quarta-feira, 17 de junho de 2009

Capítulo 34: Não deixe de sorrir Anne Marrie

Lourdes e Piedra estavam sentadas no sofá enquanto Ralf andava de um lado para o outro dentro do escritório da casa dos Schreisen.

_Fala logo cariño mio! _Pediu Lourdes curiosa. _Eu ainda tenho que adiantar muitas coisas para a ceia pra daqui a pouco.

_Calma mãe, deve ser uma coisa séria, não dá pra ver no rosto dele? Depois tu decide sobre a ceia, mas agora se concentre aqui, parece importante. _Disse Piedra.

_Obrigado filha. _Disse Ralf. _É bem sério o que eu tenho pra contar.

_Nossa! Agora que eu percebi a seriedade. _Disse Lourdes. _Pode dizer meu bem.

_Esta bem. É bem sério isso que eu tenho a dizer. _Começou Ralf se sentando na cadeira atrás da mesinha. _Eu tenho pensado em como contar pras duas, em como dizer isso sem machucar, sem ferir, mas é bem difícil pensar nisso, em como usar as palavras certas. O trabalho esteve incumbido todo este tempo de me distrair, de tirar da minha cabeça os pensamentos ruins. Mas essa bomba está armada muito tempo, e uma hora ou outra ela iria explodir. E ela já explodiu. Antes que isso chegasse a vocês de outra forma, ou por outra pessoa, o que provavelmente aconteceria, eu resolvi eu mesmo contar o que estava acontecendo.

Ralf abaixou a cabeça nas mãos e lentamente arrastou ela até a nuca, visivelmente derrotado.

_Pai, fica tranqüilo, a gente esta aqui pra isso, pra te apoiar em qualquer coisa. _Disse Piedra.

_O que for, terá nosso apoio. _Disse Lourdes sentada de frente a Ralf, no sofá ao lado de Piedra.

_Creio que isso não vá acontecer. _Disse Ralf.

_Pode dizer. _Disse Piedra recebendo o apoio da mãe.

_Não consigo mais guardar esse segredo, vou dizer de uma vez, e eu que agüente as conseqüências. _Disse Ralf.

_Bá! Que diga de uma vez, esse segredo, estou ficando angustiada já. Curiosa. _Disse Piedra.

_Piedra! _Repreendeu Lourdes.

Os olhos de Ralf dançavam ao olhar para Piedra e em seguida para Lourdes, como se esperasse alguma coisa delas, ou aguardasse dele mesmo a coragem de dizer, de achar as palavras certas, para revelar tão misterioso segredo.

_Vamos lá, eu não agüento mais guardar isso. _Disse Ralf olhando para as mãos repousadas em cima do móvel. _Eu tenho outra família.

Juliana entrou séria pela sala e Anne era só sorriso. A garota não poderia estar mais feliz por receber a amiga para as festas de final de ano. Juliana educadamente cumprimentou os familiares de Anne e pediu baixinho que as duas fossem conversar em outro cômodo mais reservado, muito distraída e eufórica Anne não percebeu a angustia na voz e na expressão de Juliana, na força que fazia para sorrir, para tentar esconder seu nervosismo. Na biblioteca vários livros e estantes ladeavam o cômodo, móveis antigos, rústicos completavam o ambiente. Sentadas nas cadeiras de uma mesa de leitura posta ao canto direito da biblioteca para leitura, Juliana se concentrou e começou:

_Anne, eu não vim aqui hoje para nenhuma ceia, não estou para festa hoje. Eu vim aqui pra lhe deixar isso.

Juliana retirou da bolsa um envelope amarrotado dobrado ao meio e passou para as mãos de Anne.

_O que é? Presente? _Perguntou Anne empolgada.

_Não é presente Anne, preste atenção! _Pediu Juliana. _Ai dentro estão as resposta que tu sempre quis saber e ninguém nunca lhe respondeu, tem coisas minhas e informações que eu consegui depois de umas pesquisas que eu fiz. É importante pra você, eu sei, mas como amiga eu gostaria de pedir outro favor. Não abra esse envelope antes de amanhã.

_Mas amanhã é natal. _Disse Anne.

_Esquece isso. _Disse Juliana. _Eu só quero que você espere mais um dia para abrir esse envelope. Eu quero que você se divirta essa noite, se permita ser feliz hoje. Aproveite cada segundo com todo mundo que tu ama, não deixe de sorrir Anne Marrie.

_Obrigada Ju. _Agradeceu Anne com um sorriso. _Mas o que tem haver o envelope com o meu sorriso.

_É que provavelmente ele vai sumir depois que o envelope for aberto. _Disse Juliana.

_Agora eu fiquei curiosa. _Disse Anne sorrindo e olhando para o envelope.

_Não! Não abra agora. Prometa pra mim que não vai abrir hoje. _Disse Juliana.

_Prometo Ju, claro que prometo. _Disse Anne. _Mas é que eu fiquei curiosa. Eu não vou sorrir mais? O que tem aqui dentro?

_Eu não posso dizer. _Juliana espremeu os olhos deixando uma fina lágrima riscar seu rosto forte. _Eu não quero dizer, não quero estragar tua noite, não tenho esse direito. Já lhe causei tanto mal, não quero ser responsável por isso também.

_Juliana, o que está acontecendo? Você está me deixando preocupada. _Disse Anne. _Eu acho que tem haver com essa carta.

_Não. Essa carta só representa minha covardia. _Disse Juliana chorando. _Mas você prometeu.

_Juliana, eu não vou abrir se é isso que você quer. _Disse Anne abraçando a amiga.

Juliana afastou os braços da amiga.

_Não me abrace Anne. Não posso me sentir mais suja. _Disse Juliana correndo água pelo olho.

_Está bem. _Disse Anne.

Juliana olhou para Anne e voltou a soltar mais lágrimas. Tão rápido quanto começou o choro mais rápido ela saiu da biblioteca enxugando as lágrimas. Anne olhou para o envelope, olhou para a porta por onde Juliana havia acabado de passar aos prantos e sorriu. Por mais que estivesse curiosa e que toda aquela conversa fosse intrigante, ou seja, motivo o bastante para o envelope ser aberto, Anne se recusou a abri-lo. Promessa feita é promessa cumprida, Anne não iria ser contrária ao que havia prometido, se o envelope só deveria ser aberto no dia seguinte, ele então só iria ser aberto no dia seguinte. A curiosidade mataria qualquer um por dentro e talvez manter essa promessa não fosse possível, mas Anne Marrie era diferente, ela apagou aquela conversa de sua memória, e fingiu que aquele envelope nem existia. Sorrindo da aparente sanidade que foi aquilo tudo, ela guardou o envelope em uma das gavetas de uma estante escura e voltou para sala feliz e cantante, como estava antes da amiga interromper sua véspera de natal.

Ralf disse isso de cabeça baixa, enquanto Piedra e Lourdes estavam com as cabeças bem erguidas.

_O quê? _Perguntou Piedra.

Lourdes permaneceu calada.

_Piedra não me faça repetir, é humilhante. _Disse Ralf. _Eu tenho outra família. Além da tua mãe e de tu eu tenho outros filhos e outra esposa.

Piedra entendeu então, ao ouvir as palavras novamente.

_Como assim outra esposa? _Disse Piedra com lágrimas nos olhos. _Como assim outra família?

_Piedra! _Disse Ralf.

_É que eu não entendi direito pai, o senhor está dizendo que tem outra família, outros filhos, outra esposa, então eu acho que não entendi direito. _Disse Piedra deixando uma lágrima correr.

Lourdes permanecia parada tentando não mostrar nenhuma reação, mas seus olhos a traiam.

_É isso mesmo que tu entendeu. Agora não me faça repetir outra vez, por favor. _Disse Ralf emocionado.

_Mas se for verdade, não custa contar não é. _Disse Piedra. _Ou tu espera que eu aceite isso sorrindo, sem perguntas, sem respostas? Só é porque é.

_Eu só não quero sofrer mais com essa história. _Disse Ralf.

_Tu que está sofrendo com essa história, tem certeza? _Perguntou Piedra aos prantos ao perceber que a mãe também chorava.

_Não quero parecer egoísta, mas para mim não é nada confortável ver minha filha e minha mulher sofrerem desse jeito. _Disse Ralf.

_Qual delas. _Disse Piedra chorando.

Lourdes se levantou emocionada e se pos para fora da sala. Piedra a seguiu desaparecendo pela porta atrás da mãe.

Ralf repetiu o gesto e escorregou a mão da testa à nuca várias vezes.

Tudo pronto? Que comecem as celebrações. Anne recebeu Rafael na porta da sua casa e o garoto se juntou aos DeVille para ceia. João ia animado à casa de Piedra. Patrícia se arrumava em seu quarto, ela colocava um vestido vermelho, feliz por passar aquela noite como fazia antigamente, com sua família. Olivier estava em seu quarto mostrando à Juca os presentes que ganhara e lá mesmo presenteou o namorado. Piedra estava com a mãe arrumando as malas para sair do país a tempo, as duas precisavam se afastar. Essa história iria repercutira rapidamente pelo condomínio e breve por todo estado. Para fugir do furor do escândalo Lourdes decidiu partir o mais rápido possível do país e somente voltar quando tudo estivesse resolvido.

_Mãe, pra onde nós vamos? _Perguntou Piedra.

_A cualquier lugar Piedra. _Disse Lourdes em espanhol, como fazia quando estava nervosa. _No sólo quiere ver a todos en la calle. Tu padre nos traicionó, como lo había valentía de decir que se siente mal, y como somos?

_Mãe se acalme. _Pediu Piedra preocupada com a mãe. _Não podemos sair assim, sem conversarmos direito, eu quero ouvir dele, eu quero ouvir ele se explicando, quero que ele se humilhe.

_¿Qué es lo que desea escuchar a mi hija? ¿Quieres escuchar tu papá diciendo cuánto le gusta la otra mujer, ¿Cuánto estuvo presente en la vida de los otros niños mientras usted estaba esperando para él aquí? No quiero oír nada más de ella. Voy, mi cabeza fría. _Disse Lourdes juntando todas as roupas nas malas.

_Pra onde nós vamos? Por quanto tempo mãe? _Perguntou Piedra chorando.

_Vamos a la Argentina o en cualquier otro lugar que me sentí en casa, aceptada, con el apoyo emocional. Yo no apoyo que me veo y me sugieren como traicionada, la córnea. Estaremos el tiempo que tarda, desde allí, en contacto con nuestro abogado y tomar todas las de su padre. Ni él ni la familia recibirá un centavo del dinero que es nuestro por derecho. Él paga, se paga. _Disse Lourdes que já não conseguia chorar tamanho era o ódio que saia de seu peito.

_Mãe, eu tenho que avisar o João, ele ia vir aqui hoje pra ceia. _Disse Piedra chorando.

_Pero la mayoría no tendrá la cena, o de Navidad, o novio actual, lo único que hacemos es que recibimos dos empacar e irse. Notificar a la Berta para llamar a un taxi para llevarnos al aeropuerto, no puedo ir a menos que la conducción es posible que se produce un accidente. Llame João y pro inventar una excusa. No dice nada acerca de su padre u otros familiares, no necesitamos que esa extensión chismes. _Disse Lourdes fechando a mala. _Ahora vaya a su habitación hacer sus maletas, antes de su padre y decide tratar de explicar aumento. No quiero oír su voz, que acabo de recordar que esto será para siempre en mi mente, me atormenta, me provoca pesadillas.

Lourdes puxou o braço de Piedra pelo quarto e as duas foram até o quarto de Piedra.

João caminhava em direção a casa de Piedra e olhando para casa de Louísa pode ver as luzes apagadas, o que era bom sinal. Na casa de Anne, muita conversa e risos, ele iria juntamente com Piedra dar um oi aos amigos mais tarde. Na casa de Rafael as luzes estavam acessas também, mas não muitas vozes, músicas e muito menos risos, João julgou ao ver vários carros parados à porta do amigo que a família dele já havia chegado, o que explica o silêncio. A poucos passos da casa da namorada, João se assusta com a porta se abrindo repentinamente. Lourdes puxava Piedra pelo braço enquanto a menina chorava seguidas pelos protestos de Ralf que gritava atrás delas:

_Lourdes, que loucura é essa? Tu está sendo irracional, vamos parar e conversar um pouco. Não vê que assim será pior para os três?

­_Si una persona ha causado daño a esta familia fue usted. No tire la culpa a mis acciones. Acción y reacción. Sería un infierno para escuchar de nuevo, tratando de explicar lo que pienso, que estoy seguro. También da tiempo a su familia, lo real. Ahora me dejen solo, yo y mi hija. _Gritou Lourdes no meio da rua enquanto puxava Piedra para o Táxi que as esperava na porta.

João apertou os passos afim de entender o que estava acontecendo.

_Ela é minha filha também Lourdes. _Disse Ralf. _Não seja boba e repense, olhe bem o que você está fazendo.

_Creo que vamos a salir y dejar por un tiempo. Quiero volver a ver la casa limpia de todo lo que yo recuerde usted. Si vuelvo y tiene fotos, ropa o cualquier cosa que es tuya, me enviará a la papelera, ¿estás escuchando? Cuando regrese de la Argentina hablar de la separación y la propiedad. _Lourdes colocou Piedra dentro do táxi enquanto o taxista colocava as malas no bagageiro.

João se apressou e chegou próximo ao carro.

_O que está acontecendo, pra onde vocês vão? _Perguntou João a Lourdes.

_La Piedra no te lo dijo? Así que tenemos más tiempo. Un avión está saliendo ahora, llame a su entonces ella se explican. Ahora tenemos que ir. _Disse Lourdes entrando no carro.

João abaixou a cabeça e viu Piedra chorando.

_Piedra! Piedra! _Gritou João enquanto o carro arrancava pela rua.

_Eu não entendi nada do que ela disse. _Disse João parado no meio da rua. _O que está acontecendo meu Deus?

_Ela disse pra tu ligar pra Piedra depois que ela vai te explicar. _Disse Ralf de cabeça baixa voltando pra casa.

_Senhor, o que aconteceu? _Perguntou João, indo atrás do sogro.

_Ligue pra Piedra que ela vai lhe explicar melhor. _Disse Ralf já na porta.

_Mas porque vocês brigaram? _Perguntou João. _Eu só consegui ouvir, mas não entendi direito, elas estão indo pra Argentina?

_Sim. _Disse Ralf. _Não me pergunte mais nada guri, ligue pra tua namorada que ela vai lhe explicar.

Ralf fechou a porta na cara de João.

João ficou intrigado ali parado sem entender o que estava acontecendo e o porque de sua namorada ir assim as pressas para Argentina.

Anne voltou à sala sorrindo.

_Anne, a Juliana estava estranha, ela mal me cumprimentou e já se foi. _Disse Alice.

_Ela estava atrasada Lice, teve que sair correndo. _Disse Anne sem mencionar a carta.

_Mas o que ela falou pra você lá dentro, era algo grave, a gente pode ajudar? _Se ofereceu Alice.

_Problemas com a família dela. Ela só estava chateada. Acho que agora ela vai pra São Paulo. _Mentiu Anne.

_Tomara que fique tudo bem. _Desejou Alice. _Na noite de natal vai ser horrível se acontecer alguma coisa.

_Imaginem só. _Disse Anne sorrindo.

Anne foi para seu quarto se aprontar para a ceia.

Rafael saiu de casa sob protestos da família. Indo para casa de Anne ele viu João sentado no meio-fio com o celular no ouvido.

_João o que tu ta fazendo ai, que não ta na casa da tua namorada guri? _Perguntou Rafael enquanto se aproximava.

_Ela não está em casa. _Disse João preocupado.

_Como não está em casa? Não é hoje o natal? Então! _Disse Rafael.

_Ela não está em casa. Quando eu tava chegando na casa dela a Lourdes saiu brigando com o Ralf e levou a Piedra embora. _Disse João.

_O pai da Piedra está ai? _Perguntou Rafael.

_Tá sim, e não sei porque motivo mas foi ele que fez a Lourdes levar a Piedra pra Argentina. _Disse João tentando falar com pIedra pelo celular.

_Pra Argentina? _Se espantou Rafael.

_É o que eu consegui entender. A mãe dela tava falando em espanhol foi o que deu pra entender. Ela estava nervosa, a Piedra chorando e o pai dela entrou sem me dizer nada. Eu to tentando ligar pra ela, mas ela não atende. _Disse João.

_Calma João, vamos lá pra casa da Anne comigo, lá tu se acalma mais e se ela foi pra Argentina mesmo como tu ta falando, não tem nada que tu possa fazer a não ser ir pra Argentina também. _Disse Rafael.

_É isso, eu vou pra Argentina também, eu vou atrás dela. _Disse João se levantando.

_Eu estava brincando João. Ir pra Argentina não é solução, se ela foi é porque ela quer ficar sozinha com a mãe. Tu nem sabe o que aconteceu lá na casa dela. _Disse Rafael segurando o amigo. _E tem outra, se tu for agora nem sabe onde vai encontrar elas na Argentina, tu vai se desencontrar delas.

_Mas o que eu vou fazer? _Perguntou João ao amigo.

_Tu não vai fazer nada, tu vai se acalmar e esperar. _Disse Rafael. _Se a Pi quisesse te avisar ela atenderia ao telefone. Relaxa ai e espera, espera passar um tempo, depois tu liga de novo.

_Tu tem razão. _Disse João desligando o telefone.

_Então vamos pra casa da Anne. _Chamou Rafael.

_Valeu Rafa, mas eu vou voltar pra casa. A Patrícia vai cear lá essa noite, minha mãe convenceu ela a ficar. _Disse João.

_Tudo bem, eu to indo então. _Disse Rafa. _Mas relaxa guri, ela vai te ligar mais cedo ou mais tarde.

_Espero mesmo, eu preciso saber o que aconteceu. _Disse João.

_Qualquer coisa tu sabe onde eu estou. _Disse Rafael ao amigo.

_Obrigado Rafa, eu vou pra casa agora. _Disse João indo à direção a sua casa.

Olivier gritou da sala:

_Tia, é o Rafa.

E Anne gritou do quarto:

_Eu já estou terminando, manda ele esperar.

E Rafael gritou:

_Eu não vou sair daqui.

Alice se aproximou do rapaz e se apresentou novamente.

_Aquela noite não tivemos tempo de conversar direito. Eu sou irmã da Anne, Alice. _Disse Alice cumprimentando Rafael. _Esse aqui é meu marido Luís, minha filha mais nova Marceline e meu outro filho você já deve conhecer não é?

Todos riram.

_Prazer meu nome é Rafael, sou namorado da sua tia. _Brincou Rafael cumprimentando Olivier.

Todos riram de menos Juca, que estava sentado em uma cadeira afastado de todos. Olivier animado resolveu apresentar Juca também:

_Bom se o clima está para apresentações, deixe então eu apresentar o Juca, meu nam...

_Todos já sabem disso Olivier. _Interrompeu Juca. _Aquela menina fez questão de gritar pra todo mundo, e se bem me lembro todos vocês estavam na festa também, então ouviram bem.

_Isso. _Disse Olivier sem graça.

O clima na sala pesou, todos se sentiram desconfortáveis. Rafael até tinha algo para falar, mas ficou calado para não piorar as coisas. Luis também tinha algo pra falar, mas como Rafael decidiu permanecer calado. Pra quebrar o clima Alice disparou:

_E ai, todos já compraram os presentes?

_Eu já comprei o da Anne há muito tempo, poderia ter dado antes, mas achei o natal uma boa data pra isso. Valeu a pena guardar. _Disse Rafael sorrindo.

_Nós também compramos nossos presentes antes, não é Luis? _Perguntou Alice risonha.

_O difícil foi achar um presente pra Anne, ela tem tudo que ela quer, e o que não tem é porque odeia. _Disse Luis sorrindo. _Vamos torcer pra gente não dar o mesmo presente pra ela.

Todos riram.

_Tomara que não. _Disse Rafael. _E tu Olivier, conseguiu comprar teus presentes?

_Consegui sim. _Disse Olivier desanimado com o comportamento de Juca.

_Se tu tivesse me pedido eu teria te levado pra alguns lugares super legais pra comprar presentes. Eu e o João vamos lá quando queremos dar um presente diferente. _Disse Rafael.

_Foi lá que tu comprou o presente da minha tia? _Perguntou Olivier.

_Não. _Disse Rafael. _Nem tente Oli, eu não vou te dar dicas.

Todos riram.

_Eu não agüentei e resolvi dar meu presente de uma vez não é Juca? _Insistiu Olivier.

_É. Levando em conta que eu odeio ler, eu até que gostei do livro. _Disse Juca. _Vai ficar ótimo pra enfeitar meu quarto.

Rafael decidiu fazer alguma coisa para parar Juca. Então ele se levantou e disse:

_Oli, eu vou até a cozinha pegar um pouco de água, tudo bem?

_Claro, pode ir. _Disse Olivier sem notar o que estava prestes a acontecer.

O clima na sala ficou pesado novamente, todos perceberam que algo iria acontecer de menos Olivier que de tão nervoso com a situação não estava prestando muita atenção.

Rafael passou por Juca, agarrou o braço dele com força e o levantou.

_O que você pensa que está fazendo? _Perguntou Juca zangado.

_É melhor você me fazer essa pergunta lá na cozinha. _Disse Rafael apertando com força o braço de Juca.

Sem opção Juca o acompanhou.

Olivier percebeu então o que estava acontecendo e se levantou em direção aos garotos. Luis também se pôs de pé e impediu que o filho os seguisse.

_Você vai ficar aqui sentado se não quiser que eu me intrometa nesse assunto também. _Disse Luis com a mão no ombro de Olivier.

Alice se levantou e acompanhou Olivier até ao sofá do outro lado da sala.

_Fique calma Oli, eles só vão conversar. _Disse Alice.

_O Juca pode se zangar comigo mais tarde mãe, o rafa não pode fazer isso. _Disse Olivier preocupado.

_Ele é seu amigo e está tentando te defender, como todos nós, ele não vai fazer nada pra te prejudicar. _Disse Alice.

_Se alguma coisa acontecer, a culpa vai ser de vocês. _Disse Olivier pensando no que poderia estar acontecendo na cozinha.

Chegando na cozinha:

_O que você está fazendo? _Perguntou Juca.

Rafael soltou o braço de Juca e o encarou.

_O que tu espera tratando o Olivier assim heim? _Perguntou Rafael.

_Eu só não estou entendendo o que você tem a ver com isso. _Respondeu Juca.

_Olha aqui, abaixa a sua onda, porque aqui o Oli não está sozinho, ele tem quem cuide dele. _Disse Rafael.

_Você e nem ninguém vai me dizer como falar com o Olivier. _Disse Juca.

_Mas a gente vai falar e tu vai obedecer sim senhor, do contrário haverá conseqüências. _Ameaçou Rafael.

_Se você está tentando me amedrontar, não conseguiu. Só porque eu sou gay, não quer dizer que eu sou mulherzinha, eu não sou fraco. _Disse Juca.

_Não confunde as coisas guri, eu estou falando pelo Oli, pelo modo como tu trata ele. Desde quando eu cheguei o Olivier está tentando te agradar, tentando te deixar a vontade com a família dele, com os amigos, ele sempre te defende e tu? _Disse Rafael.

_Ele gosta de mim. _Disse Juca.

_Não aproveite disso para tirar vantagem. _Disse Rafael.

_Você acha que eu quero tirar vantagem dele só porque ele é rico? _Se zangou Juca.

_Pára de se fazer de vítima. _Disse Rafael. _Pára de se colocar no lugar de prejudicado, não é porque tu é gay e muito menos porque tu é pobre que nós estamos tendo essa conversa. Essa tua reação é prova de como tu é um idiota.

Juca sorriu.

_Era só o que me faltava, uma louca vai embora e aparece outro louco. _Disse Rafael. _Já que eu estou falando com alguém que pouco se importa com o sentimento dos outros, eu vou tentar algo mais convincente. Se tu continuar a tratar o Olivier desse jeito, eu mesmo vou te colocar pra fora e ai de ti se voltar a colocar os pés aqui. Eu quero que tu trate ele como ele merece, no mínimo com respeito. Pelo menos essa noite.

_E porque eu deveria te obedecer diante dessa ameaça. _Disse Juca.

_Não entendeu né? _Perguntou Rafael. _Vou falar a tua língua então.

Rafael pegou o braço de Juca e o girou por cima da cabeça dele, torcendo bem e apertando forte nas costas. Juca sorriu apesar de estar sentindo dor. Luis chegou na hora e salvou o garoto.

_O que você está fazendo Rafael, solta ele! _Luis livrou Juca do golpe de Rafael.

_Tenta falar com ele então. _Disse Rafael com a adrenalina alta.

_Vamos manter a calma. _Disse Luis.

_Chegou o pai agora, e ai sogrão? _Disse Juca com o braço doendo e avermelhado.

_Olha garoto, eu não sei qual é a tua com o meu filho e tão pouco entendo o teu comportamento. Só digo que se magoar meu filho como tu vem fazendo até agora, eu acabo com a sua vida.

_Eu já tentei ameaçar, não adiantou. _Disse Rafael.

_Eu tenho um jeito de deixar ele com medo. _Disse Luis. _Eu conheço bem o seu tipo, não tem medo de nada, é fortão, metido a valentão, mas tem medo de uma coisa, humilhação publica.

Juca se enrijeceu. Rafael percebeu.

_Ah entendi Luis, eu saquei qual é a do guri. _Disse Rafael.

_Eu ainda não estou entendendo a pressão, o que é que eu fiz? _Disse Juca.

_Ficou nervoso né? _Riu Rafael.

_Se eu perceber que meu filho está sofrendo porque causa das suas loucuras, acho que eu vou ter muito o que falar com teus pais. _Disse Luis. _Só eles pra darem um jeito nos seus modos.

_Ninguém é obrigado a te agüentar. _Disse Rafael. _Muito menos o Olivier, que não merece ser tratado desse jeito.

_Meus pais ainda não sabem, vocês não vão contar vão? _Perguntou Juca amedrontado pela primeira vez.

Rafael sorriu, Luis acompanhou.

_Mais tarde eu vou pedir o Olivier pra me dar teu endereço. _Disse Luis. _Assim quando eu quiser fazer uma visita, eu sei aonde ir.

_Você nem mora aqui. _Disse Juca.

_Mas eu moro. _Disse Rafael. _A tia dele mora, os amigos dele moram, acho que é o bastante pra convencer seus pais. Se não, eu ainda tenho muitos jornalistas, e o moinho inteiro que estavam na festa do concurso e ouviram a Louísa.

_Não vamos partir pra agressão novamente, tudo bem Rafael? _Disse Luis. _Ele querendo ou não, é ainda uma criança.

_Eu não sou criança. _Disse Juca nervoso, mas contido.

_Eu quase esqueci Juca, juro, que eu nem notei que tu não é criança. _Disse Rafael rindo.

Juca fechou a cara.

_Vamos voltar para a sala. _Disse Luis. _Agora que nós estamos entendidos não é mesmo Juca? Vamos todos voltar pra sala e cear em paz. A Anne preparou tudo com muito carinho, o Olivier estava esperando por esse momento a muito tempo e não vai ser você Juca nem ninguém que vai atrapalhar a noite de natal dessa família.

Juca saiu na frente ás pressas enquanto Rafael e Luis o seguiam sorrindo.

_Eles já estão voltando está vendo, não aconteceu nada de grave, eles só conversaram. _Disse Alice para Olivier.

_Eu espero mesmo mãe. _Disse Olivier.

Os três sentaram na sala calados, Rafael esboçando um sorriso.

E então entrou Anne Marrie na sala. Não tinha mais clima, não tinha mais risada, ninguém esboçava nenhuma emoção, só perplexidade.

Duas palavras: Vestido vermelho.

Num tecido de cetim que percorria todo seu corpo, o que parecia mesmo é que uma calda de morango fora jogada no corpo de Anne Marrie.

Deslumbrante e sorridente como nunca Anne perguntou:

_O que aconteceu aqui enquanto eu não estava heim?

_Nem queira saber Marrie. _Disse Alice.

Anne usava o cabelo para trás com gel. Lindo! Ao entrar pela sala deixava um cheiro doce e vicioso por onde passava.

_Mas qual é o assunto? _Perguntou Anne novamente.

_O assunto agora é tu. _Disse Rafael sorrindo, feliz por aquela mulher ser tua.

_Realmente Anne depois dessa entrada, não tem como falar de outra coisa. _Disse Luis.

_Tia você está linda! _Disse Olivier sorrindo ao lado de Juca, que permaneceu calado.

_Cadê a Marceline? _Perguntou Anne.

_Ela está no meu quarto brincando com o presente que eu dei pra ela. _Disse Olivier.

_Mas tu já deu o presente antes da ceia? _Lamentou Anne.

_Ele resolveu estragar o natal da família perfeita. _Disse Juca de cara fechada.

_Oli meu filho, você já conheceu os pais de Juca? _Perguntou Luis.

Rafael riu, Juca enrijeceu na cadeira.

_Tudo bem, já que estamos todos aqui, vamos à mesa. _Disse Alice se levantando e evitando outro climão.

Todos se levantaram e seguiram para sala de jantar com a ceia já posta a mesa.

_Eu preciso de alguém que me ajude a trazer as comidas aquecidas da cozinha, quem me ajuda? _Convocou Anne.

_Eu ajudo. _Disse Rafael.

_Eu também ajudo minha irmã. _Disse Alice. _Olivier vá chamar tua irmã no quarto.

Enquanto os outros se acomodavam em suas cadeiras, Olivier foi buscar Marceline, e Anne, Rafael e Alice foram até a cozinha trazer a mesa os pratos quentes.

Chegando na cozinha Alice se adiantou e pegou uma travessa de arroz aquecida no forno.

_Eu preciso ligar pro João, ele esta preocupado com a Piedra. _Disse Rafael pegando o celular.

_O que aconteceu com a Piedra? _Perguntou Anne.

_Ela foi pra Argentina com a Lourdes. Não se sabe porque, foi isso que o João viu, parece que a Lourdes brigou com o pai da Pi. _Disse Rafael.

_Ela disse mesmo que o pai dela iria aparecer hoje. _Disse Anne. _Mas Argentina? Pra que elas foram pra lá? Será que eles brigaram feio?

_Imagino que sim, pra sair do pais assim quase fugida. _Disse Rafael.

_Que estranho, vou tentar ligar pra ela. _Disse Anne.

_Não adianta, ela não está atendendo nem o próprio namorado. _Disse Rafael.

_A amiga é diferente do namorado. _Disse Anne. _Talvez ela me atenda.

_Pode tentar. _Disse Rafael. _Eu vou tentar chamar ele pra cá de novo, aqui ele vai se distrair mais.

_Eu vou pegar meu celular, espera ai. _Disse Anne.

_Anne Marrie, aonde você vai? _Chamou Alice.

_Alô? _Disse Rafael quando João atendeu o telefone.

_Alô. _Disse João.

_Eu estou no carro, indo para o aeroporto. _Disse João.

_João, dê meia volta agora! _Ordenou Rafael. _Tu não vai para a Argentina atrás da Piedra.

_Ela deve está precisando de mim. _Disse João.

_Se tivesse ela teria lhe chamado. _Disse Rafael. _Se acalme João, volta pra casa.

João desligou o telefone.

_O que aconteceu Rafael, alguma coisa grave? _Perguntou Alice.

_Só o meu melhor amigo que está indo pra Argentina. _Disse Rafael.

_O que aconteceu? O que ele disse? _Perguntou Anne quando chegou a cozinha.

_Ele está indo pra Argentina. _Disse Rafael.

_Eu estou com a Piedra aqui no telefone. Fala com ela. _Disse Anne entregando a Rafael o celular.

_Alô Pi, é tu? _Perguntou Rafael.

_Sou eu sim Rafa, o que está acontecendo, eu não entendi nada que a Anne falou. _Disse Piedra.

_O João está indo pra Argentina atrás de ti. _Disse Rafael.

_Mas eu não estou indo pra Argentina, eu estou indo pra Espanha. _Disse Piedra.

Madri ou Barcelona?

Passa um SMS para o João, eu acho que ele gostaria de saber disso.