Na verdade Anne não estava ligando muito pro concurso de decoração natalina, quem estava cuidando da ornamentação do jardim era Olivier, havia comprado pinheiros naturais, renas artificiais que se mexiam mais pareciam de verdade, nada de luzinhas piscando, nada de bolas coloridas. A idéia para decoração de Olivier era bem diferente das outras da rua e arrisco a dizer que duvido que alguém tenha tido idéia tão brilhante em todo o condomínio. Todos meio que por instinto iriam procurar por fazer uma decoração mais tradicional, mais comum, e por mais que algumas se destacassem pela grandeza e magnitude, todas tinham o mesmo padrão, variando apenas por três estilos: Religioso; com presépios dos mais variados tamanhos, cor, estilos, com movimentos, de palha, tinha um na rua de baixo à da de Anne Marrie que era de vidro, tudo bem que na placa dizia que era de cristal, mas duvido muito que era mesmo verdade. Tradicional; Pinheiro gigante, pinheiro médio, pinheiro pequeno, não interessava o tamanho, todos eram repletos de luzes e bolas de natal de todas as cores, presentinhos, maçãs, anjinhos, estrelinhas enfim, tudo bem alegre. Tinha também Papai Noel subindo o telhado, renas paradas no jardim, todas as janelas e portas adornadas de enfeites, a guirlanda pendurada, e é claro que não poderia faltar o falso boneco de neve, parado sorridente ao lado da caixa de correio. E por fim o estilo mais usado pela maioria dos moradores o estilo Glamour; Tudo era bem parecido com o estilo tradicional exceto pela escolha das cores, era bem charmoso, nada de muitas cores, somente um variação entre o prata o branco e o dourado. Algumas peças imitavam esculturas de gelo, o branco da neve artificial que saia da máquina, até a roupa do bom velhinho ganhava um charme quando era toda dourada com branco, as luzes claras rodeavam toda porta, toda janela, canteiro, telhado, sacada. Uma das casas até se atreveu a construir uma cascata de luzes, dessas que a gente vê somente em shopping centers, um luxo pra poucos. Por mais que todos seguissem esses padrões e mesmo assim conseguissem variar na criatividade na hora de decorar as casas para o concurso de natal, ninguém chegou perto do que Olivier tinha feito pro jardim da casa mais popular do condomínio. Como já disse, não tinha luz, muitas cores, na verdade tudo era meio triste e frio. Num surto de imaginação Olivier fez da sua decoração quase que um quadro, e quem passava por ali, ficava sem entender direito, mas era só prestar atenção nos detalhes e você perceberia que ele havia feito da forma mais real possível a casa do Papai Noel. As renas não estavam enfileiradas, bonitas, limpinhas e nenhum nariz piscava, elas eram bem reais, bichos de verdades, postas dentro de um cercado, como provavelmente Olivier imaginou que papai Noel as deixava enquanto não chegava o natal. Ao lado do cercadinho das renas uma grande gaiola prendia dois Perus, esses de verdade, que faziam barulho o dia inteiro, de onde Olivier imaginou surgir a tradição de se comer Peru no natal. A caixa de correio dizia “FAMÍLIA NOEL”, vários pinheiros de variados tamanhos enchiam um dos cantos do jardim e a frente deles vários pedaços de madeira, que era de onde provavelmente Papai Noel alimentava sua lareira, na garagem com o portão aberto, nenhum carro, somente uma velha carroça suja e mal tratada, que provavelmente seria o trenó do velho. Olivier usou neve também para decorar o jardim. Na porta em vez da guirlanda, havia um contador de quantos dias faltavam para o natal. A aparência da casa mudou também, Olivier mandou colocar vários pedaços de madeira velha, imitando o que seria um casebre, uma velha moradia de um velho triste e infeliz. Na lateral da casa havia duas lápides com os dizeres “MAMÃE NOEL” e na outra “FILHINHO NOEL”, o que provavelmente dava o toque triste, frio e sombrio a decoração. Em outro canto muitos entulhos de brinquedos de madeira, jogados fora, inclusive um berço, bem perto da montanha de entulhos uma placa “CARPINTEIRO”, provando assim a origem de tantos brinquedos. Espalhados por toda parte, em meio aos pinheiros, as árvores e no telhado, muitos anões, que seriam os duendes ajudantes do Papai Noel, mas eles não eram fofinhos, não estavam vestidos com as mais engomadas roupinhas verdes não. Eles eram feios, orelhudos, narigudos, deformados, e vestiam vestis sujas e batidas. Para dar o toque final, Olivier posicionou na janela ao lado da porta um boneco quase que real de um velho, vestido com roupão vermelho. Ele também era bem diferente de tudo que se ouvira falar de um Papai Noel, ele não tinha a barba grande, e nem ria feito bobo, ele tinha a barba rala e grisalha, grandes olheiras, olho amarelado, cabelos sujos e bagunçados e uma barriga digamos que menor do que a do tradicional Noel. Ele segurava a cortina deixando apenas parte de seu rosto e corpo a mostra, encarando as renas pastando no canteiro. Era mesmo pra chamar a atenção de quem passasse, todos ficavam espantados com tamanha riqueza nos detalhes e impressionados com tão horrenda decoração. Pra alguns estava horrível, não tinha muito haver com a idéia de decoração natalina, já que parecia mais uma decoração de halloween. Pra outros que realmente entendiam o recado, estava perfeito, diferente, criativo, original, a casa de Anne e de Olivier representava o que talvez seria o verdadeiro papai Noel, o lugar real onde ele vive, talvez seja por isso que ele presenteia a todos no natal, talvez essa seja sua motivação, levar alegria pra alguém que esteja triste como ele. Gesto nobre do velho, não?
Os garotos e as garotas ficaram chocados com a imaginação de Olivier quando viram o resultado final.
_Eu pensei que ainda não tava pronto. _Disse Piedra. _Mas tu já acabou mesmo? Não vai ter nem uma luzinha se quer?
_Claro que vai. _Afirmou Olivier sorridente. _A noite os anões vão acender uma fogueira aqui, perto dos pinheiros.
_Ai credo, Oli. _Disse Piedra. _Tá muito estranha sua casa agora, a Anne gostou disso?
_Ela nem liga. _Disse Olivier. _Me deu carta branca pra decorar.
_Ela tá lá dentro Oli? _Perguntou Rafael apaixonado.
_Tá sim titio. _Disse Olivier rindo.
Todos caíram na gargalhada.
_Muito engraçado viu. _Disse Rafael correndo pra ver sua namorada.
_Não demora lá não Rafa, a gente tem que entregar o folder pra Juliana hoje ainda. _Disse João.
_Pode deixar, só vou ver como ela tá e já saio. _Disse Rafael antes de entrar na casa da sua amada.
_Quase que tu não termina a tempo né Oli? _Disse Patrícia. _A festa de entrega pro prêmio é daqui a seis dias.
_Quase mesmo. _Disse Olivier. _Porque a avaliação dos jurados é sábado agora. Fiz tudo correndo.
_Por isso que ficou feio assim. _Disse Piedra.
_Piedra! _Disse João com cara feia.
Olivier riu:
_Não tem problema não João, contanto que os jurados não pensem assim também.
_Desculpa Oli, mas é que cá pra nós, bonito não está. _Disse Piedra.
_Piedra pára com isso. _Disse João.
_E João me deixa. _Disse Piedra. _Ele sabe que não está bonito, não tem uma corzinha, um brilho, nada de natal, nem o Rudolph dele tem o narizinho vermelho. Isso não é natal.
_Mas ficou legal de todo jeito. _Disse João. _Olha pra tudo isso, quem pensou que o Papai Noel vivesse assim? Ninguém.
_Eu sei gente que é diferente. _Disse Olivier. _Mas eu quis fazer algo assim, porque sempre fiquei pensando nisso sabe, como que era a casa do Papai Noel? E é assim que eu imagino sabe, bem real. Que ele seria humano como todo mundo, com problemas, sem dinheiro, humilde.
_Se ele é tão pobre? Como ele daria presentes pra todas as crianças, todo ano? _Disse Piedra.
_É só lê a placa Piedra. _Disse João apontando pra placa de “CARPINTEIRO”.
_Ah, agora eu entendi. _Disse Piedra. _Ele faz todos os brinquedos de madeira, tipo, ele não compra? Ele mesmo faz.
_Ele e os duendes, que ajudam ele. _Disse Patrícia.
_Com a madeira dos pinheiros que ele mesmo planta. _Disse Olivier apontando pros pinheiros.
_Ah entendi. _Disse Piedra. _Mas porque ele faz isso?
_Por causa do espírito natalino. _Disse Olivier. _Eu coloquei aqui, que ele não tem família, não tem mulher e nem filhos, todos morreram. Então quando você vê tudo isso, e as lápides ali do lado, você já imagina que ele fazia os mesmos brinquedos pro filho dele, mas como ela já morreu ele faz a mesma coisa para todas as crianças do mundo, que lê meio que adotou como suas. Por isso que ele chama Papai Noel.
_Nossa, que viagem. _Disse Piedra. _Vocês artistas tem cada idéia. Qual o problema com as luzinhas, o roupa vermelhinha, o nariz do veado que pisca? Qual o problema?
_Nenhum meu Deus! _Disse Olivier.
_É Piedra relaxa. _Disse Patrícia. _Tu que é burra e não entende a arte.
_Burra é tu Pati. _Disse Piedra.
_Pára as duas. _Pediu João.
_Não é essa questão, entender, não tem nenhum enigma, é só a casa do Papai Noel. _Disse Olivier. _É diferente claro, diferente de tudo que eu já vi de casas de Papais Noeis, mas essa é a casa que eu imagino que ele viva, só isso.
_Sou mais a minha. _Disse Piedra olhando pra casa dela que mais parecia um circo de tão colorida.
_Queria fugir do tradicional. _Disse Olivier. _Lá em São Paulo tinha que ser sempre assim por causa da minha irmãzinha pequena sabe? Tudo era bem vermelho e verde, enjoei.
_Artista é foda! _Disse Piedra balançando a cabeça.
Rafael saiu com Anne de mãos dadas.
_Lá vem os dois. _Disse Patrícia.
_Isso, ainda bem que não demoraram. _Disse João.
Rafael e Anne se aproximaram sorrindo.
_Ele me seqüestrou praticamente. _Disse Anne rindo.
_Anne, o que tu achou da decoração da sua casa? _Perguntou Piedra.
_Ah ficou legal, é a casa do Papai Noel não é? _Perguntou Anne.
Olivier confirmou com a cabeça.
_Ficou diferente, mas faz sentido. _Disse Anne. _Adorei os Perus, deu um toque de realidade até pra ceia. Adorei.
_Credo, tu não tem dó do pobre do bichinho não? _Perguntou Piedra.
_Até parece que o Peru que você come no natal é artificial né Piedra. _Disse Olivier.
_Eu não como carne meu amor. _Disse Piedra orgulhosa de si mesma. _Eu sou uma modelo. Modelo que come carne não é top. E eu sou.
_Liga não gente. _Disse João.
_Então o que a gente vai fazer hoje? _Perguntou Anne.
_A gente vai trabalhar. _Disse João, puxando a mão de Rafael.
Rafael foi arrastado até o carro.
_Tchau amor. _Disse Rafael antes de entrar no carro praticamente obrigado.
_Anda Rafa, a Juliana já deve estar esperando a gente. _Disse João. _Tchau Pi, tchau Pati, Tchau Oli, tchau Anne.
_Tchau. _Todos disseram juntos.
_Bom trabalho pra vocês. _Disse Anne.
João deixou Rafael no carro e deu a volta para entrar no carro, quando ele entrou, Rafael abriu a porta, saiu correndo em direção a Anne e a beijou com força.
Todos viraram os rostos envergonhados, menos Piedra.
_Que chatura vocês dois, não se desgrudam um minuto, credo. _Disse Piedra.
Todos riram, inclusive Anne e Rafael, que já estava correndo de volta pro carro.
_Tchau gente. _Se despediu Rafael sorridente ao entrar no carro de novo.
_Tchau. _Disseram todos juntos novamente.
O carro saiu ligeiro, enquanto os quatro continuavam no meio do jardim do Papai Noel.
E vocês o que vão fazer hoje? _Perguntou Anne.
_Eu e o Olivier vamos trabalhar juntos hoje. _Disse Patrícia toda alegre. _Ele vai me pintar hoje.
_É. Eu prometi que ia pintar um quadro dela pra ela hoje. _Disse Olivier não muito animado. _Eu só estava terminando o desenho pro Rafa e pro João, da campanha pra Juliana.
_Ah tá. _Disse Anne. _E você Piedra?
_Eu não vou fazer nada, e tu? _Perguntou Piedra.
_Nada também. _Disse Anne.
_Então vamos no shopping comigo. _Pediu Piedra. _Tenho que comprar os presentes de natal pra todo mundo.
_Ótimo, eu aproveito e compro os meus. _Disse Anne. _Deixa eu só ir lá dentro e pegar minha bolsa.
_Tá, eu vou lá então pegar a minha. _Disse Piedra. _Vou pegar a chave do carro com minha mãe também. Já volto.
_Eu também não demoro. _Disse Anne.
Olivier levou Patrícia até seu ateliê em um dos quartos da casa. Lá era bem organizado na medida do possível, várias prateleiras, gavetas, armários, mesas, serviam de abrigo pras tintas, pinceis, moldes, papeis, telas, lápis, cavaletes, e muitos, muitos livros de artes. O que mais chamava a atenção no ateliê era o quadro de uma bela garota, doce, sensual, com o olhar penetrante, que hipnotizava qualquer um que entrasse na sala.
_Nossa, que quadro lindo esse da Anne. _Disse Patrícia encantada com a obra.
_É, também acho. _Disse Olivier que não era modesto ao descrever aquela peça. _Tem um tempo já que eu fiz, mas estou dando umas mudadas, uns retoques de luz e textura pro meu teste na escola de artes. Vou apresentar ele.
_Já entrou com certeza. _Disse Patrícia abobada diante do quadro. _Nossa, mas é muito bonito mesmo. Parece que tem vida.
_É por causa do olho, o olho tem um brilho não é? É forte o olhar dela nesse quadro. _Disse Olivier. _E o que eu mais gosto é que quando você olha tu só consegue ver o olhar, você não consegue tirar os olhos dele, o olhar sensual, cativante, penetrante. Mas ai quando tu vai se acostumando com ele você vai percebendo o que tem em volta dele, um rosto de anjo. Que é tão doce, tão delicado que combinado com o olhar forte, fica simplesmente a coisa mais bonita de se ver.
Patrícia estava sem palavras diante da peça, acabava de perceber exatamente o que Olivier havia falado, ela estava hipnotizada.
_Lindo. _Foi a única coisa que conseguiu sair da boca dela.
_Eu digo que qualquer pessoa que tentar entrar aqui dentro e ver esse quadro vai ficar parada, presa no olhar da minha tia. Assim como você está agora. _Riu Olivier.
Patrícia fechou o olho, mexeu a cabeça pra outro lugar e levantou as pálpebras lentamente, e mesmo que agora ela olhasse para um monte de tinta e livros ela ainda via a imagem de Anne gravada na sua retina.
_Nossa, é muito... muito... _Tentava dizer Patrícia.
_Perfeito. _Disse Olivier rindo.
_É. _Concordou Patrícia. _Muito perfeito seu quadro. Nossa, estou mexida até agora, parece que ela estava olhando pra mim agora.
Olivier puxou um lençol de uma das mesas e jogou sobre o quadro.
_Aham, eu também já senti isso, teve um dia que eu fiquei horas aqui, olhando pra ele e não conseguia sair, quando sai, queria voltar e continuar olhando. _Disse Olivier.
_Nossa, sensação maravilhosa, estranha. Muito estranha. _Disse Patrícia.
_Aham. _Disse Olivier. _É porque o quadro é tão bonito, ela está tão bonita que parece que te prende ali, mas ao mesmo tempo em que você venera a beleza dela, vai te dando uma coisa ruim, uma sensação estranha. Parece que você é feio, sujo, né?
_Exatamente isso. _Disse Patrícia. _Mas parece que mesmo assim tu quer continuar olhando.
_Eu sei. _Disse Olivier. _Nem eu acredito que foi eu mesmo que pintei isso às vezes? Não me lembro de ter pintado sabe? Parece que eu entrei em transe e quando acordei já estava assim, pronto. Perfeito desse jeito.
_E tu ainda quer melhorar mais? _Disse Patrícia. _Já tá perfeito.
_Também acho, mas tem que estar mais do que perfeito pro dia do meu teste, dependo disso. _Disse Olivier.
_Pra que dia é a prova? _Perguntou Patrícia olhando pra todos os lados admirada com o espaço que Olivier tinha pra pintar.
_É no começo do ano que vem. _Disse Olivier. _Tô estudando muito e preparando o quadro também pra hora do teste.
Patrícia prestava atenção em cada detalhe, cada tinta, cada borrão na parede. Queria decorar tudo. Afinal quantas vezes ela imaginou estar ali, no recanto do seu amor. Do seu amado Olivier, quantas vezes ela queria estar ali, sozinha com ele, e o melhor: Pintando um quadro dela. Ai ela temeu, será que ao pintá-la Olivier descobriria que ela gostava dele, que ele o amava, talvez ele mergulhasse tão fundo em seus olhos como fez com o quadro de Anne Marrie que assim seria notável sua paixão por ele. Patrícia tinha certeza do amor de Olivier por ela, tantas cartas, flores, bombons só vinham a aumentar o amor de Patrícia por ele. Mas como ela presumia, ele era envergonhado demais para se declarar, para dizer na frente dela que a amava, para assumir para todo mundo o amor dos dois. No final de cada carta, bilhete, recado, Olivier sempre deixava bem claro para Patrícia, que jamais revelasse a ninguém o amor dos dois, segundo as cartas, ele ainda não estava preparado para isso. Mas quando Olivier ofereceu a Patrícia um quadro, ela se encheu de esperanças.
Marque a afirmativa correta:
( ) a - Essa era a oportunidade perfeita pra Olivier finalmente se declarar para Patrícia.
( ) b - O quadro era mais uma prova de amor.
( ) c - Ele iria assumir o relacionamento com ela para todos, através do quadro.
( ) d - Nenhuma das alternativas anteriores.
Essa eu respondo. Letra d - Nenhuma das alternativas anteriores.
_Pode sentar Pati, onde você prefere sentar? _Perguntou Olivier oferecendo a moça, um banco, uma cadeira e uma poltrona.
_Na cadeira mesmo tá bom. _Sorriu Patrícia.
_Está bem, então vamos começar. _Disse Olivier.
No shopping Anne e Piedra andavam pelas lojas procurando presentes para a família e para os amigos. As duas se separaram pra comrpar os presentes assim no dia do natal seria surpres o que cada uma ia dar para outra. Piedra era pratica tentava dar algo pratico, criativo, interessante, engraçado e procurando sempre o melhor preço. Já Anne estudava muito o que dar e não tinha muitas idéias diferentes: pra Olivier ela comprou um livro de artes, que provavelmente ele já tinha mas ela não sabia disso. Para Alice ela comprou um jogo de porcelanas francesas de chá. Para o cunhado Luis, ela comprou um kit de acampamento de luxo, com barraca, vara de pesca, lanterna, um mini fogão a gás, uma lanterna e um mata mosquito que funcionava a pilha. Para a sobrinha Marceline ela comprou um celular ultra moderno, com Mp3, internet, máquina fotográfica, filmadora, gravador de voz, recebedor de e-mail, pen-drive, enfim o celular mais moderno da marca mais famosa e com o preço mais caro, o telefone só faltava fazer pipoca. Pros amigos Anne também foi exagerada, para Piedra ela comprou um vestido Chanel caríssimo, lançamento da última coleção. Para João uma caneta mouse, que permitia se fazer desenhos no computador com mais facilidade. Pra Patrícia ela comprou uma bolsa Victor Hugo também da ultima coleção. E por fim para o namorado ela comprou uma moto. Vocês acreditam? É. Uma moto sim. Não era nenhuma Harley Davidson, mas era bem bonita, econômica e elegante. Enfim, depois de gastar muito as duas garotas se permitiram lanchar antes de voltar pra casa.
_Nossa Anne, tu é louca gastar o tanto de dinheiro que tu gastou hoje com os presentes. _Disse Piedra. _Eu comprei só algumas lembrancinhas.
_Eu não consigo, há muito tempo que eu não tenho um natal assim. _Disse Anne. _Cheio de gente pra dar presentes, e eu também nunca tive meu dinheiro pra gastar, como tinha sempre que pedir meu pai tudo, ele nunca me dava pra comprar o que eu queria dar. Agora que posso dar o que eu quiser, sem dar satisfação pra ninguém. Gastei mesmo.
_Uma moto? _Disse Piedra olhando o cardápio. _Exagerou não?
_A sei lá. _Disse Anne. _Será que ele não vai gostar?
_Olha, gostar ele vai, só não sei se ele vai aceitar. _Disse Piedra.
_Será? _Perguntou Anne preocupada. _Eu comprei com tanto amor.
_Eu sei Anne. _Disse Piedra. _Mas o problema não é nem isso, o problema é o que ele vai comprar pra você, e tenho certeza que não vai estar a altura de uma moto. Ele vai te dar uma coisinha fofa, não um carro. Entendeu?
_Entendi. _Disse Anne.
_Só quero ver o que tu comprou pra mim. _Disse Piedra. _Foi um triciclo?
Riu Piedra.
_Não, mas foi tão caro quanto. _Disse Anne preocupada com a grandeza dos presentes que havia comprado.
_O quê? _Assustou Piedra. _Anne quanto tu gastou com meu presente?
_10 mil? _Disse Anne de olhos fechados.
_O quê? _Piedra ficou assustadíssima com o valor do presente. _Não acredito Anne. Tu comprou pra mim um presente de 10 mil reais?
_Qual o problema? Eu já disse que eu nunca tive um nat... _Tentou se explicar Anne.
_Não justifica. _Disse Piedra. _Pelo amor de Deus, o que eu comprei pra ti não chega nem a 100 reais.
_Jura? _Perguntou Anne assustada com o valor do presente dela.
_Aham. _Disse Piedra. _Não precisa fazer essa cara não, porque ele é muito legal viu. E pra ser legal não precisa gastar muito não.
_Mas isso pra mim não faz diferença. _Disse Anne.
_Mas pra mim faz. _Disse Piedra. _Eu vou me sentir mal. Eu e todo mundo que ganhar seus presentes. Eu fico até com medo de perguntar quanto que custou o dos outros.
_Pi, relaxa. Todo mundo gosta de ganhar presente, ninguém liga pro preço. _Disse Anne.
_Liga sim. Quem ganhar uma moto, ou seja lá o que for por 10 mil reais e der um presente de 50, 80 ou 100 reais vão se sentir péssimo. _Disse Piedra. _É constrangedor pra quem ganha e vai ser constrangedor pra tu também tu vai ver.
_Ai meu Deus. O que eu faço agora? _Perguntou Anne desesperada.
_Vamos devolver né? _Disse Piedra se levantando. _Como tu acabou de comprar dá tempo de devolver ainda e pegar o dinheiro de volta. Depois eu vou contigo, e juntas nós vamos escolher os seus presentes.
_Igual meu pai fazia comigo! _Disse Anne.
_Isso mesmo, igual seu pai fazia contigo. _Disse Piedra. _Ele fazia por que tu ainda era uma criança. E eu vou fazer porque tu ainda é uma criança. Como assim gente, gastar milhões nos presentes de natal? É doida.
_Mas eu estou com fome, vamos comer primeiro, depois a gente vai devolver e comprar os presentes de novo. _Disse Anne.
_Tá bom, neném, vamos comer então. _Disse Piedra sentando novamente. _Mas depois nós vamos devolver tudo, inclusive a moto.
_A moto não. _Disse Anne. _O que eu vou dar pra ele então?
_A gente dá um jeito. _Disse Piedra. _Um par de meia, cueca, qualquer coisa, menos algo com roda.
_Tá bem. _Disse Anne desapontada por ter que devolver os presentes todos.
_Mas agora me conta, o que tu comprou pra todo mundo? _Perguntou piedra curiosa.
_Nada demais, só uma bolsa Victor Hugo pra Patrícia, uma can... _Tentou Anne.
_Uma bolsa Victor Hugo? _Se chocou Piedra. _Tu é doida Anne?
_Não. _Disse Anne calmamente.
_Não se compra uma bolsa Victor Hugo pra ninguém de natal. _Disse Piedra. _A gente compra algumas lembrancinhas. Algo que a pessoa goste, vá guardar com carinho, não precisa ser algo caro pra ser bom.
_Entendi, tu quer que eu dê um chinelo havaianas pro Rafa então. _Disse Anne.
_Não guria. _Riu Piedra. _Mas também não precisa dar 10 mil num presente.
_Por exemplo, eu comprei pro João, pro João heim que é meu namorado, uma jaqueta de couro. Não é de grife mas parece, é cara, mas também não é demais, e tenho certeza que ele vai adorar. _Disse Piedra.
_Quanto? _Perguntou Anne.
_600 reais. _Disse Piedra sorrindo.
_Nossa, onde você achou essa? _Perguntou Anne.
_É só procurar que tu acha. _Disse Piedra. _Tá vendo, dá pra comprar algo legal, que a pessoa vá gosta, mas sem gastar muito dinheiro. E seja lá o que ele for me dar, ele não vai ficar envergonhado ou coisa do tipo, porque eu deu uma jaqueta pra ele. Entendeu a idéia?
_Entendi. _Disse Anne.
_Ótimo, vai pensando ai, enquanto a gente come que depois a gente vai voltar as compras. _Disse Piedra.
Enquanto isso Olivier começava a dar as primeiras pinceladas na tela. Ele estava decidido a contar a ela aquela tarde que ele era gay, e que não havia chances de ele estar gostando dela. O que ele não contava é que Patrícia estivesse recebendo cartas em seu nome, declarando o amor dele por ela. Estava acontecendo um grande mal entendido entre os dois e quem sairia machucado dessa história era Patrícia que realmente estava amando Olivier. Anne chegou a avisar a Olivier para não dar um quadro de presente à garota, pois isso alimentaria ainda mais o desejo de Patrícia por ele, mas Olivier acreditava no presente como forma de provar a amizade entre eles e que depois que ela descobrisse sua homossexualidade seria uma forma de se desculpar por ela ter imaginado algo a mais entre os dois.
A tarde passava devagar e as garotas no shopping já haviam voltado às compras. Depois de devolver todos os presentes e ter pegado o dinheiro de volta, as duas andavam por todo o shopping atrás de presentes.
Piedra ria das histórias de Anne:
_Tu não existe Anne. _Disse Piedra rindo. _Parece que realmente tu acabou de chegar nesse mundo.
_Ah nem é assim não. _Disse Anne.
_É verdade. _Disse Piedra ainda com um sorriso nos lábios. _Não tem maldade, parece mesmo uma criança ainda, assim sem ofensa. No puro sentido da palavra eu digo, a inocência de uma criança, como eu posso dizer?
_Boba! _Disse Anne.
Piedra riu:
_É, mais ou menos isso. _Disse Piedra. _Desculpa Anne, mas é que é muito estranho mesmo.
_Porque não é? Porque essas coisas acontecem comigo, porque eu sou diferente de todo mundo, porque eu não sou igual às outras garotas? Igual a você ou igual a Patrícia, ou até mesmo igual a Louísa? Se bem que ela não esta muito longe de ser como eu não. _Disse Anne enquanto as duas caminhavam pelo shopping olhando por todas as vitrines.
_Credo Anne, não diga uma coisa dessas. _Disse Piedra parando em frente a uma loja, onde viu alguma coisa.
_O que foi? Porque você parou? _Perguntou Anne sem entender porque as duas haviam parado em frente a uma loja de doces.
_Vamos entrar, tenho uma idéia. Vem! _Disse Piedra puxando o braço de Anne e entrando as pressas dentro da loja.
Anne foi puxada pelas mãos e fez esforço pra não deixar suas sacolas caírem no chão.
_Calma Piedra o que foi? O que a gente veio fazer aqui nessa loja? _Perguntava Anne enquanto Piedra passeava por entre as prateleiras de doces.
Balas, chicletes, chocolate, pirulito, caramelo, bolinhos, biscoitinhos, sabores, cores, tudo ali diante dos olhos das garotas.
_O que é, tu vai comprar alguma coisa aqui? _Perguntava Anne sem parar, enquanto Piedra olhava atentamente cada prateleira. _Responde menina!
_Calma, eu estou procurando a coisa certa ainda. _Disse Piedra.
_Lembrei do Rafa agora. _Disse Anne abrindo um sorriso.
Piedra olhou para a amiga com um sorriso suspeito e levantou as sobrancelhas em questionamento.
_O quê? _Perguntou Anne surpresa.
_Isso mesmo que tu entendeu. _Disse Piedra quando voltou a procurar.
_Você não está pensando heim... _Começou Anne quando percebeu do que se tratava a procura de Piedra.
_Porque não? _Disse Piedra sorrindo.
_É impossível. _Disse Anne chocada com a possibilidade.
_Por quê? Aqui é um aloja de doces, eles devem ter o bastante. _Disse Piedra.
O sorriso de Anne Marrie tornou a se abrir no rosto da garota.
Olivier fazia devagar o contorno dos lábios de Patrícia, que sorria exageradamente.
_Fecha a boca um pouco pra eu ver seus lábios melhor. Assim fica difícil, eles estão esticados. _Disse Olivier.
_Ah tá desculpa. _Disse Patrícia sem jeito, mas feliz. _É que eu nunca posei assim antes pra alguém.
Patrícia fechou os lábios de uma vez. Olivier riu.
_Não tanto, pode sorrir normalmente. _Disse Olivier sorrindo. _Só precisava ver seus lábios mesmo. Imagine que é uma foto, não precisa ficar parada o tempo todo, eu já apertei o flash.
_Ah tá. Como assim apertou o flash? _Perguntou Patrícia.
_É como se fosse uma foto, quando você sentou ai, eu comecei a desenhar sua posição e já gravei na mente, a cor da tua pele, o desenho dos teus olhos, o liso do teu cabelo, tudo está aqui. _Disse Olivier colocando a mão na cabeça e sujando a testa com um pouco de tinta. _É como se meu olho tivesse tirado uma foto sua, está aqui tudo gravado já. Pode mexer normal, pode ir conversando comigo, quando precisar de algo eu te falo ok?
_Ok. _Disse Patrícia mais encantada ainda. _Como pediu agora da minha boca né?
_Isso. _Disse Olivier. _Você estava rindo demais e eu não conseguia ver seus lábios, eles estavam esticados demais, assim está melhor. Exatamente assim, teu sorriso está lindo agora, fica assim só um pouquinho.
E Patrícia não mexeu nem mais um músculo do rosto. Ficou lá parada, imóvel, como Olivier pediu. Olhando pra ele fixamente enquanto os olhos claros dele provavelmente fitavam sua boca, desenhando devagar com um pincel as curvas dos seus lábios, Patrícia sentiu algo passar por sua boca e olhou pra baixo a procura do que seria. Sem resposta ao olhar, ela voltou a encarar Olivier que apertava os olhos para desenhar a moça. Que dedicação, que atenção, que artista? Que olhos, que boca, que pele, que cabelo... Se esbaldavam os olhos de Patrícia em Olivier de cima em baixo, quando a sensação voltou, algo estava massageando seus lábios, algo leve, molhado. Que sensação estranha, ela poderia jurar que sentiu alguma coisa sobre os lábios novamente. E novamente tornou a olhar pra baixo procurando alguma coisa. O que seria? Uma mosca talvez? E quando Patrícia voltava a encarar seu amado novamente algo passou por cima de seus lábios, um pincel. Assustada Patrícia olhou para o lado a procura de alguém que se escondeu, mesmo que inexplicavelmente rápido. Como esperado, ela não viu ninguém atrás dela, ao voltar o rosto pra frente, a poucos centímetros de distancia estava Olivier. Ele estava tão perto que ela podia sentir o seu bafo quente sobre o rosto. Com os olhos olhando pra boca da garota, Olivier levantou o pincel e suavemente o escorregou sobre a boca da garota, daí então Patrícia descobriu a sensação que tanto a incomodava, um pincel molhado da mais pura tinta vermelha alisando sua boca. Patrícia era o quadro, sentia o gosto da tinta. Olivier deixou escorrer a tinta pelo queixo da garota e mais que depressa o garoto aparou a gota com o dedo, e deslizou ele devagar para cima, para dentro da boca da garota que tentada o chupou. Olivier então olhou finalmente pro olhos de Piedra. Não um simples olhar de quem olha pra alguma maçã em cima da mesa, um olhar profundo, com sentimento, com significado. Aqueles olhos claros invadiram a alma de Patrícia que suspirou devagar. Olivier então subiu a mão pelo rosto da garota e acariciou seu cabelo até a nuca, ao voltar com a mão para frente o garoto havia sujado as mãos de tinta escura. Ele olhou para a mão suja e voltou a olhar para Patrícia sem entender o que havia acontecido, mais que depressa ele começou a reparar o dano que havia feito. Passou o pincel pela paleta misturou uma cor aqui, uma cor ali e levou o pincel molhado ao cabelo de Patrícia que escorria pelo rosto, fresco. Olivier se aproximou mais uma vez, queria fazer o trabalho perfeito, sem erros, sem manchas. Foi se aproximando, foi se aproximando, e mais perto e mais perto até que encostou o rosto no de Patrícia que com o toque humano se assustou e recuou com um pulo. Ele encarou-a novamente nos olhos e voltou a se aproximar devagar, ligados pelos olhos Olivier e Patrícia quase se tocavam novamente, mais um pouco e o lábio dele se juntou ao dela. Patrícia não se afastou dessa vez ficou lá sentindo o que esperava por tanto tempo, o beijo. Ainda de olhos abertos os dois continuavam a se encarar, ambos tentando entender a situação até que devagar a medida que o beijo se tornava mais intenso e a tinta escorria pelo pescoço dos dois, automaticamente os olhos foram fechando devagar. Que boca suculenta, macia, que sabor de paixão era esse que Patrícia sentia? Patrícia levantou a mão e lentamente passou-a por de trás da nuca de Olivier, como era macio, sedoso, a sensação aveludada. Patrícia então sentiu as mãos do garoto em volta de seu corpo, apertando forte, beijando mais forte, amando mais forte. Tudo era intenso, quente, poético, singelo, gostoso. Patrícia abriu de novo os olhos e nada estava mais ali, nem o beijo, nem o abraço, nem o toque, nem a pele, nem o cabelo, nem a sensação maravilhosa de desfrutar do amor. Olivier estava como há minutos atrás do outro lado do ateliê, por detrás do quadro, com os olhos apertados como antes, provavelmente pintando a boca de Patrícia, ela podia sentir ainda o gosto da tinta, as cerdas do pincel nos seus lábios.
_Pronto! Acabei a boca. _Disse Olivier. _Pode ficar normal agora.
Olivier abriu um sorriso de cegar os olhos e voltou a se concentrar no quadro. Patrícia riu de volta, relaxou o corpo e tocou a boca esperando ver quando analisou o dedo a tinta vermelha escorrer por ele, mas não havia nada ali, não havia tinta, nem vermelha nem preta, nada. Patrícia fechou os olhos devagar e voltou a abrir, esperando ver Olivier novamente em cima dela, mas nada aconteceu também. Ele continuava concentrado do outro lado do ateliê, pintando. Respirou fundo, e continuou a fazer o que mais amava, olhar pra Olivier. Seu amado Olivier.
“Grudento e Doce” Era o nome da loja que Anne e Piedra saíram sorrindo e cochichando.
_Imagina a cara dele? _Perguntou Piedra sorrindo.
_Tomara que ele goste. _Disse Anne sorrindo, mas preocupada com a reação de Rafael.
_Relaxa Anne, ele vai amar. _Disse Piedra confiante. _Conheço o Rafa.
_Tomara que ele goste mesmo. _Disse Anne.
_Viu só? Tu provavelmente vai dar o maior presente que o Rafa já ganhou na vida dele, e nem gastou muito dinheiro. _Disse Piedra.
_Mas eu tinha mais segurança na moto, isso que a gente vai dar é muito inusitado. _Disse Anne.
_A gente não. O presente que tu vai dar, eu não tenho nada haver com essa história. _Disse Piedra.
_Obrigada Pi. _Disse Anne sorrindo.
_Não sorri assim pra mim não que me dá uma inveja, um sorriso lindo desse. _Disse Piedra. _Queria eu ter um sorriso assim, só o sorriso não né? A cara inteira, o corpo, tudo.
_Eu devia me preocupar com isso? _Perguntou Anne.
_Não precisa, se eu tivesse olho gordo, a Gisele Bündchen já estaria morta amor. _Disse Piedra.
_Credo Piedra. _Riu Anne.
_É verdade. _Disse Piedra riu.
_Mas agora é sério, e como anda tua carreira de modelo? _Perguntou Anne ao descer as escadas rolantes com Piedra.
_De mal a pior. _Disse Piedra. _Pra começar eu já estou muito velha pra carreira, devia ter começado mais cedo, mas lá em casa tu conhece minha mãe né. Não deixava de jeito nenhum eu morar sozinha. Tinha que ter ido pra São Paulo há muito tempo já. Mas morar sozinha a dona Lourdes não ia deixar mesmo. Então tive que esperar eu fazer 18 pra poder ter algum poder de sair e morar sozinha.
_Então porque não foi? _Perguntou Anne.
_Porque foi ai que começou a complicar as coisas. _Disse Piedra desanimada. _Era pra eu ter ido mesmo, cheguei a convencer minha mãe, mas acabou que nenhuma agencia quis me representar. Disseram que eu era muito velha pra ser modelo, o que eu não tiro a razão deles, realmente eu sou muito velha pra pegar passarela agora. Entãi tive que ficar aqui, na velha Rosa Velha.
Anne riu:
_Mas Piedra, você é tão bonita. _Disse Anne tentando levantar o astral da garota. _Tua beleza é diferente das outras garotas, tem um rosto forte, latino, tua cor é linda.
_Mas mesmo assim eles preferem meninas como tu, loirinha, magrinha, alta, esbelta, olho claro. _Disse Piedra ao saírem da escada rolante e começarem a andar. _Esses são os padrões não adianta discutir.
_Ainda não acredito, que ninguém te achou, sua beleza é rara. Não é qualquer uma que tem esses traços. É uma latina misturada com índia. _Disse Anne.
_É. Fala isso pras agencias. _Disse Piedra desanimada.
_Sei lá, mas como eu vou mexer com moda, sou meio viciada nessas coisas de beleza e estilo. Te acho perfeita. _Disse Anne.
_Obrigada Anne, mas infelizmente tem gente que não acha isso. _Disse Piedra.
_Você ama ser modelo né? _Perguntou Anne.
_É a coisa que eu mais amo na vida. Ser modelo, quer dizer quem eu sou, significa tudo pra mim. Se eu não modelar, não sou eu, entende? É minha vida. _Disse Piedra.
_Nossa. É mais forte do que eu pensei que era. _Disse Anne.
_é. _Disse Piedra.
_E o João? O que ele acha de você ser modelo? Não fica com ciúmes não? _Perguntou Anne.
_O João não, aquele ali, não liga pra nada. É todo desligado das coisas. _Disse Piedra. _Ficaria surpresa se ele lembrasse que é meu namorado.
Anne sorriu.
Olivier continuava concentrado no quadro de Patrícia.
_Tu tá calado. _Disse Patrícia sorrindo.
Olivier abriu o sorriso.
_É que estou concentrado demais aqui. _Disse sorrindo. _Mas pode falar ai, que eu te escuto.
_Não quero te atrapalhar. _Disse Patrícia.
_Não é sério. Se quiser pode ir falando que estou te ouvindo. _Disse Olivier olhando pra garota.
Patrícia corou, sorriu delicadamente e se calou. Olivier voltou a pintar.
_Não vai dizer nada? _Perguntou Olivier sorrindo.
_Não, não. _Disse Piedra.
_Deixa de bobeira pode falar garota, não vai me atrapalhar não. _Insistiu Olivier.
_Está tudo bem. _Disse Patrícia envergonhada.
_Agora você começou termina. _Disse Olivier sorrindo.
Patrícia sorriu sem graça e voltou a se calar.
_Já que você não quer falar, eu vou fazer uma pergunta e você vai ter que responder. _Disse Olivier.
_Não. Concentra ai, quero ficar bem bonita igual a Anne, e não igual a Monalisa. _Disse Patrícia sorrindo.
Olivier sorriu:
_Não é sério sô.
_Está bem, então pergunta. _Disse Patrícia envergonhada arrependida assim que formou a frase e a disse.
_Está bem, lá vai a primeira pergunta. _Começou Olivier. _Você gosta de alguém?
“Quero ver como ela vai sair dessa, se ela disser que sou eu, ai eu digo: ‘_Eu sou gay! ’ E pronto. Simples assim.” Pensou Olivier.
Patrícia engoliu seco, respirou fundo e pensou:
“Ai meu Deus, eu sabia que era hoje que ele ia se declarar. Que emoção, vou enrolar pra ele dizer primeiro. Não vou entregar assim tão fácil. Será que está tão na cara assim que eu gosto é dele?”
_Como assim gosto de alguém? Tu diz, um menino? Se eu gosto de um guri daqui? _Disse Piedra.
_Pode ser de qualquer lugar. Mas então quer dizer que ele é daqui? _Perguntou Olivier.
_Hã? _Disse Piedra sem graça.
“Dei mancada!” Pensou Patrícia.
_Não, eu não disse isso. _Tentou concertar Patrícia.
_Sei. Então deixa eu fazer a pergunta de novo. _Disse Olivier. _Você gosta de alguém de qualquer lugar que seja ele?
_Depende. _Disse Piedra.
_Depende de quê? _Perguntou Olivier sem entender.
_Depende se ele gosta de mim também. _Disse Piedra.
_Mas como assim? Você não tem certeza ainda? _Disse Olivier.
“Ai que lindo, ele está falando das flores, dos bombons e das cartas.” Pensou Piedra.
_Quase certeza. _Disse Patrícia. _Acontece que ele é muito tímido e não se declarou pra mim ainda.
_Mas porque ele não se declarou ainda? _Perguntou Olivier.
_Não sei. _Disse Patrícia. _Ele mandou flores, bombons, cartas, fez de tudo pra dizer que me ama, mas eu estou esperando ele dizer pessoalmente.
“Que alívio. Não sou eu então de quem ela gosta, eu não mandei carta, muito menos bombom. Dessa eu me livrei. Já não vou precisar contar pra ela que eu sou gay, é melhor deixar tudo como está.” Pensou Olivier.
_Porque você não fala primeiro? _Perguntou Olivier mais aliviado.
“Não adianta Olivier, tu vai ter que me dizer primeiro.” Pensou Patrícia.
_Eu prefiro esperar. Sou uma guria a moda antiga. Ainda acredito no cavalheirismo. _Disse Patrícia.
_Jura, senhora Dama? _Disse Olivier sorrindo.
_Sim cavalheiro. _Disse Patrícia animada com a deixa.
_Eu não sou um cavalheiro. _Disse Olivier. _Estou mais para o cavalo.
“Ou pra égua” Pensou Olivier.
_Já compramos tudo? _Perguntou Anne.
_Já, graças a Deus já fizemos toda sua lista. _Disse Piedra cheia de sacolas nas mãos. _Tu comprou presente pra rua inteira, só faltou a Louísa ganhar um presente teu.
_Bem que ela precisava né? Coitadinha, nem o pai dela deve dar presente pra ela esse ano. _Disse Anne.
_Coitadinha de mim, que não é de hoje que tenho que ficar agüentando essa menina atrapalhando a minha vida. _Disse Piedra. _Ela tem que ganhar sabe o que de natal? Um belo par de correntes pra amarrar os pés e as mãos dela na cama, pra nunca mais sair. Morrer lá igual naquele filme “Jogos Mortais”.
_Mas agora, não é estranho àquela menina agir daquele jeito. Será que ela tem tanto ódio de vocês assim a ponto de querer matar? _Disse Anne.
_Tu viu né? Aquele dia na frente da tua casa foi pouco pra ela. _Disse Piedra. _E tu acha que aquilo ali é desequilibrada daquele jeito. Ela tava é fingindo só pra não responder porque que ela estava vigiando a gente da janela. Ela está aprontando viu Anne. E é melhor a gente tomar cuidado. Com aquela ali todo cuidado é pouco.
_Mas ela não ia fazer nada de mal com algum de nós iria? _Perguntou Anne. _Quando a Patrícia teve overdose todo mundo achou que fosse ela que tivesse dado a droga pra Pati e não foi né?
_Foi o André, naquela festa que eu te contei que a gente foi buscar ela e a Louísa. _Disse Piedra. _Mas se tivesse que fazer ela faria, ah se faria.
_Mas Piedra por mais que você me conte aquela história do diário, fica difícil ligar isso com tudo que ela está fazendo até hoje. _Disse Anne. _Porque ela guardou tanta raiva daquilo que aconteceu, passou, passou não é? Talvez até se ela tivesse deixado pra lá, hoje vocês já estariam amigas de novo. Não tem outro motivo não?
_Tem vezes que eu já parei pra pensar, mas nunca acho outro motivo, porque depois disso a gente realmente não se falou mais, nunca mais, só brigávamos. Briga por briga, o real motivo ainda era, e sempre foi o diário. _Disse Piedra.
_Mas não faz sentido, é muita loucura. _Disse Anne andando com os presentes nas sacolas. Muitos presentes.
_É Anne, é muita loucura mesmo. _Disse Piedra. _Pra tudo que não tem explicação, Freud explica. A loucura justifica tudo. Ela é louca e ponto final, não interessa mais o motivo, seja ele qual for, ela iria surta mais cedo ou mais tarde.
_Tem razão. _Disse Anne. _Eu bem sei disso, por que o amor e a loucura andam bem lado a lado. Bem lado a lado comigo.
_E Anne começa com esses papo de assassina não que eu fico com medo. _Riu Piedra.
_Fica tranqüila Pi, eu não te amo. _Disse Anne sorrindo.
_Ai obrigada amiga. _Disse Piedra.
As duas gargalharam. Continuaram andando lindas e poderosas pelo Shopping, chamando a atenção de quem passasse. Piedra então foi em direção a uma revistaria seguida por Anne.
_Ai vamos passar aqui rapidinho antes de ir embora, pra eu comprar a ultima Vogue porque eu ouvir falar que a edição está maravilhosa. _Disse Piedra. _Sabe quem é a capa?
_Não. _Disse Anne sinceramente.
_Kate Moss, a guria voltou com tudo. _Disse piedra empolgada.
As duas se aproximaram da revistaria e entraram mais que depressa ansiosas para verem a capa da Vogue. Chegando lá dentro Piedra foi até o vendedor e pediu a ultima edição da revista e enquanto ele foi buscar a revista Anne e Piedra ficaram folheando outras revistas e edições dali do balcão mesmo. Quê Kate Moss quê nada, a capa da Society era bem mais eletrizante. Nela Anne, Rafael, Piedra, João, Patrícia, Olivier e Juliana sentados no chão da sala de Anne rindo e felizes. E o melhor da foto nem era o flagra do momento dos amigos, era o beijo que Anne estava dando em Rafael. Em letras garrafais: ANNE MARRIE DESCOBRE NOVO AMOR, SERÁ QUE ESSA É A PRÓXIMA VÍTIMA?
Respondido Piedra, o que Louísa fazia na janela aquela noite?
Sorria Anne Marrie, você está sendo vigiada. O tempo todo.
3 comentários:
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