sábado, 6 de setembro de 2008

Capítulo 19: A doce Anne Marrie

Clarice ajeitava as flores no vaso quando algo passou correndo por ela:
_Rafael? _Disse Clarice assustada. _É tu?
Rafael já estava com a mão na maçaneta, fechou os olhos e se arrependeu por ter sido visto.
_Sim mãe, sou eu. _Disse Rafael dando meia volta.
_Quê jeito é esse de sair, sem falar comigo, sem avisar aonde vai? _Disse Clarice forçando uma voz severa.
_Desculpa mãe. _Disse Rafael se lamentando. _Eu estou indo trabalhar. Tu sabe.
_Não sabia querido, tu acabou de me falar. _Disse Clarice.
_Mãe eu estou atrasado, diga logo. _Disse Rafael.
_Eu não tenho nada pra dizer. _Disse Clarice ainda virada e arrumando as flores. _Eu só queria um beijo.
Rafael se apressou se aproximou mais da mãe e lhe deu um beijo na bochecha.
_Pronto! Até mais tarde mãe. _Disse Rafael correndo de volta para a porta.
_Calma. _Disse Clarice que continuava a mexer nas flores.
_Sabia. _Disse Rafael baixinho com a mão na maçaneta.
Rafael voltou devagar para perto da mãe.
Clarice continuou de costas para Rafael, parou de mexer nas flores e em seguida se virou lentamente. Os dois ficaram se encarando.
_Mãe eu tenho que ir, agora o João está me esperando. _Disse Rafael apressado.
_Eu sei, eu sei. _Disse Clarice com um olhar temeroso.
_O quê foi mãe? Perguntou Rafael preocupado.
_É que... _Começou Clarice. _Eu preciso da tua ajuda hoje.
_O quê é mãe? Diz logo. _Disse Rafael.
_É que teus irmãos vão vir aqui hoje. _Disse Clarice fechando os olhos.
_O quê? _Perguntou Rafael chocado. _O que eles vem fazer aqui?
_O Sérgio, teu irmão vai para Paris, estudar. _Disse Clarice.
_E daí, o que a gente tem a ver com isso? _Disse Rafael revoltado.
_E o pior nem é isso, a Ana Maria vai vir também. _Disse Clarice também revoltada.
_Pra quê isso? _Perguntou Rafael.
_Teu pai quer comemorar. _Disse Clarice. _Convidou todos eles, o Antônio também.
_Eles vão de novo ficar falando de mim. _Disse Rafael. _Eu não tenho que ser igual a eles, nem como o meu pai.
_Eu sei querido, eu sei. _Disse Clarice. _E eu tenho que ficar tratando bem aquela Ana Maria enquanto ela fica me fazendo inveja com a vida bem sucedida e independente que ela leva.
_Tu não tem que sentir inveja, é só tu não aceitar as provocações dela, finja que não é pra ti. _Disse Rafael.
_E eu ainda tenho que ficar rindo, teu pai disse pra eu tratar todo mundo bem. _Disse Clarice.
_Tu não é obrigada. _Disse Rafael.
_É sim. _Disse Paulo enquanto descia as escadas devagar com as mãos na gravata.
_Pai eu não tenho tempo pra ficar bajulando o Sérgio. _Disse Rafael nervoso.
_Rafael, seu irmão está dando um grande passo na vida, você devia prestigiá-lo _Disse Paulo ainda nas escadas.
_Bajular. _Concluiu Rafael.
_Paulo, isso é ridículo. _Começou Clarice. _Não somos só nós que não gostamos dessa situação, pra eles deve ser tão constrangedor como é pra gente.
_É minha família Clarice, Sérgio é meu filho e eu devo mostrar que estou feliz por ele. _Disse Paulo nos pés das escadas finalizando o nó na gravata.
_Ele é seu filho, não é meu irmão. _Disse Rafael.
_Ele também é da família, é seu meio irmão. _Disse Paulo. _Ele é meu filho e você também.
_Mas a Ana Maria não é da família. _Disse Clarice emburrada.
_É pai, pra quê ela vem? _Perguntou Rafael.
_Ela é a mãe dele, também está feliz por ele como eu. _Disse Paulo se aproximando dos dois.
_Com certeza ela não está feliz com essa reunião. _Disse Clarice desanimada.
_Merda! _Disse Rafael revoltado.
_Olha a boca mocinho. _Disse Paulo.
_Eu estou com vontade de falar merda também. _Disse Clarice igualmente revoltada.
_Hei, os dois podem se acalmando que hoje a tarde mesmo eles já estão aqui. _Disse Paulo.
_À tarde eu não vou estar aqui. _Disse Rafael cruzando os braços.
_Sorte tua. _Disse Clarice desanimada.
_Porquê senhor Rafael, eu quero a família toda junta. _Disse Paulo.
_Eu vou trabalhar pai, na Arte & Arte lembra? _Perguntou Rafael. _Não posso largar tudo pra lamber o saco do Sérgio.
_O quê é isso Rafael? Com quem você está aprendendo a falar desse jeito? _Disse Paulo chocado.
_Ai pai, sem drama agora. _Disse Rafael cansado do freqüente espanto de Paulo diante de uma frase de mau gosto.
_Desmarca tudo amor, por favor. _Pediu Clarice com a voz meiga.
_Eu vou fingir que nem ouvi isso Clarice, que nem ouvi. _Disse Paulo. _E o senhor Rafael, pode muito bem sair do serviço mais cedo.
_Pai eu tenho que estar com um projeto pronto pra hoje, e o João não pode ficar lá sozinho. _Disse Rafael.
_O negócio não é de vocês, é só parar a hora que vocês quiserem. _Disse Paulo. _Por mim filho.
_Pai não é tão fácil assim a gente tá começando agora e tá difícil arrumar cliente. _Disse Rafael. _Dá uma força ai vai, me libera dessa.
_Bom Rafael, você já é dono do seu nariz decida por você mesmo. _Disse Paulo. _Eu só aviso que ficaria muito decepcionado caso você não viesse. Ele é seu irmão e espero que você tenha um mínimo de consideração por ele.
Rafael respirou alto, olhou pra mãe e disse quando voltou a encarar o pai:
_Eu considero você, só você. _Disse Rafael. _Se fosse pelo Sergio eu não viria, MAS como isso vai te deixar feliz, eu venho.
Paulo sorriu e passou a cabeça na mão do filho.
_É assim que se fala filho. _Disse Paulo sorrindo. _Por isso que eu amo vocês, foi mais fácil de convencer do que eles.
_Eu não duvido. _Disse Clarice desanimada voltando a mexer nas flores.
_Nem eu. _Concordou Rafael. _Tchau pros dois, tenho que correr agora.
Rafael finalmente conseguiu girar a maçaneta e sair pela porta.
_Dirija devagar Rafael. _Recomendou Paulo ao acompanhar com os olhos o filho sair.
Paulo abraçou a mulher por trás e lhe cheirou o pescoço.
_Não adianta me agradar agora não. _Disse Clarice. _Guarde seu charme pra Ana Maria.
_Que Ana Maria, aquela lá não cai no meu charme a mais de 25 anos. _Disse Paulo se afastando e indo em direção a sala de jantar onde o café o esperava ainda quente.
_E ainda tenho que ficar arrumando flor, e ela não vai nem reparar. _Disse Clarice.
_Vai sim, nem que seja pra falar mal depois. _Disse Paulo ao vestir o paletó que pegou de cima do sofá. _Ana sempre foi muito perfeccionista, nossa casa estava sempre impecável.
_Isso, continua elogiando mesmo. _Disse Clarissa irritada. _Só não gasta muita lábia agora senhor juiz, porque a mulher perfeita ainda não chegou porque ela gosta de ouvir pra ela ficar se achando mais ainda.
Clarissa choramingou e seguiu pra sala passando por Paulo como um furacão.
_Essa mulher está ficando doida. _Disse Paulo finalmente pronto para ir para mais um dia de trabalho.

Rafael podia ser definido como um rapaz sonhador. Acreditava em muitas coisas, buscava muitas coisas, mas tinha um defeito: A acomodação, nunca se interessou em trabalhar ou fazer nada onde pudesse ter sua própria renda. Convenhamos que tendo a vida que ele tinha isso não era muito difícil de acontecer, sendo o mais novo de três irmãos, sendo mimado, bajulado, adorado, amado e venerado 24 horas por dia. Ele tinha sempre o que queria, mas não interpretem isso de forma ruim, não fazia pirraça, nem brigava pra ter nada, como outra família a dele a impunha limites morais e no cartão de crédito também. Apesar de não estar evidente Rafael nunca teve um maior admirador do que seu próprio pai, que nunca demonstrou isso como deveria por medo de que o filho lhe perdesse o respeito, e que no fundo Paulo sabia bem que era só ele pedir que ele ganhava, mas Rafael não sabia disso. Para evitar negar algo ao filho Paulo sempre pôs sua mulher à frente das decisões. Clarice era doce como o mel, mas sabia se impor para o filho e para o marido. Ela só não tinha sonhos porque já havia realizado todos eles, um marido, uma bela casa, uma família, sonhos comuns para alguns mortais, mas para quem já foi uma deusa da moda na passarela isso é algo distante e difícil de se conquistar. A fama tem desses problemas é muito boa, mas não dura pra sempre. Seja em qualquer área, no cinema, televisão, e no caso da Clarice a moda, o fim da carreira representa o fim de uma era, de uma vida e todos tendem a cair na obscuridade se drogando, bebendo ou fazendo coisa pior. Clarice Coelho foi uma das maiores modelos dos anos 70, ela havia chegado a um nível profissional tão alto que sua fortuna havia ultrapassado qualquer expectativa para uma mocinha gaúcha vinda do interior. Sempre na lista das maiores top’s do mundo, com uma conta bancária de dar inveja em Donald Trump, Clarice começou a perceber que já havia se realizado profissionalmente, não se permitia ser mais ambiciosa e continuar a ganhar dinheiro como modelo. Ela deixou tudo bem cedo quando decidiu ir atrás de seu segundo sonho, alguma coisa que a fizesse feliz, se apaixonar, ter vontade de passar o resto da vida com ela e desfrutar os melhores momentos que duas pessoas possam ter juntas. Fazer a distante palavra Felicidade chegar perto. Eis que surgiu Paulo Cortez de Lacerda, um juiz de direito aposentado, desembargador e presidente do tribunal de justiça do Rio Grande do Sul, um renomado intelectual que já havia escrito vários livros e começava a se destacar no mercado literário. Paulo foi casado com Ana Maria Bavernhof, uma chefe de cozinha que tinha um restaurante famoso no centro de Porto Alegre, além de uma linha de livros de receitas, e sua própria marca associada a um produto alimentício de cunho nacional que fornecia receitas patenteadas por Ana que levavam aos consumidores os mais requintados pratos. O casamento durou mais tempo que devia, pois Ana sempre foi muito independente e se dedicava integralmente ao trabalho e ao filho, a relação com Paulo era fria, eles mal se viam durante o dia e a noite Ana desejava que isso acontecesse também, depois de uns dez anos de casada decidiu dormir em quarto separado. O que manteve os dois juntos por mais alguns anos foi o filho Antônio, que não aceitava a separação dos pais. Mas a situação ficou insuportável quando Ana descobriu que Paulo estava saindo com uma mulher mais nova, mais rica e mais famosa chamada Clarice Coelho. Ana havia chegado cansada do trabalho e se permitiu debaixo dos gritos de Antônio descansar um pouco no sofá, ao pegar o exemplar da semana da revista Society seu marido e uma loira extremamente magra estampavam a capa. No outro dia Paulo estava deixando a mansão que o casal dividia em Porto Alegre. Antônio gritou, berrou, esperneou, chorou, ameaçou fugir de casa, mas nada impediu o divórcio. Já casado com Clarice, o juiz freqüentava a casa de Ana todos os fins de semana para ver o único filho, foi em uma dessas noites também que Ana engravidou de seu segundo filho com Paulo, Sérgio. Não perguntem como e nem porque os dois foram para a cama, Paulo não tinha do que reclamar de sua vida sexual com Clarice, mas já Ana passava exatos 5 anos sem ver a cor da coisa. Um ano depois, Paulo tinha mais dois filhos, Sérgio o filho de Ana, e Rafael o filho de Clarice, que exigiu também ser mãe e dar um filho a Paulo quando descobriu que Ana estava grávida de novo. Confusão não é? Agora o que o Paulo tem pra essas duas mulheres ficarem assim, aceitar, amar, desamar, separar, ter filhos, como se fosse normal um homem ter duas mulheres quase ao mesmo tempo? Como diria Mirosmar José de Camargo: É o amor.

Clarice trajava um vestido lindo, era verde claro com bordados indianos nas extremidades, uma fina fita de cetim amarrava o busto na frente e caia elegantemente até o joelho. A casa estava impecável, para fugir das possíveis críticas de Ana Maria que não faria cerimônia para dizer o que pensava. A comida a ser servida deveria ser especial, afinal o paladar de Ana era apurado e refinado, críticas não seriam dispensadas por ela principalmente quando o assunto era esse. Na decoração havia flores e tudo estava bem alegre. Ana não iria se decepcionar. Mas a festa não era pra Sérgio? Diga isso a Clarice que sempre quis provar para quem quer que fosse que ela era melhor do que Ana em tudo.
_Oi amor! _Disse Paulo ao entrar em casa.
_Estou aqui querido. _Disse Clarice ajeitando dessa vez outro vaso de flores em cima do piano da sala de estar.
_Está tudo incrível Clarice, como conseguiu fazer isso em um dia só? _Perguntou Paulo chocado diante do espetáculo que estava a casa.
_Não há nada que eu não consiga, querido. _Disse Clarice oferecendo o rosto para um beijo de Paulo.
Paulo correu para perto da esposa e lhe deu um beijo carinhoso na bochecha.
_E a comida? _Perguntou ainda olhando para os detalhes da sala.
_Divina. _Disse Clarice. _Eu mesma provei, dessa vez a Ana não vai ter do que falar.
_Deus seja louvado por isso. _Disse Paulo. _Ninguém quer que ela comece a falar.
_Zuleica? _Chamou Clarice.
_Sim senhora. _Se aproximou a empregada.
_Fala pra Arlete não colocar o peixe pra gratinar ainda, eu tenho que olhar o último ingrediente da receita, não sei se vai queijo ou creme de leite. _Disse Clarice.
_Sim senhora. _Disse Zuleica antes de deixar a sala.
_Você está cozinhando? _Perguntou Paulo sentando no sofá.
_Cozinhando não meu bem, que eu ainda não cheguei a esse ponto, eu só fiz o cardápio. _Disse Clarice. _Mas tenho que olhar tudo, acompanhar de perto como está na receita, porque a Arlete acha que tudo é igual feijoada.
_Podia ser. _Disse Paulo.
_Tu ficou louco. _Reprimiu Clarice. _A Bavernhof vem jantar aqui hoje, ela tem que sair daqui remoída de inveja. Só de ver como eu sou uma mulher perfeita.
_Sem crise de ciúmes hoje heim Clarice. _Pediu Paulo afrouxando a gravata.
_Quê ciúme? Ela que vai sentir inveja de mim, e muita meu bem. _Disse Clarice sorrindo ainda mexendo nas flores.
Clarice finalmente terminou de ajeitar as flores no piano.
_Piano horrível, trem velho, pra quê tu ainda tem isso? _Perguntou Clarice.
_É herança de família. _Disse Paulo.
Clarice virou para o marido e percebeu que ele ainda não havia se aprontado.
_O quê o senhor está fazendo aqui em baixo ainda? _Perguntou Clarice dando pequenos tapas em Paulo. _Já pra cima, tomar um banho, e ti arrumar. Se ela chegar e ti ver aqui assim, vai acabar com a minha noite.
_Calma Clarice. _Disse Paulo se levantando rapidamente. _E pare de se preocupar tanto com a Ana, a noite é do Sérgio, nem dela, nem sua.
_Que seja. _Disse Clarice batendo a mão no sofá. _Vai, vai, vai, vai.
_Onde está o Rafael? _Perguntou Paulo seguindo pras escadas.
_Está no banho, chegou agora a pouco também. _Disse Clarice.
_Peça pra ele se comportar na frente dos irmãos e da Ana, Clarice. _Pediu Paulo piedoso.
_Pode deixar meu bem, ele vai se comportar. _Disse Clarice.
_Brigar com o Sérgio está fora de questão, você sabe como eles não combinam não é? _Disse Paulo já nas escadas.
_Deixa que eu falo com ele. _Disse Clarice. _Agora vai tomar teu banho e ti trocar, porque agora eu vou até a cozinha olhar o peixe. Sua roupa já está separada em cima da cama.
_Por isso que eu te amo. _Disse Paulo sorrindo antes de subir as escadas.
_Eu sei. _Concordou Clarice sorrindo.
Clarice foi até a cozinha dar as ultimas instruções para Arlete terminar a receita e depois voltou pra sala para olhar novamente as flores que depois de alguns minutos na cabeça de Clarice já não estavam como ela havia deixado.
_Mãe? _Chamou Rafael descendo a escada correndo.
_Na sala. _Disse Clarice novamente ajeitando as flores. _Desce devagar Rafael, um dia tu ainda vai cair dessa escada.
_Eu não tenho 10 anos mais mãe. _Disse Rafael chegando à sala. _De novo mexendo nessas flores mãe? Desde manhã tu está mexendo com essas flores, senta um pouco e relaxa.
_Relaxar só depois que estiver tudo pronto para a Ana. _Disse Clarice virada para o filho ajeitando as flores.
_Tu podia transformar a casa no Palácio de Buckingham que ela nem iria notar, e ainda iria sair falando que o cardápio real não a agradou. _Disse Rafael sentando no sofá.
_Tu não está entendendo, nós já vamos ser humilhados por ela com a família toda reunida. _Disse Clarice.
_Nós não, eu. _Disse Rafael já estirado no sofá com os pés pra cima. _Eu vou ser humilhado. Afinal eu tenho a idade dele e ainda estou aqui morando com meus pais e ele vai estudar na França. Grandes bosta!
_Rafael, olha a boca menino. _Advertiu Clarice. _E ainda bem que tu mora coma gente, essa história de filho indo pra exterior sozinho é coisa de pai desesperado, que aceita tudo que o filho pedi.
_Então quer dizer que eu só poderia ir morar sozinho se você deixasse? _Perguntou Rafael.
_Mas é claro. Quem é a mãe aqui heim? _Disse Clarice sorrindo.
_Ah é? Pois então é agora que eu vou bem do morar fora. _Disse Rafael. _Estou pensando na Itália, e aí tá bom pra ti? Morar na Toscana, heim.
_Claro, se na sua casa tiver um quarto bem grande pra mim e seu pai, morar na Itália seria perfeito. Já estive lá algumas vezes, é lindo. _Disse Clarice.
_Não mãe, tu e o pai ficam aqui. _Disse Rafael. _Eu vou morar sozinho.
_Mas é claro que não, quê eu não sou igual à Ana que quer se livrar do filho só pra poder namorar em paz. _Disse Clarice.
_Isso por que tu roubou meu marido, queridinha. _Disse Ana sorrindo quando entrou pela sala com um enorme embrulho na mão.
Clarice se assustou com a entrada triunfal de Ana, Rafael a encarou e voltou a cutucar a unha do pé.
_Ana? _Disse Clarice totalmente envergonhada. _Me desculpe eu nem percebi tua chegada.
_Tenho certeza que tu estava cuidando para que tudo ficasse perfeito. _Disse Ana entrando pela sala. _E confesso que quase conseguiu.
Clarice riu sem graça e se aproximou para cumprimentar Ana.
_Claro que tudo está a beira do exagero, mas eu não esperava menos de ti. _Disse Ana.
_Sempre tão educada tia Ana. _Disse Rafael ainda mexendo no dedo.
_Sempre tão mal educado Rafael. _Disse Ana ao se aproximar de Rafael.
_Eu fui irônico. _Disse Rafael desanimado com a visita ao se levantar.
_Mal educado e com chulé. _Disse Ana ao se aproximar e dar um abraço em Rafael.
_Rafael, o que tu está fazendo aqui com essa roupa? _Perguntou Clarice envergonhada.
_Porque as pessoas têm que vestir alguma coisa mãe, para se cobrir as regiões baixas. _Disse Rafael.
_Tenho certeza que nada por ai mudou muito. _Disse Ana sorridente.
_Só cresceram um pouquinho demais. _Disse Rafael desenhando um sorriso falso no rosto.
_Acho que não, a julgar pelo teu pai. _Disse Ana cumprimentando Clarice com beijinhos leves na bochecha.
_Rafael, já pra cima tirar esse short e essa camiseta vista algo mais adequado. _Disse Clarice o empurrando até a escada.
_Preto talvez, pro meu funeral. _Disse Rafael enquanto era arrastado até a escada.
_Quê é isso querido, não se incomode comigo, eu já sou de casa, pode ficar a vontade. _Disse Ana.
_Na verdade tu é a causa da minha morte. _Disse Rafael antes de subir as escadas.
Clarice sorriu forçadamente tentando esconder seu nervosismo.
_Me desculpa Ana Maria ele é assim agora, tem as respostas na ponta da língua. _Disse Clarice corada nas bochechas. _É a idade boba, daqui uns anos passa e ele cresce.
_Engraçado, o meu Sérgio tem a mesma idade e já vai morar sozinho, trabalhar fora do país. _Disse Ana.
_Lá fora também estão precisando de garçons. _Gritou Rafael de lá de cima.
_Menino vai logo se trocar! _Disse Clarice. _Quê coisa irritante esse menino meu Deus!
_Eu não tenho culpa se eu fiquei com melhores espermatozóides do Paulo, o que lhe restou foi só isso, sinto muito. _Disse Ana sorrindo.
_Sabia que ele está trabalhando? _Perguntou Clarice ao retornar a sala e tentar ganhar alguns pontos na guerra fria que se travava naquela sala.
_É eu soube que o McDonald’s está precisando de muitas pessoas. _Disse Ana.
_Ele tem seu próprio negócio. _Disse Clarice orgulhosa.
_Que bom, Clarice e o que seria isso, uma banda? _Disse Ana sarcástica.
_Não. Uma empresa de designers. _Disse Clarice. _Paulo acabou de ajudar ele a construir e dar o primeiro passo na vida profissional.
_Tenho certeza que será um sucesso. _Disse Ana Maria. _Tu disse que foi o Paulo que pagou por tudo?
_Tudo não, porque o Rafael entrou com uma sociedade com um amigo dele que mora aqui ao lado, daí o pai dele e o Paulo dividiram as despesas. _Disse Clarice sorridente.
_Que ótimo Clarice, darei meus parabéns a ele. _Disse Ana. _Vamos comemorar isso também.
_Ele não gosta que o bajulem. _Disse Clarice.
_Então não diga pra ele que o Papai Noel não existe. Me poupe Clarice, você é quem faz isso? _Disse Ana rindo ao sentar no sofá. _Dá pra alguém levar isso pra cozinha senão vai derreter.
_O quê é isso? _Perguntou Clarice se apressando para apanhar o pacote.
_Torta portuguesa de goiabada com sorvete de queijo, mandei prepararem lá no restaurante. _Disse Ana entregando a Clarice o embrulho. _Eu sabia que não iria dar conta então garanti a sobremesa.
_Na verdade eu fiz uma, de um dos seus livros. _Disse Clarice esperando ouvir elogios.
_Pelo amor de Deus Clarice, tu me convida para a festa do meu filho na sua casa, e tem coragem de servir um dos meus pratos, um dos que eu já não agüento mais ouvir falar, sentir o cheiro, muito menos provar. Não mesmo, estou de dieta.
_Mãe, dá pra ser mais educada? _Disse Sérgio com alguns embrulhos na mão. _Olha tudo isso aqui, você devia agradecê-la é tudo pra mim.
_Obrigada Clarice pela ótima recepção. _Disse Ana sarcástica. _Por favor, Clarice, Pra quê tudo isso? A gente veio apenas comer alguns aperitivos e você pelo jeito está preparando um banquete.
_Mas você também pensou que seria um banquete trouxe até a sobremesa. _Disse Clarice sorridente com o embrulho escorrendo na mão.
_Eu trouxe alguma coisa de ultima hora não é Clarice, pensei que não iria ter nada para a gente comer. _Disse Ana.
_Mãe? _Reprimiu Sérgio entrando pela sala. _Muito obrigado Clarice está tudo perfeito.
_Obrigada Sérgio, pelo menos algum reconhecimento pelo meu trabalho. _Disse Clarice ao cumprimentar Sérgio com beijinhos no rosto.
_Minha mãe é assim mesmo, nunca vai te aceitar. _Disse Sérgio.
_Sérgio não seja ridículo. _Disse Ana sem jeito.
_É eu sei disso. Mas vamos deixar as diferenças de lado, hoje é seu dia querido. _Disse Clarice para Sérgio. _Zuleica?
_Ainda com a Zuleica, Clarice? _Perguntou Ana. _Mas tu tem mesmo muita sorte, achar uma empregada fiel hoje em dia é quase impossível. Só esse mês lá em casa já passaram três, não é Sérgio?
_Mas a diferença lá em casa é que a patroa é outra, sabe Clarice? _Disse Sérgio. _O problema não é a empregada que é ruim, mas a patroa que não acha ela boa o bastante para o serviço.
_Eu entendo. _Disse Clarice sorrindo. _Ana Maria Bavernhof sempre difícil de satisfazer.
_Eu não tenho culpa se nada está a minha altura. _Disse Ana cruzando as pernas.
Clarice sorriu por fora, mas por dentro queria matar aquela mulher.
_Sim senhora? _Disse Zuleica ao entrar pela sala.
_Leve isto pra cozinha e ponha no freezer. _Disse Clarice entregando o pacote melado a Zuleica.
_Sim senhora. _Disse a empregada antes de deixar o local.
_Cadê Rafael? _Perguntou Sérgio tentando ser gentil, mas todos sabiam que os dois se odiavam.
_Calma filho, ele só foi se trocar. _Disse Ana. _Daqui a pouco você esfrega sua vida de sucesso na cara dele.
Ana sorriu, fazendo Clarice e Sérgio se constrangerem com tamanha indelicadeza.
_Mãe, por favor. _Disse Sérgio envergonhado.
_Mas é verdade filho, você tem a mesma idade que ele e já tem uma carreira de sucesso.
_Quê carreira mãe, eu só vou estudar. _Disse Sérgio.
_Em uma agência multinacional de engenharia na França. _Disse Ana Maria com a boca cheia, tomada de orgulho pelo filho.
_Eu vou estagiar como outros milhares de garotos e garotas. _Disse Sérgio. _Sem contar que foi o papai que arrumou esse serviço pra mim.
_Isso não te faz menos merecedor, você é bom profissional e ganhou a oportunidade certa. _Disse Ana.
_Eu tenho o pai certo, só isso. _Disse Sérgio.
_O quê é isso Sérgio, não se diminua tanto assim, você é maravilhoso no que faz. _Disse Clarice tentando ser educada.
Mas se tinha uma pessoa que era bem educada, amável, carinhosa e respeitadora da família Bavernhof era Sérgio. E esteja certo de que todo o resto era exatamente o oposto.
_Mesmo porque o Rafael teve a mesma chance e a desperdiçou. _Disse Ana.
_Ele tem outros planos. _Disse Clarice em defesa do filho.
_Ele quer ser um artista, ainda bem que ele tem um pai rico se não estaria ferrado. _Disse Ana. _Tu sabia Sérgio que ele abriu uma pequena empresa, de quê mesmo?
_Designer mãe. _Respondeu Sérgio. _É, eu ouvi falar.
_Ele está muito contente, a empresa está crescendo rápido. _Mentiu Clarice que sabia que a empresa não havia evoluído. _Eles estão com muitos clientes, ele mal pára em casa, sabe como é não? Negócio próprio onde você é o patrão, no começo exige alguns esforços.
Rafael vinha descendo as escadas com uma roupa não muito melhor do que a que estava usando antes. Uma calça xadrez e uma blusa de banda.
_Aí está ele, o patrão. _Debochou Ana ao Rafael entrar pela sala.
_Eu estava contando pra eles filhos, sobre como a sua empresa está evoluindo bem e que tu mal para em casa de tanto trabalho. _Disse Clarice sorridente.
_Eu só tive dois clientes até agora, e eu não sei quando a gente vai voltar a ter trabalho porque ninguém se interessa. _Disse Rafael. _Eu não paro em casa porque não tem nada de mais para fazer aqui.
_Sucesso. _Disse Ana sorrindo. _Adoro essa palavra.
Clarice se corou diante do embaraço.
_E aí Rafa, como vai? _Cumprimentou Sérgio sempre muito educado.
_Acabei de dizer. Não ouviu? _Disse Rafael.
_Calma Rafael Boss. _Debochou Ana Maria sorrindo logo em seguida.
_Aninha querida, vai lá ver se na cozinha estão precisando de ajuda. Acho que a comida está ficando boa demais. _Disse Rafael se jogando no sofá.
_Rafael se comporte, seu pai não vai gostar de seus modos. _Disse Clarice.
_Afinal pra quê é tudo isso? _Perguntou Rafael. _É pra despedida do Sérgio? Serginho vai com Deus, traz alguns croissants pra mim. Pronto, posso ir agora?
_Rafael? _Advertiu Clarice. _Desse jeito seu pai vai acabar te mandando para o quarto de castigo.
_Eu seria eternamente grato. _Disse Rafael.
_Quê lindo! O Paulo ainda ti põe de castigo? _Disse Ana sorrindo.
_É. Eu sou um garoto mal. _Disse Rafael rindo.
Ana e Rafael gargalharam enquanto Clarice e Sérgio se contorciam de tanto desconforto.
Paulo desceu pela escada.
_Que bom que a família está se dando bem. _Disse Paulo ao entrar pela sala. _Eu esperar ouvir gritos, ver sangue.
_Ai Paulo não venha com esse papo de família de novo. _Disse Ana.
_Mas é verdade, vocês todos são uma família, minha família. _Disse Paulo ao sentar no sofá.
_Não somos uma família. _Disse Rafael, Clarice, Ana e Sérgio num coro.
_Até falam juntos. _Disse Paulo.
_Nós não somos uma família. _Disse Antônio ao entrar pela sala. _Nós somos o retrato do tanto que você não presta.
_Esse é meu filho. _Disse Ana sorrindo.
Paulo se contorceu na cadeira junto com Clarice e Sérgio.
_Toni, pega leve. _Disse Sérgio.
_O que você estava fazendo? _Perguntou Paulo. _Você estava escondido ai, ouvindo nossa conversa?
_Estava. _Disse Antônio sorrindo. _Eu estava esperando uma deixa pra fazer uma entrada triunfal.
_Conseguiu. _Disse Ana sorrindo.
Antônio entrou pela sala trazendo uma garota junto com ele.
_Família, essa aqui é a Bárbara. _Disse Antônio. _Diz oi Bárbara.
_Oi. _Disse Bárbara sem graça.
_Nossa agora elas também vem em reunião de família, deve cobrar um extra. _Disse Rafael rindo.
_Não enche guri. _Disse Antônio. _Senta ai amor.
O climão se instalou na sala. Sabe aquele silêncio que dura segundos, mas parece ter durado horas e ninguém tem coragem de se encarar para evitar qualquer comentário que pudesse piorar as coisas.
_E pra quando é a viagem? _Perguntou Paulo tentando puxar conversa.
_Pai, pra quê isso? _Perguntou Sérgio. _Isso é ridículo. Pra que esse reunião?
_Nisso eu concordo irmãozinho. _Disse Rafael.
_Ele não é seu irmão. _Disse Antônio.
_Cala a boca Toni! _Disse Rafael.
_Antônio, por favor. _Pediu Paulo.
_Paulo isso aqui está ridículo amor, convocar uma reunião pra fazer o quê? _Disse Clarice.
_Parem de criticar, por favor. _Disse Paulo. _Eu só estava tentando juntar mais a família.
_A gente não é uma família. _Disse novamente todo o coro: Rafael, Sérgio, Antônio, Ana e Clarice.
_Agora que um membro da FAMÍLIA vai embora, achei que a gente deveria se reunir pela ultima vez. _Disse Paulo.
_Pela ultima vez? _Ironizou Antônio. _A gente mal se vê durante o ano, só em datas comemorativas e ainda tu é que obriga a gente, como agora.
_Eu não obrigo. _Se defendeu Paulo.
_Tu fica tentando consertar a toda hora a grande cagada que você fez na sua vida. _Disse Antônio.
_Antônio, cala a boca. _Disse Sérgio.
_É verdade. _Disse Antônio. _Ele teve duas famílias e agora insiste em juntar a gente. Nós não temos que pagar pelo seu erro.
_Antônio? _Disse Sérgio.
_Pagar? _Disse Paulo. _Eu só quero que vocês se dêem bem.
_Paulo não adianta tentar juntar óleo com água. _Disse Ana.
_Mas não precisa ser assim. _Disse Paulo. _Vocês já se deram bem às vezes.
_Mas de forma natural Paulo, não desse jeito forçado. _Disse Clarice. _A gente não é uma família, nós somos duas. Passamos por momentos muito difíceis e ainda nos falamos e isso já é muito.
_Clarice você acabou de dizer uma coisa certa. _Disse Ana.
Paulo se calou e o clima sentou de novo com eles na sala.
_Senhora? O jantar já pode ser servido. _Disse Zuleica ao entrar pela sala.
_Graças a Deus. _Disse Paulo se levantando. _Vamos comer!
_Estou de regime. _Disse Ana.
_Não estou com fome. _Disse Sérgio de cabeça baixa.
_Nem eu? _Disse Antônio. _Quer comer amor?
_Não, também estou de regime. _Disse Bárbara.
_São quantas horas agora, 7 horas da noite? _Perguntou Rafael. _Está na hora do café da tarde, não de janta.
_Querida? _Perguntou Paulo a Clarice.
_Perdi a fome. _Disse Clarice desanimada.
_Que pena querida, tanto trabalho por nada. _Disse Ana.
_Vocês conseguiram estragar mais uma reunião de família. _Disse Paulo sentando se novamente totalmente frustrado.
_De novo? _Disse Antônio. _Não sei porquê o senhor ainda tenta.
_Pra que esses pacotes Sérgio? _Perguntou Paulo apontando algumas sacolas, malas e embrulhos que Sérgio tinha perto do pé.
_São algumas das minhas coisas, coisas que eu passei ali no centro e comprei não deu tempo de passar em casa. _Disse Sérgio.
_Porque não deixou isso no carro? _Perguntou Paulo.
_Porque eu vim de carona. _Disse Sérgio.
_Cadê seu carro? _Perguntou Paulo.
_Vendeu. _Respondeu Ana.
_Vendeu? Por quê? _Perguntou Paulo.
_Eu preciso ir pra Paris agora pai, pra ir ajeitando algumas coisas, como apartamento, carro e entrar para um cursinho de francês rápido pra quando começar o serviço eu já estar pronto. _Disse Sérgio.
_Eu ainda não entendi o quê é que o carro tem a ver com isso tudo. _Disse Paulo.
_Acontece excelentíssimo Paulo, que essas despesas extras a empresa não vai cobrir. _Disse Ana.
_Por isso você vendeu o carro? _Perguntou Paulo.
_É. _Disse Sérgio. _Mas não dá nem pro começo.
_Evidente que não. _Disse Paulo.
_E tu de vez ajudar, fica financiando pequenos empresários, gastando dinheiro à toa. _Disse Ana.
_À toa não Ana, que ele está investindo no nosso filho. _Disse Clarice.
_E o meu, como que fica nessa história? _Perguntou Ana.
_Está reclamando de quê? Não foi o pai que arrumou o emprego pra ele lá na França? _Disse Rafael.
_Calma ai. Calma ai, que isso não envolveu dinheiro nenhum. _Disse Ana em defesa do filho. _Sérgio conseguiu a vaga como qualquer outro.
_Tá bom. _Riu Rafael.
_Eu fiz a prova Rafa. _Se defendeu Sérgio.
_Tu nunca fez vestibular, não tem noção nenhuma de francês, e passou assim direto no exame!? _Disse Rafael.
_Eu fiz alguns meses de francês, só não domino a língua, mas tenha uma noção básica. E eu estudei pra prova como todo mundo estuda pra vestibular. _Disse Sérgio. _E tu?
_E tu, o quê? _Perguntou Rafael.
_Nunca se interessou por nada, agora resolveu virar designer. _Disse Sérgio.
_Resolvi não, que eu venho me especializando na área tem mais de três anos. _Disse Rafael.
_E uma grande carreira te espera não é? _Disse Ana.
_Tu devia é parar de se preocupar comigo e tomar conta da sua vida. _Disse Sérgio.
_Eu preocupar com a tua vida? _Disse Rafael. _Se enxerga guri.
_Fica com esse ciúme bobo a vida toda, vê se cresce Rafael. _Disse Sérgio.
_Quê ciúme guri, quê ciúme? _Disse Rafael nervoso. _Que eu tô cagando pra o que tu faz ou deixou de fazer. Na verdade eu tô achando muito bom que tu vai embora assim eu não tenho que olhar pra tua cara por um bom tempo.
_Vai ser ótimo voltar pro Brasil vir pra cá e te ver socado naquele quarto, sem fazer nada, só desenhando no computador. _Disse Sérgio nervoso. _Idiota, crianção!
_Parem vocês dois. _Disse Paulo severamente.
_E eu que pensei que isso aqui ia ser um saco. _Disse Antônio rindo com a namorada.
_Eu não tenho que ficar ouvindo isso. _Se levantou Rafael.

_Espera Piedra!
_João eu não quero conversar com você agora. Eu não quero brigar com você.
_Você já está brigando.Calma.
_A Louísa de novo? A gente já falou sobre ela antes, não tem mais nada pra ser dito.
_Ela só estava esperando minha irmã.
_No seu quarto?

Rafael ouviu a voz de Piedra e João discutindo do lado de fora da mansão Lacerda.
_Eu vou sair. _Disse Rafael antes de sair andando pela sala.
Ao chegar perto da porta ele disse:
_Mãe obrigado, o jantar estava ótimo. Pai adorei a reunião, é bom que a família se junte as vezes pra se conhecer melhor. E quanto mais isso acontece mais eu quero distância.
A porta bateu leve quando Rafael saiu.
_Alguém quer torta portuguesa de goiabada com sorvete de queijo? _Perguntou Ana sorridente. _Pelo menos uma coisa tem que ser aproveitada dessa noite.

Horas mais tarde Rafael havia acabado de conhecer a mulher mais bonita que ele já havia visto na vida. Quando finalmente se juntou aos três caídos no chão Rafael se sentou devagar na grama e ficou olhando de longe Anne e Olivier tirando as coisas do carro e não havia gesto antes pra ele mais angelical e doce.
_O quê tu está fazendo? _Perguntou Piedra quando percebeu o transe de Rafael.
Mas Rafael não respondeu.
_O quê é que foi guri? _Disse Piedra passando a mão diante dos olhos do garoto. _Rafael? Rafael? RAFAEL?
Gritou.
_Oi? _Perguntou o garoto assustado.
_O quê tu está fazendo, me ajuda a levar todo mundo pra casa agora. _Disse Piedra.
_Tá bem. _Concordou Rafael que começou a levantar João do chão. _Levanta cara, vai pra casa, leva tua irmã.
_Quem é aquela? _Perguntou João abobado também pela beleza de Anne.
_Ela chama Anne Marrie, vai morar aqui na rua agora guri. _Disse Rafael ajudando o amigo a se levantar.
_Ela é perfeita. _Disse João.
_Hei, eu ainda estou aqui, estou ouvindo vocês. _Disse Piedra enquanto ajudava Patrícia a se levantar.
_Anne Marrie. _Disse Rafael tentando acreditar em tão bela criatura ao repetir seu nome. _Esse nome guri, é doce. A doce Anne Marrie. Tenta.
_A doce Anne Marrie. _Disse João risonho. _A doce Anne Marrie. Anne Marrie.
_Parem vocês dois, eu vou vomitar aqui. _Disse Piedra.
Parece que a palavra lembrou algo a Patrícia que em seguida vomitou em cima de Piedra.
_Que nojo! _Gritou Piedra.
_Anne Marrie. _Disse Rafael.
_Anne Marrie. _Disse João.
_Anne Marrie. _Disse Rafael.
_Anne Marrie. _Disse João.
E os dois ficaram repetindo aquele nome durante um tempo, dentro da mente junto com a imagem da bela Anne. E eles não podiam esquecê-la, não podiam simplesmente virar a cabeça e dormir. O céu havia aberto as portas para tão doce criatura descer a terra.

E não se enganem rapazes de anjo essa daí só tem a cara.

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