domingo, 16 de novembro de 2008

Capítulo 28: E tenha esperança Anne Marrie

Clarice folheava a revista Society quando Rafael entrou pela sala.

_Eu ainda não acredito que aquela garota fez isso meu filho. _Disse Clarice.

_Mãe pára de folhear essa revista, ela me dá vontade de ir lá e quebrar a cara daquela garota. _Disse Rafael sentando no sofá.

_Não consigo parar de olhar pras fotos. _Disse Clarice. _Quando tu me contou que foi a Louísa, aquela menina que vivia aqui em casa que fez isso com vocês eu não acreditei, pra quê?

_Essa é a eterna pergunta mãe, pra quê? _Disse Rafael. _Simplesmente não tem explicação, não é racional uma pessoa agir assim, é loucura.

_Mas o namorado dela nem era tu, era o João, porque fazer isso contigo e com a Anne? _Perguntou Clarice olhando uma das fotos em que Rafael cochichava no ouvido de Anne enquanto ela ria.

_O problema não era o namorado mãe, o problema somos, nós, todos. Todo mundo que era amigo dela. _Disse Rafael. _Ela quer acabar com todo mundo, mas ela é ridícula, se acha a mal, a vilãzinha fazendo esse tipo de coisas, seguindo a gente, falando mal. Isso não me incomoda, mas a Anne, ela não tem nada haver com a historia nem o Oli.

_Dizem que a portaria está um inferno, mal se consegue sair de carro por lá. _Disse Clarice. _Teu pai nervosíssimo né? Imagina ele tentando ir trabalhar todo dia agora e vendo aquela bagunça ali na frente?

_Mas fica todo mundo culpando a Anne, mas não é culpa dela. _Disse Rafael. _Qual a grande história que ela pode contar? Ela nem é artista nem nada, não entendo a imprensa toda atrás dela. Às vezes fico achando que estou namorando a Paris Hilton.

_Mas de certo modo tu namora meu filho, eu te avisei antes não é? _Disse Clarice.

_Eu sei mãe, eu sei o que todo mundo falou. Mas isso não tem nada haver com ela, ela não é desse jeito, não é irresponsável nem bêbada, muito menos drogada. Ela é gentil, bonita, carinhosa. Mas só porque ela matou alguém ela se torna uma celebridade?

_É a mídia meu filho. _Disse Clarice. _Eu sei bem o que é ser o alvo dos flashes.

_Mas tu era modelo mãe, precisava disso, tinha fás, todos queriam saber onde andava, o que tu usava, com quem estava namorando, essas coisas. _Disse Rafael. _É ridículo esse interesse por a vida de alguém, mas alguém publica ainda é compreensível. Agora a Anne? Ser assassina é chic agora, é bom pra imagem?

_Como no musical filho, Chicago. _Disse Clarice.

_Mas eu não queria namorar uma Roxie, muito menos uma Velma Kelly. _Disse Rafael.

_A gente não escolhe quem amar filho. _Disse Clarice. _Me preocupa as vezes tu com essa garota, mas eu não posso fazer nada. Se tu ama ela e ela te ama, fico feliz por isso.

_Valeu mãe. _Disse Rafael sorrindo.

_Mas fica tranqüilo filho, que um dia isso passa, os flashes vão embora, tudo desaparece de uma vez só. _Disse Clarice. _Como em Chicago, daqui a pouco vai aparecer outra assassina para tomar o lugar de sucesso da Anne. É triste, mas é a verdade.

_E se continuar do jeito que está, não duvido nada que a próxima seja a Louísa. _Disse Rafael. _Guria maldita!

_Credo filho, não diga isso, por que se isso acontecer uma das vítimas pode ser tu. _Disse Clarice assustada ao fazer o sinal da cruz.

_É. Então alguém tem que parar essa guria de uma vez. O pai dela diz e diz e não faz nada. _Disse Rafael indignado.

_Deve ser difícil pra qualquer um ver um filho nesse estado meu amor. _Disse Clarice.

_Eu sei mãe, mas e ai até quando vou ficar esperando pra essa Louísa fazer algo realmente grave, que posso machucar alguém? _Disse Rafael. _Tu viu o que aconteceu com a Pati, poderia ter sido pior se a gente não tivesse lá.

_Mas já não falaram que não foi a Louísa? _Disse Clarice.

_Não foi diretamente né mãe, mas quem levou ela na festa do André foi a Louísa. _Disse Rafael. _A guria viciou a Pati de vingança do João. Agora publicou essas fotos da Anne comigo, pra se vingar de mim, quem vai ser o próximo, mãe? Heim?

_Isso tem que parar meu filho, vocês precisam se defender, tomar mais cuidado. Essa guria é louca, ela pode até querer atropelar vocês. _Disse Clarice fazendo o sinal da cruz de novo.

_Pode deixar mãe. _Disse Rafael.

_E a Arte & Arte filho, como vai? _Perguntou Clarice sorridente e orgulhosa.

_Ah vai bem mãe, muito bem. _Disse Rafael. _Temos muito trabalho pra depois do natal. A Juliana ajudou demais, a gente vez muitos contatos agora, estamos além da agencia dela com mais cinco clientes fechados.

_Que bom filho, ainda bem que está dando tudo bem. _Disse Clarice sorrindo.

_É a Anne mãe, ela está conseguindo mudar minha vida. _Disse Rafael pensando na amada sorrindo. _Ela é linda, inteligente, é um pouco inocente ainda, mas é isso é que é o legal sabe. Apesar da idade nem parece que ela é mais velha.

_Ai nem fala da idade dela que me sobe um ódio, uma inveja. _Disse Clarice. _Um corpinho lindo, um rostinho perfeito. Ai, ai, e com a idade dela.

_Não é perfeita mãe? _Perguntou Rafael sorrindo.

_Filho, nunca pensei que fosse te ver assim por uma mulher, tão bobão. _Disse Clarice sorrindo.

_E mãe não começa, já tenho que ouvir isso de todo mundo o tempo todo de como com ela eu sou diferente, babão. _Disse Rafael. _Só coruja mesmo, sou um namorado coruja.

_Tu é um namorado apaixonado isso sim. _Disse Clarice. _É tão bom filho ver tu tão feliz, com alguém especial do teu lado, com tua carreira profissional deslanchando. Estou muito orgulhosa.

Clarice começou a soltar lágrimas pelos olhos.

_Ai mãe, pare de chorar. _Disse Rafael sorrindo. _Deixa de ser boba.

_Não sou boba não. _Corrigiu Clarice rapidamente. _Sou mãe caramba, não posso ficar nem um pouquinho orgulhosa do meu filho? Estou feliz por ti.

_Claro que tu pode ficar feliz mãe. _Disse Rafael sorrindo ao se levantar e ir até a mãe dá-la um abraço.

Os dois ficaram ali por alguns segundos sorrindo.

_E ai filho, que horas tu vai sair daqui? _Perguntou Clarice enxugando as lágrimas quando se desvencilhou do abraço.

_Vou sair cedo mãe, a família da Anne vai chegar hoje para a festa então eu vou passar lá mais cedo pra conhecer todo mundo. _Disse Rafael.

_Entendi, ela tem uma irmã só não é? _Perguntou Clarice.

_É, vão vir ela o marido e a irmã menor do Olivier. _Disse Rafael. _E a senhora que horas vai sair?

_Não tenho presa não, as festas da Lourdes nunca começam quando deveriam mesmo. _Disse Clarice. _Nem dá pra dar aquela elegante atrasada.

_Falou igual a Ana Maria ai agora. _Disse Rafael sorrindo.

_Ai filho nem me fala esse nome, ela me fez tanta raiva hoje. _Disse Clarice. _Tu acredita que ela veio aqui em casa hoje só pra falar que o Sérgio está namorando uma francesa lá em Paris?

_Nossa. Porque essa mulher insiste em ficar falando desse guri pra gente? _Disse Rafael. _E daí se ele tá namorando ou não? Eu caguei pra Sérgio.

_Ai contou que ele está muito bem, muito feliz, já está falando muito bem francês, está namorando, comprou um carro. _Disse Clarice.

_Até parece, meu pai pagou tudo pra ele mesmo, morar fora assim é fácil. _Disse Rafael. _Sou muito mais a minha vida agora. É verdade que meu pai me ajudou a montar a Arte & Arte, mas eu estou conseguindo ir pra gente sem a ajuda dele e quando puder posso até pagar ele tudo de volta se ele quiser, pra não falar que precisei dele pra subir de vida.

_Ele não vai falar isso e muito menos aceitar dinheiro seu. Ele é teu pai e só te ajudou, nada demais. _Disse Clarice.

_É eu sei como o velho é. _Disse Rafael. _Mas ai tu ficou calada, enquanto ela ficava falando isso tudo?

_Claro que não né? _Disse Clarice. _E é claro que ela veio comentando sobre a matéria na revista.

_Nossa que saco! _Disse Rafael virando o olho.

_É. Que saco! _Disse Clarice. _Imagina ela falando já né? Teu filho está namorando uma assassina, blá, blá blá blá, blá blá...

_Ai mãe nem liga pra essa mulher, não estou nem ai pro que os outros falam, pro que ela fala então ligo menos ainda. _Disse Rafael.

_Pois então, foi isso que eu disse pra ela. _Disse Clarice. _Mas a minha vontade era ir lá e socar aquela cara dela de metida, ô mulher insuportável viu. As vezes não sei se fico feliz ou triste por teu pai trocado ela por mim, porque das duas uma: Ou eu sou melhor que ela, ou eu sou igual. Entendeu o que eu quis dizer?

_Entendi mãe. _Disse Rafael. _Mas com certeza foi pela opção um. Porque tu não tem nada haver com aquela mulher lá, muito menos eu com aqueles dois chatos filhos dela.

_O Antônio nem se tem noticias não é? _Disse Clarice. _Saiu de férias no começo do mês e não voltou até agora, a Ana está doida atrás dele, quer porque quer que ele esteja aqui para o natal.

_Aqui? _Perguntou Rafael.

_É filho, aqui. _Disse Clarice. _Ou tu não sabia que teu pai resolveu fazer a reunião das duas famílias de novo, em pleno natal.

_Não acredito. _Disse Rafael revoltado.

_E vai ficar pior filho. _Disse Clarice. _O Sérgio vai vir de Paris pro Natal deve chegar amanhã com a namorada.

_Ninguém merece mãe, e o pai vai insistir que eu fique aqui não vai? _Disse Rafael resmungando.

_Tenha certeza disso. _Disse Clarice. _Eu sei que é horrível, mas pelo menos assim a gente faz um companhia pro outro.

_Não sei se vai dar pra eu ficar não, a Anne me chamou pra ceia na casa dela mãe. _Disse Rafael.

_Por mim tudo bem querido, e se pudesse até eu iria contigo, mas tu tem que falar com ele. _Disse Clarice.

_Que... _Começou Rafael.

_...Saco! _Completou Clarice. _É filho eu sei, que saco! Mas cuidado com essa boca eu meu filho.

_Ah mãe, para com isso! _Disse Rafael. _Vou tomar meu banho pra festa.

Rafael saiu da sala correndo direto pras escadas e subiu correndo até seu quarto.

_Cuidado Rafael, já avisei pra tu não correr nessa escada que um dia tu ainda vai cair guri. _Disse Clarice. _Esse menino só tem tamanho meu Deus.

Clarice sacudiu a cabeça e voltou a se concentrar na revista.

 

Louísa estava trancada em seu quarto, proibida de sair de lá até que a ordenassem. Ela não podia estar mais feliz, tudo que havia planejado estava dando certo até aquele momento. A foto na revista foi uma de suas melhores idéias e ela fazia questão de se lembrar disso cada vez que olhava pra revista posta em cima da cama com cuidado. Ela passava a maior parte do seu tempo ali, ouvindo música, escrevendo em seu diário e pensando no que fazer para se vingar dos seus ex-amigos. Vamos tentar entender Louísa agora: Será que existe tanta raiva assim por causa de um diário? Tudo bem que perder o vestido na frente da escola toda é bastante vergonhoso, mas guardar essa mágoa como ingrediente para suas vinganças é demais. Quero dizer, é bastante ridículo, engraçado, chega a dar pena, olhar para uma pessoa como ela, se dedicar por inteiro, entregar sua vida, deixar de ter planos para o futuro, só pra atormentar a vida dos outros? Deixar de ser amada por todos, pelos amigos e até mesmo pela própria família? Sabendo que ao invés de uma faculdade, ou um emprego ela iria provavelmente para uma clínica de reabilitação, ou às vezes pior? Existe tanta raiva assim, a esse ponto, sabendo das conseqüências de tais profanos atos? Eu respondo. Para Louísa existe. Porque ela não estava com raiva por causa do diário, nem por causa da vergonha que passou no baile, o problema todo, a história toda de vingança era porque Louísa não aceitava ser excluída, por ninguém. De certo ela sabia que merecia ser afastada, mas o que ela não entendia era porque eles ainda eram amigos. Supondo que eles já tiveram motivos muito mais graves para brigarem entre si. Pra ela o difícil era ver como eles eram felizes juntos, mesmo sem ela por perto, será que ela era tão insignificante assim que ninguém notou que ela não estava mais lá, perto deles, pra fazer piadas, pra rir com eles, pra ouvir os problemas de Piedra, pra brincar junto com o Rafael e João, pra sair com Patrícia? Ela só queria provar pra todos, que ela era alguém, que ela existia. Fazer maldades, se era assim que chamavam, era o jeito dela de dizer que estava ali, não mais como amiga, já que ninguém queria isso mais dela, a amizade, mas ela estava lá e não queria deixar que eles esquecessem disso. Sentia prazer ao ser notada, chamar a atenção, ser odiada era conseqüência. E ela não estava nem um pouco preocupada com isso, compreendida ou não ela continuaria com sua vingança. Posso dizer que, por exemplo, se Anne tinha uma doença chamada amor, Louísa tinha uma doença chamada ego.

 

_Louísa vai se aprontar para a festa. _Disse Theodor ao destrancar a porta por fora.

O pai de Louísa entrou pelo quarto e se aproximou da filha.

_O carrasco vai deixar a prisioneira ir à festa? Pensei que eu tivesse que fugir pela janela de novo. _Disse Louísa.

_Fica claro que tu só está indo porque tua mãe me convenceu a te levar. _Disse Theodor com o dedo apontado para Louísa.

_Tu é um idiota mesmo né? Tu acha que eu não iria? Tu deixando ou não, eu iria, não perderia essa festa por nada hoje. _Disse Louísa sorrindo. _Trancar a porta não adianta, eu saio pela janela.

_Eu mandei colocarem cadeado. _Disse Theodor. _Bicho tem que ficar é preso.

_Quando tu saísse eu quebrava o vidro e saia e ai? _Disse Louísa desafiando o pai como sempre.

_Que bom que tu me avisou amanhã mesmo mando colocarem grade na janela. _Disse Theodor.

_Eu posso te denunciar por cárcere privado heim. _Ameaçou Louísa.

_Eu não duvido disso filhinha. _Disse Theodor sarcástico. _Vai se arrumar de uma vez, antes que eu me arrependa e te deixe pra trás.

_Eu iria assim mesmo. _Disse Louísa.

_Eu te acorrento na cama. _Disse Theodor.

_Duvido. _Disse Louísa sorrindo.

_Aposta pra ver Louísa, pede pra ver. _Desafiou Theodor. _Por mais um pouco eu mesmo te mato. Prefiro te ver morta, tanto faz pra mim agora. Se bem que, há muito tempo eu já não te considero minha filha, acho que vou comprar um cachorrinho pra por no teu lugar.

_Ai que maldade papai. _Disse Louísa debochando. _Todo fresquinho do jeito que tu é. Cachorro late sabia?

_Tanto faz, eu tenho que te ouvir latir o dia inteiro e ainda fico limpando as cagadas que tu faz por ai. _Disse Theodor. _Prefiro um cachorrinho do que a ti.

_Já ouvi pai _Disse Louísa.

_Que bom, então se comporta totó se não vai dormir do lado de fora entendeu? _Disse Theodor. _E se arruma pra festa logo, quero chegar lá cedo. Não vamos demorar, vou ficar de olho em ti o tempo todo, antes que tu apronte mais uma loucura e se fizer juro que te deixo lá e não entra em casa hoje ouviu? Amigo tu não tem mesmo, vai ter que dormir na rua.

_TÁ! Só vou colocar um vestido e já estou pronta. _Disse Louísa aborrecida.

_Coloca qualquer coisa ai. _Disse Theodor pouco antes de sair do quarto e trancar a porta novamente. _Nada vai esconder essa tua cara feia mesmo.

Louísa ficou vermelha de raiva literalmente, mas parou, respirou fundo, se acalmou quando pensou que a noite seria boa demais e que qualquer aborrecimento seria compensado por tamanha alegria que estava por vir.

 

Olivier andava de um lado pro outro inquieto, Anne se arrumava no quarto e mesmo sem ver sabia que seu sobrinho perfurava o chão da sala de tanta ansiedade.

_Oli vai se arrumar de uma vez daqui a pouco ele chega, só relaxa. _Gritou Anne do quarto. _Se você ficar contando os segundos pra ele chegar é ai que ele vai demorar mesmo.

_Eu já tentei sentar, trocar de roupa, mas não consegui fazer nada, só tomei um banho. _Disse Olivier enquanto caminhava em círculos perto da porta. _Eu fico com medo de ele não encontrar nossa casa.

_Ele vai encontrar sim, fica calmo! _Tornou a gritar Anne. _Você já avisou na portaria?

_Já avisei na portaria, tá tudo certo. _Disse Olivier.

_Ele gosta mesmo heim, mal chegou e já vai vir pra cá direto. _Disse Anne.

_Ele chegou ontem. _Disse Olivier olhando pela janela.

_Isso você não me falou. _Disse Anne ao sair do quarto.

_Porque você não perguntou. _Disse Olivier.

_Mas tu deu o endereço direitinho, que horas ele falou que ia chegar? _Perguntou Anne.

_Há 10 minutos atrás. _Disse Olivier aflito.

_Mentira! _Afirmou Anne.

Olivier riu:

_Eu sei que é mentira, ele ainda não está atrasado. _Disse Olivier.

_Sabia. _Disse Anne com um sorriso. Ao passar por ele. _Ele sabe onde vai ser a festa, o horário e tudo mais?

_Sabe né, eu falei pra ele antes. _Disse Olivier.

_Então talvez ele vá direto pra festa. _Disse Anne.

_Não, não. Ele falou que ia passar aqui antes, pra ver onde eu morava, pra te ver. _Disse Olivier.

_E eu tô assim toda desarrumada meu Deus! _Disse Anne olhando para suas roupas.

Um short Jeans surrado de cintura alta e um moletom de bolas coloridas caindo do ombro.

_Que desarrumada tia. _Disse Olivier encarando a tia. _Pra festa sim, mas tu tá normal pra ficar em casa.

_Ai nem me fale em festa, que eu já fico pensando no que eu vou vestir pra festa hoje, e nem tenho roupa. _Se lamentou Anne.

_Se você já sabe que vai atrasar porque não vai se arrumar de uma vez? _Perguntou Olivier. _Depois o pobre do Rafael tem que ficar te esperando.

_Ele nunca reclamou. _Disse Anne.

_Com você né tia. _Disse Olivier.

_Ele falou alguma coisa pra você? _perguntou Anne.

_Não. _Disse Olivier. _Vocês são tão perfeitos que esquecem até dos pequenos problemas. Ele não reclama do seu atraso e provavelmente tu não iria reclamar quando ele deixasse a tampa do vaso aberta. Vocês são tipo, de outro mundo.

_Somos perfeitos, viu invejoso. _Disse Anne correndo pro quarto.

_Eu não tenho inveja não, quem disse isso? _Disse Olivier sorrindo.

_Quem tá atrasado não é o Rafael nem sou eu. _Brincou Anne antes de fechar a porta.

_Ele não está atrasado, ouviu. _Disse Olivier da janela. _Nem tá na hora dele chegar ainda.

Olivier ficou ali por um tempo esperando, esperando e nada do Juca aparecer. Enquanto isso Anne saia de dois em dois minutos para fora do seu quarto e cada vez com uma roupa diferente esperando a opinião de Olivier, que por mais que dissesse todas as vezes que estava ótimo ela ia lá e trocava novamente. Quando já era noite, Anne saiu da porta de seu quarto decidida: Era aquela roupa que ela iria usar! Um vestido azul marinho moldava o corpo de Anne até os pés, uma seda fina brilhava quando a luz batia, abaixo do busto um laço negro segurava a fita que rodeava um corpo ainda de menina e na frente às duas pontas seguiam compridas. Nos pés delicados uma alta sandália deixava os pés de Anne ainda mais brancos como a neve e me desculpem o trocadilho, mas pra ser a perfeita princesa só lhe faltavam os anões. O penteado nada muito organizado, o coque mal feito preso no alto da cabeça parecia mais um nó capilar, alguns fios para o alto, despenteados davam um tom anos 80, quando as mulheres usavam os cabelos cheios ao invés dos comportados penteados à lá chapinha dos dias atuais.

_Oli eu sei que é chique chegar atrasado, mas se tu não for se arrumar agora a gente vai chegar na hora que a festa acabar. _Disse Anne saindo do quarto devagar, quase que de propósito, meio em câmera lenta como nos filmes americanos, só para ficar ainda mais bonita, completando o físico com elegância, charme e leveza.

Olivier perdeu a atenção para o lado de fora e encarou a tia sem conseguir piscar.

_Anne Marrie você está linda! _Disse Olivier de boca aberta.

_Obrigada. _Riu Anne.

_As vezes eu me pergunto se é possível você ficar mais bonita tia, e você sempre vem com a resposta: SIM. _Disse Olivier indo de encontro com a tia até a porta de seu quarto. _Meu Deus! Você está maravilhosa, espetacular, fantástica. Tipo, tapete vermelho em noite de Oscar sabe?

_Pára. _Disse Anne envergonhada. _Mas você acha que o Rafael vai gostar.

_Claro né tia. _Riu Olivier passando o olho na roupa da tia. _Olha como você tá! Linda.

_Não acha que eu exagerei não? _perguntou Anne.

_Acho que não, você é Anne Marrie tem que ser exagerada, diferente, sempre causar polêmica. _Riu Olivier rodopiando a tia.

_É, mas dessa vez não quero nada de polêmica, quero ir lá curtir a festa, meu namorado, meus amigos e comemorar. _Disse Anne sorrindo.

_Comemorar o quê? _Perguntou Olivier.

_O prêmio de melhor decoração desse ano, que a gente vai ganhar. A gente não né, você. _Disse Anne.

_Até parece, do jeito que esse condomínio é conservador, a da Piedra vai ganhar. Sempre o tradicional vence. _Disse Olivier.

_Esse ano não. _Riu Anne. _Agora vai se trocar, que você não pode subir lá em cima desse jeito.

_Eu não vou subir lá em cima. _Disse Olivier.

_Se você ganhar vai sim. _Disse Anne.

_Eu não, morro de vergonha tia. Tá doida? _Disse Olivier. _E outra, a dona da casa é você, seu nome que eles vão falar lá em cima.

_Eu posso até subir com você, mas o discurso é por sua conta, tu que fez todo o trabalho eu não fiz nada. _Disse Anne.

_Eu fiz o trabalho duro e agora você que é a estrela sobe lá e fala. _Disse Olivier rindo.

_Eu não sou estrela. _Disse Anne.

_Mas é a garota problema da vez e tem mais, a patricinha agora está de namorado novo. _Disse Olivier.

_O Rafael não vai gostar dessa exposição toda. _Disse Anne.

_Vai ser bom pros negócios ele e do João. _Disse Olivier. _Já estou até vendo o perfil deles naqueles revistas teens.

_Que saco! _Disse Anne desanimada.

A campainha tocou.

Olivier arregalou os olhos e correu pra porta.

_Finalmente vou conhecer o Juca. _Disse Anne enquanto Olivier correu em disparado até a porta.

Quando Oliver abriu a porta sorrindo, viu Piedra sorrindo de volta.

_Feliz por me ver Oli? Eu também. Cadê sua tia? Tô entrando. _Disse Piedra antes de empurrar Olivier e entrar pela sala.

Piedra usava um vestido cinza rodado e armado e por cima do tomara que caia ela usava um bolero amarelo de couro até os cotovelos, os cabelos estavam soltos e lisos como de costume, a diferença no penteado da garota era uma fita amarela que ela usava para combinar com seu modelo.

Olivier ficou decepcionado e fechou a porta depois de olhar atentamente e não ver sinal de Juca se aproximando.

Piedra correu os olhos pelo lugar:

_Cadê a Anne? _Perguntou Piedra enquanto procurava a amiga.

_Tá vindo ai. _Disse Olivier triste apontando Anne que vinha caminhando em câmera lenta pelo corredor.

_Ow meu Deus! _Se chocou Piedra com o modelito de Anne.

A garota ficou de boca aberta enquanto Anne se aproximava flutuando com seu vestido ao vento.

_Piedra, você está linda. _Disse Anne.

_Eu só vim pra te ver, não agüentava mais de curiosidade pra vê teu vestido, então deixei o João pra lá  e vim te ver. _Disse Piedra. _Agora que eu já vi, já tenho motivo o bastante pra me jogar da ponte.

Olivier e Anne sorrirão.

_Sério. Porque só se matando pra parar de doer assim. _Disse Piedra sorrindo também. _Sério mesmo, machuca. O que foram horas no salão, fazendo unha, pele, cabelo, meses experimentando vestido, tira aqui, corta aqui, sobe ali, pra chegar aqui e ver que tu está mais bonita. Isso me dá um ódio.

Anne e Olivier sorriram.

_Ô Louísa, amarra a inveja ai tá que pode ficar perigoso. _Riu Olivier.

_Que Louísa guri, nem fala um negócio desses. _Disse Piedra. _E por falar nisso, ela vai estar lá hoje, tão sabendo né?

_Até agora não. _Disse Anne.

_Minha mãe que me contou, o pai dela ia mandar ela pro rio de vez, mas decidiu dar uma segunda chance pra ela. Pior pra gente né? Porque tenho certeza que ela vai aprontar hoje ainda. Tomem muito cuidado! _Disse Piedra. _É a despedida dela hoje, então se preparem que vem chumbo por ai.

_Por mim. _Disse Olivier desanimado. _Nem sei se vou mais a essa festa.

_Porque, o que tu tem guri? Tava tão animado com o concurso. Vai desistir assim fácil? _Disse Piedra sentando no sofá.

_Oli, calma! Ele vai chegar daqui a pouco, espera e outra eu já te disse ele pode querer ir direto pra festa. _Disse Anne.

_Quem vai chegar? _Perguntou Piedra.

_É o nam... _Começou Anne.

_PRIMO! _Interrompeu Olivier. _Um primo nosso de São Paulo.

_Tá, não precisa gritar. _Disse Piedra. _Doido.

_Oli, você tem que se arrumar agora. _Disse Anne. _Não vou falar de novo mocinho, eu sou a tia aqui. E eu disse que você vai, com ou sem ele.

Oli olhou Piedra e os dois riram.

_Não Anne, isso não vai funcionar. _Disse Piedra rindo.

_Eu tentei ser tia, você viu. _Disse Anne.

_Vi. _Disse Piedra sorrindo.

Olivier também sorriu.

_Não precisa fingir tia, eu vou me trocar. _Disse Olivier.

_Anda rápido senão a gente vai se atrasar. _Disse Anne.

_Pode deixar Anne, eu vou ligar pra todo mundo vir pra cá pra gente sair junto daqui. _Disse Piedra pegando o celular.

_Tia vem aqui rapidinho. _Chamou Olivier.

Piedra se levantou se distanciou deles enquanto Olivier e Anne se aproximaram dos quartos.

_Desculpa Oli, mas eu pensei que tu fosse contar pra eles hoje de uma vez. _Disse Anne.

_Sabe o que é tia, é que o Juca falou pra eu não falar pra ninguém que a gente é namorado. É a velha história dos gays, o grande problema que a gente enfrenta, se revelar para os pais, e ele ainda não fez isso. Eu já, mas ele não, e ele acha que se muita gente ficar sabendo um dia pode chegar ao ouvido dos pais dele sabe? Eu acho que ele devia contar de uma vez, mas isso não tem nada haver comigo isso é um problema dele, ele sabe o que está fazendo. _Disse Olivier. _Não acho legal contar pra ninguém agora.

_Eu entendi Oli, mas não seria melhor você falar pra eles de uma vez? _Perguntou Anne. _Eles são seus amigos, um dia eles vão acabar descobrindo.

_É, mas eu prefiro e ele também vai ser melhor pra nós. _Disse Olivier. _E tem a história da Patrícia também, ela disse que não sou eu, mas eu sei que ela me ver como um homem, ela me admira, não queria decepcionar ninguém.

_Até agora eu não ouvi o que você quer, só ouvi o que Juca acha, o que a Patrícia vai pensar, mas nada de o que o Olivier quer. _Disse Anne.

_Eu? Eu queria gritar pro mundo né. Mas não sou tão egoísta assim. _Disse Olivier.

_Isso não é egoísmo Oli, Você tem que ver o que é bom pra você. _Disse Anne.

_Eu sei o que é bom pra mim tia, e agora é ficar bem com o Juca, só isso. E não é um grande sacrifício também, eu já me escondi por tanto tempo, isso agora vai ser fichinha. _Disse Olivier.

_Então tá, você que sabe. Agora vai se trocar, corre! Daqui a pouco tá todo mundo ai e o Juca também. _Disse Anne.

_Tô indo, tô indo. _Disse Olivier correndo para o quarto.

Anne sorriu e voltou pro sofá conversar com Piedra que ainda estava no telefone.

 

Passadas exatas duas horas todos estavam na sala conversando, rindo, e especulando sobre a festa que já havia começado na praça do centro do Moinho na casa de festas do condomínio, um salão enorme e luxuoso como um salão real que era frequentemente usado para grandes festas, eventos e reuniões da alta sociedade do Rio Grande do Sul. Olivier não agüentava mais esperar e Anne percebia a aflição do garoto.

_E ai gente, esse primo vai chegar ou não vai? Nós já estamos atrasados. _Disse Piedra impaciente.

_A gente já tinha que ter ido Oli, o nosso primo já deve estar lá. _Disse Anne.

_Vamos esperar o guri galera, essa festa só vai começar mesmo quando a gente chegar. _Disse Rafael.

_Não Rafa, tudo bem, a gente pode ir, ele já deve estar lá mesmo. _Disse Olivier. _Mas valeu pela força.

_Nossa, mas que primo é esse heim? Tu gosta dele né Oli? _Disse Piedra.

_Piedra, deixa de ser chata guria. _Disse João. _Não torra o Oli.

_Não me chama de guria João! _Disse Piedra.

_Vamos parar de brigar, nem comecem vocês dois, hoje é dia de festa. _Disse Rafael antes de beijar Anne.

_Então vamos! _Disse Olivier ao se levantar do sofá num pulo.

Por mais que Olivier se sentisse decepcionado por Juca não ter aparecido, não ficaria legal ele faltar a festa por causa de um suposto primo, seria muito suspeito, e ele queria evitar chamar a atenção agora.

 

Calma Oli! Não dizem que a esperança é a última que morre? Então, dá uma olhadinha pela janela, quem sabe a esperança apareceu para dar um oi.

 

Olivier ouviu alguns passos do lado de fora e sem pensar correu até a porta esperando ver Juca subir as escadas até a porta. A porta se abriu.

 

Podem sair do luto, ninguém morreu muito menos a esperança.

 

Juca estava dando meia volta quando Olivier o viu voltar e correu até ele para lhe dar um abraço. Juca se virou a tempo de retribuir o carinho, Anne, Rafael, João, Piedra e Patrícia correram até a porta para ver a cena. Todos estranharam tanto carinho de um homem para o outro. Olivier demorou no abraço e já ia dar em Juca um beijo de boas vindas quando Juca reparou que estavam todos olhando para a cena de amor dos dois ali no jardim ao lado das renas artificiais. Juca poderia ter disfarçado melhor, ter sido mais gentil, mas ao invés disso ele empurrou com força o garoto para longe, e Olivier chegou a escorregar no chão molhado da calçada. Todos pularam assustados para frente, por instinto, tentando segurar Olivier.

_Oli você tá bem? _Perguntou Anne descendo as escadas correndo para ajudar Olivier.

_Eu to bem tia, pode deixar. _Disse Olivier.

_Qual é a tua guri? Porque tu empurrou o Olivier desse jeito? É teu primo. _Disse Rafael.

_Meu primo? É meu primo. _Disse Juca. _Eu sei, a gente é assim mesmo, brincadeira de primo.

Todos ficaram encarando Juca com um olhar suspeito, mas Olivier deu um jeito de livrar a cara do namorado.

_É. Desde pequeno esse é o nosso toque, não é primo? _Disse Olivier sorrindo disfarçadamente.

_É. _Disse Juca sorrindo de volta.

_Galera, esse é o meu primo e o da Anne, o Juca. _Disse Olivier. _Juca, esses são os nossos vizinhos e amigos Piedra, João, Patrícia e esse é o Rafael o namorado da Anne.

_Oi. _Disse Juca sem graça sorrindo forçadamente.

_Oi. _Disseram todos de cada vez.

_Vamos pra festa agora? _Disse Olivier.

 

Claro Oli, vamos pra festa!

E tenha esperança Anne Marrie, Olivier e Juca podem ser felizes algum dia. E a felicidade está longe de ser encontrada nessa festa. Mas repito, a esperança é a última que morre. 

sábado, 1 de novembro de 2008

Capítulo 27: Sorria Anne Marrie

Na verdade Anne não estava ligando muito pro concurso de decoração natalina, quem estava cuidando da ornamentação do jardim era Olivier, havia comprado pinheiros naturais, renas artificiais que se mexiam mais pareciam de verdade, nada de luzinhas piscando, nada de bolas coloridas. A idéia para decoração de Olivier era bem diferente das outras da rua e arrisco a dizer que duvido que alguém tenha tido idéia tão brilhante em todo o condomínio. Todos meio que por instinto iriam procurar por fazer uma decoração mais tradicional, mais comum, e por mais que algumas se destacassem pela grandeza e magnitude, todas tinham o mesmo padrão, variando apenas por três estilos: Religioso; com presépios dos mais variados tamanhos, cor, estilos, com movimentos, de palha, tinha um na rua de baixo à da de Anne Marrie que era de vidro, tudo bem que na placa dizia que era de cristal, mas duvido muito que era mesmo verdade. Tradicional; Pinheiro gigante, pinheiro médio, pinheiro pequeno, não interessava o tamanho, todos eram repletos de luzes e bolas de natal de todas as cores, presentinhos, maçãs, anjinhos, estrelinhas enfim, tudo bem alegre. Tinha também Papai Noel subindo o telhado, renas paradas no jardim, todas as janelas e portas adornadas de enfeites, a guirlanda pendurada, e é claro que não poderia faltar o falso boneco de neve, parado sorridente ao lado da caixa de correio. E por fim o estilo mais usado pela maioria dos moradores o estilo Glamour; Tudo era bem parecido com o estilo tradicional exceto pela escolha das cores, era bem charmoso, nada de muitas cores, somente um variação entre o prata o branco e o dourado. Algumas peças imitavam esculturas de gelo, o branco da neve artificial que saia da máquina, até a roupa do bom velhinho ganhava um charme quando era toda dourada com branco, as luzes claras rodeavam toda porta, toda janela, canteiro, telhado, sacada. Uma das casas até se atreveu a construir uma cascata de luzes, dessas que a gente vê somente em shopping centers, um luxo pra poucos. Por mais que todos seguissem esses padrões e mesmo assim conseguissem variar na criatividade na hora de decorar as casas para o concurso de natal, ninguém chegou perto do que Olivier tinha feito pro jardim da casa mais popular do condomínio. Como já disse, não tinha luz, muitas cores, na verdade tudo era meio triste e frio. Num surto de imaginação Olivier fez da sua decoração quase que um quadro, e quem passava por ali, ficava sem entender direito, mas era só prestar atenção nos detalhes e você perceberia que ele havia feito da forma mais real possível a casa do Papai Noel. As renas não estavam enfileiradas, bonitas, limpinhas e nenhum nariz piscava, elas eram bem reais, bichos de verdades, postas dentro de um cercado, como provavelmente Olivier imaginou que papai Noel as deixava enquanto não chegava o natal. Ao lado do cercadinho das renas uma grande gaiola prendia dois Perus, esses de verdade, que faziam barulho o dia inteiro, de onde Olivier imaginou surgir a tradição de se comer Peru no natal. A caixa de correio dizia “FAMÍLIA NOEL”, vários pinheiros de variados tamanhos enchiam um dos cantos do jardim e a frente deles vários pedaços de madeira, que era de onde provavelmente Papai Noel alimentava sua lareira, na garagem com o portão aberto, nenhum carro, somente uma velha carroça suja e mal tratada, que provavelmente seria o trenó do velho. Olivier usou neve também para decorar o jardim. Na porta em vez da guirlanda, havia um contador de quantos dias faltavam para o natal. A aparência da casa mudou também, Olivier mandou colocar vários pedaços de madeira velha, imitando o que seria um casebre, uma velha moradia de um velho triste e infeliz. Na lateral da casa havia duas lápides com os dizeres “MAMÃE NOEL” e na outra “FILHINHO NOEL”, o que provavelmente dava o toque triste, frio e sombrio a decoração. Em outro canto muitos entulhos de brinquedos de madeira, jogados fora, inclusive um berço, bem perto da montanha de entulhos uma placa “CARPINTEIRO”, provando assim a origem de tantos brinquedos. Espalhados por toda parte, em meio aos pinheiros, as árvores e no telhado, muitos anões, que seriam os duendes ajudantes do Papai Noel, mas eles não eram fofinhos, não estavam vestidos com as mais engomadas roupinhas verdes não. Eles eram feios, orelhudos, narigudos, deformados, e vestiam vestis sujas e batidas. Para dar o toque final, Olivier posicionou na janela ao lado da porta um boneco quase que real de um velho, vestido com roupão vermelho. Ele também era bem diferente de tudo que se ouvira falar de um Papai Noel, ele não tinha a barba grande, e nem ria feito bobo, ele tinha a barba rala e grisalha, grandes olheiras, olho amarelado, cabelos sujos e bagunçados e uma barriga digamos que menor do que a do tradicional Noel. Ele segurava a cortina deixando apenas parte de seu rosto e corpo a mostra, encarando as renas pastando no canteiro. Era mesmo pra chamar a atenção de quem passasse, todos ficavam espantados com tamanha riqueza nos detalhes e impressionados com tão horrenda decoração. Pra alguns estava horrível, não tinha muito haver com a idéia de decoração natalina, já que parecia mais uma decoração de halloween. Pra outros que realmente entendiam o recado, estava perfeito, diferente, criativo, original, a casa de Anne e de Olivier representava o que talvez seria o verdadeiro papai Noel, o lugar real onde ele vive, talvez seja por isso que ele presenteia a todos no natal, talvez essa seja sua motivação, levar alegria pra alguém que esteja triste como ele. Gesto nobre do velho, não?

Os garotos e as garotas ficaram chocados com a imaginação de Olivier quando viram o resultado final.

_Eu pensei que ainda não tava pronto. _Disse Piedra. _Mas tu já acabou mesmo? Não vai ter nem uma luzinha se quer?

_Claro que vai. _Afirmou Olivier sorridente. _A noite os anões vão acender uma fogueira aqui, perto dos pinheiros.

_Ai credo, Oli. _Disse Piedra. _Tá muito estranha sua casa agora, a Anne gostou disso?

_Ela nem liga. _Disse Olivier. _Me deu carta branca pra decorar.

_Ela tá lá dentro Oli? _Perguntou Rafael apaixonado.

_Tá sim titio. _Disse Olivier rindo.

Todos caíram na gargalhada.

_Muito engraçado viu. _Disse Rafael correndo pra ver sua namorada.

_Não demora lá não Rafa, a gente tem que entregar o folder pra Juliana hoje ainda. _Disse João.

_Pode deixar, só vou ver como ela tá e já saio. _Disse Rafael antes de entrar na casa da sua amada.

_Quase que tu não termina a tempo né Oli? _Disse Patrícia. _A festa de entrega pro prêmio é daqui a seis dias.

_Quase mesmo. _Disse Olivier. _Porque a avaliação dos jurados é sábado agora. Fiz tudo correndo.

_Por isso que ficou feio assim. _Disse Piedra.

_Piedra! _Disse João com cara feia.

Olivier riu:

_Não tem problema não João, contanto que os jurados não pensem assim também.

_Desculpa Oli, mas é que cá pra nós, bonito não está. _Disse Piedra.

_Piedra pára com isso. _Disse João.

_E João me deixa. _Disse Piedra. _Ele sabe que não está bonito, não tem uma corzinha, um brilho, nada de natal, nem o Rudolph dele tem o narizinho vermelho. Isso não é natal.

_Mas ficou legal de todo jeito. _Disse João. _Olha pra tudo isso, quem pensou que o Papai Noel vivesse assim? Ninguém.

_Eu sei gente que é diferente. _Disse Olivier. _Mas eu quis fazer algo assim, porque sempre fiquei pensando nisso sabe, como que era a casa do Papai Noel? E é assim que eu imagino sabe, bem real. Que ele seria humano como todo mundo, com problemas, sem dinheiro, humilde.

_Se ele é tão pobre? Como ele daria presentes pra todas as crianças, todo ano? _Disse Piedra.

_É só lê a placa Piedra. _Disse João apontando pra placa de “CARPINTEIRO”.

_Ah, agora eu entendi. _Disse Piedra. _Ele faz todos os brinquedos de madeira, tipo, ele não compra? Ele mesmo faz.

_Ele e os duendes, que ajudam ele. _Disse Patrícia.

_Com a madeira dos pinheiros que ele mesmo planta. _Disse Olivier apontando pros pinheiros.

_Ah entendi. _Disse Piedra. _Mas porque ele faz isso?

_Por causa do espírito natalino. _Disse Olivier. _Eu coloquei aqui, que ele não tem família, não tem mulher e nem filhos, todos morreram. Então quando você vê tudo isso, e as lápides ali do lado, você já imagina que ele fazia os mesmos brinquedos pro filho dele, mas como ela já morreu ele faz a mesma coisa para todas as crianças do mundo, que lê meio que adotou como suas. Por isso que ele chama Papai Noel.

_Nossa, que viagem. _Disse Piedra. _Vocês artistas tem cada idéia. Qual o problema com as luzinhas, o roupa vermelhinha, o nariz do veado que pisca? Qual o problema?

_Nenhum meu Deus! _Disse Olivier.

_É Piedra relaxa. _Disse Patrícia. _Tu que é burra e não entende a arte.

_Burra é tu Pati. _Disse Piedra.

_Pára as duas. _Pediu João.

_Não é essa questão, entender, não tem nenhum enigma, é só a casa do Papai Noel. _Disse Olivier. _É diferente claro, diferente de tudo que eu já vi de casas de Papais Noeis, mas essa é a casa que eu imagino que ele viva, só isso.

_Sou mais a minha. _Disse Piedra olhando pra casa dela que mais parecia um circo de tão colorida.

_Queria fugir do tradicional. _Disse Olivier. _Lá em São Paulo tinha que ser sempre assim por causa da minha irmãzinha pequena sabe? Tudo era bem vermelho e verde, enjoei.

_Artista é foda! _Disse Piedra balançando a cabeça.

Rafael saiu com Anne de mãos dadas.

_Lá vem os dois. _Disse Patrícia.

_Isso, ainda bem que não demoraram. _Disse João.

Rafael e Anne se aproximaram sorrindo.

_Ele me seqüestrou praticamente. _Disse Anne rindo.

_Anne, o que tu achou da decoração da sua casa? _Perguntou Piedra.

_Ah ficou legal, é a casa do Papai Noel não é? _Perguntou Anne.

Olivier confirmou com a cabeça.

_Ficou diferente, mas faz sentido. _Disse Anne. _Adorei os Perus, deu um toque de realidade até pra ceia. Adorei.

_Credo, tu não tem dó do pobre do bichinho não? _Perguntou Piedra.

_Até parece que o Peru que você come no natal é artificial né Piedra. _Disse Olivier.

_Eu não como carne meu amor. _Disse Piedra orgulhosa de si mesma. _Eu sou uma modelo. Modelo que come carne não é top. E eu sou.

_Liga não gente. _Disse João.

_Então o que a gente vai fazer hoje? _Perguntou Anne.

_A gente vai trabalhar. _Disse João, puxando a mão de Rafael.

Rafael foi arrastado até o carro.

_Tchau amor. _Disse Rafael antes de entrar no carro praticamente obrigado.

_Anda Rafa, a Juliana já deve estar esperando a gente. _Disse João. _Tchau Pi, tchau Pati, Tchau Oli, tchau Anne.

_Tchau. _Todos disseram juntos.

_Bom trabalho pra vocês. _Disse Anne.

João deixou Rafael no carro e deu a volta para entrar no carro, quando ele entrou, Rafael abriu a porta, saiu correndo em direção a Anne e a beijou com força.

Todos viraram os rostos envergonhados, menos Piedra.

_Que chatura vocês dois, não se desgrudam um minuto, credo. _Disse Piedra.

Todos riram, inclusive Anne e Rafael, que já estava correndo de volta pro carro.

_Tchau gente. _Se despediu Rafael sorridente ao entrar no carro de novo.

_Tchau. _Disseram todos juntos novamente.

O carro saiu ligeiro, enquanto os quatro continuavam no meio do jardim do Papai Noel.

E vocês o que vão fazer hoje? _Perguntou Anne.

_Eu e o Olivier vamos trabalhar juntos hoje. _Disse Patrícia toda alegre. _Ele vai me pintar hoje.

_É. Eu prometi que ia pintar um quadro dela pra ela hoje. _Disse Olivier não muito animado. _Eu só estava terminando o desenho pro Rafa e pro João, da campanha pra Juliana.

_Ah tá. _Disse Anne. _E você Piedra?

_Eu não vou fazer nada, e tu? _Perguntou Piedra.

_Nada também. _Disse Anne.

_Então vamos no shopping comigo. _Pediu Piedra. _Tenho que comprar os presentes de natal pra todo mundo.

_Ótimo, eu aproveito e compro os meus. _Disse Anne. _Deixa eu só ir lá dentro e pegar minha bolsa.

_Tá, eu vou lá então pegar a minha. _Disse Piedra. _Vou pegar a chave do carro com minha mãe também. Já volto.

_Eu também não demoro. _Disse Anne.

 

Olivier levou Patrícia até seu ateliê em um dos quartos da casa. Lá era bem organizado na medida do possível, várias prateleiras, gavetas, armários, mesas, serviam de abrigo pras tintas, pinceis, moldes, papeis, telas, lápis, cavaletes, e muitos, muitos livros de artes. O que mais chamava a atenção no ateliê era o quadro de uma bela garota, doce, sensual, com o olhar penetrante, que hipnotizava qualquer um que entrasse na sala.

_Nossa, que quadro lindo esse da Anne. _Disse Patrícia encantada com a obra.

_É, também acho. _Disse Olivier que não era modesto ao descrever aquela peça. _Tem um tempo já que eu fiz, mas estou dando umas mudadas, uns retoques de luz e textura pro meu teste na escola de artes. Vou apresentar ele.

_Já entrou com certeza. _Disse Patrícia abobada diante do quadro. _Nossa, mas é muito bonito mesmo. Parece que tem vida.

_É por causa do olho, o olho tem um brilho não é? É forte o olhar dela nesse quadro. _Disse Olivier. _E o que eu mais gosto é que quando você olha tu só consegue ver o olhar, você não consegue tirar os olhos dele, o olhar sensual, cativante, penetrante. Mas ai quando tu vai se acostumando com ele você vai percebendo o que tem em volta dele, um rosto de anjo. Que é tão doce, tão delicado que combinado com o olhar forte, fica simplesmente a coisa mais bonita de se ver.

Patrícia estava sem palavras diante da peça, acabava de perceber exatamente o que Olivier havia falado, ela estava hipnotizada.

_Lindo. _Foi a única coisa que conseguiu sair da boca dela.

_Eu digo que qualquer pessoa que tentar entrar aqui dentro e ver esse quadro vai ficar parada, presa no olhar da minha tia. Assim como você está agora. _Riu Olivier.

Patrícia fechou o olho, mexeu a cabeça pra outro lugar e levantou as pálpebras lentamente, e mesmo que agora ela olhasse para um monte de tinta e livros ela ainda via a imagem de Anne gravada na sua retina.

_Nossa, é muito... muito... _Tentava dizer Patrícia.

_Perfeito. _Disse Olivier rindo.

_É. _Concordou Patrícia. _Muito perfeito seu quadro. Nossa, estou mexida até agora, parece que ela estava olhando pra mim agora.

Olivier puxou um lençol de uma das mesas e jogou sobre o quadro.

_Aham, eu também já senti isso, teve um dia que eu fiquei horas aqui, olhando pra ele e não conseguia sair, quando sai, queria voltar e continuar olhando. _Disse Olivier.

_Nossa, sensação maravilhosa, estranha. Muito estranha. _Disse Patrícia.

_Aham. _Disse Olivier. _É porque o quadro é tão bonito, ela está tão bonita que parece que te prende ali, mas ao mesmo tempo em que você venera a beleza dela, vai te dando uma coisa ruim, uma sensação estranha. Parece que você é feio, sujo, né?

_Exatamente isso. _Disse Patrícia. _Mas parece que mesmo assim tu quer continuar olhando.

_Eu sei. _Disse Olivier. _Nem eu acredito que foi eu mesmo que pintei isso às vezes? Não me lembro de ter pintado sabe? Parece que eu entrei em transe e quando acordei já estava assim, pronto. Perfeito desse jeito.

_E tu ainda quer melhorar mais? _Disse Patrícia. _Já tá perfeito.

_Também acho, mas tem que estar mais do que perfeito pro dia do meu teste, dependo disso. _Disse Olivier.

_Pra que dia é a prova? _Perguntou Patrícia olhando pra todos os lados admirada com o espaço que Olivier tinha pra pintar.

_É no começo do ano que vem. _Disse Olivier. _Tô estudando muito e preparando o quadro também pra hora do teste.

Patrícia prestava atenção em cada detalhe, cada tinta, cada borrão na parede. Queria decorar tudo. Afinal quantas vezes ela imaginou estar ali, no recanto do seu amor. Do seu amado Olivier, quantas vezes ela queria estar ali, sozinha com ele, e o melhor: Pintando um quadro dela. Ai ela temeu, será que ao pintá-la Olivier descobriria que ela gostava dele, que ele o amava, talvez ele mergulhasse tão fundo em seus olhos como fez com o quadro de Anne Marrie que assim seria notável sua paixão por ele. Patrícia tinha certeza do amor de Olivier por ela, tantas cartas, flores, bombons só vinham a aumentar o amor de Patrícia por ele. Mas como ela presumia, ele era envergonhado demais para se declarar, para dizer na frente dela que a amava, para assumir para todo mundo o amor dos dois. No final de cada carta, bilhete, recado, Olivier sempre deixava bem claro para Patrícia, que jamais revelasse a ninguém o amor dos dois, segundo as cartas, ele ainda não estava preparado para isso. Mas quando Olivier ofereceu a Patrícia um quadro, ela se encheu de esperanças.

 

Marque a afirmativa correta:

(  ) a - Essa era a oportunidade perfeita pra Olivier finalmente se declarar para Patrícia.

(  ) b - O quadro era mais uma prova de amor.

(  ) c - Ele iria assumir o relacionamento com ela para todos, através do quadro.

(  ) d - Nenhuma das alternativas anteriores.

 

Essa eu respondo. Letra d - Nenhuma das alternativas anteriores.

_Pode sentar Pati, onde você prefere sentar? _Perguntou Olivier oferecendo a moça, um banco, uma cadeira e uma poltrona.

_Na cadeira mesmo tá bom. _Sorriu Patrícia.

_Está bem, então vamos começar. _Disse Olivier.

 

No shopping Anne e Piedra andavam pelas lojas procurando presentes para a família e para os amigos. As duas se separaram pra comrpar os presentes assim no dia do natal seria surpres o que cada uma ia dar para outra. Piedra era pratica tentava dar algo pratico,  criativo, interessante, engraçado e procurando sempre o melhor preço. Já Anne estudava muito o que dar e não tinha muitas idéias diferentes: pra Olivier ela comprou um livro de artes, que provavelmente ele já tinha mas ela não sabia disso. Para Alice ela comprou um jogo de porcelanas francesas de chá. Para o cunhado Luis, ela comprou um kit de acampamento de luxo, com barraca, vara de pesca, lanterna, um mini fogão a gás, uma lanterna e um mata mosquito que funcionava a pilha. Para a sobrinha Marceline ela comprou um celular ultra moderno, com Mp3, internet, máquina fotográfica, filmadora, gravador de voz, recebedor de e-mail, pen-drive, enfim o celular mais moderno da marca mais famosa e com o preço mais caro, o telefone só faltava fazer pipoca. Pros amigos Anne também foi exagerada, para Piedra ela comprou um vestido Chanel caríssimo, lançamento da última coleção. Para João uma caneta mouse, que permitia se fazer desenhos no computador com mais facilidade. Pra Patrícia ela comprou uma bolsa Victor Hugo também da ultima coleção. E por fim para o namorado ela comprou uma moto. Vocês acreditam? É. Uma moto sim. Não era nenhuma Harley Davidson, mas era bem bonita, econômica e elegante. Enfim, depois de gastar muito as duas garotas se permitiram lanchar antes de voltar pra casa.

_Nossa Anne, tu é louca gastar o tanto de dinheiro que tu gastou hoje com os presentes. _Disse Piedra. _Eu comprei só algumas lembrancinhas.

_Eu não consigo, há muito tempo que eu não tenho um natal assim. _Disse Anne. _Cheio de gente pra dar presentes, e eu também nunca tive meu dinheiro pra gastar, como tinha sempre que pedir meu pai tudo, ele nunca me dava pra comprar o que eu queria dar. Agora que posso dar o que eu quiser, sem dar satisfação pra ninguém. Gastei mesmo.

_Uma moto? _Disse Piedra olhando o cardápio. _Exagerou não?

_A sei lá. _Disse Anne. _Será que ele não vai gostar?

_Olha, gostar ele vai, só não sei se ele vai aceitar. _Disse Piedra.

_Será? _Perguntou Anne preocupada. _Eu comprei com tanto amor.

_Eu sei Anne. _Disse Piedra. _Mas o problema não é nem isso, o problema é o que ele vai comprar pra você, e tenho certeza que não vai estar a altura de uma moto. Ele vai te dar uma coisinha fofa, não um carro. Entendeu?

_Entendi. _Disse Anne.

_Só quero ver o que tu comprou pra mim. _Disse Piedra. _Foi um triciclo?

Riu Piedra.

_Não, mas foi tão caro quanto. _Disse Anne preocupada com a grandeza dos presentes que havia comprado.

_O quê? _Assustou Piedra. _Anne quanto tu gastou com meu presente?

_10 mil? _Disse Anne de olhos fechados.

_O quê? _Piedra ficou assustadíssima com o valor do presente. _Não acredito Anne. Tu comprou pra mim um presente de 10 mil reais?

_Qual o problema? Eu já disse que eu nunca tive um nat... _Tentou se explicar Anne.

_Não justifica. _Disse Piedra. _Pelo amor de Deus, o que eu comprei pra ti não chega nem a 100 reais.

_Jura? _Perguntou Anne assustada com o valor do presente dela.

_Aham. _Disse Piedra. _Não precisa fazer essa cara não, porque ele é muito legal viu. E pra ser legal não precisa gastar muito não.

_Mas isso pra mim não faz diferença. _Disse Anne.

_Mas pra mim faz. _Disse Piedra. _Eu vou me sentir mal. Eu e todo mundo que ganhar seus presentes. Eu fico até com medo de perguntar quanto que custou o dos outros.

_Pi, relaxa. Todo mundo gosta de ganhar presente, ninguém liga pro preço. _Disse Anne.

_Liga sim. Quem ganhar uma moto, ou seja lá o que for por 10 mil reais e der um presente de 50, 80 ou 100 reais vão se sentir péssimo. _Disse Piedra. _É constrangedor pra quem ganha e vai ser constrangedor pra tu também tu vai ver.

_Ai meu Deus. O que eu faço agora? _Perguntou Anne desesperada.

_Vamos devolver né? _Disse Piedra se levantando. _Como tu acabou de comprar dá tempo de devolver ainda e pegar o dinheiro de volta. Depois eu vou contigo, e juntas nós vamos escolher os seus presentes.

_Igual meu pai fazia comigo! _Disse Anne.

_Isso mesmo, igual seu pai fazia contigo. _Disse Piedra. _Ele fazia por que tu ainda era uma criança. E eu vou fazer porque tu ainda é uma criança. Como assim gente, gastar milhões nos presentes de natal? É doida.

_Mas eu estou com fome, vamos comer primeiro, depois a gente vai devolver e comprar os presentes de novo. _Disse Anne.

_Tá bom, neném, vamos comer então. _Disse Piedra sentando novamente. _Mas depois nós vamos devolver tudo, inclusive a moto.

_A moto não. _Disse Anne. _O que eu vou dar pra ele então?

_A gente dá um jeito. _Disse Piedra. _Um par de meia, cueca, qualquer coisa, menos algo com roda.

_Tá bem. _Disse Anne desapontada por ter que devolver os presentes todos.

_Mas agora me conta, o que tu comprou pra todo mundo? _Perguntou piedra curiosa.

_Nada demais, só uma bolsa Victor Hugo pra Patrícia, uma can... _Tentou Anne.

_Uma bolsa Victor Hugo? _Se chocou Piedra. _Tu é doida Anne?

_Não. _Disse Anne calmamente.

_Não se compra uma bolsa Victor Hugo pra ninguém de natal. _Disse Piedra. _A gente compra algumas lembrancinhas. Algo que a pessoa goste, vá guardar com carinho, não precisa ser algo caro pra ser bom.

_Entendi, tu quer que eu dê um chinelo havaianas pro Rafa então. _Disse Anne.

_Não guria. _Riu Piedra. _Mas também não precisa dar 10 mil num presente.

_Por exemplo, eu comprei pro João, pro João heim que é meu namorado, uma jaqueta de couro. Não é de grife mas parece, é cara, mas também não é demais, e tenho certeza que ele vai adorar. _Disse Piedra.

_Quanto? _Perguntou Anne.

_600 reais. _Disse Piedra sorrindo.

_Nossa, onde você achou essa? _Perguntou Anne.

_É só procurar que tu acha. _Disse Piedra. _Tá vendo, dá pra comprar algo legal, que a pessoa vá gosta, mas sem gastar muito dinheiro. E seja lá o que ele for me dar, ele não vai ficar envergonhado ou coisa do tipo, porque eu deu uma jaqueta pra ele. Entendeu a idéia?

_Entendi. _Disse Anne.

_Ótimo, vai pensando ai, enquanto a gente come que depois a gente vai voltar as compras. _Disse Piedra.

 

Enquanto isso Olivier começava a dar as primeiras pinceladas na tela. Ele estava decidido a contar a ela aquela tarde que ele era gay, e que não havia chances de ele estar gostando dela. O que ele não contava é que Patrícia estivesse recebendo cartas em seu nome, declarando o amor dele por ela. Estava acontecendo um grande mal entendido entre os dois e quem sairia machucado dessa história era Patrícia que realmente estava amando Olivier. Anne chegou a avisar a Olivier para não dar um quadro de presente à garota, pois isso alimentaria ainda mais o desejo de Patrícia por ele, mas Olivier acreditava no presente como forma de provar a amizade entre eles e que depois que ela descobrisse sua homossexualidade seria uma forma de se desculpar por ela ter imaginado algo a mais entre os dois.

 

A tarde passava devagar e as garotas no shopping já haviam voltado às compras. Depois de devolver todos os presentes e ter pegado o dinheiro de volta, as duas andavam por todo o shopping atrás de presentes.

Piedra ria das histórias de Anne:

_Tu não existe Anne. _Disse Piedra rindo. _Parece que realmente tu acabou de chegar nesse mundo.

_Ah nem é assim não. _Disse Anne.

_É verdade. _Disse Piedra ainda com um sorriso nos lábios. _Não tem maldade, parece mesmo uma criança ainda, assim sem ofensa. No puro sentido da palavra eu digo, a inocência de uma criança, como eu posso dizer?

_Boba! _Disse Anne.

Piedra riu:

_É, mais ou menos isso. _Disse Piedra. _Desculpa Anne, mas é que é muito estranho mesmo.

_Porque não é? Porque essas coisas acontecem comigo, porque eu sou diferente de todo mundo, porque eu não sou igual às outras garotas? Igual a você ou igual a Patrícia, ou até mesmo igual a Louísa? Se bem que ela não esta muito longe de ser como eu não. _Disse Anne enquanto as duas caminhavam pelo shopping olhando por todas as vitrines.

_Credo Anne, não diga uma coisa dessas. _Disse Piedra parando em frente a uma loja, onde viu alguma coisa.

_O que foi? Porque você parou? _Perguntou Anne sem entender porque as duas haviam parado em frente a uma loja de doces.

_Vamos entrar, tenho uma idéia. Vem! _Disse Piedra puxando o braço de Anne e entrando as pressas dentro da loja.

Anne foi puxada pelas mãos e fez esforço pra não deixar suas sacolas caírem no chão.

_Calma Piedra o que foi? O que a gente veio fazer aqui nessa loja? _Perguntava Anne enquanto Piedra passeava por entre as prateleiras de doces.

Balas, chicletes, chocolate, pirulito, caramelo, bolinhos, biscoitinhos, sabores, cores, tudo ali diante dos olhos das garotas.

_O que é, tu vai comprar alguma coisa aqui? _Perguntava Anne sem parar, enquanto Piedra olhava atentamente cada prateleira. _Responde menina!

_Calma, eu estou procurando a coisa certa ainda. _Disse Piedra.

_Lembrei do Rafa agora. _Disse Anne abrindo um sorriso.

Piedra olhou para a amiga com um sorriso suspeito e levantou as sobrancelhas em questionamento.

_O quê? _Perguntou Anne surpresa.

_Isso mesmo que tu entendeu. _Disse Piedra quando voltou a procurar.

_Você não está pensando heim... _Começou Anne quando percebeu do que se tratava a procura de Piedra.

_Porque não? _Disse Piedra sorrindo.

_É impossível. _Disse Anne chocada com a possibilidade.

_Por quê? Aqui é um aloja de doces, eles devem ter o bastante. _Disse Piedra.

O sorriso de Anne Marrie tornou a se abrir no rosto da garota.

 

Olivier fazia devagar o contorno dos lábios de Patrícia, que sorria exageradamente.

_Fecha a boca um pouco pra eu ver seus lábios melhor. Assim fica difícil, eles estão esticados. _Disse Olivier.

_Ah tá desculpa. _Disse Patrícia sem jeito, mas feliz. _É que eu nunca posei assim antes pra alguém.

Patrícia fechou os lábios de uma vez. Olivier riu.

_Não tanto, pode sorrir normalmente. _Disse Olivier sorrindo. _Só precisava ver seus lábios mesmo. Imagine que é uma foto, não precisa ficar parada o tempo todo, eu já apertei o flash.

_Ah tá. Como assim apertou o flash? _Perguntou Patrícia.

_É como se fosse uma foto, quando você sentou ai, eu comecei a desenhar sua posição e já gravei na mente, a cor da tua pele, o desenho dos teus olhos, o liso do teu cabelo, tudo está aqui. _Disse Olivier colocando a mão na cabeça e sujando a testa com um pouco de tinta. _É como se meu olho tivesse tirado uma foto sua, está aqui tudo gravado já. Pode mexer normal, pode ir conversando comigo, quando precisar de algo eu te falo ok?

_Ok. _Disse Patrícia mais encantada ainda. _Como pediu agora da minha boca né?

_Isso. _Disse Olivier. _Você estava rindo demais e eu não conseguia ver seus lábios, eles estavam esticados demais, assim está melhor. Exatamente assim, teu sorriso está lindo agora, fica assim só um pouquinho.

E Patrícia não mexeu nem mais um músculo do rosto. Ficou lá parada, imóvel, como Olivier pediu. Olhando pra ele fixamente enquanto os olhos claros dele provavelmente fitavam sua boca, desenhando devagar com um pincel as curvas dos seus lábios, Patrícia sentiu algo passar por sua boca e olhou pra baixo a procura do que seria. Sem resposta ao olhar, ela voltou a encarar Olivier que apertava os olhos para desenhar a moça. Que dedicação, que atenção, que artista? Que olhos, que boca, que pele, que cabelo... Se esbaldavam os olhos de Patrícia em Olivier de cima em baixo, quando a sensação voltou, algo estava massageando seus lábios, algo leve, molhado. Que sensação estranha, ela poderia jurar que sentiu alguma coisa sobre os lábios novamente. E novamente tornou a olhar pra baixo procurando alguma coisa. O que seria? Uma mosca talvez? E quando Patrícia voltava a encarar seu amado novamente algo passou por cima de seus lábios, um pincel. Assustada Patrícia olhou para o lado a procura de alguém que se escondeu, mesmo que inexplicavelmente rápido. Como esperado, ela não viu ninguém atrás dela, ao voltar o rosto pra frente, a poucos centímetros de distancia estava Olivier. Ele estava tão perto que ela podia sentir o seu bafo quente sobre o rosto. Com os olhos olhando pra boca da garota, Olivier levantou o pincel e suavemente o escorregou sobre a boca da garota, daí então Patrícia descobriu a sensação que tanto a incomodava, um pincel molhado da mais pura tinta vermelha alisando sua boca. Patrícia era o quadro, sentia o gosto da tinta. Olivier deixou escorrer a tinta pelo queixo da garota e mais que depressa o garoto aparou a gota com o dedo, e deslizou ele devagar para cima, para dentro da boca da garota que tentada o chupou. Olivier então olhou finalmente pro olhos de Piedra. Não um simples olhar de quem olha pra alguma maçã em cima da mesa, um olhar profundo, com sentimento, com significado. Aqueles olhos claros invadiram a alma de Patrícia que suspirou devagar. Olivier então subiu a mão pelo rosto da garota e acariciou seu cabelo até a nuca, ao voltar com a mão para frente o garoto havia sujado as mãos de tinta escura. Ele olhou para a mão suja e voltou a olhar para Patrícia sem entender o que havia acontecido, mais que depressa ele começou a reparar o dano que havia feito. Passou o pincel pela paleta misturou uma cor aqui, uma cor ali e levou o pincel molhado ao cabelo de Patrícia que escorria pelo rosto, fresco. Olivier se aproximou mais uma vez, queria fazer o trabalho perfeito, sem erros, sem manchas. Foi se aproximando, foi se aproximando, e mais perto e mais perto até que encostou o rosto no de Patrícia que com o toque humano se assustou e recuou com um pulo. Ele encarou-a novamente nos olhos e voltou a se aproximar devagar, ligados pelos olhos Olivier e Patrícia quase se tocavam novamente, mais um pouco e o lábio dele se juntou ao dela. Patrícia não se afastou dessa vez ficou lá sentindo o que esperava por tanto tempo, o beijo. Ainda de olhos abertos os dois continuavam a se encarar, ambos tentando entender a situação até que devagar a medida que o beijo se tornava mais intenso e a tinta escorria pelo pescoço dos dois, automaticamente os olhos foram fechando devagar. Que boca suculenta, macia, que sabor de paixão era esse que Patrícia sentia? Patrícia levantou a mão e lentamente passou-a por de trás da nuca de Olivier, como era macio, sedoso, a sensação aveludada. Patrícia então sentiu as mãos do garoto em volta de seu corpo, apertando forte, beijando mais forte, amando mais forte. Tudo era intenso, quente, poético, singelo, gostoso. Patrícia abriu de novo os olhos e nada estava mais ali, nem o beijo, nem o abraço, nem o toque, nem a pele, nem o cabelo, nem a sensação maravilhosa de desfrutar do amor. Olivier estava como há minutos atrás do outro lado do ateliê, por detrás do quadro, com os olhos apertados como antes, provavelmente pintando a boca de Patrícia, ela podia sentir ainda o gosto da tinta, as cerdas do pincel nos seus lábios.

_Pronto! Acabei a boca. _Disse Olivier. _Pode ficar normal agora.

Olivier abriu um sorriso de cegar os olhos e voltou a se concentrar no quadro. Patrícia riu de volta, relaxou o corpo e tocou a boca esperando ver quando analisou o dedo a tinta vermelha escorrer por ele, mas não havia nada ali, não havia tinta, nem vermelha nem preta, nada. Patrícia fechou os olhos devagar e voltou a abrir, esperando ver Olivier novamente em cima dela, mas nada aconteceu também. Ele continuava concentrado do outro lado do ateliê, pintando. Respirou fundo, e continuou a fazer o que mais amava, olhar pra Olivier. Seu amado Olivier.

 

Grudento e Doce” Era o nome da loja que Anne e Piedra saíram sorrindo e cochichando.

_Imagina a cara dele? _Perguntou Piedra sorrindo.

_Tomara que ele goste. _Disse Anne sorrindo, mas preocupada com a reação de Rafael.

_Relaxa Anne, ele vai amar. _Disse Piedra confiante. _Conheço o Rafa.

_Tomara que ele goste mesmo. _Disse Anne.

_Viu só? Tu provavelmente vai dar o maior presente que o Rafa já ganhou na vida dele, e nem gastou muito dinheiro. _Disse Piedra.

_Mas eu tinha mais segurança na moto, isso que a gente vai dar é muito inusitado. _Disse Anne.

_A gente não. O presente que tu vai dar, eu não tenho nada haver com essa história. _Disse Piedra.

_Obrigada Pi. _Disse Anne sorrindo.

_Não sorri assim pra mim não que me dá uma inveja, um sorriso lindo desse. _Disse Piedra. _Queria eu ter um sorriso assim, só o sorriso não né? A cara inteira, o corpo, tudo.

_Eu devia me preocupar com isso? _Perguntou Anne.

_Não precisa, se eu tivesse olho gordo, a Gisele Bündchen já estaria morta amor. _Disse Piedra.

_Credo Piedra. _Riu Anne.

_É verdade. _Disse Piedra riu.

_Mas agora é sério, e como anda tua carreira de modelo? _Perguntou Anne ao descer as escadas rolantes com Piedra.

_De mal a pior. _Disse Piedra. _Pra começar eu já estou muito velha pra carreira, devia ter começado mais cedo, mas lá em casa tu conhece minha mãe né. Não deixava de jeito nenhum eu morar sozinha. Tinha que ter ido pra São Paulo há muito tempo já. Mas morar sozinha a dona Lourdes não ia deixar mesmo. Então tive que esperar eu fazer 18 pra poder ter algum poder de sair e morar sozinha.

_Então porque não foi? _Perguntou Anne.

_Porque foi ai que começou a complicar as coisas. _Disse Piedra desanimada. _Era pra eu ter ido mesmo, cheguei a convencer minha mãe, mas acabou que nenhuma agencia quis me representar. Disseram que eu era muito velha pra ser modelo, o que eu não tiro a razão deles, realmente eu sou muito velha pra pegar passarela agora. Entãi tive que ficar aqui, na velha Rosa Velha.

Anne riu:

_Mas Piedra, você é tão bonita. _Disse Anne tentando levantar o astral da garota. _Tua beleza é diferente das outras garotas, tem um rosto forte, latino, tua cor é linda.

_Mas mesmo assim eles preferem meninas como tu, loirinha, magrinha, alta, esbelta, olho claro. _Disse Piedra ao saírem da escada rolante e começarem a andar. _Esses são os padrões não adianta discutir.

_Ainda não acredito, que ninguém te achou, sua beleza é rara. Não é qualquer uma que tem esses traços. É uma latina misturada com índia. _Disse Anne.

_É. Fala isso pras agencias. _Disse Piedra desanimada.

_Sei lá, mas como eu vou mexer com moda, sou meio viciada nessas coisas de beleza e estilo. Te acho perfeita. _Disse Anne.

_Obrigada Anne, mas infelizmente tem gente que não acha isso. _Disse Piedra.

_Você ama ser modelo né? _Perguntou Anne.

_É a coisa que eu mais amo na vida. Ser modelo, quer dizer quem eu sou, significa tudo pra mim. Se eu não modelar, não sou eu, entende? É minha vida. _Disse Piedra.

_Nossa. É mais forte do que eu pensei que era. _Disse Anne.

_é. _Disse Piedra.

_E o João? O que ele acha de você ser modelo? Não fica com ciúmes não? _Perguntou Anne.

_O João não, aquele ali, não liga pra nada. É todo desligado das coisas. _Disse Piedra. _Ficaria surpresa se ele lembrasse que é meu namorado.

Anne sorriu.

 

Olivier continuava concentrado no quadro de Patrícia.

_Tu tá calado. _Disse Patrícia sorrindo.

Olivier abriu o sorriso.

_É que estou concentrado demais aqui. _Disse sorrindo. _Mas pode falar ai, que eu te escuto.

_Não quero te atrapalhar. _Disse Patrícia.

_Não é sério. Se quiser pode ir falando que estou te ouvindo. _Disse Olivier olhando pra garota.

Patrícia corou, sorriu delicadamente e se calou. Olivier voltou a pintar.

_Não vai dizer nada? _Perguntou Olivier sorrindo.

_Não, não. _Disse Piedra.

_Deixa de bobeira pode falar garota, não vai me atrapalhar não. _Insistiu Olivier.

_Está tudo bem. _Disse Patrícia envergonhada.

_Agora você começou termina. _Disse Olivier sorrindo.

Patrícia sorriu sem graça e voltou a se calar.

_Já que você não quer falar, eu vou fazer uma pergunta e você vai ter que responder. _Disse Olivier.

_Não. Concentra ai, quero ficar bem bonita igual a Anne, e não igual a Monalisa. _Disse Patrícia sorrindo.

Olivier sorriu:

_Não é sério sô.

_Está bem, então pergunta. _Disse Patrícia envergonhada arrependida assim que formou a frase e a disse.

_Está bem, lá vai a primeira pergunta. _Começou Olivier. _Você gosta de alguém?

Quero ver como ela vai sair dessa, se ela disser que sou eu, ai eu digo: ‘_Eu sou gay! ’ E pronto. Simples assim.” Pensou Olivier.

Patrícia engoliu seco, respirou fundo e pensou:

“Ai meu Deus, eu sabia que era hoje que ele ia se declarar. Que emoção, vou enrolar pra ele dizer primeiro. Não vou entregar assim tão fácil. Será que está tão na cara assim que eu gosto é dele?”

_Como assim gosto de alguém? Tu diz, um menino? Se eu gosto de um guri daqui? _Disse Piedra.

_Pode ser de qualquer lugar. Mas então quer dizer que ele é daqui? _Perguntou Olivier.

_Hã? _Disse Piedra sem graça.

“Dei mancada!” Pensou Patrícia.

_Não, eu não disse isso. _Tentou concertar Patrícia.

_Sei. Então deixa eu fazer a pergunta de novo. _Disse Olivier. _Você gosta de alguém de qualquer lugar que seja ele?

_Depende. _Disse Piedra.

_Depende de quê? _Perguntou Olivier sem entender.

_Depende se ele gosta de mim também. _Disse Piedra.

_Mas como assim? Você não tem certeza ainda? _Disse Olivier.

Ai que lindo, ele está falando das flores, dos bombons e das cartas.” Pensou Piedra.

_Quase certeza. _Disse Patrícia. _Acontece que ele é muito tímido e não se declarou pra mim ainda.

_Mas porque ele não se declarou ainda? _Perguntou Olivier.

_Não sei. _Disse Patrícia. _Ele mandou flores, bombons, cartas, fez de tudo pra dizer que me ama, mas eu estou esperando ele dizer pessoalmente.

“Que alívio. Não sou eu então de quem ela gosta, eu não mandei carta, muito menos bombom. Dessa eu me livrei. Já não vou precisar contar pra ela que eu sou gay, é melhor deixar tudo como está.” Pensou Olivier.

_Porque você não fala primeiro? _Perguntou Olivier mais aliviado.

“Não adianta Olivier, tu vai ter que me dizer primeiro.” Pensou Patrícia.

_Eu prefiro esperar. Sou uma guria a moda antiga. Ainda acredito no cavalheirismo. _Disse Patrícia.

_Jura, senhora Dama? _Disse Olivier sorrindo.

_Sim cavalheiro. _Disse Patrícia animada com a deixa.

_Eu não sou um cavalheiro. _Disse Olivier. _Estou mais para o cavalo.

“Ou pra égua” Pensou Olivier.

 

_Já compramos tudo? _Perguntou Anne.

_Já, graças a Deus já fizemos toda sua lista. _Disse Piedra cheia de sacolas nas mãos. _Tu comprou presente pra rua inteira, só faltou a Louísa ganhar um presente teu.

_Bem que ela precisava né? Coitadinha, nem o pai dela deve dar presente pra ela esse ano. _Disse Anne.

_Coitadinha de mim, que não é de hoje que tenho que ficar agüentando essa menina atrapalhando a minha vida. _Disse Piedra. _Ela tem que ganhar sabe o que de natal? Um belo par de correntes pra amarrar os pés e as mãos dela na cama, pra nunca mais sair. Morrer lá igual naquele filme “Jogos Mortais”.

_Mas agora, não é estranho àquela menina agir daquele jeito. Será que ela tem tanto ódio de vocês assim a ponto de querer matar? _Disse Anne.

_Tu viu né? Aquele dia na frente da tua casa foi pouco pra ela. _Disse Piedra. _E tu acha que aquilo ali é desequilibrada daquele jeito. Ela tava é fingindo só pra não responder porque que ela estava vigiando a gente da janela. Ela está aprontando viu Anne. E é melhor a gente tomar cuidado. Com aquela ali todo cuidado é pouco.

_Mas ela não ia fazer nada de mal com algum de nós iria? _Perguntou Anne. _Quando a Patrícia teve overdose todo mundo achou que fosse ela que tivesse dado a droga pra Pati e não foi né?

_Foi o André, naquela festa que eu te contei que a gente foi buscar ela e a Louísa. _Disse Piedra. _Mas se tivesse que fazer ela faria, ah se faria.

_Mas Piedra por mais que você me conte aquela história do diário, fica difícil ligar isso com tudo que ela está fazendo até hoje. _Disse Anne. _Porque ela guardou tanta raiva daquilo que aconteceu, passou, passou não é? Talvez até se ela tivesse deixado pra lá, hoje vocês já estariam amigas de novo. Não tem outro motivo não?

_Tem vezes que eu já parei pra pensar, mas nunca acho outro motivo, porque depois disso a gente realmente não se falou mais, nunca mais, só brigávamos. Briga por briga, o real motivo ainda era, e sempre foi o diário. _Disse Piedra.

_Mas não faz sentido, é muita loucura. _Disse Anne andando com os presentes nas sacolas. Muitos presentes.

_É Anne, é muita loucura mesmo. _Disse Piedra. _Pra tudo que não tem explicação, Freud explica. A loucura justifica tudo. Ela é louca e ponto final, não interessa mais o motivo, seja ele qual for, ela iria surta mais cedo ou mais tarde.

_Tem razão. _Disse Anne. _Eu bem sei disso, por que o amor e a loucura andam bem lado a lado. Bem lado a lado comigo.

_E Anne começa com esses papo de assassina não que eu fico com medo. _Riu Piedra.

_Fica tranqüila Pi, eu não te amo. _Disse Anne sorrindo.

_Ai obrigada amiga. _Disse Piedra.

As duas gargalharam. Continuaram andando lindas e poderosas pelo Shopping, chamando a atenção de quem passasse. Piedra então foi em direção a uma revistaria seguida por Anne.

_Ai vamos passar aqui rapidinho antes de ir embora, pra eu comprar a ultima Vogue porque eu ouvir falar que a edição está maravilhosa. _Disse Piedra. _Sabe quem é a capa?

_Não. _Disse Anne sinceramente.

_Kate Moss, a guria voltou com tudo. _Disse piedra empolgada.

As duas se aproximaram da revistaria e entraram mais que depressa ansiosas para verem a capa da Vogue. Chegando lá dentro Piedra foi até o vendedor e pediu a ultima edição da revista e enquanto ele foi buscar a revista Anne e Piedra ficaram folheando outras revistas e edições dali do balcão mesmo. Quê Kate Moss quê nada, a capa da Society era bem mais eletrizante. Nela Anne, Rafael, Piedra, João, Patrícia, Olivier e Juliana sentados no chão da sala de Anne rindo e felizes. E o melhor da foto nem era o flagra do momento dos amigos, era o beijo que Anne estava dando em Rafael. Em letras garrafais: ANNE MARRIE DESCOBRE NOVO AMOR, SERÁ QUE ESSA É A PRÓXIMA VÍTIMA?

 

Respondido Piedra, o que Louísa fazia na janela aquela noite?

Sorria Anne Marrie, você está sendo vigiada. O tempo todo.