sábado, 4 de outubro de 2008

Capítulo 23: O passeio de Anne Marrie

No exato 334º dia do ano, começava o ultimo mês do calendário, Dezembro. Por todo lado se notava que o natal estava próximo. Todos os anos a associação de moradores do condomínio decorava as ruas, as casa e a Praça do Moinho que mais estava parecendo o centro do pólo norte. Havia neve por todo lado, no sul a temperatura era baixa, mas nem tanto, a neve era falsa, mas fazia muito bem seu papel de substituta, qualquer um podia jurar que era de verdade. O que movimentava os moradores nessa época do ano era o concurso anual de melhor decoração natalina, eles competiam entre si para mostrar a casa mais bem decorada de todas. Todo dia 23 de todo ano era feito um grande evento, uma grande festa para reunir os moradores e por fim todos descobrirem quem é o vencedor do concurso. Parece boba, uma competição tão inútil, mas havia quem desejaria trazer o próprio Papai Noel para posar diante do seu jardim, isso se eles soubessem onde ele estava. Provavelmente em um shopping perto de você. Tempo de dividir, de celebrar, de comemorar, de ser bom, mas tinha gente que não estava seguindo essas regras:

Louísa parecia ter entrado nos eixos, desde aquela manhã no jardim de Anne ela havia parado de incomodar os garotos, passava maior parte do seu tempo em casa, e se preocupava em estudar para tentar o vestibular federal. Theodor ainda desconfiava da filha e avisava sempre a mulher Eleonor para ficar de olha na garota. Mas Eleonor admirava a recuperação da filha, lhe dava apoio nos estudos e a ajudava na hora de dar os conselhos, por mais que esses fossem dispensáveis. Louísa era uma garota normal, seguindo sua vida tranqüila e sossegada, aceitando amigavelmente ser a recusada, a que ninguém lhe dirige a palavra, ou olha para sua cara. Será que esse era o espírito natalino agindo pela nossa pequena alma perturbada?

Não se enganem com essa conversa de espírito natalino, ninguém leva isso realmente a sério se você esquecer o presente no dia do natal. Louísa não havia aceitado ser a excluída do grupo. Ela só estava fingindo muito bem alguma racionalidade, ela estava sendo uma verdadeira pessoa madura, aceitando os fatos como uma adulta, sem crises, sem choro, sem vingança. Mas quem disse que isso é coisa de criança?

 

_Tia o que você está armando pra hoje? _Perguntou Olivier quando se jogou no sofá ao lado da tia.

Anne usava calças de moletom largas, grandes pantufas de porco e um blusão de pijama que sobrava na mão, segurando o telefone ela estava encolhida com os pés em cima do sofá e abraçando os joelhos.

_Nada. _Disse Anne desanimada.

_Porque tá com essa cara? _Perguntou Olivier. _Você adora frio.

_Eu sei. _Disse Anne sem expressão. _Mas é que aqui faz frio o tempo todo, perdeu a graça.

_Mas não é por isso que você está com essa cara. _Disse Olivier deitando no ombro da tia.

_Não, claro que não. _Disse Anne. _É que o Roger prometeu ligar hoje, pra dar a resposta.

_Resposta de quê? _Disse Olivier.

_Ele disse que em época de natal lá no presídio, é mais fácil conseguir uma visita, além das de costume. _Disse Anne.

_Tia, esse cara está te enrolando. _Disse Olivier. _Ele não quer te ajudar, ela fica segurando você pra você não fazer nada de novo. Assim a polícia pode investigar tranqüila.

_A polícia nem transferiu o caso ainda Olivier, eles nem lembram disso. _Disse Anne. _O Roger está fazendo o que ele pode, ajudando da maneira dele.

_É. Você acredita nisso. _Disse Olivier. _Tia, você acha mesmo que ele não pode marcar uma visita pra você com o seqüestrador?

_Não sei, acontece que a mãe... _Tentou Anne Marrie.

_Acontece que ele é o diretor daquele presídio, ele pode fazer o que ele quiser. _Disse Olivier.

_Não é tão fácil Oli. _Disse Anne.

_Mas também não é tão difícil. _Disse Olivier. _Qual o problema de você ir visitá-lo?

_Eu não sou parente do seqüestrador, como ele iria explicar quando eu aparecesse lá do nada? _Disse Anne.

_Tia, isso é enrolação, eu não sei o que esse Roger quer, mas não é coisa boa. _Disse Olivier. _Você ainda fala que ele é seu amigo.

_Eu não disse isso. _Disse Anne. _Eu disse que ele é mais um aliado, mas um pra me ajudar a encontrar o Gerárd.

_Pára de chamar o menino assim, ele deve ter outro nome agora tia. _Disse Olivier. _Deve não, ele tem outro nome agora.

_João. _Disse Anne.

_Tia deixa de ser teimosa, o João não é seu filho. Essas coisas não acontecem assim, nem o Nemo foi achado tão fácil assim.

_Fácil? _Disse Anne. _Eu passei quase minha vida toda atrás do Gerárd. E tudo que eu passei foi por causa dele.

_Foi por sua causa. _Disse Olivier.

_Falou igual seu pai agora. _Disse Anne.

_Pára! _Pediu Olivier que odiava ser comparado ao pai.

_Minha causa por quê? _Perguntou Anne se virando no sofá fazendo Olivier escorregar a cabeça.

_Por que você que começou com isso tudo, se não tivesse sido tão irresponsável de ter ficado e engravidado daquele Humberto, você estaria muito melhor agora. _Disse Olivier.

_Essas coisas não tem como controlar. _Disse Anne.

_É você tem um problema, você ama demais. _Disse Olivier.

_Agora falou igual tua mãe. _Sorriu Anne.

_Pára tia! _Pediu Olivier de novo. _Eu tô morrendo de saudade.

_Mas eles vão chegar hoje, e você vai matar toda essa saudade ai dentro. _Sorriu Anne.

_Eu nem acredito que já é Dezembro. _Disse Olivier. _Passou tão rápido.

_Nem tanto. _Disse Anne olhando para o telefone. _Diz isso porque não ficou esperando quase três meses inteiros por um telefonema.

_Deixa de ser dramática. _Disse Olivier. _Você recebeu ligações sim.

_Você entendeu. _Disse Anne. _Eu só não recebi a que eu estava esperando desde quando eu mudei pra cá.

_Você não pode confiar nesse Roger tia. _Disse Olivier.

_Eu não tenho escolha. _Disse Anne.

_Bem você que sabe. _Disse Olivier se levantando. _Vai ficar ai sentada esperando o dia inteiro?

_Se for preciso, já me comporto bastante de ficar aqui sentadinha esperando. _Disse Anne. _Minha vontade era ir lá e entrar a força naquele presídio.

_Você ia ser presa, de novo. _Disse Olivier preocupado com o que a tia pudesse fazer.

_Isso seria ótimo, assim eu ia entrar lá e com sorte ficar na mesma cela que o tal seqüestrador. _Disse Anne.

_Anne Marrie, Anne Marrie, olha lá o que a senhora vai fazer heim? _Disse Olivier assustado.

_Calma menino, eu não vou fazer nada não. _Disse Anne sorrindo do medo de Olivier. _A gente tem um trato não tem?

_Temos. _Disse Olivier.

_E por falar em trato. _Disse Anne Marrie. _Segundo o nosso contrato imaginário, o senhor deve sair mais com seus amigos.

_É exatamente o que eu estou fazendo. _Disse Olivier. _É pra isso que eu estou te chamando.

_Você está me chamando? Pra quê? _Perguntou Anne.

_Nós vamos à praça, ficar lá de boa, olhando o movimento. _Disse Olivier. _Eu vim te chamar pra vir com a gente, fica sozinha aqui o tempo todo.

_Eu? Ficar andando com um monte de pirralho. _Disse Anne rindo.

_Até parece, parece que é mais nova que eu, ninguém iria notar a diferença de idade. _Disse Olivier.

_A idade não, mas eu sou a garota Society. Pra todo mundo meu sobrenome é assassina. _Disse Anne.

_Não pra gente. _Disse Olivier. _E desde quando você se preocupa com que os outros pensam?

_Eu só tentando arrumar uma desculpa pra ficar em casa, quietinha, sossegada. _Disse Anne esfregando os braços para se aquecer.

_É melhor você conseguir uma desculpa melhor tia, nenhuma me convenceu. _Disse Olivier puxando a tia pelo braço. _Ainda mais se é pra ficar esperando esse Roger ligar, pra te falar outra mentira e marcar sua visita com o seqüestrador para o ano que vem.

_Seria ótimo, é daqui a alguns dias. _Disse Anne sorrindo da piada.

_Engraçadíssima. _Disse Olivier forçando um sorriso.

_Não Oli, me larga! _Pediu Anne rolando no sofá enquanto ele a puxava. _Essa ligação é importante pra mim, eu não vou conseguir dormir. E se ele conseguir uma visita pra hoje e eu não estiver aqui pra atender o telefone?

_Se for tão importante, ele liga no seu celular. _Disse Olivier ainda puxando o braço da tia. _Mas eu tenho certeza que isso não vai acontecer, porque se ele quisesse já teria conseguido essa visita pra você muito tempo.

_Talvez ele estava esperando chegar o natal pra me dar. _Tentou Anne.

_E seria amável da parte dele se ele te fizesse essa gentileza, já que ele não está nem ai. _Disse Olivier ainda puxando.

_Está bem, eu vou! _Disse Anne, finalmente se pondo de pé.

_Está pronta? Vamos! _Disse Olivier.

_Você está brincando né? _Disse Anne olhando para as próprias roupas.

_Ai meu Deus, eu esqueci que você ainda nem se arrumou. _Disse Olivier. _É que a gente já está atrasado.

_Mas que vontade é essa de me levar pra esse passeio gente? _Perguntou Anne tirando as pantufas do pé. _Assim do nada?

_Eu vou te contar a verdade. _Disse Olivier. _Eu prometi que não ia contar então você não diz que eu contei tá?

_Juro! _Disse Anne cruzando os dedos na frente da boca.

_Bico calado heim. _Disse Olivier.

_Ai meu Deus, fala o que foi! _Disse Anne curiosa. _Fala de uma vez!

_Tá. _Disse Olivier. _É que a gente, eu o João e a Piedra resolvemos te chamar pra fazer companhia pro Rafael.

_O quê? _Riu Anne.

_É. _Riu Olivier. _É que ele não pára de falar de você um minuto. Ele fala que você é bonita demais pra ser assassina, que parece coisa de filme. Ele fala que você deve ter uma boa cabeça pra conversar, que você deve ser madura e disse que namoraria você a hora que você quisesse, porque você seria perfeita pra ele. Uma mulher mais velha, com experiência de vida e o melhor com carinha de guria nova, linda e gostosa.

Olivier se dobrou de rir e caiu na poltrona que estava atrás dele. Anne abriu a boca e ficou ali parada por um tempo, sem acreditar no que estava ouvindo. Como assim um garoto apaixonado por ela desse jeito? Quando Anne saiu do estado de choque correu até Olivier se ajeitou na poltrona com ele ainda rindo e começou o questionamento:

_Ele disse com essas palavras? _Perguntou Anne.

_Exatamente essas, a gente quase morre de zoar ele. _Disse Olivier ainda rindo. _Ele fala em você o tempo todo, e ai de quem falar mal de você, ele é o primeiro a defender você.

_Pára de rir garoto. _Disse Anne assustada. _Eu sei o que é gostar desse jeito, começa a ficar incontrolável, só vai crescendo e crescendo e o fim você já sabe né?

_Tia, ele não é você. _Disse Olivier. _Ele só te acha bonita, não tá apaixonado por você nem nada. Ele só cismou com você daqui a pouco passa. Isso deve ser porque ele não pega ninguém tem maior tempão.

_Não Oli, é sério. _Disse Anne. _Se ele estiver interessado assim de verdade em mim, é porque é verdade, ele não ia ficar aceitando chacota atôa, muito menos me defendendo assim de graça.

_Ele quer receber agora. _Riu Olivier.

_Ele pediu pra você me chamar? _Perguntou Anne assustada.

_Não né tia, ele morre de vergonha quando a gente fala de você perto dele. _Riu Olivier. _A gente está te chamado sem ele saber, ele vai ficar morrendo de vergonha.

_Mas ele é muito novo. _Disse Anne.

_Tem 20 anos, não é tão novinho assim. _Disse Olivier.

_Tu tá doido? Ele poderia ser meu filho. _Disse Anne.

_Teu filho tem 21 anos agora, não 20. _Disse Olivier. _E que mal tem? Você precisa de alguém do teu lado, um novo amor ia fazer bem a você agora.

_Não gosto muito dessa palavra, me causou problemas demais. _Disse Anne. _E eu tenho um problema, eu amo demais lembra?

_Lembro, mas isso não quer dizer que você vai cometer os mesmos erros de novo. _Disse Olivier. _Vai fundo que a água é rasa!

Olivier riu.

_E você está mesmo querendo que eu paquere com esse menino, o Rafael? _Perguntou Anne sorrindo.

_Credo tia, não fala essas palavras antigas perto de mim, meu ouvido não agüenta. _Disse Olivier levantando do sofá com as mãos nos ouvidos. _Paquera? Quanto tempo que não se usa mais essa palavra?

_A muito tempo. Mas eu sou uma garota a moda antiga rapazinho. _Disse Anne orgulhosa.

_Literalmente. _Disse Olivier. _Sua sorte é que você nasceu na época certa, se não tuas roupas antigas que você cisma de usar, não estariam retornando a moda.

_E mesmo se não tivessem, eu sou dos anos 80 e adoro isso. _Disse Anne. _Eu não vivi os anos 90, muito menos os anos 2000. Acabou um milênio e começou outro, mas eu prefiro ver tudo como estava.

_Mas ai que está o problema. _Disse Olivier. _Enquanto você vive seus anos 80 o mundo passa e você não vê. Tudo que te importa é encontrar seu filho e mais nada. Você precisa de ter uma vida social, sair mais, ir pra festas. Visitar os vizinhos já estava bom.

_Os vizinhos me odeiam depois daquele dia. _Disse Anne. _A menina quase morreu por minha causa, coitadinha.

_Ah ninguém comenta aquilo mais tia, pelo menos não comigo né? _Disse Olivier.

_Claro que não né guri. _Disse Anne. _Eles tratam essa menina também como uma boneca de porcelana, a garota não pode fazer nada.

_O Roberto e a Marina ficam preocupados com ela, por causa da Louísa. _Disse Olivier. _Se bem que agora ela esfriou um pouco, quase nem a vejo mais.

_A Patrícia vai com vocês até a Praça do moinho? _Perguntou Anne. _Queria conversar com ela, sei lá ver como ela é. De garota problema pra garota problema, você me entende né?

_Entendo. _Disse Olivier. _Ela vai sim, infelizmente.

_Infelizmente porque? _Perguntou Anne.

_Porque ela é muito mimada. _Disse Olivier.

_Qual o problema? Você também é. _Disse Anne.

_Mas é que todo mundo tem que ficar vigiando ela o tempo todo, e ela aproveita disso pra escravizar a gente: “Pega isso! Pega aquilo! Quero ir ali, vem comigo?” Irrita um pouco. _Disse Olivier.

_Irrita mesmo. _Disse Anne.

_Sem falar que ela fica dando em cima de mim o tempo todo. _Disse Olivier de cabeça baixa.

Anne riu.

_Quer dizer que o pequeno Olivier, o artista, está dominando o coração da pequena Patrícia? _Zombou Anne.

_Pára de rir, é sério. _Disse Olivier. _A Piedra disse que ela está gostando de mim.

_Viu, como é bom. _Disse Anne sorrindo.

_É horrível porque eu não quero que ela sofra, sabe? _Disse Olivier. _Eu sou gay, eu não vou ficar com ela.

_Conta pra ela. _Disse Anne.

_Como se fosse fácil assim, não é? _Disse Olivier sentando desanimado no sofá. _Se eu falar pra ela que eu sou gay, ela vai se matar de vez.

_Morte por amor, eu admiro isso. _Disse Anne.

_Eu sei disso. _Disse Olivier.

_Mas Olivier, também não vai ser nenhum esforço. _Disse Anne. _Namora ela só um pouquinho, qual o problema? Você já fez isso antes.

_Mas dessa vez eu não quero. _Disse Olivier. _A menina tem problemas com drogas, eu não posso ficar brincando com os sentimentos dela assim.

_Ai meu Deus, artistas! Tão sensíveis. _Disse Anne.

_E eu também estou namorando o Juca. _Disse Olivier. _Não seria justo.

_Justo? _Disse Anne. _O menino está lá em São Paulo, vocês namoram pela internet. Ou você acredita que ele está lá como um santo, igual a você?

_Acredito, ele me disse. _Disse Olivier.

_Oli, ele não ficou sem ninguém esse tempo todo lá não. _Disse Anne. _Ninguém ficaria sozinho, enquanto namorava o computador.

_Ele não namora o computador. Ele namora comigo, ele gosta de mim, ele me ama. _Disse Olivier. _E além do mais, ele não se assumiu, fica muito mais difícil de ficar com outro menino se for escondido.

_Ai o amor, sempre o amor. _Disse Anne.

_Ele pode ficar com garotas, isso eu não me importo, não me sinto traído, mas com meninos acredito que não. Ele não ia fazer isso comigo. _Disse Olivier.

_Às vezes eu tento, mas juro que não consigo entender vocês gays. _Disse Anne. _Como assim, ele namorar uma mulher está tudo bem?

_Namorar não, ficar. _Corrigiu Olivier.

_É, ficar. Eu sei. _Disse Anne. _Já que você se sentiria traído caso ele ficasse com alguém, porque só com homens o problema?

_Porque nós somos gays. Gays ficam com homens. _Disse Olivier. _Ficar com uma mulher é só pra manter as aparências, pra disfarçar enquanto a gente não tem coragem de dizer a verdade. Enquanto existir preconceito, essa vai ser a triste realidade.

_Mas mesmo assim, não entendo. _Disse Anne. _Eu me sentiria traída de qualquer forma.

_Às vezes eu fico com medo de ele gostar de alguma menina por lá, mas sei que ele me ama e vai agüentar a barra. _Disse Olivier.

_Espero que ele te ame o tanto que você o ama. _Disse Anne. _Porque depois daquele desespero todo, depois do choro, depois de tudo que você teve que passar só por causa desse Juca, você tem que gostar muito mesmo.

_Eu realmente dei uma exagerada. _Disse Olivier. _Mas fiquei louco quando ele falou que ia mudar pro sul e me deixar. Justo quando a gente estava se dando bem, a gente tinha acabado de se conhecer, eu achava que isso ia demorar ainda sabe? Me apaixonar por um homem.

_Tu foi muito corajoso pra contar pro seus pais que é gay. _Disse Anne. _Só pra vir pra cá comigo.

_Eu preciso ficar perto dele tia, ele muito legal comigo sabe, fala cada coisa bonita. _Disse Olivier suspirando.

_Ai pára Oli, você fica parecendo uma garota quando fala desse menino. _Disse Anne jogando uma almofada em Olivier.

_Invejosa. _Disse Olivier. _Eu mal posso esperar pra ele chegar.

_Quê dia ele chega? _Perguntou Anne feliz pelo sobrinho.

_No dia da festa do concurso, eu já falei com ele e ele disse que vai comigo. _Disse Olivier. _Eu falei de todo mundo daqui, do Rafael, da Piedra, do João e até contei que a Patrícia tá dando em cima de mim. Ele riu.

_Que bom Oli que você tem alguém assim, que você acredita ser a pessoa certa. _Disse Anne.

_Você também acreditava nele, não é tia? _Disse Olivier.

_E veja o que eu ganhei com isso: Nada. _Disse Anne. _Mas eu fico orgulhosa de ver que você está seguindo seu coração, acreditando no amor. Olha o que você vez pelo homem que você ama?

_Olha o que você fez, pelo seu. _Disse Olivier.

_Mas eu não sou exemplo pra ninguém. _Disse Anne.

_É. Porque eu não pretendo matar ninguém, muito menos o Juca. _Disse Olivier, jogando a almofada na tia.

_Então tome cuidado com o amor, ele é bom somente às vezes. Ele vai crescendo, vai crescendo e não cabe mais no teu peito e pra sair ele explode e dói muito. _Disse Anne.

_O coração é um músculo e se você não exercitar ele atrofia. _Disse Olivier.

_Mas o meu é super saudável, eu amei de mais pra uma pessoa só. _Disse Anne.

_Esse é o problema tia, você amou sozinha, seu coração trabalhou sozinho, ninguém te amou como você merece. _Disse Olivier levantando do sofá.

_É. _Concordou Anne pensando em Humberto.

Na cabeça dela veio um flash de imagens do Humberto. E seu coração deu uma palpitada forte que chegou a doer.

_Ai! _Disse Anne alto.

_O que foi tia? _Perguntou Olivier preocupado com a tia. _Tá sentindo alguma coisa?

_Não. _Disse Anne com a mão no peito tentando segurar seu coração que aprecia que ia pular pra fora do peito. _É só meu coração que começou a bater forte demais.

_Isso é sinal de coisa boa, novo amor à vista. _Disse Olivier.

_Pára de brincadeira, eu não vou paquerar esse menino. _Disse Anne.

Olivier olhou pra tia com cara feia e ela corrigiu.

_Eu não vou FICAR com esse menino. _Disse Anne ao se levantar do sofá.

_Ai tia, nem precisa ficar com ele não, só conversa com ele normal, sem compromisso. _Disse Olivier sorrindo.

_Não. É melhor não, vai sem mim. Eu tô velha demais pra esses programas juvenis. _Disse Anne.

_Falou a senhora Juventude, o símbolo da beleza com pernas, o rostinho angelical que toda mulher deseja. _Disse Olivier. _Pára tia com essa conversa de que tá velha, você é tão jovem quanto eu.

Olivier se dirigia a porta.

_Aonde você vai? _Perguntou Anne.

_Eu vou avisar pra eles esperarem que a gente vai ter companhia especial hoje. _Riu Olivier. _Vai se arrumando ai, e nada de exagero, a gente só vai à praça.

 

Olivier saiu batendo a porta, sem deixar a tia inventar outra desculpa para se esquivar do passeio. Anne ficou um tempo olhando pra porta, se perdendo nas lembranças de Humberto, recordando os passeios de carro, as visitas até a sorveteria, a primeira vez que ficaram juntos e o inesquecível dia da morte dele. O amor parecia chamar de novo, o coração batia acelerado como se tivesse estado adormecido com o tempo e agora resolvido despertar diante da lembrança de Humberto. Ou será que Rafael estava despertando na moça tão nobre sentimento? Cuidado Rafael! Só não deseje ser amado por Anne Marrie ou você vai correr perigo de vida.

 

_Eu tô apaixonado por essa guria João. _Disse Rafael.

Os dois estavam no quarto de Piedra enquanto a garota estava enfiada no closet, decidindo que roupa usar para o passeio.

_Pára Rafa, tu nem falou com a guria. _Disse João. _Guria não né? Que a mulher já é velha pra caramba.

_Mas esse é o melhor. Ela não parece ser mais velha que a gente. _Disse Rafael empolgado. _É novinha e muito bonitinha.

_Mas ela é assassina também. _Disse João.

_Mas qual o problema? Tu já ouviu a história dela guri? O Olivier estava contando pra gente um dia ai atrás. O cara era maior cafajeste e ela só matou ele porque ela achava que ele estava com o filho dela. _Disse Rafael. _Até dá pra entender vai!

_Dá pra entender que ela queria matar o cara de qualquer jeito se não, não teria feito. _Disse João. _O bebê foi só uma desculpa pra fazer o que ela já havia tentando antes e não tinha conseguido.

_É o filho dela guri? _Disse Rafael. _Imagina a barra que essa guria agüentou quando ficou grávida na idade dela, e na época dela.

_O que não justific... _Disse João.

_Tá bem! _Disse Rafael. _Eu já sei o que tu e o resto do mundo acham sobre a Anne, mas eu não me importo, isso era o passado dela, agora é diferente.

_É. Tu é o próximo. _Disse João rindo.

_Cala a boca! _Ordenou Rafael.

_Eu nem tô acreditando que tu tá, caído por essa guria. _Disse João. _Nunca foi assim, de ficar apaixonado.

_Eu também não sei o que me aconteceu. _Disse Rafael. _Desde aquele dia que ela chegou, que ela fica martelando na minha cabeça. Mas umas marteladas batendo de levinho sabe? Com carinho, igual um anjinho.

_Tudo inho agora. _Riu João. _Tá gostando mesmo.

João e Rafael riram.

_Só não fica comentando com a Piedra, nem com tua irmã e muito menos com o Olivier. _Disse Rafael. _Eles me zoam demais, e vai que o Olivier não goste e resolva contar pra ela.

_Tem medo de morrer Rafael? _Perguntou Piedra de dentro do closet.

João riu do lado de fora enquanto Rafael resmungava arrependido de ter falado tanto ali tão perto de Piedra.

_Tu ouviu tudo? _Perguntou Rafael com a mão na testa.

_Tudo não. _Disse Piedra de lá dentro. _Só a parte que tu disse que caiu de quatro por ela.

Piedra e João riram juntos.

_Eu não disse isso. _Disse Rafael sério enquanto os outros riam. _Eu disse que talvez ouviu? TALVEZ, eu esteja gostando dela. Mas só quero pegar também e sair fora. Tá Ouvindo? SÓ PEGAR. UMA VEZ SÓ.

Piedra abriu o closet.

_Não precisa gritar, dá pra ouvir tudo. _Disse Piedra sorrindo.

Piedra estava vestindo uma calça apertada, sobre uma bota e um casaco preto até os joelhos. Terminando de apertar o cinto, Piedra não percebeu que os meninos a encaravam diante era sua beleza. João e Rafael estavam de boca aberta.

_O que foi gente? _Perguntou Piedra quando percebeu que estava sendo admirada. _Ou vocês acham que eu ia normalzinha com aquela Anne Marrie do meu lado. Nem pensar meu filho, se ela pensa que vai ficar mais bonita que eu, ela está enganada.

_Ai Piedra, a guria não deve estar nem ligando pra isso. _Disse João. _Ela deve pegar qualquer roupinha lá e vestir por cima assim, de qualquer jeito. Ela é natural, bonita naturalmente.

_E você quer me fazer me sentir melhor, ou me enterrar de vez? _Disse Piedra se olhando no espelho desesperada. _Eu sou modelo meu Deus, não é possível que uma quarentona vá me colocar no chinelo.

_Relaxa Pi. _Disse João.

_Relaxar não, isso que tu falou está certo, ela é natural. Eu estou parecendo que vou pra Bariloche, a pé. _Disse Piedra rodando em frente ao espelho. _Que casaco é esse gente, nem tá tão frio assim. Vou trocar de roupa.

Piedra jogou o sobretudo em cima de João e correu de volta pro closet choramingando.

_Ai meu Deus, essas mulheres acham que a gente tem o tempo todo pra elas. _Disse João jogando o casaco de lado. _Anda Piedra! A gente já está atrasado, a Anne e o Olivier devem bater aqui, daqui a pouco.

A campainha tocou.

_Aaaaaaa... _Gritou Piedra dentro do Closet.

_Eu ouvi direito o que vocês falaram? _Perguntou Rafael. _Eu pensei ter entendido que a Anne Marrie vai.

_E vai mesmo, não ouviu errado não. _Sorriu João.

_Oi? _Questionou Rafael ainda tentando entender.

_Isso mesmo Rafa. _Disse João. _Porque tá tão chocado assim, finalmente você vai poder conversar com tua amada.

Rafael afundou a cabeça no travesseiro.

_Calma guri. _Disse João. _Vai ser tranqüilo. Vamos ver se assim, tu para de falar um tiquinho nela.

_Se eu não morrer até lá. _Disse Rafael tremendo.

_Mas não era tu que estava defendendo ela agora a pouco? _Disse João. _Agora vai ter que encarar.

_Quem chamou ela? _Perguntou Rafael com a cara feia.

_A gente pediu pro Olivier chamar. _Disse João.

_Não tinha que fazer isso gente, porque não deixou tudo como estava? _Disse Rafael tremendo.

_Porque ninguém agüentava mais olhar pra ti sonhando acordado com essa guria. _Disse João. _Se tu não tomou uma atitude a gente tomou por ti. É pra isso que servem os amigos.

_Amigos? _Disse Rafael. _E agora o que eu vou fazer? O que eu vou falar? Ela vai me achar o maior crianção.

_É só tu ser o que tu é. _Disse João.

_O maior crianção. _Disse Piedra de dentro do closet.

_Muito obrigado Piedra, tenho certeza que foi tu que deu a idéia. _Disse Rafael.

_Acertou. _Disse Piedra do closet. _O cérebro desse grupo sou eu.

_Grande trabalho. _Disse Rafael irônico.

_Ai, eu sabia que tu ia adorar, tá vendo? _Disse Piedra. _Assim fica tudo melhor. Agora ela vai andar com a gente, se Deus quiser tu vai ficar ocupado demais paparicando ela e vai deixar eu e o João em paz, no final ela vai te amar incondicionalmente e vai te matar por isso. Não é ótimo?

_Agora eu estou muito melhor, obrigado Pi. _Disse Rafael sem expressão.

_Rafa só relaxa e deixa tudo acontecer. _Disse João.

_Pode acontecer minha morte. _Disse Rafael.

_Quem falava de amor há dois minutos atrás? _Perguntou João.

_Eu, mas isso não quer dizer que eu estava disposto a morrer por isso. _Disse Rafael.

_Porque não? _Disse João.

_Quê tipo de conversa é essa gente? Vocês realmente acreditaram que eu estava apaixonado por ela? _Riu Rafael.

_Fazer o quê? A gente acredita nos nossos amigos, e isso inclui acreditar em ti. _Disse João.

_Era só um amor platônico, nada demais. _Disse Rafael. _Eu estava bem com isso, podia viver com isso. Agora vocês estragaram tudo.

_Porque Rafa? Agora tu tem a chance de dizer a ela o que tu sente. _Disse João.

_E tu falou igual uma mulher agora. _Disse Rafael. _Vocês estragaram tudo sim. E agora? Se ela for pior do que eu espero? Se ela for uma louca? Sei lá, se ela ficar falando de morte? Se quando eu perguntar pra ela que tipo de filme ela gosta, ela disser que são os de terror?

_Mas quem esperaria coisa diferente? _Perguntou Piedra de lá de dentro.

_Eu. _Disse Rafael. _Eu tenho ela como um anjo, algo superior, divino, algo intocável sabe?

_Entendi. _Disse João.

_Eu não, todo mundo quer um anjo não quer? Para te proteger, te guardar e te fazer bem, sei lá. _Disse Piedra.

_É como os astros da TV Pi. Já escutei muitos dizerem por ai, que eles são insuportáveis, chatos, infantis e se acham demais. Ou tu pensa que o Brad Pitt além de tudo, é bom de papo?

_Ele é perfeito, qualquer coisa é só mandar ele calar a boca. _Disse Piedra.

_Tu podia ter usado outro exemplo, não Brad Pitt. _Desaprovou João.

_Porque você não acha ele bonito? _Disse Rafael.

_Ele não me parece uma mulher, só isso. _Disse João.

_Ai que diferença isso faz, tu entendeu o que eu quis dizer. _Disse Rafael. _Agora eu vou encontrar com ela e lá se vai minha fantasia, o meu amor platônico.

_Tu está exagerando Rafa, ela pode ser tão perfeita quanto tu acha que ela é. _Disse Piedra. _Ela pode superar suas expectativas.

_Ou não. _Disse João.

Piedra e João riram. Olivier bateu delicadamente na porta.

_Quem é? _Perguntou João.

_É o Oli, eu só vim avisar que minha tia vai atrasar um pouco, já estou indo embora, não queria incomodar. _Disse Olivier.

_Não Olivier, entre aqui agora. _Ordenou Rafael com a voz grossa, bravo.

_Meu Deus estão os três ai dentro? _Se chocou Olivier. _Não se desgrudam nem pra essas horas?

_Muito engraçado. _Disse Rafael correndo até a porta, para deixar Olivier entrar. _Entra!

Olivier estava com os olhos tampados com receio de ver alguma coisa que não devia ver.

_Vocês estão vestidos? _Perguntou Olivier com a mão sobre o rosto.

Rafael segurou na manga da sua blusa, o puxou pra dentro com força e fechou a porta em seguida.

_Tu já chamou a tua tia pra ir com a gente na praça? Chamou ou não chamou? _Perguntou Rafael aos berros.

_Ah vocês contaram pra ele. _Disse Olivier tirando a mão do rosto. _Era pra ser uma surpresa.

_FALA OLIVIER! _Gritou Rafael.

João levantou e salvou Olivier da fúria de Rafael.

_Larga o guri Rafa, tu tá exagerando demais, chega a ser ridículo. _Disse João segurando Olivier pelo braço e afastando ele de Rafael.

_Mas o que está acontecendo ai fora? Rafael tu pirou? _Perguntou Piedra assustada.

Olivier e João se sentaram na cama.

_Não, eu só estou nervoso com o que vocês fizeram. _Disse Rafael sentando ao lado de Olivier.

_Calma guri, tu tá surtado. _Disse João. _Eu não to acreditando que eu to vendo essa cena. Que drama!

_Drama porque não é contigo né amigão. _Disse Rafael.

_Tá tão preocupado assim, não vai então. Fodas! Problema é seu, a gente só pensou em te ajudar. _Disse João.

_Ajudar com o quê? Me dando de bandeja a uma assassina? _Disse Rafael.

_Hei. _Disse Olivier.

_Desculpa Oli. _Disse Rafael.

_Tu está dramatizando demais guri, não quer ir não vai, tá com medo de derrubar ela do teu pedestal, então fica ai. _Disse João. _Fica ai com tuas fantasias e teus sonhos e aproveite o resto da tua vida sozinho.

João fez uma punheta com as mãos.

_Quem disse que eu ia ficar sozinho pro resto da minha vida? Ela não é a única mulher do mundo João. _Disse Rafael. _Eu posso viver sem ela.

_E pode viver com ela. _Disse João. _Agora pare de arrumar essas desculpas ridículas de que ela vai te matar, ou essa coisa de fantasia, e divindade e admita que tu não tem é coragem.

Rafael ficou boquiaberto com que João disse e se levantou para dar-lhe a resposta.

_Escuta aqui o Senhor perfeito, coragem é o que eu mais tenho está ouvindo? _Disse Rafael nervoso. _Eu não preciso de ti nem de ninguém intrometendo na minha vida.

_Eu não sou o senhor perfeito. _Disse João se levantando da cama também e encarando Rafael. _Mas agradeço o titulo. E eu não to intromentendo na tua vida, só to querendo fazer tu parar de intrometer na minha.

_Eu não intrometo na tua vida. Eu intrometo Oli? _Perguntou Rafael para Olivier que continuava sentado assistindo a cena.

Olivier virou os olhos, olhou pro chão, pro teto, pra todos os lados e por fim virou pra Rafael e disse:

_Eu acho que não Rafa, você só anda com o João o tempo todo, inclusive quando ele está com a Piedra.

_Em outras palavras, ele quis dizer que tu se intromete na nossa vida de casal. _Disse João.

_Isso não é verdade. Ele quis dizer que eu sou um verdadeiro amigo. _Disse Rafael. _Pra todas as horas, a qualquer momento, para dar apoio, rir e chorar juntos. Não é isso que quer dizer amizade?

_Mas não precisa levar ao pé da letra. _Disse Olivier.

_Cala a boca guri! _Disse Rafael sem olhar pra Olivier.

_Não manda ele calar a boca, ele está no quarto da minha namorada. _Disse João.

_Que alias foi minha namorada primeiro. _Disse Rafael. _Que tu só começou a namorar porque eu quis, e porque eu deixei.

_Ela não gostava mais de tu. _Disse João. _Ela me escolheu.

_Eu falei pra ela ficar contigo, porque tu provavelmente não ia arrumar ninguém melhor. _Disse Rafael.

Piedra abriu as portas do closet de uma vez, fazendo o barulho enorme no quarto.

_Vocês querem parar agora! _Disse Piedra soberana fazendo todos se acalmarem. _Vocês estão falando de mim, e eu estou ouvindo tudo.

Rafael e João abaixaram a cabeça envergonhados.

_Os dois sentados agora! _Ordenou Piedra.

Os dois sentaram rapidamente um de cada lado de Olivier que assistia a tudo assustado.

_Bem eu receio que está na hora de eu ir, minha tia está me esperando. _Disse Olivier ao se levantar da cama.

_O senhor pode ficar sentadinho ai e calado. _Ordenou Piedra com dedo apontado.

Olivier obedeceu sem questionar.

_Enquanto a vocês dois, eu não quero ouvir mais nem uma palavra da boca do outro a não ser desculpas. _Disse Piedra apontando pros dois. _E eu não estou falando de mim, estou falando de vocês. O que deu cabeça de vocês? Vocês já perceberam porque estão brigando? Por causa de um passeio na praça.

Os dois abaixaram a cabeça.

_Rafael, tu vai ficar aqui onde está e vai com a gente nesse passeio. Deixa de ser mulherzinha e converse com a Anne como um homem e não como um menino. Não tem como descobrir como vai ser ou como ela é se tu não conversar com a guria. _Disse Piedra apontando pra ele e em seguida pra João. _E tu João, entenda as razões do teu amigo e pare de ficar brigando com ele por causa de nada. E apesar de eu concordar com muita coisa do que tu disse, não gostei do jeito que tu falou. Tu é amigo dele a mais tempo do que a gente namora, agora mostre algum respeito por isso e se desculpe com ele.

_Eu não v... _Tentou João.

_Anda mocinho, sem discussão. _Disse Piedra.

João bateu o pé, olhou pra Piedra e em seguida abaixou, sacudiu a cabeça negativamente. Olhou para Piedra novamente e em seguida pra Rafael que mantinha a cabeça abaixada e os braços cruzados. Fechou os olhos, abaixou a cabeça novamente e disse com a voz baixa:

_Desculpa Rafael por ter de chamado de covarde. Eu não devia ter intrometido na tua vida.

_Eu não ouvi. _Disse Rafael.

_Deixa de ser ridículo que tu ouviu muito bem. _Disse Piedra. _Agora faça o mesmo!

Rafael olhou pra Piedra e sem saída abaixou a cabeça e disse:

_Me desculpa também por dizer que tu era o senhor perfeito, mesmo porque não é.

Piedra pigarreou alto.

_E por atrapalhar a vida tua com a Piedra, eu nunca havia percebido isso. _Disse Rafael. _E desculpa também por dizer que ela só escolheu tu porque eu deixei, porque é mentira também. Ela te escolheu numa disputa justa.

_Que disputa? Tu me dispensou. _Disse Piedra.

_Pois então, justa pra nós dois. Eu não queria mais e ele queria, todo mundo saiu satisfeito. _Disse Rafael.

_Eu não. _Disse Piedra.

_O que tu tá querendo dizer? Que tu preferia ficar com ele? _Perguntou João.

_Não foi isso que eu quis dizer. _Disse Piedra embaraçada.

_Mas foi isso que pareceu. _Disse Rafael.

_Eu quis dizer que eu não tive escolha. _Disse Piedra.

_Você está piorando as coisas. _Disse Olivier.

_Então quer dizer que se tu tivesse escolha ia continuar com ele? _Perguntou João revoltado.

_Não. _Disse Piedra.

_O quê? _Perguntou Rafael.

_Querem parar vocês três! _Disse Olivier ficando de pé.

Todos ficaram olhando para Olivier.

_Vocês estão discutindo atôa. _Disse Olivier pegando Piedra e colocando entre os dois meninos. _Vocês são amigos acima de tudo. Você é namorada dele e pronto. Não teve essa de escolha, ninguém perdeu. Vocês só seguiram em frente, só isso. E o melhor de tudo, vocês ainda continuaram amigos. Isso só prova o quanto vocês se gostam, qualquer outro grupo não permaneceria junto como vocês. Quer dizer, um amigo namorar com a sua ex? Isso é inaceitável nas regras humanas, nenhum tipo de amizade sobrevive a isso. Mas não vocês, vocês se amam por isso, por serem amigos. Um completa o outro, um respeita o outro. E que se danem as regras!

Os três ficaram chocados encarando Olivier.

_Agora façam o favor de se abraçarem e darem graças a Deus por terem isso, uma amizade. _Disse Olivier. _Eu vive quase a minha vida toda sem nenhuma, muito menos uma assim como a suas. Agora me dêem o prazer de participar disso e não briguem. Sejam felizes.

Os três se olharam, relutantes, arrependidos, sorrindo.

_Isso. _Disse Olivier sorrindo. _Agora me deixem ir, eu só vim avisar que minha tia aceitou ir com a gente até a praça, mas foi se aprontar. Então é isso. E Rafa não fique tão nervoso ela vai adorar você.

Olivier saiu do quarto rapidamente e os três ficaram lá parados olhando um para o outro.

 

De volta em casa Olivier foi até o quarto da tia, para verificar se ela já estava pronta para o passeio.

_Vestido ou calça? _Perguntou Anne erguendo as duas peças quando Olivier entrou no quarto.

_Calça. Está frio. _Disse Olivier.

_Bem colocado. _Disse Anne.

_Tia eu disse pra não exagerar, é só uma ida a praça. _Disse Olivier.

_Não é exagero, eu sou mulher, não existe uma ida a praça. Nada é tão simples. _Disse Anne. _Tenho certeza que a Piedra deve estar como você disse, exageradamente perfeita.

_Claro que não, ela está normal, nem ficou preocupada com essas coisas de roupa. Eu cheguei lá e ela estava pronta pra sair já. _Disse Oliver que não sabia que Piedra havia trocado de roupa exatas 15 vezes.

_Às vezes nem sei porque você é gay, você devia entender as mulheres. _Disse Anne.

_Eu entendo, ou você acha porque eu levei quatro horas trocando de roupa? _Disse Olivier com um sorriso.

Anne riu.

_E então, eles já estão todos prontos? _Perguntou Anne enquanto jogava algumas peças de roupas em cima da cama.

_Nada. Eles estavam lá brigando. _Disse Olivier.

_Vocês só sabem brigar? _Disse Anne. _Não há uma vez que eu não veja vocês discutindo, xingando, ou tentando se matar.

_Eles se gostam muito é isso, é quase um casamento. _Disse Olivier sentando na cama.

_Engraçado. _Riu Anne jogando uma blusa no rosto do sobrinho. _Mas é sério, aquela outra lá quase matou a Patrícia aquele dia.

_Aquela lá não anda com a gente. _Disse Olivier. _Ela não anda com eles muito antes da gente chegar aqui.

_Mas o que ela fez? _Perguntou Anne. _Ela deve odiar muito eles, pra ter feito aquilo com a Patrícia.

_Ela é louca. _Disse Olivier. _Ela faz aquilo, diz que por vingança.

_Vingança de quê? _Perguntou Anne.

_Acontece que quando eles ainda estudavam, a Louísa, essa menina, tinha um diário. _Disse Olivier.

_E? _Perguntou Anne.

_E aí que a Piedra que era a melhor amiga dela, descobriu esse diário e começou a ler. _Disse Olivier.

_E a menina ficou revoltada quando descobriu e pirou de vez? _Disse Anne.

_Não, ela não descobriu na hora. _Disse Olivier. _A Piedra leu um monte de coisas falando mal dela. Tipo, a própria amiga falando mal da outra. Muito curiosa a Piedra levou o diário pra casa pra poder acabar de ler e no dia seguinte acabar com a Louísa. Acontece que no diário não dizia coisas ruim só dela, nele tinha coisas que a Louísa escrevia, falando mal de todo mundo, inclusive dos outros, do Rafa e do João.

_E a Patrícia? _Perguntou Anne.

_Não da Patrícia não tinha, porque eles ainda não andavam muito com ela, eles iam pra escolas juntos e a Patrícia não estudava no mesmo colégio. _Disse Olivier.

_E ai? Continua. _Disse Anne curiosa.

_A Piedra leu tudo, o diário inteiro e depois mostrou pro Rafael e João, que leram tudo também. _Disse Olivier. _Ai eles ficaram revoltados né? Decidiram devolver o diário pra ela e nunca mais falar com ela de novo. Só que quando eles decidiram fazer isso, foi no meio da festa de formatura deles. A Piedra estava super irritada e quando ela foi devolver o diário pra Louísa, ela deve ter falado algo pra irritar ela mais, e talvez nem isso, e a Piedra pulou no pescoço dela e as duas começaram a rolar no chão.

_Meu Deus, que vexame. _Disse Anne chocada.

_Calma, ainda tem mais. _Disse Olivier. _O vestido da Louísa arrebentou e ela ficou quase nua na frente da escola inteira.

Anne riu.

_Imagina a vergonha dela. _Disse Olivier.

_Mas ela mereceu. _Disse Anne sorrindo.

_Nem tanto né tia. _Disse Olivier.

_E aí? _Perguntou Anne.

_ E aí, que eles pararam de se falar desde aquela época. _Disse Olivier.

_E só? Só isso? _Disse Anne.

_Como só? Não tá bom. _Perguntou Olivier.

_Eles não se falam porque essa tal de Louísa escreveu umas coisa feias sobre os amigos no seu diário, que era uma coisa intima e eles não tinham o direito de pega-lo? _Disse Anne. _ Eu não sei você, mas eu estou do lado dessa Louísa, porque no final das contas quem foi mais prejudicada foi ela, devem lembrar dela como a peladona do baile.

Os dois riram.

_Não, calma. Você pensa que a Louísa ficou quietinha, e aceitou a vergonha calada? _Disse Olivier. _Não minha filha, ela revidou com força e vontade.

_O que ela fez? _Perguntou Anne curiosa.

_Na semana seguinte, depois da festa de formatura, estava em todos os jornais e revistas da cidade página por página, palavra por palavra, letrinha por letrinha, tudo que estava escrito no diário da Louísa sobre eles. _Disse Olivier.

Anne Marrie ficou chocada e feliz ao mesmo tempo por ter conhecido tão bela vingança.

_Inclusive os segredos mais íntimos de cada um deles. _Disse Olivier. _Os defeitos, as manias, as vontades, os sonhos, as bizarrices, tudo. Todo a cidade de Rosa Velha ficou sabendo da vida secreta dos filhos do moinho. OS MAIS RICOS ADOLESCENTES DA CIDADE TAMBÉM TEM SEUS SEGREDOS. Esse era o título da matéria que saiu na imprensa local inteira.

Anne ficou sem palavras, era tão chocante saber que alguém pudesse fazer algo tão baixo que ela ficava feliz em não ser a única.

_O que mais eles ficam irritados é que essa Louísa quer de todo jeito desde aquela época voltar a ser amiga deles. _Disse Olivier. _Ela tem o que eu chamo de fixação, ela precisa deles independente do que isso lhe custe. Até fazer amizade com a Patrícia pra tentar se aproximar deles e principalmente do João, que era o namorado dela na época.

_Ele namorava ela? _Perguntou Anne.

_Aham. _Disse Olivier. _Ela amava tanto ele que ele chegava a incomodar ela, até que ele escrevia tudo no diário, e isso incluía os amigos que atrapalhavam o namoro. Você entendeu né? Mas ela ainda ama, tu viu o que ela quase conseguiu fazer com a Patrícia? Ela nem se arrepende daquilo, apesar de dizer que não foi ela que fez aquilo.

_Eu estou boba, eu nunca poderia imaginar que fosse isso. _Disse Anne ainda sem acreditar.

_Ela vaio falar comigo já. Primeiro veio com uma conversa de que a gente deveria ser amigo, depois queria que a gente fosse namorado tu acredita? _Disse Olivier.

_E você disse o que? _Perguntou Anne.

_Eu disse que eu era gay, e eu já sabia da história toda, nem dei bola e entrei pra casa rápido. _Disse Olivier.

_Você disse pra ela que tu é gay? _Perguntou Anne preocupada.

_Disse, qual o problema? Ela não iria largar do meu pé se eu não dissesse. _Disse Olivier.

_Você ficou doido? Agora ela sabe um segredo seu. _Disse Anne se sentando na cama ao lado do sobrinho.

_E daí, também não pretendo ficar guardando isso por muito tempo. _Disse Olivier. _Foi por isso que eu vim pra cá não foi? Pra ser livre, ser feliz comigo mesmo. Vou esperar meu Juca chegar e pronto, fim do segredo.

_Dê graças se você não aparecer nas próximas páginas dos jornais. Ela já fez isso com os melhores amigos, imagina o que ela vai fazer com você que não representa nada pra ela? _Disse Anne.

_Eu nem pensei nisso tia. _Disse Olivier pensativo. _Mas ela não ia fazer nada, se não já teria feito, tem maior tempão isso.

_Ela não é boba Oli, ela vai usar isso a favor dela. _Disse Anne. _De alguma forma ela vai se aproveitar disso.

_Será? _Se preocupou Olivier. _Como?

_Não sei Oli, mas é melhor você abrir o olho a partir de agora. _Disse Anne. _Você não falou nada a respeito do Juca, falou?

_Não imagina. _Disse Olivier. _Eu só falei aquilo pra ela e só. Nunca mais a vi. Os meninos até disseram que ela estava muito quieta.

_Isso quer dizer que ela está aprontando Oli, cuidado. _Disse Anne.

_Eles disseram isso também mas não acredito que seja pra mim, porque seria comigo? _Disse Olivier. _Ela já sabe que eu sou gay e isso não vai ajudar ela em nada. Ela quer o João e os outros, eu tô fora da listinha preta dela.

_Será? _Perguntou Anne. _Depois de ter tratado ela como você disse que tratou? Não sei não, todo cuidado é pouco.

_Ai tia não fica tão preocupada, se tivesse que fazer ela já podia ter feito. _Disse Olivier.

_Oli, justamente por isso. Ela pode estar esperando o momento certo. _Disse Anne.

_Não, será? _Olivier ficou pensativo. _Mas porque ela esperaria?

_Pra sei lá, esperar o momento certo. _Disse Anne. _Ela gosta de grandes acontecimentos pra aprontar, pra que fique marcado pra sempre.

Os dois ficaram pensativos tentando imaginar o que Louísa estava armando. Eu plano ela estava bolando, e porque a espera?

Anne arregalou o olho e olhou pra Olivier, que repitiu o mesmo ato.

_O concurso! _Disseram os dois juntos.

_É claro que ela está esperando chegar o dia da festa do concurso, assim ela pode envergonhar sei lá quem, mais fácil. _Disse Olivier.

_E o vexame será maior, e inesquecível. _Disse Anne sorrindo. _Essa garota é um gênio.

_Gênio tia? _Disse Olivier incoformado com a opinião da tia. _Torce pra eu não estar na listinha do vexame.

_Acredito que não. _Mentiu Anne que de alguma forma entendia a mente de Louísa.

_E o pior tia, nem tinha pensado nisso, o Juca vai estar na festa. _Disse Olivier.

_Olivier DeVille, você está ferrado! _Disse Anne se levantando da cama. _Agora vamos deixar isso pra depois e vamos nos aprontar logo pra esse passeio.

Olivier ficou perdido em pensamentos, tentando lembrar de algo suspeito por parte de Louísa. Algo que ele pudesse ver como prova de seu fim social.

_Oli, anda vai se aprontar. _Pediu Anne enquanto ela jogava as roupas em cima da cama.

_Eu já tô pronto tia. _Disse Olivier sério.

_Ah é, esqueci. _Riu Anne. _Ai meu Deus, tô tão animada.

_Com o quê? Nunca quis sair com a gente antes, agora tá ai toda animada. _Disse Olivier sorridente. _Posso saber o motivo dessa animação toda?

_Claro que pode e não é nada disso que você está pensando. _Riu Anne jogando um vestido em cima do garoto. _É que depois dessa história toda eu fiquei curiosa em conhecer seus amigos de perto. Eu pensei que eles fossem mais alguns adolescentes, normais sabe? Mas vejo que eles tem muita coisa pra viver. Quero viver isso também, quero ter amigos. Nunca tive amigos assim, uma turma. Só a Ju, mas mesmo assim, parece que ela fica com medo de mim agora, nem vem me ver nem nada, sinto falta de alguém pra conversar. Contar meus segredos.

_Tia você não tem segredos. _Disse Olivier. _A Society faz questão de expor a cada edição.

_Mais eu tenho segredos guardados ainda. _Disse Anne. _Segredos que ninguém nunca soube. Coisas guardadas profundamente aqui dentro. Sombrias.

_Credo. _Disse Olivier. _A única pessoa que vai querer saber desses segredos sombrios é a Louísa. Aquela lá não tem medo de nada. E também de sombria pra sombria né?

Anne riu:

_Porque não.

 

João estava entrando em casa e na porta estava um entregador da floricultura e Patrícia recebendo o presente.

_Pra quem é isso Pati? _Perguntou João ao entrar curioso.

_Calma João eu não sei ainda, mas imagino pra quem seja. _Disse Patrícia segurando um buquê de rosas vermelhas. _Muito obrigada!

Piedra sorriu para o entregador e fechou a porta em seguida.

_Se eu estiver certa, vai ser o quarto essa semana. _Disse Piedra sorrindo procurando o cartãozinho no meio das flores que exalavam um cheiro doce.

_De quem são? Pra quem são? _Perguntou João curioso.

Piedra achou o cartãzinho e suas certezas se confirmaram.

_Como eu imaginava. _Disse Piedra sorridente. _São pra mim, de novo.

_Pra ti? _Se chocou João. _Quem mandou flores pra você?

_Olivier. _Disse Piedra completamente feliz.

_O quê? _João não podia acreditar. _Tá escrito o nome dele ai, ou tu está supondo que é dele?

Piedra lhe entregou o cartão:

"Com amor Olivier, para a flor mais linda do mundo que é você"

João não podia acreditar que aquilo fosse possível.

_Mas eu achava que ele era... _Começou João.

_O quê? Que ele fosse o quê? _Perguntou Patrícia.

_Nada. _Disse João para não desanimar a irmã.

_Ele não é um amor? A gente nunca conversou sobre isso. _Disse Patrícia. _Ele me falou uma vez que queria pintar um quadro meu, mas eu pensei que não tinha nada haver com isso.

_É. Nem eu. _João ainda tentava engolir a verdade.

_Esse aqui é o quarto buquê essa semana, fora as caixas de bombom e os ursinhos. _Disse Patrícia sorrindo.

Ela estava amando ser amada, e nem precisava tanto para fazer a garota se apaixonar, Patrícia estava tão carente depois do que aconteceu com ela. Passou a freqüentar a reabilitação e um psicólogo como parte do tratamento. Ter alguém para lhe dar apoio e carinho era o que ela mais queria. Olivier era um encantador menino de cabelos claros e olhos azuis, e apesar disso tudo seu rosto era delicado e levemente desenhado por Deus, como o da tia. Aliás, ele parecia muito com Anne Marrie. Qualquer garota se encantava com o jovem pintor.

_É. Ele faz o estilo bem romântico mesmo. _Disse João ainda sem acreditar. _Ele vai sair com a gente daqui a pouco, não quer vir?

_Claro que eu quero. _Disse Patrícia animada.

_Vai todo mundo. _Disse João subindo as escadas. _Até a tia Anne Marrie vai. O Rafa tá quase se matando lá na casa da Piedra.

_É verdade. Ele gosta dela não é? _Perguntou Patrícia. _Um dia ele me falou dela.

_É. Mas agora ele está com medo dela, de passar vergonha, de não ter o que falar, de ela não gostar dele. _Disse João parado no meio da escada enquanto conversava com a irmã.

_Eu sei bem como é isso, estou sentindo o mesmo. _Disse Patrícia.

_Ah, mas tu já conversou com o Olivier. _Disse João.

_Mas não depois dos presentes. _Disse Patrícia. _Agora vai ser diferente.

_Então quer dizer que agora vamos ter Patrícia Pinho Medeiros e Rafael Cortez de Lacerda na mesma família? A família dos DeVille? _Sorriu João.

_É estranho pensar assim. _Sorriu Patrícia. _Agora me dá licença que eu tenho que me arrumar ainda. Ai meu Deus esse meu cabelo está tão seco hoje. Droga, não vai dar tempo de arrumar direito. João me espera pra sair!

Patrícia gritou isso enquanto atropelava João na escada.

_Ai meu Deus, se a gente for esperar mais uma se arrumar pra ir nesse passeio, a gente só vai amanhã. _Disse João subindo a escada para pegar a máquina fotográfica.

 

Parece que o passeio de Anne Marrie promete. A única a ficar de fora de novo é Louísa que assistia o movimento da janela, o entra e sai de todos na casa de Piedra, do João e de Anne. Vocês devem estar pensando que ela estava revoltada por não ter sido convidada, e realmente ela estava. Alguém lembra da história da bela adormecida? Qual era o motivo de tanto sono? Me parece que tudo começou com alguém não sendo convidado pra uma festa. Parece que a história vai se repetir. Quem será que vai dormir por cem anos? Só sei que isso parece muita maldade vinda de uma bruxa de um conto de fadas, mas te asseguro que Louísa pode ser bem pior que isso.

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