O vaso que Anne Marrie ganhou de presente de Juliana estava na mesinha de centro da sala rodeado dos mais variados quitutes. Bolo de chocolate, brigadeiro mole, biscoitinhos de nata, biscoitinhos de coco, cookies, batata chips, creme de cebola, requeijão, pão de queijo, pão de batata, patê de presunto, mussarela, suco de laranja, suco de uva, suco de caju, suco de manga, chocolate quente e pipoca. Anne, Olivier, Juliana, João, Rafael, Piedra e Patrícia estavam espalhados em volta da mesa sentados no chão aproveitando o lanche que passaram a tarde preparando. Juliana fazia todos rirem de seus casos com Anne na escola, as duas contavam aos garotos como era a juventude das duas em São Paulo e a aventura de morar sozinha uma com a outra quando elas tinham apenas 17 anos. Rafael estava sentado ao lado de Anne e segurava a mão dela o tempo todo, Anne tinha as palmas da mão soadas mesmo com o frio que estava fazendo. Piedra também estava grudada em João enquanto Olivier estava bem distante de Patrícia que a toda hora inventava uma desculpa pra levantar e se sentar perto de Olivier que por sua vez fazia o mesmo pra fugir do assédio da garota. A noite não podia estar mais agradável, o clima natalino se instaurou na casa, o frio parecia aproximar todos ainda mais e deixar o lugar mais confortável. A lareira ligada aquecia o corpinho da turma.
_Meu Deus olha onde eu estou. _Disse Juliana. _No meio de um tanto de jovens, conversando sobre a minha juventude que já se foi há muito tempo.
_Ah que isso, tu ainda é jovem. _Disse João.
_Anne é que é nova de corpo e de alma. _Disse Juliana.
_Ai, dá pra parar de falar que eu ainda sou jovem. _Disse Anne.
_Mas você ainda é jovem amor. _Disse Rafael.
_Credo! Vocês dois tem que ficar fazendo isso o tempo todo? _Perguntou Piedra. _Irrita sabia? Amor pra cá, amor pra lá.
_Olha quem fala. _Disse Anne. _Você é pior do que a gente.
_Eu que sei. _Disse João.
Todos riram.
_O que é isso João. Isso não é verdade. _Disse Piedra.
_Piedra, tu tá grudada em mim o tempo todo e quando não está me liga toda hora. _Disse João.
_Eu sou sua namorada, eu tenho o direito de saber onde tu tá. _Disse Piedra.
_E tu acha que eu sou o que da Anne? _Perguntou Rafael.
_Eu sei que vocês estão namorando agora, mas eu não lembro de tu tão grudado assim não. _Disse Piedra.
_Ah, então esse é o problema. Ciúmes. _Disse Rafael.
_Que ciúmes guri. _Disse Piedra.
_É ciúmes sim. _Disse Rafael.
_Ah então é por isso que tu fica reclamando do Rafael toda hora né? _Disse João zombando de Piedra.
_Deixa de ser mentiroso, eu não fico falando do Rafael toda hora não. _Disse Piedra.
_O que e isso Piedra? _Brincou Anne.
_Abre o olho heim amiga. _Disse Juliana.
Todos começaram a zoar a garota que ficou vermelha numa mistura de raiva e vergonha.
_Não é isso gente. _Tentava dizer Piedra. _Escuta gente, deixa eu falar.
_Ê Piedra! _Todos diziam de uma vez fazendo Piedra ficar mais nervosa.
_GENTE! Deixa eu explica! _Pediu Piedra alto pra sobrepor o barulho que os outros estavam fazendo.
_Vamos deixar ela falar gente. Calma ai. _Pediu João rindo.
E todos calaram.
_Tá bem. _Começou Piedra. _Acontece que o Raf...
_Ê Piedra! _Todos voltaram a gritar.
Piedra começou a rir da brincadeira e todos dispararam a rir também. Quando por fim todos pararam de se contorcer da comédia Piedra comseguiu falar:
_Não é ciúmes não. _Começou Piedra. _É que o Rafa é um idiota o tempo todo, nunca foi assim tão amoroso tão gentil sabe. Nem comigo nem com ninguém. Não é ciúmes não. Pode ficar com isso ai Anne e faça bom proveito.
_Já estou fazendo. _Disse Anne ao beijar o garoto.
Todos viraram o rosto.
_E tu Oli? Só falta você fazer um casal aqui. _Disse Juliana.
Olivier olhou pra Patrícia que se encheu de esperança na hora.
_Não, estou ótimo assim, agora é só nos estudos mesmo. _Disse Olivier sem graça pra fugir da situação.
_Mas dá pra estudar e namorar ao mesmo tempo sem problema. _Disse Patrícia aproveitando a deixa.
_É claro que dá. _Disse Juliana. _isso é desculpa de solteirão que não consegue ninguém. Eu também sempre digo isso quando me perguntam se eu estou namorando. Eu digo: Trabalho demais, não dá tempo de namorar. Mentira! Se aparecer alguém certo, da tempo sim.
_Claro que dá, mas Olivier não gosta de falar dessas coisas. _Disse Anne tentando salvar o sobrinho que lhe implorava com o olhar.
_Tu está sozinha também lindinha? _Perguntou Juliana pra Patrícia que olhava pra Olivier.
_Quem, eu? _Disse Patrícia quando percebeu que falavam com ela. _Estou sim, ninguém me quer.
A garota fez um beicinho como se fosse uma criança menor.
_Ai Oli. _Começou Juliana. _Olha ai, Mô gata e tu vai deixar escapar assim, cai matando.
Olivier não podia ficar mais envergonhado.
_E você Ju? Não tem ninguém não. _Perguntou Anne numa tentativa desesperada de mudar o assunto.
_Eu não, já disse amiga, não tenho tempo. _Disse Juliana.
Todos riram.
Olivier estava sério e forçou um sorriso para não perceberem seu desconforto com a situação enquanto Patrícia o encarava toda alegre.
_E ai Oli, pra quando tu acha que fica pronto os desenhos pra campanha da Juliana? _Perguntou Rafael que percebeu o desconforto do rapaz também.
Olivier agradeceu em silêncio.
_Depende Rafa a gente tem que sentar e ver como vai ser, qual é a proposta o que eu devo desenhar e tudo mais. _Disse Olivier aliviado.
_É Rafa relaxa, depois a gente pensa nisso. _Disse João sem entender o assunto repentino.
_A chefe tá aqui, tem que mostrar algum interesse né? _Disse Rafael como desculpa.
_Tô gostando de ver a animação de vocês, só quero ver se o que vocês fazem é bom mesmo. _Disse Juliana.
_Se depender da empolgação do Rafael vai ser a sua melhor campanha. _Disse João.
_Espero. _Disse Juliana. _Onde fica o banheiro amiga?
_No fim do corredor aqui, mas pode ir ao meu se quiser, tu sabe onde é. _Disse Anne.
_Já volto gente, tomei suco demais. _Disse Juliana rindo.
_Tá bem. _Disseram todos fora de ordem.
Juliana se levantou e seguiu direto para o corredor que dava para os quartos onde o da Anne era o ultimo deles. Ao passar pela Janela do corredor Juliana olhou para fora e reparou algo se mexendo em frente à janela da sala, estranhando o fato Juliana parou e se aproximou da janela pra ver melhor o que era que se mexia devagar na frente da janela. Mais de perto e apertando os olhos para enxergar no escuro ela pode reparar que era uma mulher vestida de preto, que se equilibrava na ponta dos pés para olhar para dentro da casa. Juliana não conhecia a misteriosa mulher então correu para sala para alertar a amiga sobre a espiã.
_Anne, Anne. _Disse Juliana ao chegar à sala. _Não sei não, mas aprece que tem alguém vigiando você pela janela. Deve ser alguma repórter, deu pra ver que era mulher.
_Não é repórter não, eu já sei quem é. _Levantou Rafael de uma vez.
_Eu também. _Disse Piedra fazendo o mesmo e seguindo o amigo até a porta.
Todos se levantaram e aguardavam ansiosos para ver quem era.
Rafael abriu a porta e saiu correndo pra fora seguido por Piedra. Não podendo assistir a cena todos também seguiram os garotos até os jardins. Quando Anne chegou a porta pode ver Rafael correndo atrás de Louísa que tentou fugir antes que a vissem. Piedra também corria atrás da garota. Quando Louísa ia até a calçada Rafael conseguiu agarrar o braço da garota com força. Louísa quase caiu no chão tamanho foi o puxão.
_Me solta, tu tá me machucando. _Disse Louísa.
_Qual é o seu problema heim garota? _Começou Rafael. _Não tem nada pra fazer não? Parece que nasceu pra perseguir, pra atormentar a gente. Porque isso? Tu tem tanta raiva assim porque a causa de um diário?
_Tu tá me machucando. _Disse Louísa. _Me solta se não eu vou gritar.
_Pode gritar, grita mesmo, ai todo mundo vai ver o quanto que tu é desequilibrada. _Disse Rafael. _Sabe o que é difícil de entender? É porque não é lógico tu ficar doente com isso, já passou, tem tanto tempo isso que fica ridículo te ver lutando pra ser da turma de novo. Não vai rolar Louísa. Acabou. Tu precisa de uma vida garota pra deixar a nossa em paz.
_Eu preciso do João. _Disse Louísa com lágrimas nos olhos.
_Eu tenho pena de ti. _Disse Rafael.
_Eu preciso que vocês vejam que eu sou legal, que eu pertenço a essa turma, tanto quanto qualquer um, eu não sou pior do que ninguém pra ser excluída dessa maneira. _Disse Louísa caindo no choro.
_A que preço Louísa? _Disse Rafael ainda segurando o braço da garota. _A que preço? Vale a pena acabar com a vida de todo mundo desse jeito? Supera isso e vai procurar o que fazer da vida. Sabe por que eu tenho pena de ti? Porque eu sei que tu é doente, possessiva, obcecada. Acostumada a ganhar tudo sem nunca ganhar um não. Mas deixa eu te dizer uma coisa, a gente não é brinquedo pra tu brincar a hora que quiser.
_Nem eu, pra vocês me descartarem desse jeito. _Disse Louísa chorando.
_Ninguém te descartou Louísa. Tu teve o que mereceu. _Disse Rafael. _ A gente não fez nada contigo, tu que surto e começou a perseguir a gente. Tu acha que fazendo as coisas que tu faz a gente vai te aceitar de volta?
_Não é isso que eu quero. _Disse Louísa chorando.
_O que tu quer então? _Perguntou Rafael.
_Eu quero que vocês morram. Eu quero que vocês sintam como é ficar sozinha como eu estou, eu quero que vocês sintam como é passar vergonha na frente de todo mundo, eu quero acabar com todos vocês pra eu viver melhor, pra eu respirar melhor um dia sabendo que vocês desapareceram. _Disse Louísa com os olhos vermelhos de ódio, lavados pelas lágrimas que não paravam de rolar. _Eu quero viver tranqüila sabendo que quem me desprezou um dia não me importa mais, porque ganhou o que merecia. Pagar na mesma moeda o que vocês me fizeram passar. Eu sou vigiada dia e noite, cada segundo da minha vida é monitorado agora, eu fiquei internada, tenho que consultar um médico todos os dias, fazer tratamento. Por quê? Só porque um dia eu quis ter amigos de verdade? Isso não é justo.
Rafael encarava a menina com pena do que via, como uma pessoa podia se descontrolar dessa maneira?
_Louísa vai pra tua casa. _Disse Rafael. _Esquece a gente, todo mundo aqui já te perdoou.
_PERDOAR? _Riu Louísa totalmente descontrolada. _Perdoar? Eu que tenho que perdoar vocês. É a mim que vocês fizeram mal, não o contrário. Quem estava rindo agora pouco e comendo biscoitinhos? Não era eu Rafael, era vocês. A turma de amigos perfeitos e fieis. Vocês se divertiam juntos, enquanto eu estava no meu quarto trancado por fora. SOZINHA.
_Calma Louísa. _Disse Rafael se aproximando da garota a fim de acalmá-la.
_Não encosta em mim de novo Rafael. _Disse Louísa chorando ao fechar os olhos.
_Tudo bem, só quero que tu se acalme e volte pra tua casa. _Disse Rafael.
Todos olhavam assustados pra Louísa, ninguém poderia imaginar que o amor da garota pelos amigos virasse obsessão.
_Afinal o que tu quer da gente Louísa? _Disse Rafael. _Acabou, nossa amizade acabou, nada pode mudar isso. Acabou.
_Não acabou. _Disse Louísa abrindo os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar. _Eu não quero a amizade de vocês, eu seria idiota querendo amigos como vocês de volta. A única coisa que eu quero é destruir a amizade que vocês tem, se não conseguir tudo bem. Mas só de saber que vocês estão sofrendo de alguma maneira já me basta. Quero que vocês sofram como eu sofri e ainda sofro.
_Tu está doente guria. _Disse João.
_Tô não João. _Disse Louísa. _Eu não estou doente não, eu só quero vingança.
_Pelo quê Louísa? Fala. _Disse Patrícia nervosa. _Deixa de ser ridícula, para e pensa um pouco no que tu tá fazendo sua doida.
_Cala a boca Patrícia, que a conversa nem é contigo. _Disse Louísa.
_Então tu queria me matar atôa mesmo? _Perguntou Patrícia.
_Tu sabe muito bem que não fui eu que dei aquela droga pra ti. _Disse Louísa. _Devia ter dado, mas tinha que ter dado era muito pra tu apagar de vez. Idiota, aquilo era droga que tu conseguiu lá na festa do André, mas tava tão chapada que não deve ter nem sentido a droga entrando no teu nariz. Viciou rápido querida, eu falei pra tu ir devagar.
_Tu passou dos limites Louísa. _Disse João. _Eu queria te dizer isso há muito tempo já, mas nunca tive oportunidade. Se tu tentar mais alguma coisa contra qualquer um de nós aqui, se eu souber que tu machucou alguém, pode fugir, porque eu vou atrás de tu até no inferno, e juro que eu te mato. Podem falar que tu é doente, que é isso que é aquilo, FODAS. Tu é uma garota mimada isso sim. Tu é pior do que um verme. Tu é uma pessoa que não merece a consideração de ninguém. Nem teu pai te agüenta. Tu não é nada.
Louísa chorou com mais força ainda e devagar se ajoelhou no chão.
_Cala a boca João. CALA A BOCA. _Gritou Louísa com a mão no rosto. _Tu tinha que me amar. Cala a boca!
_Adorei o teatro guria. _Disse Piedra batendo palmas. _Tá lindo. Mas até agora tu não disse o que estava fazendo vigiando a gente pela janela.
_Deixa isso pra lá Piedra. _Pediu Rafael.
_Eu estava vendo, o quanto tu ama o Rafael. _Disse Louísa se levantando e limpando os joelhos. _Tu acha que engana quem Piedra? O João é um idiota que acredita que tu ama ele de verdade. Ela quer ficar com teu amigo seu burro!
_Cala a boca Louísa. _Disse Rafael.
_Eu choro bem não é? _Disse Louísa enxugando as lágrimas. _Eu fico chocada como eu sou boa atriz. Ai ai.
_Eu sabia que era mentira esse teatro todo aqui. _Disse Piedra. _Fala logo Louísa o que tu tava fazendo vigiando a casa da Anne?
_Relaxa Pi, eu só tava vendo como vocês são felizes pra eu me matar de inveja no meu quarto depois. _Riu Louísa. _Vocês iam adorar isso né?
_Pode ter certeza. _Disse Piedra roendo os dentes de raiva.
Da casa ao lado veio correndo o pai de Louísa.
_Mas o que está acontecendo aqui? _Disse Theodor enquanto vinha correndo até o jardim de Anne. _Louísa já pra casa!
_Claro papai, eu já acabei aqui. _Disse Louísa encarando um por um dos que estavam ali parados.
_Desculpem gente outra vez. _Disse Theodor segurando Louísa pelo braço e a puxando forte. _Acabou Louísa. Acabou com isso agora. É só passar o natal e tu vai pra casa da tua vó no Rio.
_Eu ia adorar papai. _Ironizou Louísa que sorria.
_Pára de show garota, que eu não estou brincando. _Disse Theodor puxando o braço da menina com mais força.
_Ai pai! Tu tá me machucando. _Disse Louísa séria.
_É senhor pra ti guria. _Disse Theodor nervoso. _E é exatamente assim que tem que ser, animal, cobra, coisa ruim.
_Pai pára de me chamar assim. _Disse Louísa. _me solta.
_Que soltar? _Disse Theodor. _Demônio, vamos pra casa agora.
-Pára de me chamar assim agora, eu vou contar pra minha mãe. _Disse Louísa chorando.
_Tá doendo tá? _Perguntou Theodor. _É pra doer mais.
Theodor puxou a garota de uma vez e saiu arrastando ela pelo jardim, ele puxava tão rápido enquanto andava, que Louísa não conseguia se por de pé para andar.
_Eu vou sozinha, me larga pai. _Disse Louísa enquanto era arrastada de volta pra sua casa. _Me SOLTA.
A garota lutava, esperneava, chorava, gritava, mas Theodor continuou firme até que eles entraram em casa finalmente. No jardim de Anne todos se encaravam sem acreditar no que havia acontecido ali.
_Meu Deus. _Disse Juliana de boca aberta. _Quando tu disse que a garota era louca Anne, eu pensei em tudo menos no pior. Agora isso?
_Agora até eu fiquei assustado. _Disse João.
_Vamos entrar gente antes que começa todo mundo a sair pra perguntar o que aconteceu. _Disse Rafael.
Todos entraram calados.
Se cuida Anne Marrie, Louísa também te colocou na lista negra dela, e algo me diz que você será a próxima a ter o nome riscado.
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