domingo, 26 de outubro de 2008

Capítulo 26: Se cuida Anne Marrie

O vaso que Anne Marrie ganhou de presente de Juliana estava na mesinha de centro da sala rodeado dos mais variados quitutes. Bolo de chocolate, brigadeiro mole, biscoitinhos de nata, biscoitinhos de coco, cookies, batata chips, creme de cebola, requeijão, pão de queijo, pão de batata, patê de presunto, mussarela, suco de laranja, suco de uva, suco de caju, suco de manga, chocolate quente e pipoca. Anne, Olivier, Juliana, João, Rafael, Piedra e Patrícia estavam espalhados em volta da mesa sentados no chão aproveitando o lanche que passaram a tarde preparando. Juliana fazia todos rirem de seus casos com Anne na escola, as duas contavam aos garotos como era a juventude das duas em São Paulo e a aventura de morar sozinha uma com a outra quando elas tinham apenas 17 anos. Rafael estava sentado ao lado de Anne e segurava a mão dela o tempo todo, Anne tinha as palmas da mão soadas mesmo com o frio que estava fazendo. Piedra também estava grudada em João enquanto Olivier estava bem distante de Patrícia que a toda hora inventava uma desculpa pra levantar e se sentar perto de Olivier que por sua vez fazia o mesmo pra fugir do assédio da garota. A noite não podia estar mais agradável, o clima natalino se instaurou na casa, o frio parecia aproximar todos ainda mais e deixar o lugar mais confortável. A lareira ligada aquecia o corpinho da turma.

_Meu Deus olha onde eu estou. _Disse Juliana. _No meio de um tanto de jovens, conversando sobre a minha juventude que já se foi há muito tempo.

_Ah que isso, tu ainda é jovem. _Disse João.

_Anne é que é nova de corpo e de alma. _Disse Juliana.

_Ai, dá pra parar de falar que eu ainda sou jovem. _Disse Anne.

_Mas você ainda é jovem amor. _Disse Rafael.

_Credo! Vocês dois tem que ficar fazendo isso o tempo todo? _Perguntou Piedra. _Irrita sabia? Amor pra cá, amor pra lá.

_Olha quem fala. _Disse Anne. _Você é pior do que a gente.

_Eu que sei. _Disse João.

Todos riram.

_O que é isso João. Isso não é verdade. _Disse Piedra.

_Piedra, tu tá grudada em mim o tempo todo e quando não está me liga toda hora. _Disse João.

_Eu sou sua namorada, eu tenho o direito de saber onde tu tá. _Disse Piedra.

_E tu acha que eu sou o que da Anne? _Perguntou Rafael.

_Eu sei que vocês estão namorando agora, mas eu não lembro de tu tão grudado assim não. _Disse Piedra.

_Ah, então esse é o problema. Ciúmes. _Disse Rafael.

_Que ciúmes guri. _Disse Piedra.

_É ciúmes sim. _Disse Rafael.

_Ah então é por isso que tu fica reclamando do Rafael toda hora né? _Disse João zombando de Piedra.

_Deixa de ser mentiroso, eu não fico falando do Rafael toda hora não. _Disse Piedra.

_O que e isso Piedra? _Brincou Anne.

_Abre o olho heim amiga. _Disse Juliana.

Todos começaram a zoar a garota que ficou vermelha numa mistura de raiva e vergonha.

_Não é isso gente. _Tentava dizer Piedra. _Escuta gente, deixa eu falar.

_Ê Piedra! _Todos diziam de uma vez fazendo Piedra ficar mais nervosa.

_GENTE! Deixa eu explica! _Pediu Piedra alto pra sobrepor o barulho que os outros estavam fazendo.

_Vamos deixar ela falar gente. Calma ai. _Pediu João rindo.

E todos calaram.

_Tá bem. _Começou Piedra. _Acontece que o Raf...

_Ê Piedra! _Todos voltaram a gritar.

Piedra começou a rir da brincadeira e todos dispararam a rir também. Quando por fim todos pararam de se contorcer da comédia Piedra comseguiu falar:

_Não é ciúmes não. _Começou Piedra. _É que o Rafa é um idiota o tempo todo, nunca foi assim tão amoroso tão gentil sabe. Nem comigo nem com ninguém. Não é ciúmes não. Pode ficar com isso ai Anne e faça bom proveito.

_Já estou fazendo. _Disse Anne ao beijar o garoto.

Todos viraram o rosto.

_E tu Oli? Só falta você fazer um casal aqui. _Disse Juliana.

Olivier olhou pra Patrícia que se encheu de esperança na hora.

_Não, estou ótimo assim, agora é só nos estudos mesmo. _Disse Olivier sem graça pra fugir da situação.

_Mas dá pra estudar e namorar ao mesmo tempo sem problema. _Disse Patrícia aproveitando a deixa.

_É claro que dá. _Disse Juliana. _isso é desculpa de solteirão que não consegue ninguém. Eu também sempre digo isso quando me perguntam se eu estou namorando. Eu digo: Trabalho demais, não dá tempo de namorar. Mentira! Se aparecer alguém certo, da tempo sim.

_Claro que dá, mas Olivier não gosta de falar dessas coisas. _Disse Anne tentando salvar o sobrinho que lhe implorava com o olhar.

_Tu está sozinha também lindinha? _Perguntou Juliana pra Patrícia que olhava pra Olivier.

_Quem, eu? _Disse Patrícia quando percebeu que falavam com ela. _Estou sim, ninguém me quer.

A garota fez um beicinho como se fosse uma criança menor.

_Ai Oli. _Começou Juliana. _Olha ai, Mô gata e tu vai deixar escapar assim, cai matando.

Olivier não podia ficar mais envergonhado.

_E você Ju? Não tem ninguém não. _Perguntou Anne numa tentativa desesperada de mudar o assunto.

_Eu não, já disse amiga, não tenho tempo. _Disse Juliana.

Todos riram.

Olivier estava sério e forçou um sorriso para não perceberem seu desconforto com a situação enquanto Patrícia o encarava toda alegre.

_E ai Oli, pra quando tu acha que fica pronto os desenhos pra campanha da Juliana? _Perguntou Rafael que percebeu o desconforto do rapaz também.

Olivier agradeceu em silêncio.

_Depende Rafa a gente tem que sentar e ver como vai ser, qual é a proposta o que eu devo desenhar e tudo mais. _Disse Olivier aliviado.

_É Rafa relaxa, depois a gente pensa nisso. _Disse João sem entender o assunto repentino.

_A chefe tá aqui, tem que mostrar algum interesse né? _Disse Rafael como desculpa.

_Tô gostando de ver a animação de vocês, só quero ver se o que vocês fazem é bom mesmo. _Disse Juliana.

_Se depender da empolgação do Rafael vai ser a sua melhor campanha. _Disse João.

_Espero. _Disse Juliana. _Onde fica o banheiro amiga?

_No fim do corredor aqui, mas pode ir ao meu se quiser, tu sabe onde é. _Disse Anne.

_Já volto gente, tomei suco demais. _Disse Juliana rindo.

_Tá bem. _Disseram todos fora de ordem.

Juliana se levantou e seguiu direto para o corredor que dava para os quartos onde o da Anne era o ultimo deles. Ao passar pela Janela do corredor Juliana olhou para fora e reparou algo se mexendo em frente à janela da sala, estranhando o fato Juliana parou e se aproximou da janela pra ver melhor o que era que se mexia devagar na frente da janela. Mais de perto e apertando os olhos para enxergar no escuro ela pode reparar que era uma mulher vestida de preto, que se equilibrava na ponta dos pés para olhar para dentro da casa. Juliana não conhecia a misteriosa mulher então correu para sala para alertar a amiga sobre a espiã.

_Anne, Anne. _Disse Juliana ao chegar à sala. _Não sei não, mas aprece que tem alguém vigiando você pela janela. Deve ser alguma repórter, deu pra ver que era mulher.

_Não é repórter não, eu já sei quem é. _Levantou Rafael de uma vez.

_Eu também. _Disse Piedra fazendo o mesmo e seguindo o amigo até a porta.

Todos se levantaram e aguardavam ansiosos para ver quem era.

Rafael abriu a porta e saiu correndo pra fora seguido por Piedra. Não podendo assistir a cena todos também seguiram os garotos até os jardins. Quando Anne chegou a porta pode ver Rafael correndo atrás de Louísa que tentou fugir antes que a vissem. Piedra também corria atrás da garota. Quando Louísa ia até a calçada Rafael conseguiu agarrar o braço da garota com força. Louísa quase caiu no chão tamanho foi o puxão.

_Me solta, tu tá me machucando. _Disse Louísa.

_Qual é o seu problema heim garota? _Começou Rafael. _Não tem nada pra fazer não? Parece que nasceu pra perseguir, pra atormentar a gente. Porque isso? Tu tem tanta raiva assim porque a causa de um diário?

_Tu tá me machucando. _Disse Louísa. _Me solta se não eu vou gritar.

_Pode gritar, grita mesmo, ai todo mundo vai ver o quanto que tu é desequilibrada. _Disse Rafael. _Sabe o que é difícil de entender? É porque não é lógico tu ficar doente com isso, já passou, tem tanto tempo isso que fica ridículo te ver lutando pra ser da turma de novo. Não vai rolar Louísa. Acabou. Tu precisa de uma vida garota pra deixar a nossa em paz.

_Eu preciso do João. _Disse Louísa com lágrimas nos olhos.

_Eu tenho pena de ti. _Disse Rafael.

_Eu preciso que vocês vejam que eu sou legal, que eu pertenço a essa turma, tanto quanto qualquer um, eu não sou pior do que ninguém pra ser excluída dessa maneira. _Disse Louísa caindo no choro.

_A que preço Louísa? _Disse Rafael ainda segurando o braço da garota. _A que preço? Vale a pena acabar com a vida de todo mundo desse jeito? Supera isso e vai procurar o que fazer da vida. Sabe por que eu tenho pena de ti? Porque eu sei que tu é doente, possessiva, obcecada. Acostumada a ganhar tudo sem nunca ganhar um não. Mas deixa eu te dizer uma coisa, a gente não é brinquedo pra tu brincar a hora que quiser.

_Nem eu, pra vocês me descartarem desse jeito. _Disse Louísa chorando.

_Ninguém te descartou Louísa. Tu teve o que mereceu. _Disse Rafael. _ A gente não fez nada contigo, tu que surto e começou a perseguir a gente. Tu acha que fazendo as coisas que tu faz a gente vai te aceitar de volta?

_Não é isso que eu quero. _Disse Louísa chorando.

_O que tu quer então? _Perguntou Rafael.

_Eu quero que vocês morram. Eu quero que vocês sintam como é ficar sozinha como eu estou, eu quero que vocês sintam como é passar vergonha na frente de todo mundo, eu quero acabar com todos vocês pra eu viver melhor, pra eu respirar melhor um dia sabendo que vocês desapareceram. _Disse Louísa com os olhos vermelhos de ódio, lavados pelas lágrimas que não paravam de rolar. _Eu quero viver tranqüila sabendo que quem me desprezou um dia não me importa mais, porque ganhou o que merecia. Pagar na mesma moeda o que vocês me fizeram passar. Eu sou vigiada dia e noite, cada segundo da minha vida é monitorado agora, eu fiquei internada, tenho que consultar um médico todos os dias, fazer tratamento. Por quê? Só porque um dia eu quis ter amigos de verdade? Isso não é justo.

Rafael encarava a menina com pena do que via, como uma pessoa podia se descontrolar dessa maneira?

_Louísa vai pra tua casa. _Disse Rafael. _Esquece a gente, todo mundo aqui já te perdoou.

_PERDOAR? _Riu Louísa totalmente descontrolada. _Perdoar? Eu que tenho que perdoar vocês. É a mim que vocês fizeram mal, não o contrário. Quem estava rindo agora pouco e comendo biscoitinhos? Não era eu Rafael, era vocês. A turma de amigos perfeitos e fieis. Vocês se divertiam juntos, enquanto eu estava no meu quarto trancado por fora. SOZINHA.

_Calma Louísa. _Disse Rafael se aproximando da garota a fim de acalmá-la.

_Não encosta em mim de novo Rafael. _Disse Louísa chorando ao fechar os olhos.

_Tudo bem, só quero que tu se acalme e volte pra tua casa. _Disse Rafael.

Todos olhavam assustados pra Louísa, ninguém poderia imaginar que o amor da garota pelos amigos virasse obsessão.

_Afinal o que tu quer da gente Louísa? _Disse Rafael. _Acabou, nossa amizade acabou, nada pode mudar isso. Acabou.

_Não acabou. _Disse Louísa abrindo os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar. _Eu não quero a amizade de vocês, eu seria idiota querendo amigos como vocês de volta. A única coisa que eu quero é destruir a amizade que vocês tem, se não conseguir tudo bem. Mas só de saber que vocês estão sofrendo de alguma maneira já me basta. Quero que vocês sofram como eu sofri e ainda sofro.

_Tu está doente guria. _Disse João.

_Tô não João. _Disse Louísa. _Eu não estou doente não, eu só quero vingança.

_Pelo quê Louísa? Fala. _Disse Patrícia nervosa. _Deixa de ser ridícula, para e pensa um pouco no que tu tá fazendo sua doida.

_Cala a boca Patrícia, que a conversa nem é contigo. _Disse Louísa.

_Então tu queria me matar atôa mesmo? _Perguntou Patrícia.

_Tu sabe muito bem que não fui eu que dei aquela droga pra ti. _Disse Louísa. _Devia ter dado, mas tinha que ter dado era muito pra tu apagar de vez. Idiota, aquilo era droga que tu conseguiu lá na festa do André, mas tava tão chapada que não deve ter nem sentido a droga entrando no teu nariz. Viciou rápido querida, eu falei pra tu ir devagar.

_Tu passou dos limites Louísa. _Disse João. _Eu queria te dizer isso há muito tempo já, mas nunca tive oportunidade. Se tu tentar mais alguma coisa contra qualquer um de nós aqui, se eu souber que tu machucou alguém, pode fugir, porque eu vou atrás de tu até no inferno, e juro que eu te mato. Podem falar que tu é doente, que é isso que é aquilo, FODAS. Tu é uma garota mimada isso sim. Tu é pior do que um verme. Tu é uma pessoa que não merece a consideração de ninguém. Nem teu pai te agüenta. Tu não é nada.

Louísa chorou com mais força ainda e devagar se ajoelhou no chão.

_Cala a boca João. CALA A BOCA. _Gritou Louísa com a mão no rosto. _Tu tinha que me amar. Cala a boca!

_Adorei o teatro guria. _Disse Piedra batendo palmas. _Tá lindo. Mas até agora tu não disse o que estava fazendo vigiando a gente pela janela.

_Deixa isso pra lá Piedra. _Pediu Rafael.

_Eu estava vendo, o quanto tu ama o Rafael. _Disse Louísa se levantando e limpando os joelhos. _Tu acha que engana quem Piedra? O João é um idiota que acredita que tu ama ele de verdade. Ela quer ficar com teu amigo seu burro!

_Cala a boca Louísa. _Disse Rafael.

_Eu choro bem não é? _Disse Louísa enxugando as lágrimas. _Eu fico chocada como eu sou boa atriz. Ai ai.

_Eu sabia que era mentira esse teatro todo aqui. _Disse Piedra. _Fala logo Louísa o que tu tava fazendo vigiando a casa da Anne?

_Relaxa Pi, eu só tava vendo como vocês são felizes pra eu me matar de inveja no meu quarto depois. _Riu Louísa. _Vocês iam adorar isso né?

_Pode ter certeza. _Disse Piedra roendo os dentes de raiva.

Da casa ao lado veio correndo o pai de Louísa.

_Mas o que está acontecendo aqui? _Disse Theodor enquanto vinha correndo até o jardim de Anne. _Louísa já pra casa!

_Claro papai, eu já acabei aqui. _Disse Louísa encarando um por um dos que estavam ali parados.

_Desculpem gente outra vez. _Disse Theodor segurando Louísa pelo braço e a puxando forte. _Acabou Louísa. Acabou com isso agora. É só passar o natal e tu vai pra casa da tua vó no Rio.

_Eu ia adorar papai. _Ironizou Louísa que sorria.

_Pára de show garota, que eu não estou brincando. _Disse Theodor puxando o braço da menina com mais força.

_Ai pai! Tu tá me machucando. _Disse Louísa séria.

_É senhor pra ti guria. _Disse Theodor nervoso. _E é exatamente assim que tem que ser, animal, cobra, coisa ruim.

_Pai pára de me chamar assim. _Disse Louísa. _me solta.

_Que soltar? _Disse Theodor. _Demônio, vamos pra casa agora.

-Pára de me chamar assim agora, eu vou contar pra minha mãe. _Disse Louísa chorando.

_Tá doendo tá? _Perguntou Theodor. _É pra doer mais.

Theodor puxou a garota de uma vez e saiu arrastando ela pelo jardim, ele puxava tão rápido enquanto andava, que Louísa não conseguia se por de pé para andar.

_Eu vou sozinha, me larga pai. _Disse Louísa enquanto era arrastada de volta pra sua casa. _Me SOLTA.

A garota lutava, esperneava, chorava, gritava, mas Theodor continuou firme até que eles entraram em casa finalmente. No jardim de Anne todos se encaravam sem acreditar no que havia acontecido ali.

_Meu Deus. _Disse Juliana de boca aberta. _Quando tu disse que a garota era louca Anne, eu pensei em tudo menos no pior. Agora isso?

_Agora até eu fiquei assustado. _Disse João.

_Vamos entrar gente antes que começa todo mundo a sair pra perguntar o que aconteceu. _Disse Rafael.

Todos entraram calados.

 

Se cuida Anne Marrie, Louísa também te colocou na lista negra dela, e algo me diz que você será a próxima a ter o nome riscado.

domingo, 19 de outubro de 2008

Capítulo 25: O nome da perfeição é Anne Marrie

Piedra, Olivier e Patrícia se dirigiam para a casa de Anne, todos riam e conversavam tranquilamente até repararem que Louísa vigiava todos do outro lado da rua, parada na janela do seu quarto.

_Essa menina não cansa não? _Disse Olivier incomodado.

_É. Onde a gente vai ela tá atrás. _Disse Piedra encarando Louísa.

_Deixa gente, vamos pro lanche de uma vez. _Disse Patrícia. _Ela fica ai o dia inteiro sozinha, viajando nossa vida, já que ela não se permite ter uma.

_Tá certa Pati. _Disse Olivier antes de pigarrear. _Quero dizer, disse tudo Patrícia. Vamos lá, minha tia deve estar esperando a gente.

_Vamos. _Disse Piedra.

Os três voltaram a andar em direção a casa de Anne como estavam fazendo antes.

Olivier não se sentia a vontade chamando Patrícia de Pati, já que ele suspeitava que ela gostasse dele. Ele via isso como uma desculpa pra menina achar mais do que devia talvez ela pensasse que isso queria dizer que eles eram mais intimos a cada dia. Piedra percebeu o desconforto do garoto e sorriu disfarçadamente enquanto Patrícia encarava Olivier com os olhos brilhando.

_Não precisa ficar com vergonha não Oli, pode me chamar de Pati mesmo. _Disse a garota radiante. _Posso te chamar de Oli né?

_Pode, claro que pode. _Disse Olivier corando as bochechas.

Piedra sorriu.

_Vamos vocês dois se não a Anne vai matar a gente. _Disse Piedra

Olivier olhou torto pra ela.

_Ai desculpa, não foi isso que eu quis dizer. _Disse Piedra depressa e envergonhada.

_Não tudo bem. Eu te entendi. _Disse Olivier sorrindo.

_Desculpa Oli, desculpa mesmo, eu não lembrava disso. _Disse Piedra.

_Relaxa Pi, já disse que está tudo bem. _Disse Olivier. _Já conseguiu falar com os meninos?

_Já, demorou mais eu consegui. Eles já estão vindo. _Disse Piedra andando.

Da janela Louísa acompanhou com os olhos os três, até que eles sumissem de vista.

 

Olivier abriu a porta de uma vez seguido pelas meninas, e os três viram Anne, Roger, que olharam pra eles quando viram que alguém estava entrando.

_Desculpa tia, eu não sabia que tinha mais visitas. _Disse Olivier.

_Quê isso garoto, eu não sou visita, sou praticamente de casa já. _Riu Roger abusadamente.

_Não. Não é. _Disse Anne.

_Ele vai ficar pro lanche? _Perguntou Olivier com medo da resposta.

_Não, ele já está de saída. _Disse Anne.

_Vai rolar um lachinho com a turminha mais ou menos e eu não vou ficar? _Disse Roger. _Claro que eu vou, quero conhecer a próxima vítima da minha amada ex-cunhadinha.

_Eu não sou nada sua. _Disse Anne. _Agora que você já disse o que queria pode ir embora.

_É assim que tu me agradece depois que eu consegui a visita pra você lá no meu presídio? _Disse Roger. _Que ingratidão Aninha.

_Deixa de bobagem e vai embora logo antes que você me faz passar mais vergonha, anda. _Disse Anne.

_Eu vou pra cozinha preparar o lanche tia. _Disse Olivier.

_Eu vou ajudar. _Disse Piedra.

_Eu também. _Disse Patrícia automaticamente.

_Pode ir Oli, daqui a pouco eu vou lá te ajudar, só vou colocar o lixo pra fora. _Disse Anne.

_Okay. _Disse Olivier.

Os três seguiram pra cozinha calados.

_Lixo? Aninha qual é? _Disse Roger.

_Para de tentar participar da minha vida. _Disse Anne.

_Para de querer me tirar dela, eu sou seu amigo agora. _Disse Roger.

_Você não é meu amigo. _Disse Anne.

_Eu estou te ajudando a encontrar teu filho não estou? _Disse Roger.

_Você me ofereceu ajuda e eu aceitei por que não tinha outra opção. Daí a gente se tornar amigo por causa disso é bem diferente, eu nem gosto de você.

_Mas devia, pelo menos eu ia te tratar melhor do que o Humberto te tratou. _Disse Roger.

_Cala a boca. _Disse Juliana.

_Olha, a amiguinha finalmente abriu a boca. _Disse Roger sorrindo.

_Deixa ela quieta, e vai embora eu estou com visitas e você não é bem vindo. _Disse Anne.

_Que tal eu desmarcar a visita heim Anne, tá me tratando muito mal, mereço mais do que isso. _Disse Roger.

_Faz isso. Pode fazer, porque ela não precisa de ti. Ela tem amigos de verdade. _Disse Juliana.

_Amigos de verdade? _Disse Roger. _Eu te conheço bem garota.

_Não me chama de garota. _Disse Juliana nervosa.

_Se bem que não parece uma mesmo. _Disse Roger rindo. _Já tua amiga.

_O que tu quer dela? Quer dinheiro? Quer o quê? _Disse Juliana. _Porque se o problema for dinheiro eu pago, mas fala onde está o filho dela de uma vez e para de enrolar Roger.

Roger olhou feio pra Juliana que sentiu o peso do olhar do homem e se calou.

_Eu não quero dinheiro e eu não sei onde está o filho dela. _Disse Roger. _Eu estou ajudando porque sei o quanto ela sofreu nas mãos do meu irmão e sei que ele mereceu morrer. Ela fez um favor pra mim, pra humanidade, até pra você, eu lembro de você.

_Favor? _Disse Juliana. _Você está ajudando a Anne porque se sente agradecido por ela ter matado teu irmão? É isso?

_É. _Disse Roger.

_Conta outra. _Disse Juliana. _Ela ainda é uma criança, pode ter 30, 35, 38 ou até 60 anos, ela é a porra do Peter Pan, ela não cresce. Vai ser sempre uma adolescente. Por isso é fácil de tu enganar ela, mais eu não. _Disse Juliana. _Eu já saquei a sua.

_E eu saquei a sua. _Disse Roger. _Eu lembro de você. Você veio antes dela não foi, até que a sua melhor amiga roubou teu namorado não foi?

_Calma ai. _Disse Anne.

_Escuta aqui o chifruda, tu quer que eu acredite que você perdoou tudo numa boa e seguiu em frente. Sempre deu uma de amiguinha e nunca quis nada em troca disso? _Disse Roger. _Tu já foi à casa dela Anne? Há quanto tempo ela mora aqui no sul? Não é estranho ela morar justamente no lugar onde supostamente teu filho vive agora?

_O que tu tá dizendo não faz sentido nenhum, a história do Humberto eu e a Anne já resolvemos a muito tempo. E é certeza que o filho dela não está comigo, agora com você, eu não duvido.

_O que eu queria com uma crinaça que nem é minha? _Disse Roger.

_Eu que te pergunto. _Disse Juliana. _Essa raiva toda do teu irmão, era motivo o bastante pra querer acabar com a vida dele. A Anne inocente, podia ser a ferramenta perfeita pro teu plano.

_Você está falando demais garota. _Disse Roger. _Tu não tem idéia do que você está insinuando, cala a boca.

_E a quanto tempo tu mora aqui. É de se estranhar também que o seqüestrador esteja preso no teu presídio. _Disse Juliana. _Ou tu acha que eu caí nessa conversa mole tua?

_Ele está lá é só ir lá e ver. _Disse Roger sem graça.

_Se é tão fácil assim porque a Anne não viu ele até hoje? _Disse Juliana.

_Porque não é tão fácil assim. _Disse Roger. _Ela quer interrogar o cara, tu sabe o que acontece comigo se alguém descobrir que eu cooperei pra que isso acontecesse? Ele pode ser a pior pessoa do mundo, mas ele tem os direitos dele, ser interrogado pela vítima direta do crime, não é permitido.

_Nossa, pela primeira vez você falou sobre o que realmente me impedia de ver ele. _Disse Anne. _Então era isso o tempo todo, porque você não me disse?

_Porque ele não queria dizer isso. _Disse Juliana. _Porque ele não quer dizer que não conseguiu sua visita. Tudo que ele falou é verdade, é impossível o encontro de vocês dois, é proibido por lei. Ele só não te disse isso antes por que ele está adorando te enrolar, vindo aqui na tua casa, tomando cafezinho, achando que é teu amigo.

_Tu não sabe do que tá falando não é. Eu posso falar aqui que... _Tentou Roger.

-Que o quê? _Disse Juliana. _Que tu sempre teve inveja do teu irmão, e queria tudo que ele tinha, isso inclue a Anne?

_CALA A BOCA JULIANA!!! _Gritou Roger.

_PÁRA de gritar na minha casa, com a minha amiga está ouvindo. _Disse Anne.

_Ela não é tua amiga sua tonta. _Disse Roger. _Tu acha que ela perdoou você pra sempre? Tu acha conicnsidencia demais ela morar aqui no sul onde teu filho está.

_Eu não quero ouvir uma palavra que sair da tua boca, dá o fora da minha casa agora. _Disse Anne.

Olivier chegou correndo da cozinha junto com Piedra e Patrícia.

_Eu só quero que você vá até o presídio amanhã, eu consegui um horário pra você. _Disse Roger. _Você vão se encontrar na minha sala, os outros detentos não vão ver você junto com ele.

_Sai da minha casa. _Disse Anne.

_Anne me escuta. _Disse Roger.

_Não ouviu o que minha tia falou não? _Disse Olivier.

_O Bambi vai fazer o quê? Me dar uma chifrada? Ah esqueci, a Juliana pode fazer isso por você. _Disse Roger.

_Sai fora logo cara. _Disse Juliana.

_Eu vou ligar pra policia. _Disse Olivier indo até o telefone.

_Não precisa. _Disse Roger. _Eu sou a policia.

_Ah tá e agora eu fico bem mais aliviada. _Disse Juliana.

_Vamos Roger, o senhor está sendo detido por tentar ajudar uma idiota que não quer ser ajudada. _Disse Roger caminhando até a porta. _O senhor tem o direito de permanecer calado, enquanto ela perde as chances de encontrar o filho. Azar o dela. Agora vamos, vamos pra fora meliante.

Roger saiu ainda falando os direitos do “meliante” e bateu a porta ao deixar a casa.

_De onde saiu esse cara? _Disse Piedra com uma colher suja de chocolate na mão.

_Isso é de família. _Disse Juliana.

_Tia, tá tudo bem? _Disse Olivier soltando o telefone no gancho.

_Tá sim. _Disse Anne. _Gente vocês viram o que eu vi. Ele pirou de vez. Mais um pouco e ele ia bater em você aqui Ju.

_A verdade dói mesmo. _Disse Juliana. _E ele que tentasse pra ele ver.

Todos sorriram.

_Agora deixa o Bambi voltar pra cozinha. _Disse Olivier.

_Oli, nau liga pra o que ele fala não viu? _Disse Anne.

_Tudo bem tia, eu já me acostumei com o que falam. _Disse Olivier.

_Está ótimo. _Disse Anne.

Olivier já ia voltando com as garotas pra cozinha.

_Vão deixando tudo preparado lá que daqui a pouco eu vou fazer meu brigadeiro especial lá. _Disse Anne.

_Pode deixar Anne. _Disse Patrícia. _Eu vou fazer o mais difícil, abrir a lata do leite condensado.

_Difícil isso? _Disse Piedra. _Difícil mesmo é o que eu vou fazer. Lamber a lata.

Todos riram novamente antes dos três voltarem para a cozinha.

_Viu agora amiga, o que eu te falei? _Disse Juliana. _Eu sabia, que esse cara estava aprontando pra cima de você. E ainda veio me acusando tu viu?

_Nossa Ju, bem que todo mundo me avisou. _Disse Anne. _O Roger queria alguma coisa de mim, tenho certeza, qual o interesse dele em mim. Me ajudar que não era.

_Com certeza não. _Disse Juliana. _Ele sempre teve é inveja do Humberto, que era mais bonito, mais legal e o preferido de todo mundo, até da família. Ele queria é ficar perto de você amiga, pra ver se tu gostava dele igual tu gostou do Humberto, a história da visita lá é mentira.

_Mais eu já chequei, a policia de São Paulo disse que ele está nesse presídio mesmo, onde o Roger é diretor. Eu já chequei tudo. _Disse Anne. _É verdade, ele está lá mesmo.

_É. Mas tu viu quando ele falou que não pode acontecer essa visita. A vitima com o acusado. É impossível esse encontro entre vocês dois. _Disse Juliana.

_Aham, foi só tu apertar um pouquinho e ele soltou a verdade. _Disse Anne.

_Ainda bem que eu consegui tirar ele do teu pé. Por enquanto né Anne, porque tenho certeza que ele vai voltar a te procurar. _Disse Juliana. _Não cai na mentirada dele não heim amiga. Abre o olho. Esse ai é doido de pedra.

_Pode deixar Ju. _Disse Anne. _Tenho que parar de acreditar nas pessoas assim.

_Tu é inocente demais amiga. _Disse Juliana. _O mundo não é doce como tu pensa não, as pessoas são más. O mundo é egoísta, o amor é lenda agora Anne, não estilo de vida como era antes. Casamento feliz que durava séculos, acabou, isso não existe mais. Ninguém vive de amor como nas novelas. O dinheiro é o dono do mundo hoje.

_Com isso eu fico boiando. _Disse Anne. _Acredito nas pessoas, sou boba infantil, inocente, e o pior amo demais.

_Mas tem que ir controlando isso amiga. _Disse Juliana. _Percebi que tu mudou muito depois de todos esses anos. Não estou falando da cara, que essa continua a mesma, tô falando do jeito. Você está mais sociável.

_Mas foi exatamente isso que eu combinei com o Oli. _Disse Anne. _Quando a gente estava em São Paulo e íamos vir pra cá, prometemos um pro outro que seriamos mais sociáveis. Arrumar alguns amigos, conversar, marcar lanches um na casa do outro. Coisas desse tipo.

_Que bom Anne. Porque na época da escola, tu mal conversava com alguém, a não ser se fosse pra algum trabalho em grupo ou dever de casa. Nem cola tu passava pra turma. Por isso tu não tinha amigos. Todo mundo tinha medo de você, sei lá, ninguém tinha coragem de conversar e falr contigo, apesar disso sempre todo mundo escolhia tu como a mais bonita da escola todo ano.

_E você semrpe estava do meu lado, mesmo eu te tratando pior que um animal. _Disse Anne.

_Nem era tão ruim assim. Você só não conseguia me dar a atenção que eu te dava. Mas eu te entendia, sempre te entendi. Mais uma coisa tu nunca foi, falsa, eu sabia que o pouco da amizade que eu tinha vinda de você era sincera. _Disse Juliana.

_Pode ter certeza Ju. _Disse Anne. _Mas ainda bem que eu mudei, hoje tenho uma turma de amigos aqui.

_Que são uns 20 anos mais novos que tu mais tudo bem, amigo não escolhe idade né. _Disse Juliana.

_Amor não escolhe idade. _Disse Anne.

_Ah é, temos o Rafael agora. _Riu Juliana.

_Ele é fofo demais Ju, tem que ver. E lindo de morrer. _Disse Anne.

_Adoraria conhecer ele. _Disse Juliana.

_Como adoraria? Você vai conhecer ele. _Disse Anne. _Ele deve tá chegando daqui a pouco.

_Eu não posso esperar amiga, tenho mil coisas pra fazer. _Disse Juliana. _E tu querendo ser igual eu. Imagina.

_Ah, mas eu te admiro muito, é bem sucedida, chic, e tem dinheiro. _Disse Anne rindo.

_Não mais do que você. _Disse Juliana se levantando. _Tem um rostinho de quinze anos, a conta bancária cheia de zeros, um namorado lindo, uma casa perfeita, amigos, e ainda tem tempo de ver “vale a pena ver novo”.

Anne sorriu.

_Pode parecer querer demais, mas eu ainda não estou feliz por completo. _Disse Anne. _Quero encontrar o meu filho mais do que tudo nesse mundo, quero ter uma carreira de verdade, fazer alguma coisa que eu goste que é moda, e é claro ser mais do que feliz com meu Rafa.

_Ai Meu Deus. _Disse Juliana. _E também fala como uma adolescente. Tu tem diário também Daniela?

_Não, ainda não. _Riu Anne. _Acho que não cheguei na fase ainda.

As duas riram.

_Eu estou rindo pra não chorar viu. _Disse Juliana. _Amiga tu já reparou que o Rafa, está na mesma situação que você com o Humberto?

_Como assim? _Perguntou Anne.

_Ele é bem mais novo que tu. E tu era bem mais nova que o Humberto. _Disse Juliana.

_E aí? O que é que tem isso? _Disse Anne.

_Nada, só achei curioso. _Disse Juliana. _E as circustâcias são outras né? Tu tem mesmo é que mergulhar de cabeça nesse namoro pra esquecer o Beto de uma vez.

_Acho que isso vai acontecer amiga em breve. _Disse Anne. _O nascimento do bebê ajudou bastante nisso, mas eu esperava ficar com o bebê, ai tenho certeza que ia sumir de vez. Mas agora que eu to amando de novo acho que finalmente vai acontecer. Eu vou esquecer o Humberto.

_Dê graças a Deus por isso. _Disse Juliana andando.

_Não vai Ju, daqui a pouco ele já tá chegando ai. _Disse Anne. _Falei de você pra ele, ele quer muito te ver.

_Amor e eu também quero muito ver ele, mas não dá amiga tenho que fazer u monte de coisas ainda. _Disse Juliana. _Natal só faz aumentar o trabalho, queria eu ficar aqui lanchando com os amigos.

_Você pode ficar aqui lanchando com os amigos. _Disse Anne.

_Não. Não posso. _Disse Juliana. _Tu tem noção de como é difícil arrumar um Papai Noel essa época do ano, todos já estão contratados pelos shoppings. Não tem um Papai Noel modelo.

Toc, toc, toc! Fez a porta.

_Ai deve ser ele. _Correu Anne para a porta.

_Mesmo se for ele, eu já estou de saída amiga. _Disse Juliana atrás de Anne.

Anne abriu a porta correndo com Juliana logo atrás, e como Anne esperava era Rafael com João ao seu lado. Anne pulou no pescoço do rapaz e lhe deu um beijo. João virou os olhos e olhou para Juliana.

_Constrangedor né? _Disse Juliana para João.

_Com certeza. E o pior é que eles fazem isso sempre e eu ainda não acostumei. _Disse João.

_Jovens. _Disse Juliana.

Anne finalmente desgrudou de Rafael e disse:

_Entra gente, tá frio ai fora. _Disse Anne puxando Rafael com uma mão e João com a outra.

Ao passar por Juliana Anne quase derruba a amiga que sai do caminho pra deixar os três passarem.

_Ju fecha a porta pra mim. _Pediu Anne.

Piedra veio correndo da cozinha enquanto Juliana fechava a porta. Piedra pulou no pescoço de João como fez Anne em Rafael. Juliana novamente até o sofá curiosa para conhecer o novo amor da amiga, os compromissos podiam esperar.

_Piedra não faz isso tá cheio de gente aqui. _Disse João constrangido quando Piedra o largou.

_Tu não pode falar muito do teu amigo não né? _Riu Juliana.

_É. _Disse João sorrindo meio sem graça.

_Pois bem, vamos as apresentações. _Começou Anne. _Gente essa é minha amiga Ju. E Ju esse é o João, a namorada dele Piedra e esse lindo aqui é o Rafael, o meu Rafa.

_Percebi que ele é seu lá na porta. _Disse Juliana cumprimentando os garotos.

Patrícia vinha da cozinha toda suja de farinha e logo atrás vinha Olivier.

_Até que enfim né João? Onde tu tava? _Perguntou patrícia.

_Eu também quero saber Patrícia onde esses dois estavam. _Disse Piedra. _Que não atendiam a porcaria do telefone.

_Piedra pára de show. _Pediu João. _A gente estava atrás de um cliente pra Arte & Arte.

_E ai conseguiram a conta? _Perguntou Anne curiosa.

_Não. A gente não estava qualificado pro trabalho. _Disse Rafael. _O cara disse que não dá pra confiar numa empresa pequena como a nossa. Que a gente não tem experiência pra lhe dar com uma demanda muito grande.

_Vocês trabalham com publicidade? _Perguntou Juliana.

_Não. A gente tem uma empresa pequena de Designer no centro. _Disse Rafael.

_E isso que tu disse acontece sempre? _Perguntou Juliana.

_Aham, e é quase sempre. Por isso que a gente não consegue um serviço grande. _Disse Rafael. _Desde que a gente começou só surgiram três trabalhos. Só três. Ninguém confia no nosso trabalho, a gente cobra até menos pra ver se chama a atenção, mas não adianta.

_Olha guris, eu sou publicitária e posso dizer que o que essas empresas fazem está certo. _Disse Juliana. _Confiar numa pequena empresa, que não tem quase nenhuma experiência no mercado é um pouco difícil.

_A gente sabe. _Disse João. _Mas como a gente vai fazer pra sair dessa. Não temos experiência por isso ninguém nos contrata. Se ninguém nos contrata a gente nunca vai ter experiência.

_Há quanto tempo vocês começaram o negócio? _Perguntou Juliana.

_Faz pouco tempo. Acho que cinco ou seis meses atrás. _Disse João.

_Quem é parceiro com você? _Perguntou Juliana.

_Ninguém. _Disse Rafael. _Nós mesmos investimos o dinheiro e começamos. Somos só nós dois.

_Gurizada. _Disse Juliana. _Muita loucura o que vocês fizeram.

_Porque loucura? _Perguntou Piedra.

_Porque não se entra nessas coisas assim. _Disse Juliana. _É por isso que vocês não arranjam clientes. Pra entrar em um neg´coico desses precisa de parceiros. Parcerias, nem é como sócio não, pra indicar mesmo. Se vocês tivessem mais contatos seria mais fácil de conseguir clientes, porque um que confia passa a informação pra frente e assim vai. O negócio vai crescendo. Mas assim sem nada, fica difícil.

_A Ju é publicitária. Ela pode ajudar. _Disse Anne.

_Que legal, tu pode fazer uma campanha de divulgação pra eles então. _Disse Piedra.

_Melhor que isso. _Disse Juliana. _Se eu fizesse isso ia cobrar muito caro. Eu posso contratar o serviço de vocês.

_Pra quê? _Perguntou João.

_Pra trabalhar com a minha agência. _Disse Juliana. _Vocês começam com a gente e se eu gostar do serviço de vocês eu dou a conta pra vocês. Vocês passam a ser meus designers contratados e eu indico a empresa de vocês pra outros amigos meus.

_Seria ótimo. _Disse Rafael sorrindo.

_Eu estou com uma empresa muito ruim lá na agência. _Disse Juliana. _Sem criatividade, sem originalidade sabe? Preciso de algo mais jovem, mais fresco.

_Mas tu sabe explicar mais ou menos como vai ser? _Perguntou João.

_Sei. _Disse Juliana. _Vocês vão pegar a campanha que eu estou trabalhando agora. É pra uma loja masculina de roupas. Estava pensando em divulgar as fotos com um Papai Noel vestindo as roupas da loja. Mas isso é tão usado hoje em dia, que eu já estava desistindo da idéia. Igual eu estava falando com a Anne, vocês não sabem como é difícil achar um Papai Noel nessa época do ano, ainda mais que aceite tirar a roupa pras câmeras.

_Olha, só de você falar já tive várias idéias já. _Disse Rafael. _E ai, topa João?

_Claro que eu topo, seria nossa chance de sair do buraco de vez. _Disse João.

_Então vamos comemorar a isso. _Disse Anne sorrindo.

_Então agora eu posso ficar, já não preciso sair procurando Papai Noel pelos shoppings, não agüento mais. _Disse Juliana sorrindo.

Todos riram.

_Já pensei em algo. _Disse Rafael. _Já que está todo mundo nessa, pensei em colocar uns desenhos na campanha. O Olivier seria perfeito, os desenhos dele são incríveis tu já viu?

_Já, claro que já. _Disse Juliana. _São lindos, e eu já falei com ele que a gente precisa organizar uma mostra em alguma galeria pra ele expor os quadros dele. Mas ele fica com vergonha, nunca vi isso.

_Não é vergonha, é que meus quadros não são bons pra uma galeri... _Disse Olivier antes de ser interrompido.

_Ah... _Disseram todos juntos.

_Seus quadros são perfeitos Oli, pára de bobeira. _Disse Anne.

_É Oli, aquele da tua tia é o mais perfeito de todos. _Disse Piedra.

_Todos os quadros são perfeitos. _Disse Patrícia com os olhinhos brilhantes. _Como o artista.

_Parem de elogiar por favor, porque vocês são meus amigos e não conta. _Disse Olivier envergonhado e sorrindo sem graça. _Estão falando isso só pra me agradar.

_Deixa de ser modesto. _Disse João.

_Deixa, deixa. Isso é coisa de artista. _Disse Piedra. _tem que ser escondido se não ele não mostra. A gente rouba tudo e faz uma surpresa pra ele.

_Até que não é má idéia Piedra. _Disse Anne.

_Nem pensem nisso heim. _Disse Olivier.

Todos riram.

_Mas aqui, adorei a idéia Rafael. _Disse Juliana. _Vai ficar lindo a campanha com os desenhos do Olivier, porque não precisa de modelos, ele pode desenhar do jeito que ele quiser.

_Exatamente, é mais pratico, mais bonito, mais barato e é mais elegante. _Disse Rafael.

_E rápido também. _Disse João. _Depois que os desenhos tiverem prontos é só tratar as imagens no computador, escolher as cores da campanha, frase e essas coisas e finalizar o projeto a tempo pra natal.

_Maravilha! _Disse Juliana sorrindo. _Devia ter vindo aqui antes, se eu soubesse que vocês estavam aqui desperdiçados desse jeito, tinha usado vocês antes.

_Mas dá tempo não é Oli, de fazer os desenhos até pra antes do natal? _Perguntou Rafael.

_Depende do que vocês vão querer. Mas eu acho que d assim, trabalho rápido. _Disse Olivier. _É bom pra eu praticar antes da prova pra escola de artes.

_E todo mundo fica feliz. _Disse Piedra. _Pra completar seria perfeito se a loja fosse pra roupas femininas, eu podia ser a modelo.

_Tu modela? _Perguntou Juliana.

_Aham. _Respondeu Juliana cheia de orgulho.

_Mas Anne tu arrumou uns amigos muito proveitosos por aqui. _Disse Juliana. _Qual é o teu nome mesmo.

_Piedra Schreisen. _Disse Piedra.

_Então Piedra, agora não estamos precisando não. _Disse Juliana. _Mas a agência está sempre precisando de alguém assim do seu jeito. Tu faz um preço bom né? Porque normalmente as modelos cobram muito caro e a campanha fica pobre, porque investe muito no cachê da menina e não sobra dinheiro pra divulgação nem nada.

_Eu estou começando agora também. Já fiz algumas coisas, mas acho que meu preço é legal. Nem tenho porque cobrar muito, ninguém me conhece. _Disse Piedra. _Ainda.

_É assim que se fala guria. _Disse Juliana. _Então vamos comemorar. Esse lanche vai ser pra comemorar a amizade e ao trabalho, juntos.

_Com certeza. _Disse Rafael segurando a mão de Anne.

_E quem vai me ajudar lá na cozinha? _Gritou Olivier. _Pode vir todo mundo.

_Eu mexo, só isso. _Disse João.

_Eu te ajudo Oli, vamos lá. _Disse Juliana se levantando. _Vou preparar um biscoitinho caseiro pra vocês de lamber os beiços.

_Oba! _Disse Piedra e Patrícia juntas.

_Ai eu me lembro desses biscoitinhos. _Disse Anne. _Tu fazia lá no castelinho não era?

_Esses mesmos Anne, tu lembra? _Perguntou Juliana.

_Claro que eu lembro, eu pedia pra tu fazer. _Disse Anne. _Eu tava grávida né, comia tudo.

_Nem comia. _Disse Juliana. _Dava uma raiva dessa guria gente. Nem quando estava grávida ela era gorda. Ela parecia uma maçã no palito, só tinha barriga mais nada.

Todos riram enquanto se dirigiam pra cozinha.

No caminho Rafael apertou a mão de Anne e cochichou no ouvido dela:

_Obrigado meu amor.

Anne arrepiou por inteiro e seu coração pulou no peito. Mais que depressa ela colocou a mão no peito com medo que o coração fugisse tamanha era o tum tum. Anne olhou para Rafael sem acreditar que finalmente havia encontrado alguém que correspondia ao seu amor, alguém que tinha um brilho nos olhos como o dela ao se encararem. Ele lhe deu um beijo devagar e tudo em volta parou. De longe Anne ouvia a conversa dos outros indo pra cozinha, o passo deles no chão. Quando as paredes sumiram, o chão se abriu e  pouco a pouco bem lentamente todos também desapareceram, só restaram Anne e Rafael se beijando. Flutuando no nada, porque mais nada importava naquele momento, nada era mais especial do que aquela pessoa naquele momento, ninguém no mundo estava sendo amado tanto quanto Anne amava Rafael naquele momento. Com os olhos fechados Anne podia sentir as pétalas de flores caírem sobre seu rosto, podia ouvir os sinos tocarem nos seus ouvidos, podia sentir o gosto doce da boca de Rafael, seu amado. Era chocante para Rafael sentir um amor forte desses por uma mulher praticamente desconhecida, ele estava arrebatado por ela. Tinha se entregado ao amor quando comprou o anel de compromisso. Pra ele representava mais do que um simples objeto, era um laço eterno entre os dois, algo de sumo importância. E ele se estranhava com isso, não conseguia entender a sua devoção por Anne Marrie, essa mulher mágica, linda e perfeita que algum Deus ou anjo havia colocado no teu caminho, literalmente na sua frente. Era destino? Sorte? Não sabia ele responder. Era doce e calmo estar perto dela, confortável, delicioso sentir teus beijos, teu cabelo, tua boca, olhar nos olhos puros de uma garota que já era mulher. Se o Homem um dia se questionou se existe mulher perfeita, digo em todos os sentidos, O nome da perfeição é Anne Marrie. E Rafael sabia o que tinha nas mãos, que era um tesouro raro achado por poucos.

 

Parabéns Pirata, achou o X finalmente.

Esse dia vai ser longo, ainda mais com a nova convidada que vem para o lanche da galera. Finalmente a bruxa vai vir reclamar seu convite.

domingo, 12 de outubro de 2008

Capítulo 24: Ele está amando Anne Marrie

A campainha tocou. Anne foi correndo até a porta esperando que fosse Rafael. Mas para surpresa mas não menos esperada, apareceu Juliana.

_Eu Anne. _Disse Juliana com sua beleza grosseira.

_Hei Ju, entra. _Disse Anne feliz por receber a amiga.

Juliana passou pela porta cumprimentou a amiga e lhe entregou um vaso de vidro para o centro da mesa da sala.

_O quê é isso Ju? Não precisava. _Disse Anne ao pegar o vaso que ainda estava com um laço em volta.

_Imagina Anne, agora tu tá de casa nova, precisa de algo mais família, algo que te lembre de algo legal. _Disse Juliana. _Esse ai era nosso lá no castelinho lembra?

Anne olhou para o vaso e se lembrou perfeitamente do artefato que ficava no meio da sala, do amado castelinho onde ela morava com a amiga em São Paulo.

_Claro Ju, como eu poderia esquecer. _Anne disse feliz pelo presente que lhe trazia tantas recordações boas. _Nossa eu nem sei o que dizer, adorei o presente, me fez lembrar de muitas coisas legais, eu adorava aquela casa.

_Eu também. _Disse Juliana.

_Aham. _Disse Anne ainda encarando o vaso. _Mas entre Ju, pode sentar, a casa é sua também.

_Obrigada amiga. Onde coloco isso? _Disse Juliana andando até o sofá e mostrando a bolsa para Anne.

_Ah, joga ai em qualquer lugar mesmo. _Disse Anne sem olhar, e ainda encarando o vasinho.

Como se o vaso fosse quebrar com um toque mais forte, Anne o levou devagar até o centro da sala. Era mais do que um vaso para ela, era uma lembrança. De uma vida antes sem problemas, onde ela ainda tinha o filho, uma casa, uma amiga e era mimada por todos, com medo do que pudesse acontecer com ela. Como se isso ainda não acontecesse.

_Nossa Ju, adorei que você trouxe o vasinho. Eu adorava esse vasinho. _Disse Anne que não cansava de demonstrar sua felicidade em receber o presente de Juliana.

_Quê isso amiga, ele sempre foi seu, eu só estava esperando tu se firmar pra poder te dá-lo de volta. _Disse Juliana enquanto Anne depositava o vaso com cuidado no centro da mesa da sala.

_Pronto! _Disse Anne com um sorriso. _Ficou lindo ai, bem no centro como era na nossa casa antigamente.

_Ficou ótimo amiga. _Disse Juliana sorrindo junto com Anne.

_Estava com saudades suas já Ju, muito tempo que não vem aqui. _Disse Anne. _A última vez foi no dia da mudança não foi?

_Acho que sim. _Disse Juliana. _Mas tu sabe né? Vida de publicitária ninguém merece, é tudo corrido, em cima da hora. A gente não tem vida social, não dá tempo.

_Eu imagino. _Disse Anne. _Ai, eu queria ser assim igual a você, mulher de negócios, ocupada, daquelas que sai correndo pelas ruas atendendo telefones importantes, marcando reuniões, indo nas melhores festas, tudo isso e mais. Queria ser ocupada.

_Não é tão mágico assim não viu. _Disse Juliana.

_Deve ser perfeito, igual no diabo veste prada, eu não sei do que aquela menina reclama tanto, ela tinha o emprego dos sonhos, uma carreira, em vez disso escolheu o amor. _Disse Anne.

_Mas eu estou bem longe de ser a Anne Hathaway. _Disse Juliana.

_Pois eu bem que preferia ser Anne Hathaway do que Marrie. _Disse Anne desanimada.

_Tu é tão boa quanto ela amiga. _Disse Juliana. _E só fala que queria ser assim, por que como a personagem, você também escolheu o amor, do que uma vida.

_E é óbvio que eu me arrependo né Ju. _Disse Anne. _Olha você, escolheu a carreira e hoje está ai bem da vida, podendo se dedicar a qualquer homem.

_Quisera eu me dedicar a qualquer homem, e de preferência um que eu queira. _Disse Juliana. _Os que eu quero não me querem por que não aceitam me dividir com o meu trabalho.

_Meu Deus, então é verdade. _Disse Anne. _A história do livro é verdade?

_Mas sem a moral no final. _Disse Juliana.

_Mas tua história ainda não acabou. _Disse Anne. _Você pode encontrar alguém que te aceite você como você é, com teu trabalho e tudo.

_Deus te ouça amiga, mas tá difícil. _Disse Juliana.

_Sorte pras duas. _Disse Anne.

As duas sorriram.

_Eu não vou nem perguntar por que você não seguiu alguma profissão né? _Disse Juliana. _É obvio que não deu tempo de fazer anda, mas tu não disse que ia começara a faculdade de moda aqui?

_É, vou prestar vestibular no meio do ano que vê, não deu tempo de estudar então eu resolvi esperar pra eu estar mais preparada. _Disse Anne. _Por enquanto eu estou fazendo um curso de modelista. Até que estou me saindo bem.

_Que bom amiga. _Disse Juliana. _Tenta mesmo, tenho certeza que tu é um talento perdido. Sempre foi boa com essa cosias de moda, vai tirar de letra. Dom você tem.

_Obrigada amiga. _Disse Anne. _Mas como tá tua vida amorosa Ju, tá sem ninguém mesmo?

_Sério Anne. Eu não disse brincando não. _Disse Juliana. _É difícil ter tempo pra sair, pra arrumar alguém. Já namorei todo mundo da agência, mas eles são uns idiotas, não dá pra ter anda sério com eles. Só tive um namoro sério desde que mudei pra cá, e só durou porque ele era muito bonzinho, nem eu agüentaria tanto tempo. Tipo, a gente não se via durante a semana, eu chegava ele estava dormindo, eu levantava ela já tinha saído, nos fins de semana eu tinha reuniões pra conseguir as contas da agência, tinha vezes que ele me acompanhava mais coitadinho ele ficava deslocado.

_O que ele fazia? _Perguntou Anne.

_Ele era vendedor, numa loja lá no centro. Então tinha que dormir cedo e levantar cedo pra trabalhar, a gente nunca se via. Horrível, foi até melhor que acabou pra ele ter alguém melhor. Não eu. Eu não merecia tanto e ele não merecia tão pouco.

_Nossa Ju! _Disse Anne.

_É bonitinha, ainda quer ser uma mulher bem sucedida? Dá trabalho, e tu fica sem transar.

Anne sorriu.

_E tu amiga, depois do Humberto quantos já te levarão a loucura? O cemitério deve estar sem lugar já. _Brincou Juliana.

Anne sorriu da piada.

_Agora é engraçado não é? _Disse Anne sorrindo. _Mas não foi nada fácil o que aconteceu comigo e com o Humberto.

_Eu lembro né amiga. _Disse Juliana. _Eu estava lá, ele era o meu namorado.

Anne sorriu novamente.

_Mas isso não foi tão engraçado. _Disse Juliana séria.

Anne parou de rir aos poucos ao notar que Juliana ainda se sentia magoada com o que aconteceu. Juliana olhou pra amiga e em seguida começou a rir.

_Enganei você né amiga? _Disse Juliana sorrindo.

_Credo Ju, tu me assustou. _Disse Anne sorrindo também. _Eu pensei que tu tinha raiva de mim ainda por causa disso.

_Imagina Anne. _Disse Juliana. _Eu tenho que te agradecer, aquele idiota quase me matou, e graças a ele eu não posso mais ter filhos. Você me salvou de coisa pior, eu estava cega por aquele idiota.

_Te salvei não. Na verdade eu nem pensei em você Juliana, eu queria ele, se você estava com ele isso pouco me importava. _Disse Anne. _Acabou que o que ele não fez com você ele fez comigo, acabou com a minha vida.

_Você acabou coma dele. _Disse Juliana. _E eu te agradeço por isso.

_Ai pára Ju, agora todo mundo fica me agradecendo por eu ter matado o Humberto. _Disse Anne. _Eu não fiz aquilo por ninguém, eu fiz pelo meu filho e por mim.

_Eu sei amiga, desculpa. _Disse Juliana. _Mas quem mais está te agradecendo por isso.

_O irmão dele, aquele lembra, o Roger? _Perguntou Anne.

_Lembro, era um mal educado, grosseiro, não era? _Perguntou Juliana.

_Esse mesmo. _Disse Anne.

_Ele odiava o irmã, nem é de se espantar que ele queria ver ele morto, aposto que ficou com tudo que era dele. _Disse Juliana.

_Ah já disso eu não sei. _Disse Anne. _Só sei que ele vive me agradecendo por ter matado o Beto. Ele até está me ajudando a procurar meu filho.

_Sério Anne? _Se chocou Juliana. _E tu aceita assim, quietinha?

_Aham. Eu não tenho muita opção. _Disse Anne.

_Como assim amiga, ele é irmão daquele cafajeste, irmão maior ainda, ele que ensinou tudo pro Beto, tu vai confiar nele. É teu filho Anne. _Disse Juliana.

_Eu sei Juliana, é difícil as vezes, mas eu já me acostumei com ele. _Disse Anne. _Eu não tenho escolha, o caso ainda está sendo transferido aqui pro sul, as buscas estão paradas. E o suspeito, o seqüestrador do meu filho está preso na penitenciaria que o Roger é diretor. Ele me passa informações, me ajuda com dados deles, a gente está chegando perto do meu filho a cada dia.

_Ele é diretor da penitenciária do possível seqüestrador do teu filho? _Perguntou Juliana. _Anne, isso não é suspeito o bastante?

_O quê? _Perguntou Anne.

_Ele ser o diretor desse presídio. _Disse Juliana. Amiga, ele é uma pessoa pública, famoso pelo nome da família que ele carrega, ele não ia se comprometer assim, sujar o nome dele.

_Como assim Ju? Não estou entendendo. _Disse Anne.

_Anne, escuta! _Pediu Juliana se aproximando da amiga. _Ele pode muito bem ter pego a ficha desse sujeito e feito uma carteira falsa pra pegar teu filho, ou até mesmo pago pra ele ir até São Paulo aquele dia, ou ter diminuído a pena dele sei lá. Isso acontece amiga.

_Não acredito. _Disse Anne pensando nos fatos. _Seria arriscado demais pra ele, e pra quê? Em troca de quê ele queria o meu filho?

_Como pra quê Anne? _Disse Juliana séria. _Por ciúmes, inveja do irmão.

_Será? _Disse Anne pensativa.

_Claro amiga, isso é possível sim. _Disse Juliana.

Olivier veio correndo do quarto.

_Tia eu vou até a casa da Pi... _Disse Olivier antes de ver que Juliana estava na sala. _Oi Juliana.

_Oi Olivier, como tu vai? _Perguntou Juliana com um sorriso.

_Estou bem e você? Demorou pra visitar a gente heim. _Disse Olivier indo até o sofá.

_Trabalho querido, não tenho tempo pra nada. _Disse Juliana.

Os dois olharam pra Anne juntos e a garota estava olhando para a parede oposta, perdida em pensamentos.

_O que ela tem dessa vez? Já te falou do João né? _Disse Olivier acostumado com o hábito da tia de sair da órbita por alguns minutos.

_Que João? _Perguntou Juliana curiosa. _Não ela não estava falando de nenhum João não.

_Do Rafael então. Esses dois não se desgrudam mais. _Disse Olivier sorrindo.

_Rafael? _Perguntou Juliana que também não havia ouvido falar no rapaz.

_E então do que afinal vocês duas estavam falando pra ela ficar assim? _perguntou Olivier curioso.

_Do Roger. _Disse Juliana.

_Ah tá. _Entendeu Olivier. _Esse ai fica enrolando ela dias e dias, e ela ainda acredita nele. Já falei pra ela se afastar. Mas ninguém escuta um garoto de 15 não é? Fazer o que?

_Mas ela vai escutar uma mulher de 39. _Disse Juliana jogando uma almofada na amiga. _Eu também não acho legal, ela ficar aceitando ajuda desse tal de Roger. Ela não pode confiar nele assim, ele não é de confiança.

_É o que eu sempre digo pra ele Juliana, mas ela é Anne Marrie, não adianta discutir, quando ela quer alguma coisa, via até o fim. _Disse Olivier.

_Eu conheço essa menininha tem bastante tempo já Olivier, sei do que tu tá falando. _Disse Juliana. _O que me dá mais raiva é o que esse tempo passou pra mim, mas pra ela não. Continua novinha e linda como sempre.

_Assim como a cabeça dela, de uma garota de 18 ainda. _Disse Olivier.

_Espero que o coração tenha mudado, se não todos corremos perigo. _Disse Juliana. _Se o coraçãzinho dela mandar, ela obedece meu filho. E sai de baixo!

_Eu sei disso. Conheço minha tia bem. _Disse Olivier.

_HEI! Eu ainda estou aqui. _Disse Anne ao ouvir as ultimas palavras da conversa dos dois.

_Ah Olivier, ela já voltou da lua. _Disse Juliana sorrindo junto com Olivier.

_E ai tia, alguém lá te falou que o Roger não é de confiança? _Disse Olivier.

_Ou vai ter que ir mais longe pra descobrir isso, quem sabe Marte. _Disse Juliana.

Os dois sorriram.

_Muito engraçada a dupla. _Disse Anne. _Mas isso não trata de confiança ou não, se trata de encontrar meu filho e se o Roger é bonzinho ou não isso pouco me importa, o que importa que ele é o único que pode e que está me ajudando a encontrar meu filho.

_Isso não é verdade. _Disse Juliana. _Se a gente pudesse fazer alguma coisa.

_Pois não podem, é por isso que eu preciso dele, sendo irmão ou não do Humberto. Pouco me importa o que ele quer, ou o que ele é. Aceitaria ajuda até do demônio pra achar meu filho e parar de sofrer assim. _Disse Anne.

_Credo amiga, calma. _Pediu Juliana. _A gente sabe o quanto teu filho é importante pra ti, mas não precisa exagerar.

_Eu falei Juliana, ela ainda tem cabecinha de uma menininha. _Disse Olivier.

_Sai daqui você! _Mandou Anne.

_Eu estava de saída mesmo. _Disse Olivier indo até a porta.

_Bom mesmo. _Disse Anne. _Espera Oli!

Olivier parou antes de pegar na maçaneta e virou lentamente.

_O quê foi? _Perguntou o garoto fingindo estar com raiva.

_Desculpa a titia, e prepara um lanche pra nós. _Suplicou Anne.

_Ela me usa demais meu Deus. _Disse Olivier indo até as duas novamente. _Ela fazia isos com você também Juliana, quando vocês moravam juntas?

_Na verdade fazia sim, Olivier. _Disse Juliana.

_O quê isso aqui? É um complô contra mim agora? _Disse Anne. _Resolveram juntar os dois e me punir pelos meus pecados?

_Exagerada! _Disseram Olivier e Juliana juntos.

_Nem sou. _Disse Anne rindo junto com os outros.

_Então tia, eu ia chamar os meninos pra gente fazer alguma coisa hoje a tarde, eu posso chamar eles pra virem aqui tomar o lanche com a gente? _Perguntou Olivier.

_Claro, que pode Oli. _Disse Anne sorrindo. _Tu vai chamar o Rafa também?

_Claro né tia! _Disse Olivier.

_Então eu tenho que me arrumar, antes que ele chegue, tô um lixo. _Disse Anne.

_Essa roupa que tu tá usando eu iria usar só em um dos meus melhores convites para um jantar e tu ta usando dentro de casa. _Disse Juliana.

_Anne Marrie é luxo. _Disse Olivier antes de sair pela porta correndo.

_Sério Ju, eu preciso me trocar! _Disse Anne dando um pulo do sofá em direção ao quarto. _A gente conversa lá no quarto.

Juliana agarrou o braço da amiga e a forçou a sentar novamente.

_Primeiro a senhora vai me contar quem é esse tal de Rafael e porque essa preocupação toda em mudar de roupa, sendo que essa ai está perfeita. _Disse Juliana.

_Eu te explico tudo e mais um pouco. _Disse Anne. _Mas lá no quarto, enquanto eu troco de roupa.

E Anne conseguiu se livrar dos braços da amiga e seguiu correndo para o quarto, seguida por Juliana resmungando.

_Trocar de roupa pra quê meu Deus? A menina tá parecendo uma princesa já, só falta o castelo. Pra quê isso? _Reclamava Juliana atrás de Anne.

Enquanto as duas estavam no quarto colocando a fofoca em dia, Olivier estava na casa de Piedra convidando a garota para o lanche em sua casa.

_Vamos Pi, você não está fazendo nada mesmo. _Disse Olivier sentado na cama da garota.

_Calma Oli, eu estou tentando falar com o João. _Disse Piedra. _Esse guri não atende ao telefone de jeito nenhum.

_Onde ele tá? _Perguntou Olivier enquanto Piedra andava de um lado pro outro no quarto.

_Com o Rafael, com quem mais ele estaria. _Disse Piedra nervosa.

_Calma Pi, ele não devem estar fazendo nada de errado. _Disse Olivier.

_Mas não devem mesmo. Eles me falaram que iam trabalhar lá na agência, mas ninguém atende o telefone de lá também. _Disse Piedra.

_Vai ver eles não ouviram tocar. _Disse Olivier.

_Vai ver eles não estão lá, não é Oli? _Disse Piedra nervosa.

_Calma Pi, eles devem ter saído pra resolver alguma coisa. _Disse Olivier.

_A agência deles está de mal a pior Oli, eles não ganham dinheiro nem pra sustentar as despesas da loja. _Disse Piedra. _A sorte é que os dois tem dinheiro pra segurar tudo, mas de lucro, eles estão no zero.

_Nossa que barra, eles nem falam muito do trabalho né. Eles só comentaram uma vez comigo assim por alto. _Disse Olivier.

_Eles tem é vergonha isso sim. _Disse Piedra andando de um lado pro outro com o telefone na mão. _Principalmente o Rafael, a família dele fica de cima sabe, pra saber se está tudo bem, eles cobram dele o tempo todo. Lá ele é a ovelha negra da família sabe?

_Sei bem como é que é. _Disse Olivier.

_Onde estes guris se meteram? _Se perguntava Piedra a cada cinco minutos.

Os dois ficaram no quarto esperando notícias dos meninos por mais uns dez minutos e nenhum deles dava resposta. Cansada Piedra sentou na cama ao lado do novo amigo Olivier.

_E tu vai chamar a Pati pro teu lanche? _Perguntou Piedra.

_Não sei ainda. _Disse Olivier. _A última vez foi bem estranho não é?

_Com certeza. Ela se apaixona rápido né? _Disse Piedra.

_Foi horrível, fiquei muito sem graça não sabia o que fazer, ela estava dando de cima mesmo. _Disse Olivier. _E eu tentava sair fora, mas não adiantava nada.

_Mas porque que ela cismou assim contigo? _Perguntou Piedra.

_Eu não sei. _Disse Olivier. _Eu lembro que uma vez eu falei pra ela que ela era bonita, pensei até em fazer um quadro dela, mas isso não quer dizer que eu queria ficar com ela. A menina deve ter surtado.

_Nunca vi a Patrícia gostar de ninguém assim, mesmo porque ela ainda é novinha né? _Disse Piedra. _Mas alguma coisa deve ter acontecido pra ela encantar contigo assim, o que nem é tão difícil né Oli?

Piedra sorriu e Olivier se envergonhou.

_Pára Piedra! _Pediu Olivier.

_Ah Oli, deixa de ser chato, o teu charme é esse. _Disse Piedra sorrindo. _Tu sabe que é bonito e finge que isso é normal, aproveita.

_Aproveitar o que Piedra? _Disse Olivier sem graça. _Beleza não é tudo não.

_É por isso que tu é especial. _Disse Piedra. _Além de bonito, tu é inteligente, maduro, responsável, tem um papo legal e o melhor é sensível. Acho isso lindo.

_Tem gente que não acha muito. _Disse Olivier.

_Que se danem os outros. _Disse Piedra. _Só sei que a Patrícia deve pensar igual a mim. E eu tô falando sério se eu não já amasse o meu João, tu estaria no topo da minha lista.

Olivier queria sumir dali, pra evitar o embaraço.

_Não precisa ficar vermelho seu bobo. Eu já parei de falar, seu que tu não gosta. _Disse Piedra sorrindo. _Mas agora é sério, tu devia tentar ser modelo, é novo ainda. Tem maior chance de conseguir.

_Eu modelo? _Disse Olivier. _Claro que não né Piedra. Eu fico do outro lado, pintando o belo e o que não é belo eu transformo. Afinal tudo é bonito, só depende de como você olha.

_Ai meu Deus, depois pergunta por que que a pati tá apaixonada, ninguém resiste aos teus encantos Principezinho. _Disse Piedra.

_Principezinho? _Riu Olivier. _Ai meu Deus, tu é boba demais.

_Agora vou te chamar assim agora tá. _Disse Piedra.

_Não! O João vai ficar bravo. _Se preocupou Olivier.

_Vai nada, ele sabe que eu amo ele demais. _Disse Piedra. _Qualquer coisa é só eu falar que ele é meu Rei e tá tudo resolvido. Homens, quando se sentem superiores está tudo perfeito.

_Não tenho tanta certeza. _Disse Olivier preocupado.

_Ai calma Oli. _Disse Piedra sorrindo. _E a Anne, falou o que ela e o Rafa fizeram ontem?

_Não. _Se chocou Olivier por não saber da história. _O que?

_Tu não sabe? _Riu Piedra. _Eu não acredito que ela não te contou?

_Não, ela não me contou. _Disse Olivier revoltado. _Eu vou matar ela depois.

_Ela veio aqui ontem me contar. _Disse Piedra.

_Ela veio te contar aqui, e não me contou? _Se chocou novamente Olivier.

_Ela é louca, adoro tua tia. _Riu Piedra.

_Mas e aí? Conta o que eles fizeram. _Pediu Olivier.

_Tá. _Piedra sorriu. _O Rafa foi até na tua casa ontem e chamou tua tia pra sair. Ela disse que nem pensou em nada não, pensou que eles iam pra praça de novo, como sempre. Ele levou ela até o carro e vendou os olhos dela.

_Ai meu Deus, que romântico. _Disse Olivier animado com a história.

_Que romântico que nada, ele fez à mesma coisa comigo. _Disse Piedra.

_Retiro o que eu disse. _Disse Olivier. _Mas continua.

_Tá bem. _Disse Piedra excitada com a história. _Ele levou ela até um campo de golf que tem lá no centro. Tu acredita que ele tinha armado um jantar francês pra ela lá. Tinha mímico e tudo.

Os dois riram.

_Não acredito. _Disse Olivier.

_Pois é verdade filho. _Disse Piedra. _Conversa vai conversa vem, ele mandou colocar um anel dentro de um croissant, pra dar pra ela na hora da sobremesa. É, a Anne disse que quase perdeu os dentes na hora que mordeu.

_Um anel? Então a coisa ficou séria mesmo? _Disse Olivier de boca aberta.

_Desde aquele dia do passeio né? O Rafa não fala em outra coisa, ele está encantado com tua tia de verdade. _Disse Piedra.

_Mas eu pensei que não ia dar em nada, aquela doida não me contou nada disso. _Disse Olivier. _E ela aceitou o anel?

_Claro né Oli. Agora os dois então oficialmente comprometidos. _Disse Piedra sorrindo.

_Meu Deus! _Disse Olivier. _Mas tem só duas semanas que eles estão juntos, não tá muito cedo não?

_Eu acho que não. _Disse Piedra. _Eles só estão namorando, não estão noivos não. Está tudo ótimo. Só quero ver tu entrando na igreja pra entregar as alianças.

Piedra riu.

_Que aliança garota. _Disse Olivier. _Não acredito que a minha tia esteja gostando do Rafael até esse ponto não.

_Olha o ciúmes. _Disse Piedra.

_Não é ciúmes. _Disse Olivier. _Mas eu já te contei como minha tia é, ela ama demais, minha mãe fala que ela é doente com isso, com essas coisas. E ela nem comentou comigo. Ela não ia ficar com ele se não tivesse gostando relamente. Isso pra ela é coisa séria.

_Isso pra mim, é ciúme da titia. _Zombou Piedra. _Tu devia é pegar a Patrícia pra ti também e aproveita e casa todo mundo junto. Eu e o João, a Anne e o Rafa, tu e a pati. Ia ser lindo né?

_Me tirando dessa história está ótimo. _Disse Olivier.

_Ai meu Deus que menino sério esse. _Disse Piedra. _E até agora esses cabeçudos não responderam.

_Depois tu fala com eles, vamos embora logo, minha tia a amiga dela estão esperando a gente. _Disse Olivier puxando o braço de Piedra. _Deixa um recado, quando eles chegarem eles vão lá pra casa.

_Tá bem. _Disse Piedra. _Mas tá faltando chamar a Pati. Ou tu não quer chamar ela?

_Ai não sei Pi. _Disse Olivier. _Eu quero chamar, mas não vou agüentar ela em cima de mim igual aquele dia não.

_É só tu falar que não quer nada com ela e pronto. _Disse Piedra.

_Parece fácil, mas eu não quero magoar ela. _Disse Olivier.

_Ai Oli, tu é bonzinho demais. _Disse Piedra. _Se tu não quer ficar com a menina fala de uma vez, quanto mais tu esperar, mas ela vai apaixonar por ti. Se tu disser de uma vez e ela ficar com raiva problema é dela, mas ninguém vai ficar enganando ninguém.

_É verdade. _Concordou Olivier.

Piedra levantou da cam, passou a mão na bolsa e puxou Olivier da cama:

_Então vamos de uma vez chamar a guria, bom que dá tempo desses meninos chegarem.

_Tá bem, vamos lá. _Disse Olivier desanimado.

 

Anne já estava pronta para o lanche, uma blusinha branca com as mangas fofas e uma saia rosa soltinha até os joelhos a deixavam ainda mais com aspecto de boneca. As duas amigas voltaram pra sala para terminar o papo.

_E ai amiga, como foi o primeiro beijo? _Perguntou Juliana.

_Foi perfeito Ju. _Disse Anne. _A gente tava nesse passeio que eu te falei sabe?

_Aham, o que foi todo mundo dessa turminha ai da frente? _Disse Juliana.

_É. _Disse Anne. _Ele estava morrendo de vergonha, tu tinha que ver que gracinha Ju. Eu tentando puxar assunto, pra ver se ele soltava mais e nada. Ele estava nervoso demais. Depois ele até me disse que foi porque me via sempre nas revistas e tals dava um pouco de medo de ficar tão perto de mim daquele jeito.

_Ou talvez porque tu matou um homem né? Isso assusta qualquer um. _Disse Juliana.

_É. Com certeza isso também dificultou as coisas. _Concordou Anne.

As duas sentaram no sofá.

_Ai assim, depois de um tempinho até chegar na pracinha do moinho, ele ficou muito nervoso, mas foi passando com o tempo sabe? _Disse Anne animada. _Você tinha que ver que gracinha Ju. Ele é perfeito, inteligente e bonito também, igual o...

_Já sei quem. Continua. _Disse Juliana.

_Tá. _Disse Anne assustada com a comparação que ia fazer. _Mas ele é muito diferente dele. Ele gosta de mim sabe, eu sinto, não é igual ao Humberto que eu não sabia como que estava o humor dele todo dia, se eu podia falar uma coisa ou não. Com o Humberto eu ficava pisando em ovos, só pra ter um pouquinho da atenção dele. O Rafa é diferente, ele é carinhoso demais Ju, tu vai conhecer ele daqui a pouco.

_Tá, mas e ai, como foi quando tu chegou lá na pracinha com ele? _Perguntou Juliana curiosa.

_Quando chegou lá, ele já estava bem mais calma, já estava falando mais, mas foi ai que eu percebi que ele estava com vergonha não de mim, mas dos amigos dele. Ele me chamou pra conversar bem longe deles, me puxou para um canto lá. Nossa, ai ele mudou completamente, falou dele, da família, de tudo sabe, ele só não fazia muita pergunta sobre minha vida, com medo da resposta.

-Ou porque ele já sabia né Anne? _Disse Juliana.

_É. _Disse Anne. _Mas eu nem ligo que falem, que perguntem, se eu ligasse eu nem saia de casa.

_Tu não sai. _Disse Juliana.

_Não saia Ju. Agora que eu conheci os garotos e o Rafa especialmente, não tem porque ficar em casa. Antes tudo bem, o que eu ia ficar fazendo na rua sozinha. Agora não eu tenho amigos. _Disse Anne sorrindo.

_Tô ficando com ciúmes heim. Tu nunca foi de ter muitos amigos, agora tem vários. _Disse Juliana.

_Eu nunca tive tempo de ter muitos amigos. _Disse Anne.

_Teve sim, só não conseguia. _Disse Juliana. _Tu estudava na mesma escola que eu você não conversava com ninguém, era muito fechada, calada, e as pessoas não gostavam de você porque tu as tratava mal, só queria saber de Humberto, Humberto.

_Eu mudei bastante Ju. _Disse Anne.

_Não tô vendo. _Disse Juliana.

_Eu e o Oli fizemos um acordo de sermos mais sociáveis, mudar de vida mesmo. Ele também era igual eu antigamente, não dava abertura pras amizades. _Disse Anne. _Eu não sei ele, mas eu só me defendia preferia ficar sem nenhuma amizade do que com algumas amizades falsas. Com ele deve ser o mesmo, e eu era feliz não precisava de ninguém.

_Só do Humberto. _Disse Juliana.

_É só disso. _Disse Anne. _Até hoje eu não consigo explicar o que eu sentia por ele Ju, era forte demais.

_Eu sei, é amor Anne, obsessão. _Disse Juliana. _Tu amou demais o Beto, tu queria ficar com ele mesmo que ele não quisesse.

_Eu lembro como era. _Disse Anne olhando pra baixo. _Só fui deixando de amar ele quando eu fiquei grávida. Alias foi por causa do bebe que eu fiz aquilo tudo, ele era meu novo amor, e como o Humberto tentou impedir isso, eu não tive escolha.

_O Humberto não tentou impedir nada sua doida. Ele nem tava com o neném. _Disse Juliana. _Você podia ter evitado ter matado ele, porque tu não olhou no quarto do bebê primeiro criatura? Tu não ia matar ele se tivesse visto.

_Sabe o que é pior, é que eu acho que eu mataria de todo jeito. _Disse Anne. _Nunca falei isso, mas eu precisava fazer aquilo Ju. Eu sempre coloquei a culpa no meu filho, mas eu precisava fazer aquilo. Eu não podia mais viver se soubesse que o Humberto estava com outra, feliz. Entendeu? Eu não conseguia entender porque não eu? Eu deveria estar no lugar da Poliana. Eu não conseguia disfarçar isso, por mais que eu quisesse. Quando eu matei ele, senti um alivio tão grande, uma liberdade sem tamanho. Eu não precisava amar mais quem não queria me amar, eu me libertei. Era a única forma de deixar de amá-lo Ju. A morte.

Juliana ficou calada enquanto Anne se perdia em pensamentos. Juliana engoliu seco e disparou:

_Credo amiga, que medo de ti. Tu nunca falou assim, do dia da morte do Humberto, não desse jeito. _Disse Juliana. _Não repita isso pro Olivier se não ele nem dorme a noite viu.

_O quê? _Perguntou Anne sem prestar atenção. _Ah tá, eu nunca disse isso antes. Mas é verdade Ju.

_É bem perturbador ouvir também. _Disse Juliana.

_Mas o mais legal é que eu estou sentindo isso de novo. _Disse Anne. _O Rafael esta me surpreendendo, ele é exatamente o oposto do Humberto, eu não entendo porque eu estou gostando tanto dele assim.

_Porque graças a Deus, nesse aspecto o tempo fez alguma coisa em você. _Disse Juliana. _Agora era de se esperara que tu fosse se apaixonar por alguém melhor do que Humberto, depois de tudo que tu passou. Teu coração cansou de sofrer, agora acho que ele quer amar de verdade.

_Que bom. _Disse Anne.

_Mas tu tá apaixonada? _Perguntou Juliana.

_Ah não sei Ju, fico meia confusa as vezes, é diferente o que eu estou sentindo pelo rafa do que eu sentia pelo Humberto. _Disse Anne.

_É porque é um amor diferente. _Disse Juliana. _Saudável, puro, sem fixação.

_Mas eu quero ver ele toda hora, quero beijar, ficar perto. _Disse Anne.

_Isso é normal amiga, isso é amar. Agora, matar, quando tu começar a pensar nessas coisas, sai fora, antes que aconteça o pior. _Disse Juliana.

_Isso vai ser quase impossível de acontecer. _Disse Anne. _Eu nunca iria machucar o Rafael.

_Como também não ia machucar o Humberto. _Disse Juliana. _O que você sentia pelo Humberto era um amor egoísta amiga, tu queria ele de qualquer jeito pra você, ele querendo ou não, se tu não pudesse ficar com ele ninguém mais podia, isso que aconteceu contigo. Agora se tu está gostando desse Rafael e começar a namorar com ele, pense no bem dele, no máximo o que será melhor pros dois, nunca pra você. Porque se tu for egoísta na hora de amar, tu vai cair na mesma armadilha de antes.

_Eu já estou namorando. _Disse Anne levantando a mão com o anel.

Juliana ficou de queixo caído com tão singela peça, um fino anel de ouro, com dois pequenos, mínimos diamantes em forma de folha que se entrelaçavam em cima da jóia.

_Que coisa mais linda amiga! _Exclamou Juliana sorrindo. _Esse cara só pode estar de brincadeira contigo.

_Não é lindo? _Riu Anne. _O Humberto nunca me deu nem uma bala.

_Ele te deu uma coisa bem maior que isso amiga, um filho. _Disse Juliana segurando a mão da amiga para ver melhor, sentir no toque.

_É verdade. _Concordou Anne. _Mas Ju tu tinha que ver o que o Rafa aprontou pra me dar esse anel, foi a coisa mais linda cara. Um jantar.

_Jura? _Disse Juliana sem acreditar em tanto romance. _Esse menino sabe o que ele está fazendo? Ele está amando Anne Marrie.

_Deixa de ser idiota garota. _Disse Anne rindo. _Eu sou normal como qualquer outra pessoa.

_Ah, não é não. _Disse Juliana ainda segurando a mão de Anne.

_A única diferença entre nós é a idade. _Disse Anne.

_Que idade? Só olhando tua identidade pra saber sua verdadeira idade. Tu deve parecer ser mais nova que ele, tenho certeza. _Disse Juliana.

_É ninguém acredita que eu tenho 38. _Disse Anne. _Ele disse que eu sou a melhor mulher do mundo, tenho experiência de uma mulher mais velha e rosto de uma menina mais nova.

_Que experiência? _Zombou Juliana.

_Deixa ele acreditar não é. _Riu Anne.

_Mas me conta como foi o jantar? Ele ajoelhou? _Perguntou Juliana.

_Não, nem isso. Foi melhor. _Disse Anne. _Eu estava aqui assim de bobeira, ai ele me ligou e pediu pra eu me arrumar que ele ia me levar pra algum lugar, mas que era surpresa. Ele apareceu aqui na porta todo arrum...

A campainha tocou.

_Pode entrar Oli. _Gritou Anne pensando que era Olivier com o resto da turma.

Mas a campainha voltou a tocar.

_Meu Deus, que menino surdo. Peraí Ju. _Disse Anne se levantando pra ir abrir a porta.

_Tá na hora de tu contratar uma empregada heim Anne, ninguém merece. _Disse Juliana.

_O Olivier já me falou isso, mas é difícil achar alguém. _Disse Anne se aproximando da porta.

_Eu sei bem como é, não dá pra confiar em ninguém hoje em dia. _Disse Juliana. _Mas se tu quiser eu te ajudo.

Anne abriu a porta de uma vez:

_Oli, tu não ouviu em mand... _Começou Anne que se deparou com a figura desagradável de Roger parado a sua frente.

_Ou, eu sou mais homem que esse seu sobrinho, tá me estranhando? _Disse Roger.

_Sempre tão agradável. _Disse Anne. _O que você quer Roger?

_Eu vim falar contigo sobre o nosso meliante preferido. _Disse Roger. _Consegui uma visita pra ti.

Anne abriu um largo sorriso.

_Quem é amiga? _Perguntou Juliana de dentro da casa.

_Tá com visita menina? _Disse Roger. _Não vai me dizer que são aqueles moleques seus vizinhos? Tu tinha que andar com alguém da tua idade, tipo eu.

_Ô do! _Disse Anne. _Você é bem mais velho que eu tio.

_Tio não. _Pediu Roger. _Não rpecissa humilhar, garota “o tempo não passou pra mim”.

Anne sorriu.

_Entra Roger, mas fala de uma vez heim, não vai ficar me enrolando como sempre não, tô com visita e daqui a pouco os meus adorados vizinhos e o MEU namorado vão chegar. _Disse Anne.

_Enfim arranjou alguém pra substituir meu irmãozinho? _Disse Roger entrando na casa de Anne. _Parabéns Anninha, enfim conseguiu superar os fantasmas do passado.

_Cala a boca Roger e fala logo. _Disse Anne fechando a porta de uma vez.

_Calma, o Oli não está ai pra me servir um café não. _Disse Roger. _E eu quero conhecer tua visita.

_Cala a boca Roger e fala logo. _Disse Anne. _E pára de chamar ele de Oli, que só quem chama ele assim sou eu.

_Mas eu sou amiguinho dele. _Disse Roger.

_Quê amiguinho! _Disse Anne.

_Ele ia adorar que eu fosse amiguinho dele. _Disse Roger rindo.

_Nojento. _Disse Anne.

_Nojento como sempre. _Disse Juliana ao se levantar do sofá.

_Que surpresa! A chifruda por aqui. _Disse Roger sorrindo.

 

Podem preparar os talheres, ajeitem os guardanapos porque o lanche já está servido.