domingo, 16 de novembro de 2008

Capítulo 28: E tenha esperança Anne Marrie

Clarice folheava a revista Society quando Rafael entrou pela sala.

_Eu ainda não acredito que aquela garota fez isso meu filho. _Disse Clarice.

_Mãe pára de folhear essa revista, ela me dá vontade de ir lá e quebrar a cara daquela garota. _Disse Rafael sentando no sofá.

_Não consigo parar de olhar pras fotos. _Disse Clarice. _Quando tu me contou que foi a Louísa, aquela menina que vivia aqui em casa que fez isso com vocês eu não acreditei, pra quê?

_Essa é a eterna pergunta mãe, pra quê? _Disse Rafael. _Simplesmente não tem explicação, não é racional uma pessoa agir assim, é loucura.

_Mas o namorado dela nem era tu, era o João, porque fazer isso contigo e com a Anne? _Perguntou Clarice olhando uma das fotos em que Rafael cochichava no ouvido de Anne enquanto ela ria.

_O problema não era o namorado mãe, o problema somos, nós, todos. Todo mundo que era amigo dela. _Disse Rafael. _Ela quer acabar com todo mundo, mas ela é ridícula, se acha a mal, a vilãzinha fazendo esse tipo de coisas, seguindo a gente, falando mal. Isso não me incomoda, mas a Anne, ela não tem nada haver com a historia nem o Oli.

_Dizem que a portaria está um inferno, mal se consegue sair de carro por lá. _Disse Clarice. _Teu pai nervosíssimo né? Imagina ele tentando ir trabalhar todo dia agora e vendo aquela bagunça ali na frente?

_Mas fica todo mundo culpando a Anne, mas não é culpa dela. _Disse Rafael. _Qual a grande história que ela pode contar? Ela nem é artista nem nada, não entendo a imprensa toda atrás dela. Às vezes fico achando que estou namorando a Paris Hilton.

_Mas de certo modo tu namora meu filho, eu te avisei antes não é? _Disse Clarice.

_Eu sei mãe, eu sei o que todo mundo falou. Mas isso não tem nada haver com ela, ela não é desse jeito, não é irresponsável nem bêbada, muito menos drogada. Ela é gentil, bonita, carinhosa. Mas só porque ela matou alguém ela se torna uma celebridade?

_É a mídia meu filho. _Disse Clarice. _Eu sei bem o que é ser o alvo dos flashes.

_Mas tu era modelo mãe, precisava disso, tinha fás, todos queriam saber onde andava, o que tu usava, com quem estava namorando, essas coisas. _Disse Rafael. _É ridículo esse interesse por a vida de alguém, mas alguém publica ainda é compreensível. Agora a Anne? Ser assassina é chic agora, é bom pra imagem?

_Como no musical filho, Chicago. _Disse Clarice.

_Mas eu não queria namorar uma Roxie, muito menos uma Velma Kelly. _Disse Rafael.

_A gente não escolhe quem amar filho. _Disse Clarice. _Me preocupa as vezes tu com essa garota, mas eu não posso fazer nada. Se tu ama ela e ela te ama, fico feliz por isso.

_Valeu mãe. _Disse Rafael sorrindo.

_Mas fica tranqüilo filho, que um dia isso passa, os flashes vão embora, tudo desaparece de uma vez só. _Disse Clarice. _Como em Chicago, daqui a pouco vai aparecer outra assassina para tomar o lugar de sucesso da Anne. É triste, mas é a verdade.

_E se continuar do jeito que está, não duvido nada que a próxima seja a Louísa. _Disse Rafael. _Guria maldita!

_Credo filho, não diga isso, por que se isso acontecer uma das vítimas pode ser tu. _Disse Clarice assustada ao fazer o sinal da cruz.

_É. Então alguém tem que parar essa guria de uma vez. O pai dela diz e diz e não faz nada. _Disse Rafael indignado.

_Deve ser difícil pra qualquer um ver um filho nesse estado meu amor. _Disse Clarice.

_Eu sei mãe, mas e ai até quando vou ficar esperando pra essa Louísa fazer algo realmente grave, que posso machucar alguém? _Disse Rafael. _Tu viu o que aconteceu com a Pati, poderia ter sido pior se a gente não tivesse lá.

_Mas já não falaram que não foi a Louísa? _Disse Clarice.

_Não foi diretamente né mãe, mas quem levou ela na festa do André foi a Louísa. _Disse Rafael. _A guria viciou a Pati de vingança do João. Agora publicou essas fotos da Anne comigo, pra se vingar de mim, quem vai ser o próximo, mãe? Heim?

_Isso tem que parar meu filho, vocês precisam se defender, tomar mais cuidado. Essa guria é louca, ela pode até querer atropelar vocês. _Disse Clarice fazendo o sinal da cruz de novo.

_Pode deixar mãe. _Disse Rafael.

_E a Arte & Arte filho, como vai? _Perguntou Clarice sorridente e orgulhosa.

_Ah vai bem mãe, muito bem. _Disse Rafael. _Temos muito trabalho pra depois do natal. A Juliana ajudou demais, a gente vez muitos contatos agora, estamos além da agencia dela com mais cinco clientes fechados.

_Que bom filho, ainda bem que está dando tudo bem. _Disse Clarice sorrindo.

_É a Anne mãe, ela está conseguindo mudar minha vida. _Disse Rafael pensando na amada sorrindo. _Ela é linda, inteligente, é um pouco inocente ainda, mas é isso é que é o legal sabe. Apesar da idade nem parece que ela é mais velha.

_Ai nem fala da idade dela que me sobe um ódio, uma inveja. _Disse Clarice. _Um corpinho lindo, um rostinho perfeito. Ai, ai, e com a idade dela.

_Não é perfeita mãe? _Perguntou Rafael sorrindo.

_Filho, nunca pensei que fosse te ver assim por uma mulher, tão bobão. _Disse Clarice sorrindo.

_E mãe não começa, já tenho que ouvir isso de todo mundo o tempo todo de como com ela eu sou diferente, babão. _Disse Rafael. _Só coruja mesmo, sou um namorado coruja.

_Tu é um namorado apaixonado isso sim. _Disse Clarice. _É tão bom filho ver tu tão feliz, com alguém especial do teu lado, com tua carreira profissional deslanchando. Estou muito orgulhosa.

Clarice começou a soltar lágrimas pelos olhos.

_Ai mãe, pare de chorar. _Disse Rafael sorrindo. _Deixa de ser boba.

_Não sou boba não. _Corrigiu Clarice rapidamente. _Sou mãe caramba, não posso ficar nem um pouquinho orgulhosa do meu filho? Estou feliz por ti.

_Claro que tu pode ficar feliz mãe. _Disse Rafael sorrindo ao se levantar e ir até a mãe dá-la um abraço.

Os dois ficaram ali por alguns segundos sorrindo.

_E ai filho, que horas tu vai sair daqui? _Perguntou Clarice enxugando as lágrimas quando se desvencilhou do abraço.

_Vou sair cedo mãe, a família da Anne vai chegar hoje para a festa então eu vou passar lá mais cedo pra conhecer todo mundo. _Disse Rafael.

_Entendi, ela tem uma irmã só não é? _Perguntou Clarice.

_É, vão vir ela o marido e a irmã menor do Olivier. _Disse Rafael. _E a senhora que horas vai sair?

_Não tenho presa não, as festas da Lourdes nunca começam quando deveriam mesmo. _Disse Clarice. _Nem dá pra dar aquela elegante atrasada.

_Falou igual a Ana Maria ai agora. _Disse Rafael sorrindo.

_Ai filho nem me fala esse nome, ela me fez tanta raiva hoje. _Disse Clarice. _Tu acredita que ela veio aqui em casa hoje só pra falar que o Sérgio está namorando uma francesa lá em Paris?

_Nossa. Porque essa mulher insiste em ficar falando desse guri pra gente? _Disse Rafael. _E daí se ele tá namorando ou não? Eu caguei pra Sérgio.

_Ai contou que ele está muito bem, muito feliz, já está falando muito bem francês, está namorando, comprou um carro. _Disse Clarice.

_Até parece, meu pai pagou tudo pra ele mesmo, morar fora assim é fácil. _Disse Rafael. _Sou muito mais a minha vida agora. É verdade que meu pai me ajudou a montar a Arte & Arte, mas eu estou conseguindo ir pra gente sem a ajuda dele e quando puder posso até pagar ele tudo de volta se ele quiser, pra não falar que precisei dele pra subir de vida.

_Ele não vai falar isso e muito menos aceitar dinheiro seu. Ele é teu pai e só te ajudou, nada demais. _Disse Clarice.

_É eu sei como o velho é. _Disse Rafael. _Mas ai tu ficou calada, enquanto ela ficava falando isso tudo?

_Claro que não né? _Disse Clarice. _E é claro que ela veio comentando sobre a matéria na revista.

_Nossa que saco! _Disse Rafael virando o olho.

_É. Que saco! _Disse Clarice. _Imagina ela falando já né? Teu filho está namorando uma assassina, blá, blá blá blá, blá blá...

_Ai mãe nem liga pra essa mulher, não estou nem ai pro que os outros falam, pro que ela fala então ligo menos ainda. _Disse Rafael.

_Pois então, foi isso que eu disse pra ela. _Disse Clarice. _Mas a minha vontade era ir lá e socar aquela cara dela de metida, ô mulher insuportável viu. As vezes não sei se fico feliz ou triste por teu pai trocado ela por mim, porque das duas uma: Ou eu sou melhor que ela, ou eu sou igual. Entendeu o que eu quis dizer?

_Entendi mãe. _Disse Rafael. _Mas com certeza foi pela opção um. Porque tu não tem nada haver com aquela mulher lá, muito menos eu com aqueles dois chatos filhos dela.

_O Antônio nem se tem noticias não é? _Disse Clarice. _Saiu de férias no começo do mês e não voltou até agora, a Ana está doida atrás dele, quer porque quer que ele esteja aqui para o natal.

_Aqui? _Perguntou Rafael.

_É filho, aqui. _Disse Clarice. _Ou tu não sabia que teu pai resolveu fazer a reunião das duas famílias de novo, em pleno natal.

_Não acredito. _Disse Rafael revoltado.

_E vai ficar pior filho. _Disse Clarice. _O Sérgio vai vir de Paris pro Natal deve chegar amanhã com a namorada.

_Ninguém merece mãe, e o pai vai insistir que eu fique aqui não vai? _Disse Rafael resmungando.

_Tenha certeza disso. _Disse Clarice. _Eu sei que é horrível, mas pelo menos assim a gente faz um companhia pro outro.

_Não sei se vai dar pra eu ficar não, a Anne me chamou pra ceia na casa dela mãe. _Disse Rafael.

_Por mim tudo bem querido, e se pudesse até eu iria contigo, mas tu tem que falar com ele. _Disse Clarice.

_Que... _Começou Rafael.

_...Saco! _Completou Clarice. _É filho eu sei, que saco! Mas cuidado com essa boca eu meu filho.

_Ah mãe, para com isso! _Disse Rafael. _Vou tomar meu banho pra festa.

Rafael saiu da sala correndo direto pras escadas e subiu correndo até seu quarto.

_Cuidado Rafael, já avisei pra tu não correr nessa escada que um dia tu ainda vai cair guri. _Disse Clarice. _Esse menino só tem tamanho meu Deus.

Clarice sacudiu a cabeça e voltou a se concentrar na revista.

 

Louísa estava trancada em seu quarto, proibida de sair de lá até que a ordenassem. Ela não podia estar mais feliz, tudo que havia planejado estava dando certo até aquele momento. A foto na revista foi uma de suas melhores idéias e ela fazia questão de se lembrar disso cada vez que olhava pra revista posta em cima da cama com cuidado. Ela passava a maior parte do seu tempo ali, ouvindo música, escrevendo em seu diário e pensando no que fazer para se vingar dos seus ex-amigos. Vamos tentar entender Louísa agora: Será que existe tanta raiva assim por causa de um diário? Tudo bem que perder o vestido na frente da escola toda é bastante vergonhoso, mas guardar essa mágoa como ingrediente para suas vinganças é demais. Quero dizer, é bastante ridículo, engraçado, chega a dar pena, olhar para uma pessoa como ela, se dedicar por inteiro, entregar sua vida, deixar de ter planos para o futuro, só pra atormentar a vida dos outros? Deixar de ser amada por todos, pelos amigos e até mesmo pela própria família? Sabendo que ao invés de uma faculdade, ou um emprego ela iria provavelmente para uma clínica de reabilitação, ou às vezes pior? Existe tanta raiva assim, a esse ponto, sabendo das conseqüências de tais profanos atos? Eu respondo. Para Louísa existe. Porque ela não estava com raiva por causa do diário, nem por causa da vergonha que passou no baile, o problema todo, a história toda de vingança era porque Louísa não aceitava ser excluída, por ninguém. De certo ela sabia que merecia ser afastada, mas o que ela não entendia era porque eles ainda eram amigos. Supondo que eles já tiveram motivos muito mais graves para brigarem entre si. Pra ela o difícil era ver como eles eram felizes juntos, mesmo sem ela por perto, será que ela era tão insignificante assim que ninguém notou que ela não estava mais lá, perto deles, pra fazer piadas, pra rir com eles, pra ouvir os problemas de Piedra, pra brincar junto com o Rafael e João, pra sair com Patrícia? Ela só queria provar pra todos, que ela era alguém, que ela existia. Fazer maldades, se era assim que chamavam, era o jeito dela de dizer que estava ali, não mais como amiga, já que ninguém queria isso mais dela, a amizade, mas ela estava lá e não queria deixar que eles esquecessem disso. Sentia prazer ao ser notada, chamar a atenção, ser odiada era conseqüência. E ela não estava nem um pouco preocupada com isso, compreendida ou não ela continuaria com sua vingança. Posso dizer que, por exemplo, se Anne tinha uma doença chamada amor, Louísa tinha uma doença chamada ego.

 

_Louísa vai se aprontar para a festa. _Disse Theodor ao destrancar a porta por fora.

O pai de Louísa entrou pelo quarto e se aproximou da filha.

_O carrasco vai deixar a prisioneira ir à festa? Pensei que eu tivesse que fugir pela janela de novo. _Disse Louísa.

_Fica claro que tu só está indo porque tua mãe me convenceu a te levar. _Disse Theodor com o dedo apontado para Louísa.

_Tu é um idiota mesmo né? Tu acha que eu não iria? Tu deixando ou não, eu iria, não perderia essa festa por nada hoje. _Disse Louísa sorrindo. _Trancar a porta não adianta, eu saio pela janela.

_Eu mandei colocarem cadeado. _Disse Theodor. _Bicho tem que ficar é preso.

_Quando tu saísse eu quebrava o vidro e saia e ai? _Disse Louísa desafiando o pai como sempre.

_Que bom que tu me avisou amanhã mesmo mando colocarem grade na janela. _Disse Theodor.

_Eu posso te denunciar por cárcere privado heim. _Ameaçou Louísa.

_Eu não duvido disso filhinha. _Disse Theodor sarcástico. _Vai se arrumar de uma vez, antes que eu me arrependa e te deixe pra trás.

_Eu iria assim mesmo. _Disse Louísa.

_Eu te acorrento na cama. _Disse Theodor.

_Duvido. _Disse Louísa sorrindo.

_Aposta pra ver Louísa, pede pra ver. _Desafiou Theodor. _Por mais um pouco eu mesmo te mato. Prefiro te ver morta, tanto faz pra mim agora. Se bem que, há muito tempo eu já não te considero minha filha, acho que vou comprar um cachorrinho pra por no teu lugar.

_Ai que maldade papai. _Disse Louísa debochando. _Todo fresquinho do jeito que tu é. Cachorro late sabia?

_Tanto faz, eu tenho que te ouvir latir o dia inteiro e ainda fico limpando as cagadas que tu faz por ai. _Disse Theodor. _Prefiro um cachorrinho do que a ti.

_Já ouvi pai _Disse Louísa.

_Que bom, então se comporta totó se não vai dormir do lado de fora entendeu? _Disse Theodor. _E se arruma pra festa logo, quero chegar lá cedo. Não vamos demorar, vou ficar de olho em ti o tempo todo, antes que tu apronte mais uma loucura e se fizer juro que te deixo lá e não entra em casa hoje ouviu? Amigo tu não tem mesmo, vai ter que dormir na rua.

_TÁ! Só vou colocar um vestido e já estou pronta. _Disse Louísa aborrecida.

_Coloca qualquer coisa ai. _Disse Theodor pouco antes de sair do quarto e trancar a porta novamente. _Nada vai esconder essa tua cara feia mesmo.

Louísa ficou vermelha de raiva literalmente, mas parou, respirou fundo, se acalmou quando pensou que a noite seria boa demais e que qualquer aborrecimento seria compensado por tamanha alegria que estava por vir.

 

Olivier andava de um lado pro outro inquieto, Anne se arrumava no quarto e mesmo sem ver sabia que seu sobrinho perfurava o chão da sala de tanta ansiedade.

_Oli vai se arrumar de uma vez daqui a pouco ele chega, só relaxa. _Gritou Anne do quarto. _Se você ficar contando os segundos pra ele chegar é ai que ele vai demorar mesmo.

_Eu já tentei sentar, trocar de roupa, mas não consegui fazer nada, só tomei um banho. _Disse Olivier enquanto caminhava em círculos perto da porta. _Eu fico com medo de ele não encontrar nossa casa.

_Ele vai encontrar sim, fica calmo! _Tornou a gritar Anne. _Você já avisou na portaria?

_Já avisei na portaria, tá tudo certo. _Disse Olivier.

_Ele gosta mesmo heim, mal chegou e já vai vir pra cá direto. _Disse Anne.

_Ele chegou ontem. _Disse Olivier olhando pela janela.

_Isso você não me falou. _Disse Anne ao sair do quarto.

_Porque você não perguntou. _Disse Olivier.

_Mas tu deu o endereço direitinho, que horas ele falou que ia chegar? _Perguntou Anne.

_Há 10 minutos atrás. _Disse Olivier aflito.

_Mentira! _Afirmou Anne.

Olivier riu:

_Eu sei que é mentira, ele ainda não está atrasado. _Disse Olivier.

_Sabia. _Disse Anne com um sorriso. Ao passar por ele. _Ele sabe onde vai ser a festa, o horário e tudo mais?

_Sabe né, eu falei pra ele antes. _Disse Olivier.

_Então talvez ele vá direto pra festa. _Disse Anne.

_Não, não. Ele falou que ia passar aqui antes, pra ver onde eu morava, pra te ver. _Disse Olivier.

_E eu tô assim toda desarrumada meu Deus! _Disse Anne olhando para suas roupas.

Um short Jeans surrado de cintura alta e um moletom de bolas coloridas caindo do ombro.

_Que desarrumada tia. _Disse Olivier encarando a tia. _Pra festa sim, mas tu tá normal pra ficar em casa.

_Ai nem me fale em festa, que eu já fico pensando no que eu vou vestir pra festa hoje, e nem tenho roupa. _Se lamentou Anne.

_Se você já sabe que vai atrasar porque não vai se arrumar de uma vez? _Perguntou Olivier. _Depois o pobre do Rafael tem que ficar te esperando.

_Ele nunca reclamou. _Disse Anne.

_Com você né tia. _Disse Olivier.

_Ele falou alguma coisa pra você? _perguntou Anne.

_Não. _Disse Olivier. _Vocês são tão perfeitos que esquecem até dos pequenos problemas. Ele não reclama do seu atraso e provavelmente tu não iria reclamar quando ele deixasse a tampa do vaso aberta. Vocês são tipo, de outro mundo.

_Somos perfeitos, viu invejoso. _Disse Anne correndo pro quarto.

_Eu não tenho inveja não, quem disse isso? _Disse Olivier sorrindo.

_Quem tá atrasado não é o Rafael nem sou eu. _Brincou Anne antes de fechar a porta.

_Ele não está atrasado, ouviu. _Disse Olivier da janela. _Nem tá na hora dele chegar ainda.

Olivier ficou ali por um tempo esperando, esperando e nada do Juca aparecer. Enquanto isso Anne saia de dois em dois minutos para fora do seu quarto e cada vez com uma roupa diferente esperando a opinião de Olivier, que por mais que dissesse todas as vezes que estava ótimo ela ia lá e trocava novamente. Quando já era noite, Anne saiu da porta de seu quarto decidida: Era aquela roupa que ela iria usar! Um vestido azul marinho moldava o corpo de Anne até os pés, uma seda fina brilhava quando a luz batia, abaixo do busto um laço negro segurava a fita que rodeava um corpo ainda de menina e na frente às duas pontas seguiam compridas. Nos pés delicados uma alta sandália deixava os pés de Anne ainda mais brancos como a neve e me desculpem o trocadilho, mas pra ser a perfeita princesa só lhe faltavam os anões. O penteado nada muito organizado, o coque mal feito preso no alto da cabeça parecia mais um nó capilar, alguns fios para o alto, despenteados davam um tom anos 80, quando as mulheres usavam os cabelos cheios ao invés dos comportados penteados à lá chapinha dos dias atuais.

_Oli eu sei que é chique chegar atrasado, mas se tu não for se arrumar agora a gente vai chegar na hora que a festa acabar. _Disse Anne saindo do quarto devagar, quase que de propósito, meio em câmera lenta como nos filmes americanos, só para ficar ainda mais bonita, completando o físico com elegância, charme e leveza.

Olivier perdeu a atenção para o lado de fora e encarou a tia sem conseguir piscar.

_Anne Marrie você está linda! _Disse Olivier de boca aberta.

_Obrigada. _Riu Anne.

_As vezes eu me pergunto se é possível você ficar mais bonita tia, e você sempre vem com a resposta: SIM. _Disse Olivier indo de encontro com a tia até a porta de seu quarto. _Meu Deus! Você está maravilhosa, espetacular, fantástica. Tipo, tapete vermelho em noite de Oscar sabe?

_Pára. _Disse Anne envergonhada. _Mas você acha que o Rafael vai gostar.

_Claro né tia. _Riu Olivier passando o olho na roupa da tia. _Olha como você tá! Linda.

_Não acha que eu exagerei não? _perguntou Anne.

_Acho que não, você é Anne Marrie tem que ser exagerada, diferente, sempre causar polêmica. _Riu Olivier rodopiando a tia.

_É, mas dessa vez não quero nada de polêmica, quero ir lá curtir a festa, meu namorado, meus amigos e comemorar. _Disse Anne sorrindo.

_Comemorar o quê? _Perguntou Olivier.

_O prêmio de melhor decoração desse ano, que a gente vai ganhar. A gente não né, você. _Disse Anne.

_Até parece, do jeito que esse condomínio é conservador, a da Piedra vai ganhar. Sempre o tradicional vence. _Disse Olivier.

_Esse ano não. _Riu Anne. _Agora vai se trocar, que você não pode subir lá em cima desse jeito.

_Eu não vou subir lá em cima. _Disse Olivier.

_Se você ganhar vai sim. _Disse Anne.

_Eu não, morro de vergonha tia. Tá doida? _Disse Olivier. _E outra, a dona da casa é você, seu nome que eles vão falar lá em cima.

_Eu posso até subir com você, mas o discurso é por sua conta, tu que fez todo o trabalho eu não fiz nada. _Disse Anne.

_Eu fiz o trabalho duro e agora você que é a estrela sobe lá e fala. _Disse Olivier rindo.

_Eu não sou estrela. _Disse Anne.

_Mas é a garota problema da vez e tem mais, a patricinha agora está de namorado novo. _Disse Olivier.

_O Rafael não vai gostar dessa exposição toda. _Disse Anne.

_Vai ser bom pros negócios ele e do João. _Disse Olivier. _Já estou até vendo o perfil deles naqueles revistas teens.

_Que saco! _Disse Anne desanimada.

A campainha tocou.

Olivier arregalou os olhos e correu pra porta.

_Finalmente vou conhecer o Juca. _Disse Anne enquanto Olivier correu em disparado até a porta.

Quando Oliver abriu a porta sorrindo, viu Piedra sorrindo de volta.

_Feliz por me ver Oli? Eu também. Cadê sua tia? Tô entrando. _Disse Piedra antes de empurrar Olivier e entrar pela sala.

Piedra usava um vestido cinza rodado e armado e por cima do tomara que caia ela usava um bolero amarelo de couro até os cotovelos, os cabelos estavam soltos e lisos como de costume, a diferença no penteado da garota era uma fita amarela que ela usava para combinar com seu modelo.

Olivier ficou decepcionado e fechou a porta depois de olhar atentamente e não ver sinal de Juca se aproximando.

Piedra correu os olhos pelo lugar:

_Cadê a Anne? _Perguntou Piedra enquanto procurava a amiga.

_Tá vindo ai. _Disse Olivier triste apontando Anne que vinha caminhando em câmera lenta pelo corredor.

_Ow meu Deus! _Se chocou Piedra com o modelito de Anne.

A garota ficou de boca aberta enquanto Anne se aproximava flutuando com seu vestido ao vento.

_Piedra, você está linda. _Disse Anne.

_Eu só vim pra te ver, não agüentava mais de curiosidade pra vê teu vestido, então deixei o João pra lá  e vim te ver. _Disse Piedra. _Agora que eu já vi, já tenho motivo o bastante pra me jogar da ponte.

Olivier e Anne sorrirão.

_Sério. Porque só se matando pra parar de doer assim. _Disse Piedra sorrindo também. _Sério mesmo, machuca. O que foram horas no salão, fazendo unha, pele, cabelo, meses experimentando vestido, tira aqui, corta aqui, sobe ali, pra chegar aqui e ver que tu está mais bonita. Isso me dá um ódio.

Anne e Olivier sorriram.

_Ô Louísa, amarra a inveja ai tá que pode ficar perigoso. _Riu Olivier.

_Que Louísa guri, nem fala um negócio desses. _Disse Piedra. _E por falar nisso, ela vai estar lá hoje, tão sabendo né?

_Até agora não. _Disse Anne.

_Minha mãe que me contou, o pai dela ia mandar ela pro rio de vez, mas decidiu dar uma segunda chance pra ela. Pior pra gente né? Porque tenho certeza que ela vai aprontar hoje ainda. Tomem muito cuidado! _Disse Piedra. _É a despedida dela hoje, então se preparem que vem chumbo por ai.

_Por mim. _Disse Olivier desanimado. _Nem sei se vou mais a essa festa.

_Porque, o que tu tem guri? Tava tão animado com o concurso. Vai desistir assim fácil? _Disse Piedra sentando no sofá.

_Oli, calma! Ele vai chegar daqui a pouco, espera e outra eu já te disse ele pode querer ir direto pra festa. _Disse Anne.

_Quem vai chegar? _Perguntou Piedra.

_É o nam... _Começou Anne.

_PRIMO! _Interrompeu Olivier. _Um primo nosso de São Paulo.

_Tá, não precisa gritar. _Disse Piedra. _Doido.

_Oli, você tem que se arrumar agora. _Disse Anne. _Não vou falar de novo mocinho, eu sou a tia aqui. E eu disse que você vai, com ou sem ele.

Oli olhou Piedra e os dois riram.

_Não Anne, isso não vai funcionar. _Disse Piedra rindo.

_Eu tentei ser tia, você viu. _Disse Anne.

_Vi. _Disse Piedra sorrindo.

Olivier também sorriu.

_Não precisa fingir tia, eu vou me trocar. _Disse Olivier.

_Anda rápido senão a gente vai se atrasar. _Disse Anne.

_Pode deixar Anne, eu vou ligar pra todo mundo vir pra cá pra gente sair junto daqui. _Disse Piedra pegando o celular.

_Tia vem aqui rapidinho. _Chamou Olivier.

Piedra se levantou se distanciou deles enquanto Olivier e Anne se aproximaram dos quartos.

_Desculpa Oli, mas eu pensei que tu fosse contar pra eles hoje de uma vez. _Disse Anne.

_Sabe o que é tia, é que o Juca falou pra eu não falar pra ninguém que a gente é namorado. É a velha história dos gays, o grande problema que a gente enfrenta, se revelar para os pais, e ele ainda não fez isso. Eu já, mas ele não, e ele acha que se muita gente ficar sabendo um dia pode chegar ao ouvido dos pais dele sabe? Eu acho que ele devia contar de uma vez, mas isso não tem nada haver comigo isso é um problema dele, ele sabe o que está fazendo. _Disse Olivier. _Não acho legal contar pra ninguém agora.

_Eu entendi Oli, mas não seria melhor você falar pra eles de uma vez? _Perguntou Anne. _Eles são seus amigos, um dia eles vão acabar descobrindo.

_É, mas eu prefiro e ele também vai ser melhor pra nós. _Disse Olivier. _E tem a história da Patrícia também, ela disse que não sou eu, mas eu sei que ela me ver como um homem, ela me admira, não queria decepcionar ninguém.

_Até agora eu não ouvi o que você quer, só ouvi o que Juca acha, o que a Patrícia vai pensar, mas nada de o que o Olivier quer. _Disse Anne.

_Eu? Eu queria gritar pro mundo né. Mas não sou tão egoísta assim. _Disse Olivier.

_Isso não é egoísmo Oli, Você tem que ver o que é bom pra você. _Disse Anne.

_Eu sei o que é bom pra mim tia, e agora é ficar bem com o Juca, só isso. E não é um grande sacrifício também, eu já me escondi por tanto tempo, isso agora vai ser fichinha. _Disse Olivier.

_Então tá, você que sabe. Agora vai se trocar, corre! Daqui a pouco tá todo mundo ai e o Juca também. _Disse Anne.

_Tô indo, tô indo. _Disse Olivier correndo para o quarto.

Anne sorriu e voltou pro sofá conversar com Piedra que ainda estava no telefone.

 

Passadas exatas duas horas todos estavam na sala conversando, rindo, e especulando sobre a festa que já havia começado na praça do centro do Moinho na casa de festas do condomínio, um salão enorme e luxuoso como um salão real que era frequentemente usado para grandes festas, eventos e reuniões da alta sociedade do Rio Grande do Sul. Olivier não agüentava mais esperar e Anne percebia a aflição do garoto.

_E ai gente, esse primo vai chegar ou não vai? Nós já estamos atrasados. _Disse Piedra impaciente.

_A gente já tinha que ter ido Oli, o nosso primo já deve estar lá. _Disse Anne.

_Vamos esperar o guri galera, essa festa só vai começar mesmo quando a gente chegar. _Disse Rafael.

_Não Rafa, tudo bem, a gente pode ir, ele já deve estar lá mesmo. _Disse Olivier. _Mas valeu pela força.

_Nossa, mas que primo é esse heim? Tu gosta dele né Oli? _Disse Piedra.

_Piedra, deixa de ser chata guria. _Disse João. _Não torra o Oli.

_Não me chama de guria João! _Disse Piedra.

_Vamos parar de brigar, nem comecem vocês dois, hoje é dia de festa. _Disse Rafael antes de beijar Anne.

_Então vamos! _Disse Olivier ao se levantar do sofá num pulo.

Por mais que Olivier se sentisse decepcionado por Juca não ter aparecido, não ficaria legal ele faltar a festa por causa de um suposto primo, seria muito suspeito, e ele queria evitar chamar a atenção agora.

 

Calma Oli! Não dizem que a esperança é a última que morre? Então, dá uma olhadinha pela janela, quem sabe a esperança apareceu para dar um oi.

 

Olivier ouviu alguns passos do lado de fora e sem pensar correu até a porta esperando ver Juca subir as escadas até a porta. A porta se abriu.

 

Podem sair do luto, ninguém morreu muito menos a esperança.

 

Juca estava dando meia volta quando Olivier o viu voltar e correu até ele para lhe dar um abraço. Juca se virou a tempo de retribuir o carinho, Anne, Rafael, João, Piedra e Patrícia correram até a porta para ver a cena. Todos estranharam tanto carinho de um homem para o outro. Olivier demorou no abraço e já ia dar em Juca um beijo de boas vindas quando Juca reparou que estavam todos olhando para a cena de amor dos dois ali no jardim ao lado das renas artificiais. Juca poderia ter disfarçado melhor, ter sido mais gentil, mas ao invés disso ele empurrou com força o garoto para longe, e Olivier chegou a escorregar no chão molhado da calçada. Todos pularam assustados para frente, por instinto, tentando segurar Olivier.

_Oli você tá bem? _Perguntou Anne descendo as escadas correndo para ajudar Olivier.

_Eu to bem tia, pode deixar. _Disse Olivier.

_Qual é a tua guri? Porque tu empurrou o Olivier desse jeito? É teu primo. _Disse Rafael.

_Meu primo? É meu primo. _Disse Juca. _Eu sei, a gente é assim mesmo, brincadeira de primo.

Todos ficaram encarando Juca com um olhar suspeito, mas Olivier deu um jeito de livrar a cara do namorado.

_É. Desde pequeno esse é o nosso toque, não é primo? _Disse Olivier sorrindo disfarçadamente.

_É. _Disse Juca sorrindo de volta.

_Galera, esse é o meu primo e o da Anne, o Juca. _Disse Olivier. _Juca, esses são os nossos vizinhos e amigos Piedra, João, Patrícia e esse é o Rafael o namorado da Anne.

_Oi. _Disse Juca sem graça sorrindo forçadamente.

_Oi. _Disseram todos de cada vez.

_Vamos pra festa agora? _Disse Olivier.

 

Claro Oli, vamos pra festa!

E tenha esperança Anne Marrie, Olivier e Juca podem ser felizes algum dia. E a felicidade está longe de ser encontrada nessa festa. Mas repito, a esperança é a última que morre. 

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