domingo, 28 de setembro de 2008

Capítulo 22: A Rua de Anne Marrie

Todos aguardavam nos corredores do hospital por notícias de Patrícia. A noite já ia caindo e ninguém sabia do estado de saúde da menina.

_Essa hora era pra eu estar dando uma festa. _Disse Lurdes chateada.

_Mãe, como a senhora pode pensar em festa agora? _Repreendeu Piedra.

_Eu não estoy a pensar em la fiesta Piedra. Yo entendo la gravidade do que está se passando, só estava ressaltando o fato de que ao contrário de todos estarmos aqui nesse hospital era para todos estarmos em una fiesta. _Se defendeu Lurdes. _Isso é que se pode disser de destino.

_Má sorte tu quer dizer. _Disse Louísa ao lado do pai e da mãe no canto da sala sentados em um sofá.

_Louísa, não quero ouvir um pio da tua boca. _Disse Theodor nervoso com a filha. _Grande culpa dessa tragédia é tua, e eu já estou bastante envergonhado.

_Filha o teu pai está certo, é melhor pra ti ficar calada. _Disse Eleonor passando a mão carinhosamente na cabeça da filha.

Todos na sala encaravam a garota com desprezo.

_Não me olhem com essa cara. Eu não amarrei ela e a obriguei a usar. _Disse Louísa transtornada e com os olhos lacrimejando.

_Faltou pouco. _Disse Rafael em pé do outro canto da sala junto a João e Piedra.

_Deixa pra lá Rafael. _Disse João com o olho ainda inchado e roxo.

_Eu me importava com ela. _Disse Louísa.

_Tu ainda se importa filha, ela não morreu.. _Disse Theodor firme. _Agora fica quietinha, calada.

_Sei até porque tu queria ficar perto dela. _Disse Piedra olhando pra João. _Aceita guria, ele não ti amou nem nunca vai amar.

_Tu nem sabe o que tá falando Piedra. _Disse Louísa. _Não foi isso que pareceu na noite que eu mostrei minha pulseira pra ele.

_Pulseira? Que pulseira? _Perguntou Piedra curiosa. _Que pulseira João? De que pulseira que ela tá falando?

_Piedra, por favor, agora não. _Disse João.

_Foi ontem não foi, quando eu entrei no quarto? _Disse Piedra nervosa. _Ela estava quase no teu colo, com certeza mostrando a pulseira dela.

_Ela estava se desculpando Pi... _Disse João.

_E tu quase caiu na mentirada toda não é João? _Disse Piedra.

_Não foi isso Piedra, calma e fala baixo, a gente está em um hospital. _Disse João calmamente.

_Porque tu não me contou ontem, quando entrou pela janela do meu quarto ontem? _Sussurrou Piedra.

_Como? Será que eu ouvi direito? _Disse Lurdes. _O João subiu até teu quarto, pela janela?

_Ai mãe não enche. _Disse Piedra.

_João, filho? Isso é verdade? _Perguntou Roberto.

_Pai? _Disse João pedindo compreensão do pai. _A gente já está com muito problema agora, não dá pra deixar isso pra depois?

_Claro filho, desculpa. _Disse Roberto que estava sentado ao lado de Marina que estava com a cabeça enterrada no ombro do marido.

_Olha desculpa Lurdes, é que eu precisava me explicar com a Piedra. _Disse João realmente incomodado por ter que fazer aquilo ali na frente de todos.

_Não tem problema chiquito, yo entendo como é a minha Piedra. _Mentiu Lurdes que em outra situação não deixaria aquilo passar assim tão barato, com um simples sorriso.

_Pra quê tanto aborrecimento todo mundo aqui sabe que a Piedra já dormiu com a dupla dinâmica mesmo. _Disse Louísa maldosamente.

Na sala todos viraram os olhos, Piedra pensou em retrucar, mas evitou quando olhou para João que e a fez calar com um só olhar de desaprovação.

_Já chega Louísa nós vamos embora agora. _Disse Theodor segurando o braço da filha e a levantando do sofá.

_Ai pai! O que tu pensa que tá fazendo? _Disse Louísa assustada coma reação do pai.

_Estou cansado de ficar assistindo, seus devaneios, suas loucuras, e não fazer nada. _Disse Theodor. _Se tu quer ser um animal, eu vou passar a ti tratar como um.

Theodor arrastou a garota pelo braço até a saída, enquanto ela chorava não pelo braço, mas pelo vexame.

_Me desculpe Roberto e Marina. _Pediu Theodor antes de deixar a sala com a filha.

_Theodor, solta a menina! _Pedia Eleonor atrás dos dois.

Rafael e Piedra sorriram quando os três deixaram o local, do corredor dava pra ouvir Theodor gritando com a filha enquanto ela choramingava baixinho. João se manteve sério, ainda preocupado com a irmã.

_Eu queria me desculpar mais uma vez por ter atrapalhado a saída de vocês. _Disse Anne encolhida num canto junto a Olivier.

Os dois ficaram caladinhos desde quando chegaram ao hospital acompanhando todos os outros. Depois da confusão de fotógrafos na frente da sua casa, a única maneira de fugir deles foi acompanhar os vizinhos até o hospital mesmo sem saber do que se tratava.

_Querida não foi culpa sua. _Disse Roberto.

_Ah nisso eu vou ter que concordar, la culpa foi toda minha Anne. _Disse Lurdes. _Eu autorizei a entrada da imprensa pra cobrir a fiesta, a sua fiesta.

_Mãe, a senhora não disse que ia contratar um fotógrafo particular? _Perguntou Piedra.

_Acontece querida que quando yo mencionei que la fiesta seria para Anne Marrie, várias revistas, jornais, e programas de TV quiseram cobrir. _Disse Lurdes. _Seria bom pros negócios uma publicidade dessas. Mas não dava pra imaginar que seria o desastre que foi. Quantos fotógrafos tinham ali? Mil?

_Me desculpem mesmo. _Disse Anne envergonhada.

_Tu não tem culpa querida. _Disse Roberto. _Agora é rezar pra não dar nada de errado com ela.

_Espero que não. _Disse Anne que se sentia apesar da insistência de todos pela sua inocência, talvez a menina tivesse alguma chance se o tumulto com os fotógrafos não tivesse acontecido.

Ela estava péssima, sua chegada a cidade Rosa Velha prometia ser gigantesca, uma festa seria dada em suas boas vindas, ao invés disso ela, Olivier e os seus ex-futuros melhores vizinhos estavam em uma pequena sala de espera de um hospital esperando o veredicto: Se Anne Marrie seria culpada de mais uma morte ou seria inocentada. É. Ou vocês pensaram que Anne está preocupada com a saúde da garota? O único interesse dela em isso tudo é que Patrícia saia bem, é verdade, mas só pra ela não ter que carregar mais uma morte nas costas.

_É injusto vocês perderem sua única filha. _Disse João triste.

_João cala a boca, eu já disse pra ti que não gosto quando tu fala assim. _Disse Marina chorosa em suas únicas palavras até aquele momento.

_João! _Disse Roberto. _Não diga essas coisas, você também é nosso filho, e nós não vamos perder a Patrícia.

Todos se entreolharam disfarçadamente.

_Não entendi. _Cochichou Anne para Olivier.

_Eu menos. _Disse Olivier baixinho. _Mas o que deu pra entender é que o João é adotado.

_O quê? _Se surpreendeu Anne.

_Foi o que pareceu. _Disse Olivier.

Sorria Anne Marrie, se é o que você está com vontade de fazer.

Anne abriu um sorriso, que o brilho dele chamou a atenção de todos ali na sala. Todos cochichavam sem entender: “Porque essa moça está rindo?”.

Olivier percebeu o clima estranho que se instalou na sala, todos olhando para ele e a tia. Foi quando ele encarou a tia e percebeu seu sorriso, e logo tinha certeza do que ela estava pensando, do que estava passando naquela cabecinha doentia, ele sabia o porque de tanta felicidade. Coisa de Alice.

Imagino que vocês também saibam o motivo de tanta alegria.

_Esta chica tem algum problema de cabeça? _Questionou Lurdes num tom que pra ela era baixo, mas se ouvia perfeitamente.

_Mãe? Fala baixo. _Disse Piedra.

_Eu estou falando baixo, e não estoy falando nenhuma loucura. _Disse Lurdes. _Deveria mostrar um pouco mais de respeito.

_Mãe sabe se lá do que ela está rindo! _Disse Piedra baixinho.

_Da desgraça dos outros, isso sim. _Disse Lurdes.

_Tia, pára de rir. _Disse Olivier preocupado com o que poderiam pensar da tia. _Eu sei o que você está pensando e isso não quer dizer nada. Faça o favor de se acalmar. E pára de rir.

_O que você acha que eu estou pensando? _Disse Anne ainda sorrindo, sem perceber que isso desagradava a todos ali.

_Não preciso nem dizer tia. _Disse Olivier envergonhado. _Agora pára rir, tá todo mundo olhando pra gente.

Anne recuperou a razão e parou de rir no instante seguinte. Há muito tempo ela não sorria com tanta vontade, tão descontrolavelmente, antes mesmo de saber o real motivo. Há tempos ela não era tão instintiva.

_É verdade. Parei. _Disse Anne quando percebeu que todos a encaravam.

_Obrigado. _Disse Olivier.

_Mas você entendeu como eu entendi? _Disse Anne segurando o sorriso.

_Entendi, mas não tem chances de ele ser quem você está pensando. _Disse Olivier.

_Chances tem sim. _Disse Anne deixando escapar um sorrisinho no canto da boca. _Mas seria sorte demais, não seria.

_É, seria. _Disse Olivier. _Mas você nunca pode contar com a sorte, então relaxe e esquece isso.

_Vou tentar. _Mentiu Anne que já havia te esquecido de Patrícia, onde estava e porque estava ali.

_Ai vem o médico. _Anunciou Rafael que avistou o médico se aproximando da sala.

Todos se puseram atentos e os que estavam sentados se colocaram de pé, mas somente Anne ficou perdida nos seus pensamentos acreditando na sorte.

_E aí como ela está doutor? _Perguntou Roberto aflito.

_Minha filha vai morrer? _Chorou Marina.

_Não precisa se desesperar senhora Pinho Medeiros, a Patrícia está fora de perigo. _Disse o Médico. _O procedimento todo foi muito difícil, e confesso que a gente quase a perdeu. Mas ela passa bem.

_Graças a Deus. _Todos respiraram aliviados.

_Mas o que aconteceu doutor? _Perguntou João choroso.

_Ela entrou em convulsão, e se o atendimento médico demorasse mais um pouco pra ser feito, talvez ela não resistisse. _Disse o Médico.

Todos olharam para Anne que nem prestava atenção.

_Qual foi à causa? _Perguntou Roberto.

_Uso excessivo de drogas fortes. _Disse o Médico. _Pelos exames a gente pode constar que ela usou um número muito grande de drogas, e a mistura com o álcool agravou o estado de saúde dela.

_Álcool? _Disse Lurdes. _Onde vocês estavam ontem a noche heim?

_Mãe deixa isso pra outra hora. _Pediu Piedra.

_Aconselho aos pais monitorarem os passos dela de agora em diante, se acontecer mais uma fez o que aconteceu aqui hoje, ela não vai ter muito tempo como dessa vez. _Disse o Médico.

_Sim doutor, a gente vai tomar as precauções possíveis. _Disse Roberto.

_Eu prometo que isso não vai mais acontecer. _Disse João convicto.

_A gente pode ver ela agora? _Perguntou Marina chorando. _Eu quero ver minha filha. Eu quero ficar com ela.

_Calma Marina, ela já está fora de perigo agora, calma. _Pediu Roberto tentando acalmar a esposa.

_Ainda não, ela está sendo levada para o quarto, quando for possível a visita a enfermeira virá avisá-los. _Disse o Médico. _Agora se vocês me dão licença.

O médico se retirou da sala e seguiu pelo corredor.

_Eu quero ver ela agora Roberto. _Chorou Marina no ombro de Roberto.

_Mãe calma, o médico disse que ela já está bem. _Disse João.

_Tia? _Chamou Oliver. Tia, tia? TIA!

Anne se assustou.

_O que foi? _Disse Anne surpresa. _O que aconteceu?

_A gente pode ir agora, vamos embora. _Disse Olivier.

_Ela morreu? _Perguntou Anne sem saber.

_Onde você estava tia? _Perguntou Olivier bobo com Anne. _O médico já veio aqui e disse que ela está bem.

_O médico veio aqui? _Se chocou Anne com sua distração. _E eu nem vi?

_Pra ver como você estava preocupada. _Disse Olivier. _Vamos agora.

_Tudo bem. _Disse Anne ainda meio aérea.

_Vocês já vão? _Perguntou piedra quando percebeu que Anne e Olivier iriam partir.

_Sim, a gente só queria ter certeza de que ela estava bem. _Disse Olivier. _A gente já incomodou demais.

_Imagina. É bom saber que vocês são pessoas do bem, e ficaram aqui o tempo todo apoiando a Patrícia. _Disse Piedra.

_A piedra tem razão, muito obrigado pela força. _Disse João.

E só isso Anne ouviu. Quando João abriu a boca ela abriu os ouvidos e um sorriso.

_Isso é o mínimo que eu e o Olivier podíamos fazer depois da confusão que nós armamos. _Disse Anne sorrindo.

_A culpa não foi sua. _Disse João.

_Isso João, pode me acusar. _Disse Lurdes.

_Mas eu não disse nada. _Disse João.

_Pero pensou. _Disse Lurdes.

Rafael riu e isso fez com que os outros se descontraíssem.

_Mas a gente precisa ir agora. _Disse Olivier. _Não é tia?

Anne ainda sustentava um sorriso no rosto e não conseguia parar de olhar para João.

_Tia? _Chamou Olivier envergonhado pelo comportamento estranho da tia.

_Oi. Sim. Claro querido. _Disse Anne ainda meio zonza. _Podemos ir agora.

_Até amanhã. _Disse Piedra.

_Até amanhã. _Disseram Anne e Olivier juntos antes de deixarem o local.

Todos acenaram com a cabeça e sorriram levemente.

_Chica estranha. _Disse Lurdes.

_Mãe? _Disse Piedra. _Pára de ficar pensando alto.

_No estoy a pensar alto. _Disse Lurdes corrigindo a filha. _Eu estou falando.

_Então filtra o que tu fala, que ninguém tá afim de ouvir seus pensamentos. _Disse Piedra. _E pára de falar espanhol, aqui é Brasil, não é a argentina.

_Yo sei. E acho que ninguém se incomoda. _Disse Lurdes.

Todos concordaram com ela.

_Viu. _Disse Lurdes risonha. _Relaxa Piedra. Quem tem que ser chata aqui sou eu, tu tiene que ser inconseqüente, rebelde, falastrona.

_É mãe. Eu chamo isso de troca de papeis, eu sou a mãe e tu é a filha. _Disse Piedra.

_A Lurdes tem razão Piedra, tu é muito chata guria, relaxa um pouco. _Disse Rafael.

_Rafael, cala a boca! _Disse Piedra.

_Deixa Rafael, deixa que isso ai é gaga igual ao pai. Estressada de berço. _Disse Lurdes.

_Talvez se eu fosse igual a Louísa tu ficaria mais satisfeita! _Disse Piedra.

_Não vamos exagerar tambien. Aquela menina é desequilibrada, precisa de um tratamento urgente de la cabeça. _Disse Lurdes. _Mas eu queria que tu fosse mais jovem, tá na idade filha, tem mesmo que aproveitar. Nada me deixa mais feliz quando yo descubro, por exemplo, que teu namorado entrou pela janela. O que vocês estavam fazendo heim?

Todos riram.

_Mãe, pára de falar essas coisas. _Disse Piedra. _Ele não entrou sozinho o Rafael estava com ele.

_Yo não sabia que vocês tinham una relação a três. _Disse Lurdes sorrindo.

Todos caíram na gargalhada de menos Piedra.

 

1 mês se passou e no condomínio o assunto sempre era Anne Marrie. Uma semana seguinte da quase morte de Patrícia, Anne e Olivier foram capa da revista Society novamente. Na foto, muito tumulto com fotógrafos e repórteres, Anne fazendo uma careta horrível e Olivier logo atrás com os olhos entreabertos parecendo que tinha se drogado. DE CASA NOVA: A PATRICINHA ANNE MARRIE TENTA SE LIVRAR DA FAMA DE PERIGOSA EM UM CONDOMÍNIO DE LUXO. Anne não parou pra rir da revista como havia feito da primeira vez com Olivier, ela apenas deu uma olhada e jogou a revista de lado. Ela só conseguia pensar em João. O fato de ele ser adotado chamou a atenção dela, que passou a vigiar o menino mais atentamente, procurando nele alguma semelhança com ela ou com Humberto. Certo dia quando Anne olhava da janela seu sobrinho Olivier conversando com Rafael e João na calçada, ela percebeu que João tinha uma mesma mania de coçar a nuca quando ficava envergonhado. Isso pra ela foi o resultado positivo de que ele era seu filho, e o resto do dia foi perfeito, só Olivier fazia a moça cair na real e perceber que era coincidência demais ela vir morar praticamente em frente à casa do seu filho perdido. Olivier passava a maior parte do tempo estudando, mas tinha um constante contato com os meninos da sua rua, sempre que tinha um tempo livre. Os garotos já chegaram a perceber que Olivier era gay, mas não tinham coragem de perguntar. Piedra ficava sempre decepcionada quando Olivier dava sinais de que era gay, ela o achava bastante bonito e mesmo que tivesse João como namorado isso não a impedia de se interessar pelo garoto. Patrícia ficou todo o tempo em repouso dentro de casa, proibida de usar a internet e o telefone, os pais passavam a maior parte de seus tempos livres vigiando a garota. João também ajudava a cuidar da irmã quando os pais não estavam em casa. Louísa foi obrigada a viajar com a mãe para o Rio e por lá elas ficaram uma semana até que Theodor decidiu busca-las. As visitas a Patrícia estavam proibidas tanto Roberto e Marina quanto Theodor e Eleonor decidiram evitar que as duas se encontrassem. Theodor obrigou a filha a freqüentar uma clínica psiquiátrica em troca de algumas horas livres. Quando Louísa tinha suas sonhadas horas ela saia e tentava de toda maneira se juntar ao grupo, observando-os de longe e desejando fazer parte da conversa entre eles. Em Olivier ela viu a chance de se aproximar da turma novamente, com a aproximação dele de João, Rafael e Piedra era óbvio que ele havia entrado na turma definitivamente. Além de pensar no filho, Anne começou a procurar uma escola profissionalizante de moda, mas a busca era difícil, enquanto ela não conseguia arranjar nenhum, ela começou um curso de modelista. Roger vivia enrolando a moça para marcar a reunião com o suspeito do seqüestro. Apesar das insistentes tentativas de Anne de fazê-lo marcar logo a reunião, ele sempre vinha com uma desculpa diferente. Olivier sempre avisava a tia que não confiava em Roger, ele não tinha obrigações de ajudar ela e a desculpa que deu pra isso, não foi o suficiente. Anne concordava, mas era só Roger ligar prometendo marcar o encontro dela com o seqüestrador que ela esquecia todos os conselhos do sobrinho.

Olivier estava sentado na calçada como fazia de costume. A rua estava calma, como o normal para aquela hora da manhã. Ele olhava para os lados enquanto o vento frio batia no seu rosto, e o sol só fazia brilhar no céu ao invés de aquecer. Era uma manhã de sábado e Olivier tirava os horários matutinos para pintar, conversar com os amigos, ou ir até a pracinha do Moinho. Ele costumava encontrar João, Rafael e Piedra que também saiam a essa hora pra conversar na calçada e pegar o sol da manhã, mas seu encontro matinal vai ter outra convidada. Louísa vinha se aproximando, se atreveu a sair sem seu pai notar, quando espiou da janela e viu Oliver sozinho finalmente. Já com más intenções ela se aproximou como quem não quer nada e se sentou ao lado de Olivier. O garoto olhou para a garota e sem querer ser mal educado a cumprimentou:

_Oi.

_Oi, tudo bem? _Disse Louísa simpática.

_Tudo bem. _Disse Olivier sem muito entusiasmo.

_Tá frio hoje né? _Tentou Louísa.

_Aqui sempre tá frio. _Disse Olivier.

_Tu e tua tia devem estar estranhando muito não é? _Perguntou Louísa. _Mudar de estado assim. São Paulo é bem diferente daqui. O clima é bem diferente.

_Aham. _Concordou Olivier sem estender a conversa.

_Eles falaram mal de mim não foi? _Perguntou Louísa, fingindo ser injustiçada.

_Eles quem? Os garotos? _Perguntou Olivier tentando sair da saia justa

_Eles mesmo. _Disse Louísa. _Eles te contaram o que aconteceu?

_Contaram. _Disse Olivier.

_Então deixa eu contar a minha versão. Aquela piranha da Piedra deve ter destorcido tudo. _Disse Louísa.

_Olha garota, eu sei o que você quer. Eles já me alertaram. _Disse Olivier sério. _Se você quer se aproximar deles, faça por merecer, não fique usando as pessoas como seus fantoches. A Patrícia podia ter morrido.

_É tudo mentira deles, eu não fiz aquilo com a Patrícia, eu nem sei onde ela arrumou aquelas drogas. _Disse Louísa.

_Não me interessa, eles me avisaram que você iria me procurar. _Disse Olivier ao se levantar. _Esquece todo mundo, deixa eles em paz.

_O que é isso guri, eu só estava querendo conversar contigo. _Disse Louísa se fazendo de ofendida. _Não precisa me agredir assim.

_Eu não estou te agredindo. _Disse Olivier.

_Então sai da defensiva, eu tô aqui só pra conversar, só isso. _Disse Louísa.

_Desculpa mesmo, mas eu tenho que entrar. _Disse Olivier.

_Mentira! Porque tu fica aqui a manhã inteira esperando eles. _Disse Louísa.

_Você fica me espionando? _Perguntou Olivier.

_Não. Lógico que não, cala a boca e me escuta. _Disse Louísa. _Eles são loucos, me odeiam porque eu tenho mais dinheiro que eles e sou mais bonita também. Eles te envenenaram contra mim. O que eles disseram?

_Que você iria se aproximar de mim e falar mal deles, como você está fazendo. Você ia inventar uma mentira pra justificar o que fez com eles e me colocar contra eles. Comigo do seu lado, você teria ajuda pra reconquistar o João de novo, porque é o que você quer. Era isso que você estava fazendo com Patrícia. Mas tarde você começaria a namorar comigo só pra causar ciúmes no João. Mas cai na real ele não gosta de você, ele te odeia. _Disse Olivier. _Assim como todos eles.

_E olha que essa idéia do namoro não é má, tu até que é bonitinho. _Disse Louísa segurando o braço de Oliver.

_Pra começar eu sou gay. _Revelou Olivier. _E mesmo se não fosse, você não faz o meu tipo.

Olivier entrou pra casa, batendo a porta com força quando passou. Louísa ficou parada no jardim da casa de Anne, sorrindo diante da revelação.

 

Olivier, não tinha pior pessoa pra você contar seu segredo. A Rua de Anne Marrie promete muitas capas da Society. Escândalo é que não vai faltar.

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