia aceitar isso como mulher e não ficar aí brincando com o sentimento dos outros dando uma de vilãzinha. Ridículo!

_A gente não escolhe a quem amar papaizinho. _Disse Louísa. _Eles eram meus únicos amigos.

_Que te rejeitaram, supera isso e vai viver sua vida. Deixa de ser patética e cresce guria! _Disse Theodor.

_Theodor? _Pediu Eleonor para que o marido parasse com as agressões.

_Deixa mãe. _Disse Louísa.

_Eu não vou deixar tu fazer nada com esses garotos, é até bom Eleonor que a gente vá a essa festa pra esclarecer as coisas. _Disse Theodor. _Passar vergonha toda vez que essa guria põe a cabeça pra fora. Rio de Janeiro fica bem longe e é pra lá que você vai passar esse fim de semana, sozinha.

_Mas eu quero ir. _Protestou Eleonor.

_Eu não quero ir. _Protestou Louísa.

_Vocês vão fazer o que eu estou mandando, Eleonor vai ficar pra festa da Lurdes junto comigo. O Rafael, o João e as meninas precisam saber o que tu anda armando dona cobra. A senhorita vai pro Rio fazer sei lá o quê, não me interessa, mas quero você longe enquanto eu conserto as coisas de novo. E quando tu voltar me agradeça, por ninguém olhar na sua cara inclusive a Patrícia. _Disse Theodor.

_Tu não vai fazer isso. _Disse Louísa. _É a minha vida.

_É a vida deles e você acha que tem o direito de intrometer, eu sou seu pai, e não acho não, eu tenho obrigação de intrometer na sua. _Disse Theodor. _Então acaba de comer caladinha ai e vai arrumar tua mala! Eu te levo no aeroporto.

_Isso é injusto. _Resmungava Eleonor.

_O que tu fala não é lei senhor Theodor Anton. Não pra mim. _Disse Louísa.

_Em uma coisa eu tenho que concordar com você Louísa, a gente não escolhe quem ama. _Disse Theodor. _E tenha certeza que o mesmo acontece com os filhos, a gente não escolhe.

Louísa levantou da mesa rispidamente fazendo as xícaras virarem e as frutas rolarem da cesta.

_EU NÃO VOU PRO RIO DE JANEIRO E PONTO FINAL. _Disse Louísa dando a volta na mesa.

_Vai sim. _Disse Theodor.

_Quero ver quem vai me obrigar. _Cochichou Louísa no ouvido do pai antes de sair da sala de jantar.

_Theodor. _Começou Eleonor. _Isso não está certo.

_Eu vou consertar as coisa Eleonor. A Louísa precisa de um basta e ela vai ter o que merece. A vida não é assim, ela não pode ter tudo que ela quiser, principalmente quando o que ela quer envolve a vida de outras pessoas. Ela não pode fazer isso.

_Mas eu queri ir pro Rio. _Disse Eleonor.

_Estamos pagando amor o preço por ter criado a Louísa assim, mimada e regada de luxos. _Disse Theodor. _Ela só aceita o sim como resposta. Isso tem que acabar.

_O Que você vai fazer? Ela não vai querer ir pro Rio. _Disse Eleonor.

_Isso não tem como obrigar, é capaz dela fazer um escândalo no aeroporto pra não ir. _Disse Theodor. _Mas ela não vai a essa festa hoje a noite e isso é minha palavra final. Nem que eu amarre ela na cama, que encha ela de remédio, ela vai ficar quietinha aqui em casa.

_Mas eu não quero ir nessa festa da assassina. _Disse Eleonor.

_Nós não vamos por ela, é tradição da rua a Lurdes fazer a festa de boas vindas. _Disse Theodor. _A turma vai estar toda lá, eu vou conversar com eles, falar que a Louísa está com graves problemas emocionais, para eles não se aproximarem dela. Para a segurança deles. Eu já achei droga no quarto dessa menina, e se ela continuar a enlouquecer desse jeito ela pode ser a próxima assassina aqui da rua depois dessa Anne.

_Deus me livre Theodor, como você pode falar assim da nossa filha? _Disse Eleonor chocada com a frieza do marido.

_Eleonor, a Louísa não pode continuar assim sem regras, eu vou tomar medidas drásticas, justamente por ela ser a nossa filha, me importo com o futuro dela. _Disse Theodor. _E que futuro ela vai ter se continuar assim?

_Eu acho que acabou de nascer um fio de cabelo branco em mim, eu senti. _Disse Eleonor virando os olhos pra cima a fim de ver o fio branco.

_Se for preciso, já até pensei em uma clínica de reabilitação. _Disse Theodor. _Ela precisa de um tratamento psiquiátrico. Um acompanhamento de perto dos profissionais as terapias não estão funcionando, isso se ela estiver indo ainda.

_Ela me disse que parou tem um tempo, está se sentindo melhor. _Disse Eleonor.

_Eu sei o que está fazendo ela se sentir melhor. _Disse Theodor levando dois dedos até a boca imitando o gesto de um fumante.

_Já vi ela fumando no quarto também. _Disse Eleonor.

_E pra variar não fez, nem falou nada ELEONOR? _Disse Theodor.

_O que você queria que eu fizesse? Eu não sou igual a você, não quero que ela me odeie. _Disse Eleonor.

_Você é mãe, não é amiga. _Disse Theodor. _Os filhos odiarem os pais na adolescência é normal amor. Você tem que aprender a viver com isso senão você vai perder sua filha. Já está perdendo aos poucos.

_Eu não nasci pra isso meu Deus. _Disse Eleonor. _Ser mãe é calvário.

_Não é fácil querida eu sei, mas não pensei que seria assim tão radical. Nunca. _Disse Theodor.

 

Marina atendeu a porta sorrindo.

_É tu querida, entra. _Disse Marina ao ver Piedra parada do lado de fora.

Piedra sorriu de volta e entrou pelo hall da grande e luxuosa casa do seu namorado.

_Onde estão os garotos? O João já acordou? _Perguntou Piedra que não podia demorar.

_Estão lá no quarto Piedra, o pobre do Rafael está tentando acordar aquele dorminhoco. _Disse Marina.

_Obrigada Marina, eu posso subir até lá? _Disse Piedra atrasada para sair com a mãe.

_Claro querida! _Sorriu Marina sempre feliz e simpática.

Piedra disparou até a escada.

_Piedra, querida, espere um pouco. _Pediu Marina preocupada.

_O quê é senhora? _Perguntou Piedra curiosa.

_É que ontem eu fui me deitar cedo e não vi o que aconteceu, mas tu sabe o que aconteceu com a Patrícia? _Perguntou uma mãe preocupada chamada Marina.

Piedra engoliu seco, de fato ela sabia o que havia acontecido, mas temia revelar isso a Marina, que talvez não suportasse ouvir a verdade sobre a festa de André.

_É que ela não se levantou até agora e já está tarde, normalmente ela costuma se levantar mais cedo junto com o pai. _Disse Marina.

_Marina eu não estou sabendo de nada não. _Disse Piedra. _Eu só sei que quem estava com ela era a Louísa, talvez ela saiba de algo.

_Claro querida, me desculpe por ti incomodar. _Disse Marina com seu habitual sorriso simpático. _Eu vou ligar pra Louísa imediatamente, e talvez não seja incomodo que ela venha aqui dar uma olhada na Patrícia pra mim. É que eu fico sem jeito de acordar ela, essa idade tu não sabe né, como eles vão reagir. Adolescentes, qualquer coisa errada e eles fogem de casa revoltados. Tão rebeldes.

_Sim senhora, isso mesmo ligue pra ela tenho certeza que ela vai fazer questão de ajudar a amiga dela. _Piedra Fingiu simpatia e alegria ao falar de Louísa.

_Mas pode subir querida, eles devem estar de conversa fiada e não desceram até agora. _Disse Marina sorrindo enquanto ia ao telefone. _Fique à vontade, a casa é tua.

_Obrigada senhora Pinho Medeiros. _Disse Piedra antes de subir as escadas correndo para não se atrasar ainda mais. E ela sabia que se isso acontecesse Lurdes não iria esperar ela para ir até o centro e provavelmente ela ficaria sem o vestido e sem almoço.

Já no quarto:

_O que vocês estão fazendo? _Perguntou Piedra ao se deparar com Rafael mergulhando um bife suculento e ainda sangrando no rosto de João.

_Minha mãe sempre disse que é bom pra hematoma. _Disse Rafael com o sangue escorrendo pelos dedos que seguravam o pedaço de carne. _Ela já apanhou muito das outras modelos, ela era mais bonita e elas ficavam com inveja. Mulheres.

_Cala a boca Rafael! _Disse Piedra se aproximando da cama onde João estava deitado gemendo de dor. _Como assim hematoma?

Rafael tirou o bife do olho de João e Piedra pulou pra trás quando viu o rosto do namorado roxo pela metade e bastante inchado. Ele mais parecia um Orc.

_Meu Deus João! _Se espantou Piedra com o rosto deformado do namorado, colocando a mão sobre a boca.

_Não está tão ruim assim, está? _Perguntou João ainda deitado.

_Imagina o Shrek roxo! Imaginou? Gostou? Então tu tá lindo. _Zombou Rafael que disparou a rir em seguida.

_Pára Rafael é sério, como ele vai à festa assim e ainda por cima tá doendo, como tu vai andar amor? _Choramingou Piedra sentando na beira da cama.

_Piedra, meu olho que está roxo mais eu ainda tenho perna. _Disse João sentando na cama sacudindo as pernas por debaixo de edredom.

_Deita amor, vai doer! _Disse Piedra empurrando João pro travesseiro novamente. _Ai, ai, machucou?

_Piedra calma eu quero levantar, eu preciso levantar. _Disse João tentando levantar enquanto Piedra o empurrava de volta para a cama.

_Ow Pi, deixa ele levantar. _Disse Rafael rindo da cena.

Por fim João levantou e se pôs entre Piedra e Rafael na cama.

_Pronto, vamos ficar assim tá vendo? _Disse João encarando os dois. _Me dá a carne ai.

Rafael deu a carne grossa e sangrando na mão de João que a mergulhou no rosto novamente.

_Que nojo João tira isso daí, essa carne só falta mugir de tão fresca. _Disse Piedra se afastando de João. _Vocês não sabem o numero da farmácia não? Já inventaram as drogas justamente pra isso.

_Ele já tentou de tudo Piedra, e o que tem demais na carne, mal não faz. _Disse Rafael.

_Só Rafael que a gente precisa de resultados RÁPIDOS! _Disse Piedra. _E eu estou atrasada, vim aqui a toa tu já tá acordado.

_Custo viu? _Se defendeu Rafael.

_Também depois de ontem e depois do soco que tu levou na cara qualquer cama prende a gente. _Disse Piedra.

Os três continuaram conversando por alguns minutos sobre a festa da noite passada.

_Tu não disse que está atrasada? _Disse João.

_Tu tá me expulsando João? _Disse Piedra que adorava fazer um drama.

_Exagerada! _Cochichou Rafael tampando a boca com a mãe.

_O quê? _Perguntou piedra que não entendeu o que Rafael disse.

_Nada Pi. _Disse João. _Eu estava perguntando o que tu tá fazendo aqui sentada, não disse que estava atrasada?

_Eu estou mesmo, mas não é assim tenho algum tempo ainda, minha mãe vai me ligar quando a gente for sair. Bom eu acho né. _Disse Piedra.

_Exagerada! _Cochichou novamente Rafael por debaixo da mão.

_Qual é seu problema guri? _Se zangou Piedra.

_Calma Pi. _Disse João. _E aí? Eu não vou na festa né?

_Claro que vai! _Disseram Rafael e Piedra juntos.

_Eu não vou ficar lá sozinho sem ti. _Disseram Rafael e Piedra juntos.

_No meio daquele bando de gente doida e fingida. _Disse Rafael. _Já basta a minha família.

_Basta a minha que vai dar a festa e nem gosta da convidada principal. _Disse Piedra.

_Mas e difícil né Pi, a mulher é uma assassina, galera peraí. _Disse João.

_Peraí tu. Agora mesmo estava falando que ela era bonitona, gostosinha e tudo mais. _Disse Rafael. _Agora vem com essa história de assassina? Pra cima de mim não.

_Gostosinha? _Perguntou Piedra com os olhos fechados.

_Cala a boca Rafael! _Disse João olhando feio pro amigo que começou a rir.

_É mentira Piedra, deixa de ser boba ele não falou nada não. _Mentiu Rafael que a pouco tempo antes de Piedra chegar discutia com João as qualidades da nova vizinha.

Piedra resmungou calada e aceitou séria, o beijo do namorado, quando o celular dela começa a tocar.

_Alô? _Disse Piedra. _Já tô ind...

Lurdes nem esperou Piedra terminar de falar e desligou o telefone na cara da filha.

_Gente tenho que ir, se não minha mãe sai sem mim. _Disse Piedra. _Mas eu tenho que falar uma coisa primeiro. Olha: Eu falei com minha mãe sobre a Louísa e não tem jeito gente, minha mãe falou que não vai deixar de convidar a Eleonor e o Theodor pra festa por causa da nossa briga coma filha deles, eles também são vizinhos. Vocês acreditam que ela acordou cedinho de manhã pra entregar o convite pra eles? Se eu tivesse visto, eu não tinha deixado e olha que eu já tinha falado antes com ela, mas vocês conhecem minha mãe né? Teimosa, faz tudo do jeito dela.

_Graças a Deus! _Disse Louísa parada na porta.

Os três saltaram na cama.

_Guria! Quer me matar de susto? _Disse Rafael com a mão no peito depois do susto.

_Ainda não rafa pode relaxar. _Disse Louísa sorridente.

_O que você está fazendo aqui guria? Sai fora agora. _Disse João ainda com o coração na garganta.

_Ela veio acordar sua irmã. Sua mãe chamou ela. _Disse Piedra séria sem olhar para cara de Louísa.

_Minha irmã não precisa de você, eu mesmo vou acordar ela, vai embora agora Louísa. Sai da minha casa guria. _Disse Rafael se levantando da cama num pulo ainda com adrenalina do susto.

_Calma João. _Disse Rafael que se levantou para segurar o amigo.

_Eu não vou fazer nada não Rafael pode ficar tranqüilo. Não vou sujar as minhas mãos com essa daí. _Disse João ao passar por Louísa.

Piedra e Rafael seguiram João até o quarto de Patrícia.

_E se você olhar pra mim na festa, acenar ou dar uma de boazinha na frente da minha mãe pra se exibir, eu vou quebrar a sua cara e dessa vez vai ser pra valer ouviu? _Ameaçou Piedra ao passar por Louísa que logo depois riu da atitude da garota.

Louísa seguiu o grupo.

Quando os quatro entraram no quarto de Patrícia havia um monte de maconha espalhados no chão. Os três ficaram parados diante daquilo chocados, Louísa sorria com todos os dentes.

_Então era isso que tinha no saquinho. _Disse João recordando a noite anterior quando perguntou a irmã sobre o que tinha no saco que ela escondia nas gavetas.

_Mas não era para desperdiçar assim, custou caro. _Disse Louísa sorrindo.

_Foi tu não é guria que compro isso pra ela? _Dizia João zangado com a garota.

_Eu não, na verdade tua irmã que comprou pra mim. _Disse Louísa. _ficou sem mesada, que pena.

_Sai fora guria, cai fora de uma fez, antes que você apanhe aqui. _Disse Rafael na frente de João caso ele resolvesse avançar em Louísa e não faltava muito pra isso.

_E não vai demorar. _Disse Piedra perto da garota, olhando direto nos olhos dela.

João foi até a cama da irmã e a sacolejou revoltado com as drogas que encontrou no quarto, pronto para dar o sermão na irmã. Ele sacudia, empurrava, gritava Patrícia, mas nada da garota acordar.

_Ô família difícil de levantar meu Deus. _Disse Rafael.

_Patrícia? Acorda, vamos levantar, que maconha é essa espalhada aqui no chão? Patrícia? PATRÍCIA? _Dizia João na tentativa de acordar Patrícia que nem se mexia.

_Pati? Acorda dorminhoca. _Gritava Piedra para acordar a cunhada.

_João levanta ela se não ela não vai acordar guri, ficar gritando e cutucando não resolve, a guria deve tá pregada por causa da festa ontem. _Disse Rafael.

João obedeceu ao amigo e segurou a irmã nos ombros e de uma vez sentou ela na cama. E para surpresa de todos Patrícia estava espumando pela boca.  Baba branca escorria pelo pescoço. João percebendo a overdose encostou a irmã na cabeceira e começou a dar pequenas palmadinhas no rosto da garota para tentar acorda-la. Rafael se aproximou e voltou a deitar a garota.

_João calma, eu já vi isso acontecer em muitas festas é overdose guri, vamos ter que levar ela para o hospital agora se não ela vai morrer. _Disse Rafael verificando o pulso da garota.

Piedra se aproximou curiosa e reparou no resto de pó branco espalhado em cima do criado mudo, ao lado um cartão de crédito.

_O que é aquilo ali João? _Disse Piedra apontando para o objeto.

João pegou o cartão e logo descobriu como a irmã entrou em overdose.

_Cocaína Louísa não dava pra matar ela aos pouquinhos não? _Disse João com lágrima nos olhos.

Louísa parecia assustada:

_João juro que eu não tenho nada haver com isso ai. _Disse Louísa sinceramente. _Eu não ia brincar com uma coisa séria dessas.

_E desde quando drogas é brincadeira guria. _Dizia Piedra revoltada.

_Mas eu não... _Louísa parecia realmente assustada e já pensava que a culpa caso Patrícia morresse seria dela.

_Eu estou falando da maconha Louísa, isso não é brincadeira. _Disse Piedra. _maconha, cocaína, qualquer droga é droga guria.

Louísa deixou uma lágrima correr.

_João me ajuda a pegar ela, vamos levar ela agora pro hospital guri. Anda. _Disse Rafael enquanto tentava pegar Patrícia no colo, que era bem alta apesar da pouca idade.

_Nós vamos ter que sair escondidos, minha mãe e meu pai estão lá embaixo se eles verem ela assim vão me matar. _Disse João chorando com a mão na cabeça enquanto Rafael carregava Patrícia.

_João, isso é o que menos importa agora, ela pode morrer. _Disse Piedra.

_A Piedra tem razão João, ela precisa ir pro hospital agora, seus pais precisam saber. _Disse Louísa chorosa andando pelo quarto e pegando as coisas de Patrícia. _Eu vou fazer uma mala pra levar pro hospital com as roupas, eu encontro vocês lá.

_Você não vai garota, é capaz de tu desligar a máquina da guria só pra ver ela morrer. _Disse Rafael saindo com patrícia do quarto.

_Não fui eu que dei essa cocaína pra ela. _Disse Louísa desesperada.

_É gente talvez não foi ela mesmo, lá na festa ontem o que não faltava era isso, ela pode ter conseguido de alguém. _Disse João correndo atrás de Rafael.

_Espero que seja isso guria ou então eu mesma te mato. _Disse Piedra com o dedo na cara de Louísa.

 

Já na rua correndo, João, Piedra e Louísa, necessariamente nessa ordem, seguiam Rafael até o carro.

_Vamos no meu que está mais fácil. Já está aqui fora, vamos. _Disse Rafael enquanto corria com a garota nos braços seguido pelos três.

Logo atrás dos três vinha Marina que não estava entendendo nada e Roberto logo atrás entendendo menos ainda. Parada em frente a sua casa Lurdes buzinava pra Piedra.

_Vamos filha. _Disse Lurdes apressada, mas quando percebeu a emergência: _Que passa ai Piedra?

_O que está acontecendo João? _Repetia Marina atrás dos garotos, uma vez e de novo e de novo e de novo. _O que está acontecendo João?

_Marina calma. _Vinha Roberto logo atrás. _Não dá tempo de conversar agora eu vou lá pegar meu carro, me espere aqui.

_O que está acontecendo JOÃO? _Gritava Marina assustada na rua, vendo a filha ser levada desacordada pra dentro do carro. _Pra onde vocês estão levando ela?

_Pro hospital Senhora Pinho Medeiros, pro hospital. _Disse Louísa com a bolsa de Patrícia na mão antes de entrar no carro atrás dos outros.

Marina começou a se sentir mal e ameaçava cair no chão, vendo tudo de longe, Lurdes se apressou pra sair do carro a tempo de socorrer a mulher. Theodor e Eleonor acompanhavam a gritaria e a confusão da janela.

_Eu vou até lá Eleonor, a nossa filha aprontou de novo. _Disse Theodor na janela. _Se ela machucou essa garota ela pode arrumar as malas que ela vai passar um bom tempo numa clínica pra malucos. Ela passou do limite Eleonor, passou dos limites.

Theodor saiu de casa correndo a fim de entender o que se passava na rua. Eleonor o acompanhou. Lurdes alcançou Marina antes que ela caísse no chão. O carro de Rafael saiu de ré cantando pneu. Quando avançaram um pouco Roberto já vinha com o carro logo em seguida. Lurdes ajudou Marina a entrar no carro e também correu para o seu para seguir os garotos aonde quer que eles fossem, pois ela não estava entendendo nada. Theodor foi fazer o mesmo, tirar o carro da garagem.

 

_Que barulho é esse? _Perguntou Olivier ainda afogado em pilhas de roupas.

_Parece barulho de carro. _Disse Anne antes de correr para sala para poder ver o que estava acontecendo.

Olivier a seguiu enquanto as buzinas zoavam do lado de fora e a gritaria era cada vez maior.

Ao chegar à janela eles viram quatro carros parado um atrás do outro diante de uma multidão de fotógrafos parados em frente a casa de Anne.

_É ela, é ela, lá na janela olha! _Gritou um paparazzi para os outros que começaram a dispara seus flashes.

Os repórteres, jornalistas, fotógrafos e paparazzis estavam parados no meio da rua, a única que dava saída para o condomínio com isso eles bloquearam a passagem dos carros de Rafael, Roberto e Marina, Lurdes, e o carro de Theodor e Eleonor que também foram seguir os garotos do primeiro carro da fila. Que não paravam de buzinar sem para, pois Patrícia estava morrendo no banco de trás.

Anne sem entender o que estava acontecendo correu pra porta e sal para ver melhor o que estava acontecendo.

_NÃO! _Gritou Olivier, mas não deu tempo.

Anne já estava do lado de fora cercada de repórteres fazendo perguntas, fotógrafos disparando milhões de flashes em cima da garota. Olivier se apressou e saiu também para ajudar a tia a escapar da imprensa.

 

Acho que a patricinha e ex-presidiária Anne Marrie vai ser a próxima capa da Society da próxima semana. De novo. Linda, jovem e rica? Algum preço você tem que pagar por isso. Acho que não vai mais ter festa nenhuma pra Anne, isso se não for por causa dela que alguém vai morrer de novo. Mas quem disse que a festa não começou?

domingo, 14 de setembro de 2008

Capítulo 20: Um amigo inesperado apareceu na história de Anne Marrie

_Entra! _Disse Anne animada.

Ao acabar de fechar a porta Anne levou Roger até o meio da sala e o ofereceu um banco de madeira para sentar na falta de um sofá. Ela tinha um grande sorriso no rosto e não conseguia disfarçar.

_Pode tirar esse sorrisinho da boca menina. _Disse Roger.

Olivier que assistiu tudo da corredor, interveio:

_Tia, está tudo bem?

_Tudo ótimo Olivier. _Respondeu Anne sorrindo. _Já acordado, tão cedo?

_Preparei o café. _Disse Olivier.

_Ótimo. _Disse Anne. _Você pode nos servir?

_Claro. _Disse Olivier desconfiado de Roger e de suas intenções.

_Garoto? _Chamou Roger antes de Olivier deixar a sala. _O meu sem açúcar e se tiver creme eu aceito um pouco.

Olivier olhou com uma cara feia e seguiu para cozinha.

_Bom, vamos lá. _Disse Roger.

_Cadê ele? _Perguntou Anne aflita e curiosa.

_Calma. _Disse Roger. _Eu só disse aquilo pra você me deixar entrar.

Os músculos no rosto de Anne se contraíram e o sorriso desapareceu por completo.

_Saia da minha casa agora! _Ordenou a menina.

_Anne, não seja ridícula. Senta e escuta o que eu tenho pra te dizer. _Disse Roger.

_Eu não quero ouvir nada da sua boca, nos últimos anos sua família vem querendo destruir meu nome. _Disse Anne.

_Eu não. _Disse Roger. _Não sei o que acontece, a única explicação seria a adoção.

_Meu filho foi adotado? _Perguntou Anne num súbito de esperança.

_Não. Eu fui. _Disse Roger. _Isso é o que eu acho. Seria a única explicação.

_Eu não quero te ouvir vai embora agora ou eu vou chamar a polícia. _Disse Anne.

_Eu sou a polícia, agora senta ai e me escuta. _Disse Roger.

_Duas perguntas: Para que? E Porque? _Disse Anne.

_Pra simplesmente ouvir o que eu tenho a dizer. E porque você vai precisar de ajuda pra encontrar seu filho. _Disse Roger.

_E ainda continuo a perguntar: O quê isso te interessa? _Disse Anne.

_De certo nada. _Disse Roger. _Mas digamos que eu estou lhe devendo um favor. Eu vim pagar.

_Quê favor? _Disse Anne.

_Você matou o meu irmão. _Disse Roger. _E eu te agradeço por isso.

Anne se assustou com aquilo.

_Isso mesmo que você ouviu Aninha. _Disse Roger. _Ao contrário do que você pensa, eu não fui o único, acho que a família toda ficou feliz pela morte do Humberto, mas a diferença é que eu sou o único com coragem pra falar isso. O Humberto sempre envolveu a família em escândalos, em polemicas sociais. A morte dele sai muito, mas muito mais barato pra nós da família do que se ele continuasse vivo.

Nessa hora Anne ficou feliz em ter a família que tem.

_Depois da morte dele eu pude me aproximar mais da família toda e só ai eu fui perceber o que realmente atrapalhava minha vida com todos os Fonseca. Era ele, Humberto. Nunca nos damos bem sabia? O caçula, sempre me culpava de tudo. Eu levava a bronca só pra deixar ele feliz. Dizia que se eu não mentisse ele não iria mais brincar comigo. Crianças são as criaturas mais cruéis que a terra conheceu. Podem dizer que eles são inocentes, não sabem o que é errado ou o que é mentira, mas a mesma coisa acontece com o leão e mesmo assim ele vive numa jaula. Ainda bem que a criança sabe chorar e não tem garras. _Disse Roger.

_Cala a boca Roger, você está doente. _Disse Anne. _Sai daqui agora.

_Ao contrário, você me curou. _Disse Roger. _Minha doença chamava Humberto, agora acabou Anne.

_Sai daqui agora. _Disse Anne se levantando e indo até a porta. _Eu fiz aquilo por mim e pelo que me lembro você me deu o endereço. Não foi nada fácil pra mim Roger, eu ainda estou procurando meu filho, quero começar uma vida nova sem mais problemas. E agora você é um.

_Está bem, eu vou parar de enrolar. _Disse Roger. _Eu vim aqui como eu disse para agradecer você por tudo.

_Eu matei duas pessoas, e tenha certeza que não foi por ajudar ninguém, nem a mim muito menos a você. _Disse Anne.

_Como não Anne? _Disse Roger.

_Você acha que ter matado o Humberto me ajudou no quê heim? Meu filho está aqui comigo? Mas é claro que ficar na cadeia pra você deve ser ótimo não é Roger? Eu respondo, não foi nada legal, eu nem pude ficar com meu pai nos seus últimos dias, eu não pude ver meus sobrinhos nascerem, não pude ficar com a minha irmã, não pude ir ao casamento dela. E tudo isso pra quê? Pra nada. Porque eu matei um homem e uma mulher que não tinham nada haver com a minha vida. Eu matei à toa. _Disse Anne com lágrimas nos olhos.

_Eu sinto muito. _Disse Roger.

_Não sente não Roger, sabe por quê? Porque você está aqui fazendo um papel de ridículo me dando os parabéns por ser uma assassina condenada. E você ainda espera que eu te sirva café. _Disse Anne gritando, sacudindo a porta e chorando. _Porque você não me disse que era uma menina? Porque aquele dia no café você não falou que era uma menina? A filha do Humberto era uma menina. Porque você não me falou?

_Eu não sabia que isso importava. _Disse Roger. _Eu nem sabia o sexo do seu filho com ele. Pensei como você que a Amanda era a sua filha.

_Mentira! _Disse Anne rispidamente. _Mentira, por que você perguntou lá no café qual era o sexo do bebê.

_Perguntei? _Disse Roger.

_Perguntou. _Disse Anne. _E mesmo sabendo que eu ia encontrar uma menina você me deu o endereço e deixou eu ir.

_Olha aqui menina, eu queria que vocês se entendessem de uma vez, está bem? Que colocassem um ponto final nessa história. _Disse Roger.

_Sabe o que parece? Parece que você queria que eu o matasse. Tá na cara que você sempre odiou ele. Por isso está aqui me agradecendo por ter matado ele. _Disse Anne.

_Não é bem assim. _Disse Roger. _Eu sabia que a sua visitinha ia gerar um escândalo, ou no mínimo fizesse com que a Poliana se separasse dele, mas nunca imaginei que você iria matá-lo.

_Que tipo de irmão é você heim? _Disse Anne. _Quer dizer que aquilo tudo foi armado, me dar o endereço pra eu de alguma forma acabar com a vida dele?

_Isso mesmo, só que você levou tudo muito a sério, ao pé da letra. _Disse Roger.

_Mas por quê? Pra que tanto ódio? _Perguntou Anne.

_Olha, isso aqui não é novela e eu não tenho que ficar me abrindo com você, dizendo meus motivos para odiar o Humberto, mesmo porque você nem é minha analista. Depois você melhor do que ninguém sabe que o Humberto não tinha dificuldades em fazer as pessoas o odiarem e eu não fiquei fora dessa. _Disse Roger. _Minha família.

_Sempre sua família, você me deu o endereço pra eu achar o Humberto pra preservar a sua família, me ajudou pra preservar a sua família, está aqui pra agradecer pela sua família. _Disse Anne fechando a porta com força. _Agora acabou de me dizer que queria que minha visita ao seu irmão gerasse no mínimo um escândalo. Mas não era isso que você queria evitar? Mais um escândalo na família Fonseca?

Anne foi totalmente sarcástica enquanto limpava as lágrimas e se aproximava de Roger.

_Era isso sim. Minha família sempre foi ligada a grandes vexames por causa do Humberto, e eu sempre alertei a todos de que isso não poderia continuar. Quando te encontrei aquele dia, eu estava retomando meu lugar, me aproximando de novo da minha família, isso porque ele estava longe havia algum tempo, por sua causa. Minha mãe e meu pai sempre preferiram ele do que a mim, e mesmo depois de ele ter feito o que fez com você, eles ainda o apoiavam, foram até o casamento ao parto da Amanda. Enquanto eu ficava de lado tentando chamar a atenção de alguma forma. Se você arrumasse mais um escândalo, mais um vexame achava que meus pais iriam deserda-lo de vez. Entendeu? Por isso não te disse nada sobre a Amanda, eu queria que você ficasse com ainda mais raiva pra fazer alguma coisa, algo realmente ruim com ele. E se tem uma coisa que eu sou é hipócrita, confesso que quando soube que ele havia morrido eu fiquei feliz. Como você deve ter ficado.

_Eu não fiquei feliz. _Disse Anne.

_Diga o quê quiser, eu não acredito. _Disse Roger.

_Você é muito atrevido viu. Saia daqui agora. _Disse Anne. _Depois não sabe porque sua família não gosta de você.

_O menininha deixa de ser mal educada ouviu. Eu estou aqui porque estou querendo te ajudar garota. _Disse Roger segurando o braço de Anne.

_Ficou nervoso porque eu falei da família? _Disse Anne sorrindo.

_Você não ouse falar da minha família. Eu fiz tudo por causa dela. _Disse Roger.

_Eu fiz tudo você quis dizer. _Disse Anne. _Eu fui seu fantoche, seu boneco. Você me manipulou para tirar benefício.

_Não coloque as coisas desse jeito. _Disse Roger soltando Anne. _Eu ajudei a nós dois. Você sujou as mãos só isso. Essa é a diferença. Mas eu é que sempre quis acabar com ele e na verdade você deveria me agradecer porque se ele estivesse vivo até hoje duvido que você ainda não estava correndo atrás dele.

_Você não sabe o que está dizendo. _Disse Anne. _Você sempre foi doente de ciúmes e inveja do seu irmão e isso te dominou. Eu não tenho que ficar aqui perdendo meu tempo com você. Vai embora se não eu vou chamar a polícia.

_Eu tentei chamar tia, mas sem o endereço não tem como a gente pedir ajuda. _Disse Olivier da porta.

_Eu também não sei o endereço ainda. _Disse Anne. _Mas pode ficar tranqüilo Oli, esse senhor já está indo embora.

Anne voltou à porta e tornou a abri-la.

_É Anne vejo que seus problemas estão resolvidos, já encontrou seu filho perdido. _Disse Roger indo em direção a porta.

_Ela é minha tia, eu não sou filho dela. _Disse Olivier.

_Olivier vai pro seu quarto enquanto eu resolvo isso aqui com esse senhor. _Disse Anne.

_Não tia eu quero ficar. _Disse Olivier.

_Como quiser. _Disse Anne.

_Vejo que agora você tem guarda-costas, mas acredite rapazinho sua tia nunca correu perigo. Ela é o perigo. _Disse Roger quando chegou a porta.

_Sai daqui seu louco. _Disse Anne quando tenteou fechar a porta com força.

Roger bloqueou a porta com o pé, Olivier correu para ajudar a tia a empurrá-lo pra fora.

_Calma galerinha! _Disse Roger sorrindo. _Anne você está sendo infantil, eu não vu te machucar e muito menos esse seu sobrinho ai.

_Pouco me importa Roger, agora saia da minha casa. AGORA! _Disse Anne.

_Eu estou aqui pra ajudar menina. _Disse Roger fazendo força.

_Vai se ferrar. _Disse Anne antes de concentrar toda sua força.

Por fim os dois conseguiram tirar o pé de Roger da porta e conseguiram trancá-la por dentro.

Roger começou a berrar do lado de fora.

_Anne qual é garota, abre a pra gente conversar igual pessoas civilizadas. Os adultos fazem assim querida. Eles conversam entre si. Não é preciso matar pra isso. Elas sentam, trocam palavras, se entendem, sem violência. Oh garoto? Cadê o cafezinho que você estava preparando heim. Gente me deixa entrar, eu prometo que vou dar um pirulito pra cada um.

_Tia deixa ele entrar. _Disse Olivier encostado na porta ao lado da tia.

_Não Olivier, fica quieto que ele vai embora. _Disse Anne baixinho enquanto Roger enchia os pulmões d lado de fora.

_Mas tia a gente acabou de mudar, olha o escândalo que ele está fazendo. _Disse Olivier. _E os vizinhos novos, o que eles vão achar.

_É verdade, a gente prometeu fazer amizade e não chamar atenção não é? _Concordou Anne com o sobrinho.

_Isso. Todo mundo já sabe que você é uma assassina, fazer amizade já vai ser bem difícil, imagina depois disso ai fora. _Disse Olivier.

_Eu vou sair então. _Disse Anne.

_Isso, mas não deixe ele entrar de novo, fica lá fora com ele porque assim não tem como ele tentar nada. _Disse Olivier.

_Está bem. _Disse Anne. _Mas fica da janela. Não sai ouviu, ele não é perigoso nem nada.

_Quem é ele? _Perguntou Olivier.

_Ele é irmão do Humberto. _Disse Anne virando os olhos, só de pensar na situação.

_Ele quer vingança. Então não sai tia. _Disse Olivier preocupado.

_Não Oli, tá tudo bem. Ele é louco, você acredita que ele veio me agradecer? _Disse Anne.

_Hã? _Olivier ficou sem entender.

_Depois eu te explico. _Disse Anne. _Agora deixa eu sair se não ele vai acordar todo mundo do condomínio.

_Vai, vai. Eu fico aqui vigiando da janela. _Disse Olivier.

_Tô indo. _Disse Anne saindo pela porta.

_Sei até porque você saiu. _Disse Roger rindo. _Vizinhança nova não é? Tu tem que manter as aparências não é? Uma assassina precisa zelar por sua imagem. Imagina se você vai deixar eles pensarem mal de você. Nunca.

Roger estava ofegante de tanto gritar mas mesmo assim sorria.

_Pára de fazer piada e diz logo o que você quer. _Disse Anne seria.

Olivier observava atentamente a tia e Roger pela janela.

_Essa visitinha minha já durou muito mesmo, você tem razão e eu tenho coisas pra fazer também. _Disse Roger. _E eu já te atormentei demais. Mas foi bom, não foi?

_Bom? _Chocou Anne com a pergunta. _Você é doente.

_No fundo foi bom Aninha, a gente pos o papo em dia, esclareceu muitas coisas do passado. E a gente tem algo em comum à gente odiava o Humberto, isso é certo. _Disse Roger.

_Eu ao o odiava. _Disse Anne.

_Nossa, então imagina o que você ia fazer com ele se você o odiasse então heim. _Disse Roger. _Você ia usar o quê dessa vez um lápis, grampeador ou o quê?

_Eu acreditava que ele tinha roubado meu filho, por isso eu fiz aquilo. _Disse Anne.

_Que bonito, você ainda o ama. _Disse Roger.

_Amo nada. _Disse Anne. _Diz logo Roger e vai embora.

_Ok. _Concordou Roger. _Mas de novo eu digo você pode dizer o que eu quiser, eu não acredito em você.

_Deixa de ser chato e inconveniente e diz logo o que você veio fazer aqui, anda. _Disse Anne já sem paciência.

_Tá bem aninha. _Disse Roger. _Eu vim aqui pra agradecer por voc...

_Isso você já disso e se for só isso pode ir agora. _Disse Anne.

_E como forma de meu agradecimento eu estou me oferecendo para te ajudar a encontrar seu filho. _Disse Roger.

_ Só isso? Pode ir embora agora. _Disse Anne. _E muito obrigada por nada.

_Calma menina, tu não mudou mesmo heim? Continua a criancinha que eu encontrei naquele café lá em São Paulo. _Disse Roger. _Me deixa continuar garota.

_Continua de uma vez e para de enrolar. _Disse Anne.

_É você que não me deixa falar, toda hora me interrompe. _Disse Roger.

_Tudo bem, fala então de uma vez. Prometo que não interrompo mais. _Disse Anne.

_Ah que gracinha. _Sorriu Roger. _Tem razão do meu irmão ter ficado com você, você é mesmo uma boneca dá vontade de levar pra casa e colocar na estante. Mas é claro que com a sua idade isso só não conta.

_Eu já tenho 38. _Disse Anne que já estava acostumada em pensarem que ela ainda era menor de idade.

_O tempo não passou pra você heim menina. _Disse Roger. _Mas você entendeu o que eu quis dizer. Meu irmão nunca deveria se envolver com uma ninfeta como você.

_Roger? Por favor, fale o que você quer? _Disse Anne impaciente.

_Desculpa. _Disse Roger. _Bem. Eu fiquei sabendo que o suspeito de ter seqüestrado seu filho, ele é aqui do sul.

_Como você ficou sabendo disso? _Perguntou Anne.

_Se você me deixar terminar eu te conto. _Disse Roger.

_Desculpa. _Disse Anne.

_Pois então, coincidência ou não, eu não acredito nessas coisas, o suspeito está neste momento detido na minha prisão. _Disse Roger que logo levantou o braço quando percebeu que Anne iria questioná-lo. _Calma Anne! Então, o suspeito está detido na minha prisão. Isso mesmo, eu dirijo essa prisão há alguns anos, ele entrou lá tem um ano por roubo a mão armada e outros pequenos crimes. Eu recebi os dados da denuncia lá de São Paulo e não pude deixar de perceber do que se tratava. Mesmo porque o nome da minha família estava envolvido nisso tudo e o seu também, minha pequena.

_Não sou sua e muito menos pequena. _Disse Anne.

_Calma, me deixa terminar. _Disse Roger com a mão erguida. _O processo ainda está sendo transferido pra cá e ainda não é possível provar nada e não sei se você sabe, mas a polícia vai demorar ainda algum tempo para começar as investigações de novo, afinal esse caso está dormindo a mais de vinte anos.

_Me conta algo novo, porque até agora isso tudo ai eu já sabia. É por isso que eu mudei pra cá, pra resolver eu mesma. _Disse Anne.

Roger riu.

_Quem você está achando que é Anne? Você não é espiã, é uma ninguém, ex-presidiária que não sabe nem atravessar a rua direito. Você acha que iria até onde pra conseguir alguma informação sigilosa? _Disse Roger.

_Eu iria lá visitar o preso, ou ele não pode receber visitas? _Disse Anne.

_Pode claro que pode, mas ele tem família e é permitido duas pessoas por vez, e tenho certeza que nem a mãe e nem a irmã dele iam ceder o lugar delas pra você. _Disse Roger. _E agora meu bem?

_Pára de me chamar assim. _Disse Anne. _Nisso eu dou um jeito, eu converso com o diretor.

Anne parou de falar devagar e olhou para Roger que sorria maliciosamente.

_Isso mesmo menina, eu sou o diretor. _Disse Roger sorrindo.

_Eu não preciso de você. _Mentiu Anne.

_Eu sabia que você não ia ficar parada lá em São Paulo, quietinha esperando a nossa competente polícia resolver o caso do seu filho. _Disse Roger. _Mas confesso que fiquei surpreso quando descobri que você ia morar aqui.

_Como você descobriu isso tudo? _Perguntou Anne.

_A mídia meu bem, ou você não viu ainda? _Perguntou Roger.

Anne olhava para Roger sem entender.

_É. Não viu. _Disse Roger antes de enviar a cabeça para dentro da janela de seu carro que estava parado ao seu lado e retirar de lá uma revista. _Odeio essa revista sabia, o nome da minha família está na lama graças a duas coisas: Você e essa revista.

Roger jogou a revista para Anne a segurou nos braços. E lá estava na primeira página a foto de Anne e Olivier no aeroporto em São Paulo embarcando no Jatinho particular.

_Jatinho particular? Tá com muito heim Anne. _Disse Roger. _Se eu fosse tão popular assim como você também optaria por um jatinho, afinal algumas pessoas ainda não aceitam sua conduta não é. Você viajando no meio de tantas pessoas normais, honestas, direitas, não iria dar certo, você ia ser apedrejada.

_Não foi tão glamouroso como parece. _Disse Anne encarando a capa da Society. _Eu fiz isso tudo justamente pra escapar da imprensa.

_Eu sei, eu sei. _Disse Roger. _Mas não deu muito certo não é?

Em baixo da foto os dizeres: A PATRICINHA E EX-PRESIDIÁRIA ANNE MARRIE FOGE PARA O SUL EM BUSCA DE SEU FILHO PERDIDO.

_Pode ficar com essa daí pra você. Quando você ler o que escreveram de você ai dentro tu vai ficar surpresa com o que esses repórteres descobriram. Eles fizeram quase uma biografia da sua vida criminosa. Talentosos! _Disse Roger.

_Isso eu não me importo, porque o que eu fiz não é segredo pra ninguém. Agora patricinha, eles pegaram pesado. _Disse Anne.

_Foi por causa do jatinho. Ele disseram que você se acha importante demais pra viajar como todo mundo, sendo que você depois do que fez devia estar se recuperando ou ajudando as comunidades mais pobres. _Disse Roger.

_Eu já me recuperei. _Disse Anne com a revista na mão. _Eu fiquei presa por 20 anos pelo amor de Deus. O que mais essas pessoas querem de mim, eu já assumi publicamente que me arrependi. Agora eu tenho que sair plantando árvores por ai pra provar que eu não sou assassina.

_Isso se desconsiderarmos o fato de que você é uma assassina. _Disse Roger.

_Você entendeu. _Disse Anne.

_Não. _Disse Roger.

_Eu matei sim o Humberto e SEM querer matei também a Poliana, mas já disse que me arrependi por isso, já paguei minha pena, já pedi perdão a todos. Mas isso não adianta não vai fazer eles voltarem a vida eu sei disso. Mas não quer dizer que eu vou matar qualquer um pela frente.

Anne percebeu que estava falando alto e ouviu as batidas no vidro da janela da sua casa, quando olhou Olivier sacudia a mão pra ela baixar a voz e apontava para o outro lado da rua. Rafael encarava Anne atentamente ainda com sua xícara de café na mão e uma blusa velha amarrotada.

_Acordamos os vizinhos menina. _Disse Roger olhando para Rafael.

Anne ficou totalmente sem graça e se apressou a dizer:

_Desculpa, eu não quis acordar ninguém. _Disse Anne envergonhada. _Eu estava gritando não é.

_Sem problema, eu já estava acordado só vim aqui fora para pegar o jornal. _Disse Rafael que em seguida olhou para o jornal que estava perto do seu pé.

_Ah sim. _Disse Anne sorrindo desconcertadamente.

_Tudo bem. _Disse Rafael se abaixando pra pegar o jornal. _Eu já estou entrando.

_Hei rapaz? O que você ouviu aqui, sobre ela ser assassina é mentira ouviu. _Disse Roger. _Ela é um doce de pessoa, só não fique olhando muito nos olhos dela se não ela vira uma fera.

Rafael desviou o olhar de Anne quase automaticamente e voltou para casa devagar tomando seu café.

_Cala a boca Roger. _Disse Anne. _Você que as coisas fiquem piores pra mim do que já estão?

_Peça sempre que precisar menina. Estou aqui pra isso. _Disse Roger.

_Pra me atrapalhar. _Disse Anne.

_Pra te ajudar. _Disse Roger. _E você deveria em agradecer depois do que eu li ai, ninguém passaria na sua porta. E aproveite bem antes dos moradores fazerem um abaixo assinado pra te tirar daqui. E mais uma vez dê graças a mim por não acreditar nessas revistas de celebridades.

_Antes isso. _Disse Anne. _Se eles se preocupassem com elas e me deixassem em paz.

_Querida você é celebridade. _Disse Roger. _Tudo tem seu preço.

_Eu não sou celebridade, sou uma pessoas normal. _Disse Anne.

_Hoje em dia os assassinos estão em alta e quando tem dinheiro ainda, eles ficam mais populares. O povo fica revoltado. _Disse Roger.

_Você está realmente me deixando bem à vontade. _Disse Anne.

_Bom, me deixa ir. _Disse Roger. _Eu tenho um presídio pra tomar conta.

_Mas e como a gente fica? Você vai me ajudar? _Disse Anne.

_Já disse, estou aqui pra isso. _Disse Roger ao entrar no seu carro. _Toma aqui o meu cartão, mais tarde entra em contato comigo pra gente marcar um lugar pra conversar.

Anne se aproximou do carro e pegou o cartão.

_Eu não quero conversar. Já está marcado, a gente se vê no presídio então. _Disse Anne.

_Não vai rolar nem um café, pra lembrar os bons tempos. _Disse Roger sorrindo.

_Nunca tive tempo e muito menos bom, com você Roger. _Disse Anne.

_Menina não seja tão dura comigo e nem pense que eu quero algo com você, você não faz meu tipo. _Disse Roger.

_E viva eu por ser eu. _Disse Anne. _Eu te ligo depois do almoço.

_Sem pressa Anne, eu sei que você está ansiosa pra saber informações sobre seu filho, mas vamos fazer do meu jeito, está bem? Nós vamos agir em segredo, a polícia não pode desconfiar do que a gente vai fazer. _Disse Roger.

_Você vai fazer o quê? _Disse Anne.

_Não sei ainda, a gente tem que pensar nisso. Mas nada que chama a atenção de ninguém. E a gente tem que ter todo cuidado porque ele também não pode falar pra polícia que a gente vai interrogá-lo, muito menos pro advogado dele.

_Entendi. _Disse Anne.

_Vai ler essa matéria ai, chorar um pouquinho, ficar de depressão, depois você me liga. _Disse Roger sorrindo.

_Desculp... _Tentou Anne arrependida.

_Sem desculpas menina, eu não estou te ajudando por compaixão. Só acho justo. Você o matou sozinha, me ajudou querendo ou não e eu me senti no direito de te ajudar. _Disse Roger.

_Tá bem. _Disse Anne.

_Deixa eu ir antes que os repórteres apareçam. _Disse Roger.

_Eles sabem onde eu moro? _Perguntou Anne assustada.

_Seu endereço está ai dentro, não todo. Mas eles sabem que você está morando aqui neste condomínio. _Disse Roger. _Pra eu descobrir foi fácil, é só perguntar quem é a nova moradora lá na portaria que eles informam.

_E eles te deixaram entrar assim? _Disse Anne que esperava o mínimo de segurança de um condomínio.

_Sou policial Anne. _Disse Roger sorrindo.

_Esqueci. _Disse Anne sorrindo.

Roger acelerou e saiu com o carro pela rua do condomínio.

 

Anne voltou para dentro da sua casa e junto com Olivier tomou o café da manhã e contou ao sobrinho toda a história com Roger. Olivier ficou feliz pela tia ter conseguido ajuda para encontrar Gérard, pois ele temia que ela se metesse em mais confusões em busca do filho. Anne mostrou a revista a Olivier e começou a lê-la em voz alta. Os dois riam sem parar com os absurdos ali descritos, era tudo tão exagerado, tão mentiroso que eles sabendo da verdade não viam motivos pra se preocupar. A diversão foi interrompida pela campainha. Olivier foi atender.

_Deve ser o tal do Roger que voltou pra encher o saco de novo. _Disse Olivier enquanto caminhava até a porta.

_Ele não ia voltar agora, acabou de sair, cuidado pode ser algum repórter. _Preocupou Anne.

_Eles não tem como entrar aqui tia, relaxa. _Disse Olivier ao abrir a porta.

Parados na soleira estavam Piedra e Rafael.

_Oi. _Cumprimentou Piedra.

_Olá. _Respondeu Olivier aos dois enquanto Rafael só balançava a cabeça.

_A gente veio aqui convidar vocês. _Disse Piedra.

_Convidar pra quê? _Perguntou Olivier.

_Quem é? _Perguntou Anne de lá de dentro.

_São os vizinhos aqui da frente tia, eles estão convidando a gente. _Gritou Olivier coma cabeça pra dentro de casa.

Anne veio correndo.

_Convidando? _Perguntou Anne surpresa. _Convidando pra quê?

_Ah, não é nada demais. _Disse Piedra. _É que a minha mãe tem um costume de fazer uma festa pra receber os novos moradores aqui da rua. Uma festa de boas vindas.

Rafael olhava atento para Anne, que percebeu e entendeu que não seria uma boa idéia. Ele havia ouvido uma boa parte da conversa dela com Roger no jardim e não seria legal ir a uma festa com todas as pessoas a encarando e fazendo perguntas como de costume.

_Eu acho melhor não. _Disse Anne e Olivier parou de rir imediatamente. _Agradecemos muito o convite, a gente está muito feliz mesmo por vocês terem recebido a gente ontem com tanto carinho. Mas é que as nossas coisas ainda não acabaram de chegar, e está tudo uma bagunça. A gente ia tirar esse fim de semana para arrumar tudo.

_Porque não? _Perguntou Rafael que desejava muito a presença de Anne na festa.

Anne se espantou com o desapontamento de Rafael.

_É tia porque não? _Perguntou o triste Olivier que também queria muito ir a festa conhecer seus novos vizinhos. _A gente combinou que ia fazer mais amigos lembra?

_É eu sei. _Disse Anne. _Mas a gente tem muita coisa pra fazer e já ficar dando trabalho pra todo mundo não seria legal.

_Não é trabalho. _Disse Piedra. _Minha mãe é promotora de eventos, ela adora dar festas.

_Mas eu não sei se eu vou ficar a vontade com uma festa muito grande pra mim, com muita gente. _Disse Anne.

_Não, vai ser tudo bem simples. É só um jantar. A gente vai convidar só as famílias aqui da rua e vocês. _Disse Piedra.

_No máximo 20 pessoas. _Disse Rafael.

_Por favor, tia. _Pediu Olivier.

Anne pensou um pouco e pesou as coisas rapidamente na cabeça. Por um lado se expor agora não seria aconselhável, já que ela era capa da Society da semana e isso seria o assunto da festa, mas por outro lado mostrar para aos vizinhos que ela era normal e não uma psicopata deixaria as coisas mais fáceis e talvez ela fizesse aliados ou até amigos.

_Tudo bem, a gente vai. _Disse Anne.

Os garotos riram e pularam de empolgação.

_Que bom. _Disse Rafael. _Vocês vão adorar todo mundo da rua. Olivier tem uma garota que tu vai ficar louco.

_Quem? A Louísa eu já disse que ela não vai. _Disse Piedra.

_Ela não Pi, a Pati. _Disse Rafael.

Olivier olhou para Anne que entendeu logo o recado.

_Legal. _Disse Olivier para não fazer alarde sobre sua sexualidade.

_Então tá. _Disse Piedra. _A gente se vê a noite então.

_Hoje? _Perguntou Anne que tinha planos de encontrar com Roger. _É que eu tinha outros planos.

_Não, tudo bem é só dizer a hora que a gente aparece. _Disse Olivier a fim de evitar que a tia encontrasse Roger. Não agora, não tão rápido.

_Tem certeza que não vai atrapalhar o plano de vocês? _Perguntou Piedra.

_Tenho, não é tia? _Perguntou Olivier olhando pra tia com um olhar que só Alice conseguia fazer. Um olhar que dizia mais que mil palavras.

_É. _Concordou Anne sem saída. _A gente aparece lá sem falta.

_8 horas, está bem pra vocês? _Perguntou Rafael.

_Está ótimo. _Disse Olivier sorrindo.

_Ótimo. _Disse Piedra sorrindo.

_Até a noite. _Disse Rafael.

_Até. _Disseram Anne e Olivier juntos e depois fecharam à porta.

_Olivier a gente não devia ir. _Disse Anne.

_Não tia você não vai encontrar com o Roger hoje. _Disse Olivier.

_Não é por isso. _Mentiu Anne.

_Eu sei tia que se fosse por você, você já estaria lá na delegacia. _Disse Olivier.

_Mentira. _Disse Anne. _Eu acho que não seria legal a gente ir por que você já imaginou todo mundo olhando pra nós e apontando: Lá vai à patricinha e ex-presidiária. Cuidado com ela! Ela já matou dois.

_Tia a festa é pra nós. _Disse Olivier. _Eles iam apontar pra gente de qualquer jeito, nós somos os novos da vizinhança.

_É verdade. _Disse Anne.

_E você acha que eles não leram a Society ainda? Eles sabem quem somos nós e mesmo assim resolveram dar a festa pra gente. _Disse Olivier. _Eles estão acima disso. Não se importam com essas coisas, como dizem por aqui: TU vai ver, vai dar tudo bem.

_É verdade. _Disse Anne. _Eu pensei que aquele Rafael não ia querer mais falar com a gente depois do que ele provavelmente ouviu aqui de manhã.

_Tá vendo, ele não liga que você seja uma assassina. _Disse Olivier. _Desculpa.

_Tudo bem, já me acostumei a ouvir. _Disse Anne acariciando o sobrinho no rosto.

_Então é isso temos uma festa pra ir, nossa primeira festa no sul. Vida nova Anne Marrie. _Disse Olivier sorrindo.

_Sabe o que é pior? _Perguntou Anne.

_O quê? _Perguntou Olivier.

_Nossas roupas estão dentro de alguma caixa por aqui, e eu não sei qual. _Disse Anne preocupada. _O que eu vou vestir?

Olivier sorriu.

_Vamos começar a procurar. _Disse Olivier levando a tia até um dos quartos onde estava a maioria das caixas.

 

Está tudo tão feliz. Um amigo inesperado apareceu na história. Quem diria que Roger seria aliado de Anne Marrie na busca por Gérard? Uma festa? Com exceção do buffet e da decoração essa reunião não vai ter nada de festa, eu prometo que tudo vai dar errado. E se não fosse assim, você não estaria aqui. Não gostou? Vai ler um livro de auto-ajuda. Porque diferente deles aqui a vida é triste e cruel, como na realidade e quando no título temos Anne Marrie às coisas tendem a ficar pior.