domingo, 14 de setembro de 2008

Capítulo 20: Um amigo inesperado apareceu na história de Anne Marrie

_Entra! _Disse Anne animada.

Ao acabar de fechar a porta Anne levou Roger até o meio da sala e o ofereceu um banco de madeira para sentar na falta de um sofá. Ela tinha um grande sorriso no rosto e não conseguia disfarçar.

_Pode tirar esse sorrisinho da boca menina. _Disse Roger.

Olivier que assistiu tudo da corredor, interveio:

_Tia, está tudo bem?

_Tudo ótimo Olivier. _Respondeu Anne sorrindo. _Já acordado, tão cedo?

_Preparei o café. _Disse Olivier.

_Ótimo. _Disse Anne. _Você pode nos servir?

_Claro. _Disse Olivier desconfiado de Roger e de suas intenções.

_Garoto? _Chamou Roger antes de Olivier deixar a sala. _O meu sem açúcar e se tiver creme eu aceito um pouco.

Olivier olhou com uma cara feia e seguiu para cozinha.

_Bom, vamos lá. _Disse Roger.

_Cadê ele? _Perguntou Anne aflita e curiosa.

_Calma. _Disse Roger. _Eu só disse aquilo pra você me deixar entrar.

Os músculos no rosto de Anne se contraíram e o sorriso desapareceu por completo.

_Saia da minha casa agora! _Ordenou a menina.

_Anne, não seja ridícula. Senta e escuta o que eu tenho pra te dizer. _Disse Roger.

_Eu não quero ouvir nada da sua boca, nos últimos anos sua família vem querendo destruir meu nome. _Disse Anne.

_Eu não. _Disse Roger. _Não sei o que acontece, a única explicação seria a adoção.

_Meu filho foi adotado? _Perguntou Anne num súbito de esperança.

_Não. Eu fui. _Disse Roger. _Isso é o que eu acho. Seria a única explicação.

_Eu não quero te ouvir vai embora agora ou eu vou chamar a polícia. _Disse Anne.

_Eu sou a polícia, agora senta ai e me escuta. _Disse Roger.

_Duas perguntas: Para que? E Porque? _Disse Anne.

_Pra simplesmente ouvir o que eu tenho a dizer. E porque você vai precisar de ajuda pra encontrar seu filho. _Disse Roger.

_E ainda continuo a perguntar: O quê isso te interessa? _Disse Anne.

_De certo nada. _Disse Roger. _Mas digamos que eu estou lhe devendo um favor. Eu vim pagar.

_Quê favor? _Disse Anne.

_Você matou o meu irmão. _Disse Roger. _E eu te agradeço por isso.

Anne se assustou com aquilo.

_Isso mesmo que você ouviu Aninha. _Disse Roger. _Ao contrário do que você pensa, eu não fui o único, acho que a família toda ficou feliz pela morte do Humberto, mas a diferença é que eu sou o único com coragem pra falar isso. O Humberto sempre envolveu a família em escândalos, em polemicas sociais. A morte dele sai muito, mas muito mais barato pra nós da família do que se ele continuasse vivo.

Nessa hora Anne ficou feliz em ter a família que tem.

_Depois da morte dele eu pude me aproximar mais da família toda e só ai eu fui perceber o que realmente atrapalhava minha vida com todos os Fonseca. Era ele, Humberto. Nunca nos damos bem sabia? O caçula, sempre me culpava de tudo. Eu levava a bronca só pra deixar ele feliz. Dizia que se eu não mentisse ele não iria mais brincar comigo. Crianças são as criaturas mais cruéis que a terra conheceu. Podem dizer que eles são inocentes, não sabem o que é errado ou o que é mentira, mas a mesma coisa acontece com o leão e mesmo assim ele vive numa jaula. Ainda bem que a criança sabe chorar e não tem garras. _Disse Roger.

_Cala a boca Roger, você está doente. _Disse Anne. _Sai daqui agora.

_Ao contrário, você me curou. _Disse Roger. _Minha doença chamava Humberto, agora acabou Anne.

_Sai daqui agora. _Disse Anne se levantando e indo até a porta. _Eu fiz aquilo por mim e pelo que me lembro você me deu o endereço. Não foi nada fácil pra mim Roger, eu ainda estou procurando meu filho, quero começar uma vida nova sem mais problemas. E agora você é um.

_Está bem, eu vou parar de enrolar. _Disse Roger. _Eu vim aqui como eu disse para agradecer você por tudo.

_Eu matei duas pessoas, e tenha certeza que não foi por ajudar ninguém, nem a mim muito menos a você. _Disse Anne.

_Como não Anne? _Disse Roger.

_Você acha que ter matado o Humberto me ajudou no quê heim? Meu filho está aqui comigo? Mas é claro que ficar na cadeia pra você deve ser ótimo não é Roger? Eu respondo, não foi nada legal, eu nem pude ficar com meu pai nos seus últimos dias, eu não pude ver meus sobrinhos nascerem, não pude ficar com a minha irmã, não pude ir ao casamento dela. E tudo isso pra quê? Pra nada. Porque eu matei um homem e uma mulher que não tinham nada haver com a minha vida. Eu matei à toa. _Disse Anne com lágrimas nos olhos.

_Eu sinto muito. _Disse Roger.

_Não sente não Roger, sabe por quê? Porque você está aqui fazendo um papel de ridículo me dando os parabéns por ser uma assassina condenada. E você ainda espera que eu te sirva café. _Disse Anne gritando, sacudindo a porta e chorando. _Porque você não me disse que era uma menina? Porque aquele dia no café você não falou que era uma menina? A filha do Humberto era uma menina. Porque você não me falou?

_Eu não sabia que isso importava. _Disse Roger. _Eu nem sabia o sexo do seu filho com ele. Pensei como você que a Amanda era a sua filha.

_Mentira! _Disse Anne rispidamente. _Mentira, por que você perguntou lá no café qual era o sexo do bebê.

_Perguntei? _Disse Roger.

_Perguntou. _Disse Anne. _E mesmo sabendo que eu ia encontrar uma menina você me deu o endereço e deixou eu ir.

_Olha aqui menina, eu queria que vocês se entendessem de uma vez, está bem? Que colocassem um ponto final nessa história. _Disse Roger.

_Sabe o que parece? Parece que você queria que eu o matasse. Tá na cara que você sempre odiou ele. Por isso está aqui me agradecendo por ter matado ele. _Disse Anne.

_Não é bem assim. _Disse Roger. _Eu sabia que a sua visitinha ia gerar um escândalo, ou no mínimo fizesse com que a Poliana se separasse dele, mas nunca imaginei que você iria matá-lo.

_Que tipo de irmão é você heim? _Disse Anne. _Quer dizer que aquilo tudo foi armado, me dar o endereço pra eu de alguma forma acabar com a vida dele?

_Isso mesmo, só que você levou tudo muito a sério, ao pé da letra. _Disse Roger.

_Mas por quê? Pra que tanto ódio? _Perguntou Anne.

_Olha, isso aqui não é novela e eu não tenho que ficar me abrindo com você, dizendo meus motivos para odiar o Humberto, mesmo porque você nem é minha analista. Depois você melhor do que ninguém sabe que o Humberto não tinha dificuldades em fazer as pessoas o odiarem e eu não fiquei fora dessa. _Disse Roger. _Minha família.

_Sempre sua família, você me deu o endereço pra eu achar o Humberto pra preservar a sua família, me ajudou pra preservar a sua família, está aqui pra agradecer pela sua família. _Disse Anne fechando a porta com força. _Agora acabou de me dizer que queria que minha visita ao seu irmão gerasse no mínimo um escândalo. Mas não era isso que você queria evitar? Mais um escândalo na família Fonseca?

Anne foi totalmente sarcástica enquanto limpava as lágrimas e se aproximava de Roger.

_Era isso sim. Minha família sempre foi ligada a grandes vexames por causa do Humberto, e eu sempre alertei a todos de que isso não poderia continuar. Quando te encontrei aquele dia, eu estava retomando meu lugar, me aproximando de novo da minha família, isso porque ele estava longe havia algum tempo, por sua causa. Minha mãe e meu pai sempre preferiram ele do que a mim, e mesmo depois de ele ter feito o que fez com você, eles ainda o apoiavam, foram até o casamento ao parto da Amanda. Enquanto eu ficava de lado tentando chamar a atenção de alguma forma. Se você arrumasse mais um escândalo, mais um vexame achava que meus pais iriam deserda-lo de vez. Entendeu? Por isso não te disse nada sobre a Amanda, eu queria que você ficasse com ainda mais raiva pra fazer alguma coisa, algo realmente ruim com ele. E se tem uma coisa que eu sou é hipócrita, confesso que quando soube que ele havia morrido eu fiquei feliz. Como você deve ter ficado.

_Eu não fiquei feliz. _Disse Anne.

_Diga o quê quiser, eu não acredito. _Disse Roger.

_Você é muito atrevido viu. Saia daqui agora. _Disse Anne. _Depois não sabe porque sua família não gosta de você.

_O menininha deixa de ser mal educada ouviu. Eu estou aqui porque estou querendo te ajudar garota. _Disse Roger segurando o braço de Anne.

_Ficou nervoso porque eu falei da família? _Disse Anne sorrindo.

_Você não ouse falar da minha família. Eu fiz tudo por causa dela. _Disse Roger.

_Eu fiz tudo você quis dizer. _Disse Anne. _Eu fui seu fantoche, seu boneco. Você me manipulou para tirar benefício.

_Não coloque as coisas desse jeito. _Disse Roger soltando Anne. _Eu ajudei a nós dois. Você sujou as mãos só isso. Essa é a diferença. Mas eu é que sempre quis acabar com ele e na verdade você deveria me agradecer porque se ele estivesse vivo até hoje duvido que você ainda não estava correndo atrás dele.

_Você não sabe o que está dizendo. _Disse Anne. _Você sempre foi doente de ciúmes e inveja do seu irmão e isso te dominou. Eu não tenho que ficar aqui perdendo meu tempo com você. Vai embora se não eu vou chamar a polícia.

_Eu tentei chamar tia, mas sem o endereço não tem como a gente pedir ajuda. _Disse Olivier da porta.

_Eu também não sei o endereço ainda. _Disse Anne. _Mas pode ficar tranqüilo Oli, esse senhor já está indo embora.

Anne voltou à porta e tornou a abri-la.

_É Anne vejo que seus problemas estão resolvidos, já encontrou seu filho perdido. _Disse Roger indo em direção a porta.

_Ela é minha tia, eu não sou filho dela. _Disse Olivier.

_Olivier vai pro seu quarto enquanto eu resolvo isso aqui com esse senhor. _Disse Anne.

_Não tia eu quero ficar. _Disse Olivier.

_Como quiser. _Disse Anne.

_Vejo que agora você tem guarda-costas, mas acredite rapazinho sua tia nunca correu perigo. Ela é o perigo. _Disse Roger quando chegou a porta.

_Sai daqui seu louco. _Disse Anne quando tenteou fechar a porta com força.

Roger bloqueou a porta com o pé, Olivier correu para ajudar a tia a empurrá-lo pra fora.

_Calma galerinha! _Disse Roger sorrindo. _Anne você está sendo infantil, eu não vu te machucar e muito menos esse seu sobrinho ai.

_Pouco me importa Roger, agora saia da minha casa. AGORA! _Disse Anne.

_Eu estou aqui pra ajudar menina. _Disse Roger fazendo força.

_Vai se ferrar. _Disse Anne antes de concentrar toda sua força.

Por fim os dois conseguiram tirar o pé de Roger da porta e conseguiram trancá-la por dentro.

Roger começou a berrar do lado de fora.

_Anne qual é garota, abre a pra gente conversar igual pessoas civilizadas. Os adultos fazem assim querida. Eles conversam entre si. Não é preciso matar pra isso. Elas sentam, trocam palavras, se entendem, sem violência. Oh garoto? Cadê o cafezinho que você estava preparando heim. Gente me deixa entrar, eu prometo que vou dar um pirulito pra cada um.

_Tia deixa ele entrar. _Disse Olivier encostado na porta ao lado da tia.

_Não Olivier, fica quieto que ele vai embora. _Disse Anne baixinho enquanto Roger enchia os pulmões d lado de fora.

_Mas tia a gente acabou de mudar, olha o escândalo que ele está fazendo. _Disse Olivier. _E os vizinhos novos, o que eles vão achar.

_É verdade, a gente prometeu fazer amizade e não chamar atenção não é? _Concordou Anne com o sobrinho.

_Isso. Todo mundo já sabe que você é uma assassina, fazer amizade já vai ser bem difícil, imagina depois disso ai fora. _Disse Olivier.

_Eu vou sair então. _Disse Anne.

_Isso, mas não deixe ele entrar de novo, fica lá fora com ele porque assim não tem como ele tentar nada. _Disse Olivier.

_Está bem. _Disse Anne. _Mas fica da janela. Não sai ouviu, ele não é perigoso nem nada.

_Quem é ele? _Perguntou Olivier.

_Ele é irmão do Humberto. _Disse Anne virando os olhos, só de pensar na situação.

_Ele quer vingança. Então não sai tia. _Disse Olivier preocupado.

_Não Oli, tá tudo bem. Ele é louco, você acredita que ele veio me agradecer? _Disse Anne.

_Hã? _Olivier ficou sem entender.

_Depois eu te explico. _Disse Anne. _Agora deixa eu sair se não ele vai acordar todo mundo do condomínio.

_Vai, vai. Eu fico aqui vigiando da janela. _Disse Olivier.

_Tô indo. _Disse Anne saindo pela porta.

_Sei até porque você saiu. _Disse Roger rindo. _Vizinhança nova não é? Tu tem que manter as aparências não é? Uma assassina precisa zelar por sua imagem. Imagina se você vai deixar eles pensarem mal de você. Nunca.

Roger estava ofegante de tanto gritar mas mesmo assim sorria.

_Pára de fazer piada e diz logo o que você quer. _Disse Anne seria.

Olivier observava atentamente a tia e Roger pela janela.

_Essa visitinha minha já durou muito mesmo, você tem razão e eu tenho coisas pra fazer também. _Disse Roger. _E eu já te atormentei demais. Mas foi bom, não foi?

_Bom? _Chocou Anne com a pergunta. _Você é doente.

_No fundo foi bom Aninha, a gente pos o papo em dia, esclareceu muitas coisas do passado. E a gente tem algo em comum à gente odiava o Humberto, isso é certo. _Disse Roger.

_Eu ao o odiava. _Disse Anne.

_Nossa, então imagina o que você ia fazer com ele se você o odiasse então heim. _Disse Roger. _Você ia usar o quê dessa vez um lápis, grampeador ou o quê?

_Eu acreditava que ele tinha roubado meu filho, por isso eu fiz aquilo. _Disse Anne.

_Que bonito, você ainda o ama. _Disse Roger.

_Amo nada. _Disse Anne. _Diz logo Roger e vai embora.

_Ok. _Concordou Roger. _Mas de novo eu digo você pode dizer o que eu quiser, eu não acredito em você.

_Deixa de ser chato e inconveniente e diz logo o que você veio fazer aqui, anda. _Disse Anne já sem paciência.

_Tá bem aninha. _Disse Roger. _Eu vim aqui pra agradecer por voc...

_Isso você já disso e se for só isso pode ir agora. _Disse Anne.

_E como forma de meu agradecimento eu estou me oferecendo para te ajudar a encontrar seu filho. _Disse Roger.

_ Só isso? Pode ir embora agora. _Disse Anne. _E muito obrigada por nada.

_Calma menina, tu não mudou mesmo heim? Continua a criancinha que eu encontrei naquele café lá em São Paulo. _Disse Roger. _Me deixa continuar garota.

_Continua de uma vez e para de enrolar. _Disse Anne.

_É você que não me deixa falar, toda hora me interrompe. _Disse Roger.

_Tudo bem, fala então de uma vez. Prometo que não interrompo mais. _Disse Anne.

_Ah que gracinha. _Sorriu Roger. _Tem razão do meu irmão ter ficado com você, você é mesmo uma boneca dá vontade de levar pra casa e colocar na estante. Mas é claro que com a sua idade isso só não conta.

_Eu já tenho 38. _Disse Anne que já estava acostumada em pensarem que ela ainda era menor de idade.

_O tempo não passou pra você heim menina. _Disse Roger. _Mas você entendeu o que eu quis dizer. Meu irmão nunca deveria se envolver com uma ninfeta como você.

_Roger? Por favor, fale o que você quer? _Disse Anne impaciente.

_Desculpa. _Disse Roger. _Bem. Eu fiquei sabendo que o suspeito de ter seqüestrado seu filho, ele é aqui do sul.

_Como você ficou sabendo disso? _Perguntou Anne.

_Se você me deixar terminar eu te conto. _Disse Roger.

_Desculpa. _Disse Anne.

_Pois então, coincidência ou não, eu não acredito nessas coisas, o suspeito está neste momento detido na minha prisão. _Disse Roger que logo levantou o braço quando percebeu que Anne iria questioná-lo. _Calma Anne! Então, o suspeito está detido na minha prisão. Isso mesmo, eu dirijo essa prisão há alguns anos, ele entrou lá tem um ano por roubo a mão armada e outros pequenos crimes. Eu recebi os dados da denuncia lá de São Paulo e não pude deixar de perceber do que se tratava. Mesmo porque o nome da minha família estava envolvido nisso tudo e o seu também, minha pequena.

_Não sou sua e muito menos pequena. _Disse Anne.

_Calma, me deixa terminar. _Disse Roger com a mão erguida. _O processo ainda está sendo transferido pra cá e ainda não é possível provar nada e não sei se você sabe, mas a polícia vai demorar ainda algum tempo para começar as investigações de novo, afinal esse caso está dormindo a mais de vinte anos.

_Me conta algo novo, porque até agora isso tudo ai eu já sabia. É por isso que eu mudei pra cá, pra resolver eu mesma. _Disse Anne.

Roger riu.

_Quem você está achando que é Anne? Você não é espiã, é uma ninguém, ex-presidiária que não sabe nem atravessar a rua direito. Você acha que iria até onde pra conseguir alguma informação sigilosa? _Disse Roger.

_Eu iria lá visitar o preso, ou ele não pode receber visitas? _Disse Anne.

_Pode claro que pode, mas ele tem família e é permitido duas pessoas por vez, e tenho certeza que nem a mãe e nem a irmã dele iam ceder o lugar delas pra você. _Disse Roger. _E agora meu bem?

_Pára de me chamar assim. _Disse Anne. _Nisso eu dou um jeito, eu converso com o diretor.

Anne parou de falar devagar e olhou para Roger que sorria maliciosamente.

_Isso mesmo menina, eu sou o diretor. _Disse Roger sorrindo.

_Eu não preciso de você. _Mentiu Anne.

_Eu sabia que você não ia ficar parada lá em São Paulo, quietinha esperando a nossa competente polícia resolver o caso do seu filho. _Disse Roger. _Mas confesso que fiquei surpreso quando descobri que você ia morar aqui.

_Como você descobriu isso tudo? _Perguntou Anne.

_A mídia meu bem, ou você não viu ainda? _Perguntou Roger.

Anne olhava para Roger sem entender.

_É. Não viu. _Disse Roger antes de enviar a cabeça para dentro da janela de seu carro que estava parado ao seu lado e retirar de lá uma revista. _Odeio essa revista sabia, o nome da minha família está na lama graças a duas coisas: Você e essa revista.

Roger jogou a revista para Anne a segurou nos braços. E lá estava na primeira página a foto de Anne e Olivier no aeroporto em São Paulo embarcando no Jatinho particular.

_Jatinho particular? Tá com muito heim Anne. _Disse Roger. _Se eu fosse tão popular assim como você também optaria por um jatinho, afinal algumas pessoas ainda não aceitam sua conduta não é. Você viajando no meio de tantas pessoas normais, honestas, direitas, não iria dar certo, você ia ser apedrejada.

_Não foi tão glamouroso como parece. _Disse Anne encarando a capa da Society. _Eu fiz isso tudo justamente pra escapar da imprensa.

_Eu sei, eu sei. _Disse Roger. _Mas não deu muito certo não é?

Em baixo da foto os dizeres: A PATRICINHA E EX-PRESIDIÁRIA ANNE MARRIE FOGE PARA O SUL EM BUSCA DE SEU FILHO PERDIDO.

_Pode ficar com essa daí pra você. Quando você ler o que escreveram de você ai dentro tu vai ficar surpresa com o que esses repórteres descobriram. Eles fizeram quase uma biografia da sua vida criminosa. Talentosos! _Disse Roger.

_Isso eu não me importo, porque o que eu fiz não é segredo pra ninguém. Agora patricinha, eles pegaram pesado. _Disse Anne.

_Foi por causa do jatinho. Ele disseram que você se acha importante demais pra viajar como todo mundo, sendo que você depois do que fez devia estar se recuperando ou ajudando as comunidades mais pobres. _Disse Roger.

_Eu já me recuperei. _Disse Anne com a revista na mão. _Eu fiquei presa por 20 anos pelo amor de Deus. O que mais essas pessoas querem de mim, eu já assumi publicamente que me arrependi. Agora eu tenho que sair plantando árvores por ai pra provar que eu não sou assassina.

_Isso se desconsiderarmos o fato de que você é uma assassina. _Disse Roger.

_Você entendeu. _Disse Anne.

_Não. _Disse Roger.

_Eu matei sim o Humberto e SEM querer matei também a Poliana, mas já disse que me arrependi por isso, já paguei minha pena, já pedi perdão a todos. Mas isso não adianta não vai fazer eles voltarem a vida eu sei disso. Mas não quer dizer que eu vou matar qualquer um pela frente.

Anne percebeu que estava falando alto e ouviu as batidas no vidro da janela da sua casa, quando olhou Olivier sacudia a mão pra ela baixar a voz e apontava para o outro lado da rua. Rafael encarava Anne atentamente ainda com sua xícara de café na mão e uma blusa velha amarrotada.

_Acordamos os vizinhos menina. _Disse Roger olhando para Rafael.

Anne ficou totalmente sem graça e se apressou a dizer:

_Desculpa, eu não quis acordar ninguém. _Disse Anne envergonhada. _Eu estava gritando não é.

_Sem problema, eu já estava acordado só vim aqui fora para pegar o jornal. _Disse Rafael que em seguida olhou para o jornal que estava perto do seu pé.

_Ah sim. _Disse Anne sorrindo desconcertadamente.

_Tudo bem. _Disse Rafael se abaixando pra pegar o jornal. _Eu já estou entrando.

_Hei rapaz? O que você ouviu aqui, sobre ela ser assassina é mentira ouviu. _Disse Roger. _Ela é um doce de pessoa, só não fique olhando muito nos olhos dela se não ela vira uma fera.

Rafael desviou o olhar de Anne quase automaticamente e voltou para casa devagar tomando seu café.

_Cala a boca Roger. _Disse Anne. _Você que as coisas fiquem piores pra mim do que já estão?

_Peça sempre que precisar menina. Estou aqui pra isso. _Disse Roger.

_Pra me atrapalhar. _Disse Anne.

_Pra te ajudar. _Disse Roger. _E você deveria em agradecer depois do que eu li ai, ninguém passaria na sua porta. E aproveite bem antes dos moradores fazerem um abaixo assinado pra te tirar daqui. E mais uma vez dê graças a mim por não acreditar nessas revistas de celebridades.

_Antes isso. _Disse Anne. _Se eles se preocupassem com elas e me deixassem em paz.

_Querida você é celebridade. _Disse Roger. _Tudo tem seu preço.

_Eu não sou celebridade, sou uma pessoas normal. _Disse Anne.

_Hoje em dia os assassinos estão em alta e quando tem dinheiro ainda, eles ficam mais populares. O povo fica revoltado. _Disse Roger.

_Você está realmente me deixando bem à vontade. _Disse Anne.

_Bom, me deixa ir. _Disse Roger. _Eu tenho um presídio pra tomar conta.

_Mas e como a gente fica? Você vai me ajudar? _Disse Anne.

_Já disse, estou aqui pra isso. _Disse Roger ao entrar no seu carro. _Toma aqui o meu cartão, mais tarde entra em contato comigo pra gente marcar um lugar pra conversar.

Anne se aproximou do carro e pegou o cartão.

_Eu não quero conversar. Já está marcado, a gente se vê no presídio então. _Disse Anne.

_Não vai rolar nem um café, pra lembrar os bons tempos. _Disse Roger sorrindo.

_Nunca tive tempo e muito menos bom, com você Roger. _Disse Anne.

_Menina não seja tão dura comigo e nem pense que eu quero algo com você, você não faz meu tipo. _Disse Roger.

_E viva eu por ser eu. _Disse Anne. _Eu te ligo depois do almoço.

_Sem pressa Anne, eu sei que você está ansiosa pra saber informações sobre seu filho, mas vamos fazer do meu jeito, está bem? Nós vamos agir em segredo, a polícia não pode desconfiar do que a gente vai fazer. _Disse Roger.

_Você vai fazer o quê? _Disse Anne.

_Não sei ainda, a gente tem que pensar nisso. Mas nada que chama a atenção de ninguém. E a gente tem que ter todo cuidado porque ele também não pode falar pra polícia que a gente vai interrogá-lo, muito menos pro advogado dele.

_Entendi. _Disse Anne.

_Vai ler essa matéria ai, chorar um pouquinho, ficar de depressão, depois você me liga. _Disse Roger sorrindo.

_Desculp... _Tentou Anne arrependida.

_Sem desculpas menina, eu não estou te ajudando por compaixão. Só acho justo. Você o matou sozinha, me ajudou querendo ou não e eu me senti no direito de te ajudar. _Disse Roger.

_Tá bem. _Disse Anne.

_Deixa eu ir antes que os repórteres apareçam. _Disse Roger.

_Eles sabem onde eu moro? _Perguntou Anne assustada.

_Seu endereço está ai dentro, não todo. Mas eles sabem que você está morando aqui neste condomínio. _Disse Roger. _Pra eu descobrir foi fácil, é só perguntar quem é a nova moradora lá na portaria que eles informam.

_E eles te deixaram entrar assim? _Disse Anne que esperava o mínimo de segurança de um condomínio.

_Sou policial Anne. _Disse Roger sorrindo.

_Esqueci. _Disse Anne sorrindo.

Roger acelerou e saiu com o carro pela rua do condomínio.

 

Anne voltou para dentro da sua casa e junto com Olivier tomou o café da manhã e contou ao sobrinho toda a história com Roger. Olivier ficou feliz pela tia ter conseguido ajuda para encontrar Gérard, pois ele temia que ela se metesse em mais confusões em busca do filho. Anne mostrou a revista a Olivier e começou a lê-la em voz alta. Os dois riam sem parar com os absurdos ali descritos, era tudo tão exagerado, tão mentiroso que eles sabendo da verdade não viam motivos pra se preocupar. A diversão foi interrompida pela campainha. Olivier foi atender.

_Deve ser o tal do Roger que voltou pra encher o saco de novo. _Disse Olivier enquanto caminhava até a porta.

_Ele não ia voltar agora, acabou de sair, cuidado pode ser algum repórter. _Preocupou Anne.

_Eles não tem como entrar aqui tia, relaxa. _Disse Olivier ao abrir a porta.

Parados na soleira estavam Piedra e Rafael.

_Oi. _Cumprimentou Piedra.

_Olá. _Respondeu Olivier aos dois enquanto Rafael só balançava a cabeça.

_A gente veio aqui convidar vocês. _Disse Piedra.

_Convidar pra quê? _Perguntou Olivier.

_Quem é? _Perguntou Anne de lá de dentro.

_São os vizinhos aqui da frente tia, eles estão convidando a gente. _Gritou Olivier coma cabeça pra dentro de casa.

Anne veio correndo.

_Convidando? _Perguntou Anne surpresa. _Convidando pra quê?

_Ah, não é nada demais. _Disse Piedra. _É que a minha mãe tem um costume de fazer uma festa pra receber os novos moradores aqui da rua. Uma festa de boas vindas.

Rafael olhava atento para Anne, que percebeu e entendeu que não seria uma boa idéia. Ele havia ouvido uma boa parte da conversa dela com Roger no jardim e não seria legal ir a uma festa com todas as pessoas a encarando e fazendo perguntas como de costume.

_Eu acho melhor não. _Disse Anne e Olivier parou de rir imediatamente. _Agradecemos muito o convite, a gente está muito feliz mesmo por vocês terem recebido a gente ontem com tanto carinho. Mas é que as nossas coisas ainda não acabaram de chegar, e está tudo uma bagunça. A gente ia tirar esse fim de semana para arrumar tudo.

_Porque não? _Perguntou Rafael que desejava muito a presença de Anne na festa.

Anne se espantou com o desapontamento de Rafael.

_É tia porque não? _Perguntou o triste Olivier que também queria muito ir a festa conhecer seus novos vizinhos. _A gente combinou que ia fazer mais amigos lembra?

_É eu sei. _Disse Anne. _Mas a gente tem muita coisa pra fazer e já ficar dando trabalho pra todo mundo não seria legal.

_Não é trabalho. _Disse Piedra. _Minha mãe é promotora de eventos, ela adora dar festas.

_Mas eu não sei se eu vou ficar a vontade com uma festa muito grande pra mim, com muita gente. _Disse Anne.

_Não, vai ser tudo bem simples. É só um jantar. A gente vai convidar só as famílias aqui da rua e vocês. _Disse Piedra.

_No máximo 20 pessoas. _Disse Rafael.

_Por favor, tia. _Pediu Olivier.

Anne pensou um pouco e pesou as coisas rapidamente na cabeça. Por um lado se expor agora não seria aconselhável, já que ela era capa da Society da semana e isso seria o assunto da festa, mas por outro lado mostrar para aos vizinhos que ela era normal e não uma psicopata deixaria as coisas mais fáceis e talvez ela fizesse aliados ou até amigos.

_Tudo bem, a gente vai. _Disse Anne.

Os garotos riram e pularam de empolgação.

_Que bom. _Disse Rafael. _Vocês vão adorar todo mundo da rua. Olivier tem uma garota que tu vai ficar louco.

_Quem? A Louísa eu já disse que ela não vai. _Disse Piedra.

_Ela não Pi, a Pati. _Disse Rafael.

Olivier olhou para Anne que entendeu logo o recado.

_Legal. _Disse Olivier para não fazer alarde sobre sua sexualidade.

_Então tá. _Disse Piedra. _A gente se vê a noite então.

_Hoje? _Perguntou Anne que tinha planos de encontrar com Roger. _É que eu tinha outros planos.

_Não, tudo bem é só dizer a hora que a gente aparece. _Disse Olivier a fim de evitar que a tia encontrasse Roger. Não agora, não tão rápido.

_Tem certeza que não vai atrapalhar o plano de vocês? _Perguntou Piedra.

_Tenho, não é tia? _Perguntou Olivier olhando pra tia com um olhar que só Alice conseguia fazer. Um olhar que dizia mais que mil palavras.

_É. _Concordou Anne sem saída. _A gente aparece lá sem falta.

_8 horas, está bem pra vocês? _Perguntou Rafael.

_Está ótimo. _Disse Olivier sorrindo.

_Ótimo. _Disse Piedra sorrindo.

_Até a noite. _Disse Rafael.

_Até. _Disseram Anne e Olivier juntos e depois fecharam à porta.

_Olivier a gente não devia ir. _Disse Anne.

_Não tia você não vai encontrar com o Roger hoje. _Disse Olivier.

_Não é por isso. _Mentiu Anne.

_Eu sei tia que se fosse por você, você já estaria lá na delegacia. _Disse Olivier.

_Mentira. _Disse Anne. _Eu acho que não seria legal a gente ir por que você já imaginou todo mundo olhando pra nós e apontando: Lá vai à patricinha e ex-presidiária. Cuidado com ela! Ela já matou dois.

_Tia a festa é pra nós. _Disse Olivier. _Eles iam apontar pra gente de qualquer jeito, nós somos os novos da vizinhança.

_É verdade. _Disse Anne.

_E você acha que eles não leram a Society ainda? Eles sabem quem somos nós e mesmo assim resolveram dar a festa pra gente. _Disse Olivier. _Eles estão acima disso. Não se importam com essas coisas, como dizem por aqui: TU vai ver, vai dar tudo bem.

_É verdade. _Disse Anne. _Eu pensei que aquele Rafael não ia querer mais falar com a gente depois do que ele provavelmente ouviu aqui de manhã.

_Tá vendo, ele não liga que você seja uma assassina. _Disse Olivier. _Desculpa.

_Tudo bem, já me acostumei a ouvir. _Disse Anne acariciando o sobrinho no rosto.

_Então é isso temos uma festa pra ir, nossa primeira festa no sul. Vida nova Anne Marrie. _Disse Olivier sorrindo.

_Sabe o que é pior? _Perguntou Anne.

_O quê? _Perguntou Olivier.

_Nossas roupas estão dentro de alguma caixa por aqui, e eu não sei qual. _Disse Anne preocupada. _O que eu vou vestir?

Olivier sorriu.

_Vamos começar a procurar. _Disse Olivier levando a tia até um dos quartos onde estava a maioria das caixas.

 

Está tudo tão feliz. Um amigo inesperado apareceu na história. Quem diria que Roger seria aliado de Anne Marrie na busca por Gérard? Uma festa? Com exceção do buffet e da decoração essa reunião não vai ter nada de festa, eu prometo que tudo vai dar errado. E se não fosse assim, você não estaria aqui. Não gostou? Vai ler um livro de auto-ajuda. Porque diferente deles aqui a vida é triste e cruel, como na realidade e quando no título temos Anne Marrie às coisas tendem a ficar pior.

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