domingo, 4 de maio de 2008

Capítulo 1: O Sorriso de Anne Marrie

Àquela Hora do dia, a farmácia estava realmente vazia, o farmacêutico se preparava para ir almoçar. Anne usava uniforme, o cabelo preso no alto da cabeça e com os livros ainda na mão ela chegou até a farmácia depois de ter certeza que seus colegas da escola estavam naquele momento cada um em suas casas.

Anne se preparou durante a semana toda para tirar a dúvida cruel que a incomodava durante dois meses.

Quando colocou os pés na Pharmácia Silva, o velho Silva deixou o cadeado de lado e foi para o balcão atender sua terceira cliente do dia. Anne tremia as mãos, mas fazia força pra não transparecer, estava preparada para enfrentar o velho.

Silva não era de muito papo, era viúvo e não tinha nenhum filho, a Pharmácia Silva era bem antiga e já não rendia tanto dinheiro assim, mas Silva não tinha muitos gastos, no final do mês dava pra pagar a contas sem aperto.

Anne se aproximou do balcão, depositou seus livros ao lado das pastilhas para a garganta, passou a mão sobre os cabelos e sem olhar para os olhos de Silva ela encarou a prateleira atrás da cabeça dele:

_Eh... O senhor tem alguma coisa pra... Quando a gente... Sabe? Tipo umas dores aqui, na barriga. _Disse Anne sem graça, com a mão sobre a barriga.

_Tenho. _Disse Silva desanimado, cansado de ficar ali o dia inteiro e com fome, muita fome.

_Então eu vou levar.

Ela disse a última frase olhando para o velho farmacêutico, se sentindo mais segura depois da reação dele a sua pergunta. Ela esperou Silva pegar o remédio em uma das prateleiras atrás do balcão e somente fez a pergunta que na verdade se preparou uma semana toda pra dizer quando ele com o remédio nas mãos encarou Anne com os olhos caídos, desanimados e tristes:

_Tá aqui. _Disse Silva esperando que a resposta de Anne para a próxima pergunta fosse não. _Mais alguma coisa?

_Bem... Na verdade não é pra mim... _Começou Anne bem segura quando disse “Bem” e querendo se matar quando disse “mim”.

Ela voltou a encarar a prateleira no fundo da farmácia e sentiu suas bochechas queimarem. Naquele momento ela se sentia insegura e perturbada, diferente do seu normal. E por uma fração de segundos para se acalmar disse a si mesma: “_Esse velho não vai contar nada a ninguém, nem se ele quiser. Ninguém vem aqui mesmo.”

_É que uma amiga minha, ta meio assim... Como eu posso dizer... Eh... Ela esta atrasada. Atrasada com... As regras... Sabe?

_Sei minha filha, sei. _Disse Silva enquanto se virou para procurar o teste.

Anne percebeu certo sarcasmo na resposta do Silva, mas pensou na sua momentânea inocência, que não teria como aquele velho senhor desconfiar das intenções dela, já que ela havia pedido um remédio para cólica antes de lhe pedir o teste de gravidez.

_Talvez não seja nada, né? Eu falei com ela que era bobeira se preocupar com isso. Eu já atrasei algumas vezes, mas quando menos se espera lá vêm as cólicas. _Disse Anne, procurando o porquê de não conseguir controlar o impulso de ficar falando sem parar, transformando a situação constrangedora em uma situação insuportável. _Eh... Eu já atrasei sim. Mas fiquei calma. Na verdade não tinha nem como eu estar... O senhor sabe né? Tipo... Então. Eu nunca... Quero dizer, eu nunca namorei, entendeu? Daquele jeito, sabe? Meu pai nunca deix...

_Eu entendi meu bem. _Interrompeu Silva. _De trinta pessoas que vem aqui, dezesseis são garotas como você. Querendo ajudar a amiga. Vocês dessa idade são muito amigas mesmo. Amanhã já deixarei separado o remédio da sua amiga.

_Que remédio? _Perguntou Anne assustada para Silva, nunca tinha ouvido da boca dele uma frase com mais de cinco palavras.

Silva então olhou para a entrada da farmácia e disse sussurrando.

_É porque como você, as outras meninas vieram no outro dia também. Então eu passei um outro remedinho. Foi minha mãe que me deu a receita. È um pouco caro, a receita é muito secreta, tenho que ganhar alguma coisa, enquanto a sua amiga perde outra. Ou melhor, evita alguns problemas. Um pequeno, bem pequeno problema.

Anne não entendeu o que Silva quis dizer e devagar pegou os seus livros.

_Amanhã a gente conversa de novo. Dependendo aí. Do resultado do teste, tenho certeza que sua amiga vai vir aqui pegar a minha receitinha de família. _Disse Silva., esboçando um sorriso no rosto. Enquanto Anne colocava o teste e o remédio pra cólica na mochila. _Quer dizer, ela não. Você. Que é muito amiga dela não é.

Ela balançou a cabeça automaticamente e saiu andando da Pharmácia Silva bem devagar, para não mostrar o que realmente estava pensando em fazer. Sair dali correndo e não voltar nunca mais. Enquanto saía o velho Silva resmungava alguma coisa que ela não conseguiu ouvir.

Com sua roupinha colegial Anne veio caminhando pela rua olhando para todos os cantos, preocupada se talvez alguém a tivesse visto saindo da farmácia àquela hora. Ela pensava no teste, ela pensava nas coisas que o velho silva falou,no seu pai preocupado em casa com ela que não apareceu para o almoço, no seu namoro escondido com Humberto, na sua primeira vez com Humberto, na cara dele quando soubesse que seria pai, caso o teste desse positivo. Anne pensava em muitas coisas enquanto voltava pra casa.

A família DeVille a primeira vista, era uma família perfeita, sempre usada pelos vizinhos como exemplo de amor e respeito familiar. Mas o que os moradores do edifício de luxo Flor de Julho não sabiam era que por trás da porta de número 1002 moravam um pai que passou por uma infância difícil com os avós na França, uma estudante de medicina forçada pelo pai autoritário a seguir a mesma profissão dele e uma colegial de 17 anos que mantinha um namoro com um homem mais velho que ela cinco anos, chamada Anne Marrie DeVille.

No apartamento decorado pelos próprios DeVille com o passar dos anos, ainda era possível ver nos quadros ou nas fotos espalhadas pela casa que Otton não queria esquecer e nem deixava a as filhas esquecerem de Ellen Marrie, sua esposa que havia falecido quando Anne tinha somente cinco anos. Desde a perda da amada, Otton assumiu a casa e largou os negócios, gerenciando sua clínica de longe. As filhas criadas severamente pelo pai sofriam com o gênio de Otton, mas não se chateavam com cobranças e regras. Alice sempre aceitou tudo de forma passiva, foi levemente forçada a cursar a faculdade de Medicina enquanto seu desejo era uma carreira bem sucedida no jornalismo. Anne fugia um pouco ao gênio da irmã, fazia tudo que queria, mas sempre escondido do pai que não admitiria algumas atitudes da filha que ele nem imagina em seus piores pesadelos.

Otton estava sentado na poltrona, quando Anne entrou pela porta. Ela já esperava que o pai a recebesse com milhares de perguntas então ele começou:

_Onde você estava Marrie? _Disse Otton, chamando a filha pelo sobrenome como costumava fazer com Ellen.

Anne no caminho pensou em dizer a verdade sobre Humberto e o teste, mas não queria ficar com o rosto machucado, a boca estourada, ou com um tiro no meio da testa, não agora, podia prejudicar a saúde do bebê, então resolveu mentir, como sempre:

_Pai, eu tive que fazer um trabalho na casa de uma amiga, a Ju. É porque e pra amanhã, aí nós achamos melhor fazer tudo mais cedo. Só isso.

_Mas Marrie você tinha que ter avisado, telefonado de lá mesmo da casa da Ju. _Continuou Otton, tentando controlar um possível sermão. _Ou então ter trazido ela pra cá.

_Pai, não era só eu e a Ju não, era nosso grupo inteiro. _Disse Anne, disfarçando a voz pra não gaguejar. _A Ju... Mora lá perto... Da, da... Da escola lá. Todo mundo mora mais perto. _Continuou Anne em direção ao quarto. _A professora deu o trabalho hoje não tinha como eu avisar, e a gente fez o exercício tão rápido que até me esqueci de ligar.

Otton olhava a filha desconfiado, afinal eles moravam a poucos quarteirões da escola, mas para evitar discussão ele continuou:

_A Joaninha guardou seu almoço. Tá lá na cozinha, se quiser eu mando ela esquentar pra você.

Anne deu meia volta no corredor correu e beijou a testa do pai:

_Obrigada pai. Mas não se preocupe Senhor Pierre DeVille eu almocei na casa da Ju. E pra onde eu poderia ir, eu não vou fugir não viu.

Joaninha entrou pela sala:

_Oh menina Anne quer que esquente seu almoço? O doutor Otton pedi...

_Não precisa não Joaninha ela disse que já almoç... _Disse Otton.

_Não. _Interrompeu Anne. _Pode fazer pra mim Joana, um sanduíche e um copo de suco?

_Posso sim menina Anne. _Respondeu Joaninha. _Mas a senhorita vai querer com...

_Com tudo Joaninha, com tudo. ­_Gritou Anne enquanto corria para o quarto.

Joana e Otton ficaram parados na sala se encarando:

_Mas ela disse que tinha almoçado já. _Indagou Otton.

_É a idade Doutor. _Disse Joaninha. _Agora eu não sei se eu coloco milho ou não.

_Mas essa história tá estranha Joaninha, me deixa ir lá perguntar pra ela. Vai fazendo o sanduíche lá que eu mesmo pergunto pra ela, mas antes pega lá a agenda de telefones que eu vou ligar pra essa tal de Ju, deve ser a menina dos Lessa.

Otton seguiu em direção aos quartos, enquanto Joana pegava a agenda de telefones no escritório do apartamento.

No caminho Otton passou pelo quarto de Alice, que estava sobre a cama estudando com milhares de livros espalhados sobre o colo.

_Lice? Você conhece uma amiga da sua irmã que chama Ju, deve ser a Juliana Lessa, ou não? _Perguntou Otton quando entrou pelo quarto de Alice pela fresta da porta.

_Olha pai, eu acho que deve ser ela sim, só pode ser ela a não ser que ela conheceu outra Ju no colégio. _Disse Alice calmamente, passando as costas da mão na testa. _Porquê?

_Sua irmã tá andando muito estranha ultimamente filha. Cada dia ela conta uma história diferente, quando chega atrasada em casa, essa é a terceira vez já. _Disse Otton preocupado. _Fora os sumiços que ela dá quando diz que vai sair com essa tal de Ju.

_Pai calma, a Anne e essa Ju são amigas desde pequenininhas, é normal que elas andem juntas. _Começou Alice. _Pra onde elas poderiam ir heim me conta? Pelo tempo de atraso delas não da nem pra sair do bairro.

_A pé né. Porque de carro da sim. Esse Shopping novo que abriu ali é perigoso demais pra ela e pra qualquer um. _Disse Otton. _Essa Juliana já aprontou que eu sei, até aborto ela já fez. Apareceu lá na clínica passando mal, sangrando e tudo. Agora, pergunta pros pais dela e pergunta se eles sabem com quem que ela andava, quem era o pai do menino. Não sabem.

_E o senhor acha que Anne faz o mesmo? _Alice perguntou enquanto seu pai a encarava serio. _Ah pai! A Anne nunca nem falou de menino, namoradinho na escola nem nada disso pra mim. Você fica tão em cima da pobrezinha que nem se ela quisesse ela conseguiria namorar escondido. _Mentiu Alice, que sabia muito bem que Anne já namorava há um tempo com Humberto, ex de Juliana Lessa.

_Eu vou é ligar pra casa dessa menina e mandar ela me dizer se a Anne estava lá mesmo ou não. _Disse Otton decidido, tentando esconder o nervosismo.

Alice arregalou os olhos e sabia que aquilo não ia dar certo.

Juliana Lessa foi melhor amiga de Anne, até quando uma roubou o namorado da outra.

_Não pai pra quê? Amanhã essa Ju, vai ficar tirando sarro da Anne no colégio, falando que o senhor ligou pra casa para saber onde ela tava. _Disse Alice, tentando ajudar a irmã.

Otton ficou ali ao lado da porta parado encarando o chão, pensando bem em qual decisão iria tomar. E decidiu:

_Ah Lice, se sua irmã não tem nada a temer, que mal vai fazer se eu ligar?

Antes mesmo que Alice pudesse impedir o pai, Otton já saiu do quarto desesperado. Mas Alice pensou bem e deixou o pai ir embora, ele descobrindo a verdade sobre o namoro da irmã, resolveria muitos problemas. Ela estava bastante preocupada com o que poderia acontecer com Anne, caso a irmã continuasse a se encontrar com Humberto escondido.

Mal sabia Alice que seus medos estavam prestes a se concretizar, Anne estava naquele momento fazendo o teste de gravidez.

Otton se dirigia a sala para telefonar para Juliana, quando lembrou de perguntar a Anne sobre o sanduíche que Joaninha iria preparar. Ele então deu meia volta e se dirigiu para o quarto de Anne, passando pelo quarto de Alice que agora estava sentada ao pé da cama mexendo na sua pasta.

Na casa dos DeVille fechar a porta era proibido, nenhuma delas tinha chave e o máximo que se podia fazer era encostá-la, e quem encostasse sabia que iria passar por um interrogatório do dono da casa.

Otton abriu a porta encostada e já lhe subiu uma veia na testa, calmamente entrou no quarto e não avistou Anne. Preocupado o pai grita pela filha:

_Marrie?

Otton então ouviu barulho no banheiro.

_Já vou pai! _Gritou Anne do banheiro, arrumando as coisas que havia bagunçado e escondendo o teste no armário.

Otton ficou ainda mais desconfiado, na sua cabeça logo veio à idéia de que sua filha estaria usando drogas.

_Anne Marrie, vem aqui agora menina. Eu tenho umas pergunt...

Otton ficou sem palavras quando percebeu por debaixo do travesseiro uma caixinha, desconfiado correu até a cabeceira da cama e puxou a pequena caixinha azul e rosa, antes mesmo de ler o nome, já sabia o que tinha ali dentro, e também sabia o que Anne estava escondendo no banheiro a porta fechada.

Suas respostas estavam respondidas, suas desconfianças confirmadas, o mundo de Otton ficou sem chão, a sua filhinha querida havia perdido o encanto, a sua filha deixara de ser sua filha.

Atordoado ele correu até a porta do banheiro e tentando não quebrar a porta ele bateu levemente:

_Anne Marrie, saia desse banheiro agora, me entendeu agora.

Anne ficou assustada, mas nem lembrou da caixinha que escondeu no quarto. Preparada para responder ao pai e depois de ter escondido o exame, Anne tenta virar a chave na porta, mas só consegue quando para de tremer um pouco.

Otton empurra a porta e segura no braço de Anne com força, levanta a mão contra seu rosto, mas a empurra pra fora do banheiro:

_Cadê? Onde você colocou Marrie? _Esbravejou Otton, enquanto procurava o teste no lixo.

Anne sabia que ele tinha descoberto, sabia que ele ia achar:

_O quê, pai? O que você quer? _Disse Anne com lágrimas nos olhos.

Otton revirava todo banheiro.

_O quê? Você não tem que fazer perguntas não Anne, sou eu que vou perguntar e espero que dessa vez Você não minta. _Disse Otton enquanto se dirigia a Anne.

_Não sei pai, não sei de nada.

_Não sabe de nada? E o quê que é isso aqui heim Anne? _Disse Otton esfregando a caixinha do teste na cara dela.

_Pára pai. _Gritou Anne.

_Vagabunda, exercício na casa da amiga? Porra nenhuma! Garce! _Gritou Otton enquanto suas lágrimas desciam pelo rosto.

Alice entrou no quarto com a cara assustada.

_O quê que isso pai? Larga ela. _Alice correu em direção aos dois e tentou separá-los.

Otton voltou ao banheiro, abriu o armário em baixo da pia e começou a procurar o teste.

_Onde está Anne? _Gritou Otton.

_Pai pára ela não sabe do qu...

_Cala a boca Alice, cala a boca! _Gritou Otton enquanto tirava as coisas do armário. _Eu quero saber onde você escondeu Anne, fala onde Anne, FALA!

Otton retirou uma caixinha de trás dos produtos para cabelo e tremendo a abriu. Devagar ele retirou de lá de dentro o teste, e nem precisava ler as instruções para saber que o teste tinha dado positivo.

Devagar ele se colocou de pé enquanto Alice consolava Anne que chorava no chão.

Ao passar pelas filhas Otton jogou o teste sobre elas e continuou em direção a porta, quando Joaninha apareceu com o sanduíche e o suco em uma bandeja, com os olhos arregalados ela tentou fingir que não havia ouvido nada:

_Doutor Otton, eu deixei a agenda de telefones na mesinha da sala.

Otton parou ao lado de Joana, se virou para Anne e Alice e com lágrimas nos olhos disse suavemente:

_Alice eu espero que você me responda com sinceridade à pergunta que eu vou fazer. _Disse Otton com a voz embargada. _Você sabia o que ela estava fazendo?

Alice levantou com a irmã do chão e segurava o choro para apoiar Anne, mas sabia das conseqüências da sua resposta caso dissesse que sabia de tudo.

Anne olhava com os olhos molhados para a irmã e como se lesse pensamentos sabia como Alice o que iria acontecer com as duas.

_Alice estou esperando uma resposta. _Disse Otton.

_Oh meu Deus! _Disse Joana baixinho.

Alice não agüentava mais segurar as lágrimas e evitava olhar para Anne.

_DIGA LOGO ALICE! _Gritou Otton.

_Pai eu... _Começou Alice aos prantos.

_ALICE! _Gritou Otton com os olhos fechados.

_Não... Não sabia. _Alice olhou para a irmã tentando se desculpar com os olhos.

_Anne balançou a cabeça e voltou a chorar.

_Anne Marrie você vai arrumar suas coisas... _Disse Otton enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto.

_Pai não, por favor! _Interrompeu Alice abraçando a irmã.

_Arrume suas coisas e saia dessa casa agora. _Continuou Otton. E por mais que isso lhe doesse muito, para ele Anne não merecia ficar no mesmo teto que um dia sua amada esposa Ellen morou. _Você não merece viver no mesmo teto que sua mãe, então pare de chorar, arrume suas coisas e deixe esse lar que não merece tanta vergonha, tanta imundice, sua cara de pau de dormir com um rapaz e me olhar na cara. Você está gr... _ Otton parou de falar, pois voltou a chorar, mas forçando os olhos fechados e respirando fundo continuou. _Sabe o que mais me machuca é a mentira, a falta de respeito com sua mãe. Portanto a senhorit... Ou melhor, a mais nova senhora... Eh... Como é o nome dele mesmo? _Otton começou a rir de nervoso. _Meu Deus! Eu nem conheço o rapaz, nem sei quem é que estava com minha filha, mas agora isso não é mais problema meu, e é melhor mesmo que eu não saiba quem é o sujeito. Vamos ver agora se ele vai querer namorar. A senhora pode sair agora, eu estou lá na sala esperando você sair, pra chamar o chaveiro. Eu vou trocar a fechadura, sem dinheiro eu imagino que você venha pedir arrego. Só falta agora você querer tirar a criança, além de uma bela vagabundinha de merda vai virar assassina.

_PAI! _Gritou Alice enquanto abraçava a irmã. _Para com isso vai, ela pode ficar pelo menos por enquanto, ela não tem lugar pra ir...

_Alice! _Disse Otton com os olhos fechados.

_...Eu sei que esse bebê é um problema, mais depois a gente resol...

_ALICE! _Gritou Otton, com a mão na testa. _Pára de tentar proteger essa imundazinha metida a inocente, o problema não é o neném, não é a gravidez, isso são as conseqüências das atitudes imaturas, juvenis da Anne. Ela que agüente sozinha. Você já é maior de idade se quiser ir com ela a porta está aberta, por enquanto viu, por enquanto.

_Mas pai eu tenho minha faculdade. _Disse Alice.

_Que bom né Alice, pelo menos você pensa no futuro, tem os pés no chão. _Disse Otton fazendo sinal para Joaninha, que já estava chorando, voltar pra cozinha.

Anne só conseguia chorar, otton a encarava e se emocionou a ver a filha em pranto, lembrou dela quando pequena brincando com a irmã e a mãe, mas antes que se arrependesse e voltasse atrás na sua decisão:

_Já essa aí, essa aí, vai pegar as coisas dela e sumir da minha casa. _Disse Otton, se dirigindo em direção do closet de Anne. _Vai pegar essa roupas, compradas com muito suor, com o meu trabalho, pra ela usar na vagabundagem, na escola se é que ela ia à escola, eu não quero nem imaginar quantas mentiras você contou, quantas foram preciso pra tapear o otário aqui, o idiota que acreditava que a filha dele era menininha, mas de menina ela não tinha nada. Piranha, vagabunda! _Disse Otton, enquanto atirava as roupas de Anne na cama e pelo chão.

_Pega suas malas que eu te dou 10 minutos, ouviu? 10 minutos, pra sair daqui. _Otton saiu do quarto de cabeça erguida.

Alice soltou a irmã, e a encarou:

_Olha aqui, para de chorar, tá bom? _Disse Alice tentando parar de chorar, e secando com as mãos as lágrimas no rosto de Anne. _Nós vamos sair dessa viu, é bom que eu fique aqui, eu vou te ajudar, tá bem. Ele não pode me proibir de te ver, você pode ficar num hotel aqui perto, eu tenho um dinheirinho guardado do meu estágio, você vai pegar ele e se hospedar lá por hoje. Amanhã eu deixo de ir à faculdade, e vou lá ficar com você, eu vou te ajudar, nós vamos pensar em alguma coisa. Depois eu mesma vou atrás do Humberto, pra contar pra ele. Ele já tá formando não tá?

Anne balançou a cabeça positivamente.

_Então, ele já tá trabalhando e tudo que eu sei. Eu vou lá falo com ele, e ele vai ter que casar com você. Não agora é claro, depois, daqui a algum tempo. Mas ele te leva pro apartamento dele até lá. Vai dar tudo certo viu. E o papai da uma de durão assim mas no fundo ele não é desse jeito, você sabe que não é, tem a história dos avós dele a mamãe morreu, ele já sofreu muito na vida. Mas ele vai voltar atrás depois, ele vai te procurar, você vai ver.

Anne já estava parando de chorar, as palavras de Alice a consolaram.

_Agora nós vamos pegar suas roupas, não precisa levar tudo hoje não. Depois eu vou te levando o resto. _Disse Alice, se levantando.

Anne continuou sentada na cama e passeando os olhos pelo quarto tendo certeza que seria pela última vez, ela parou quando viu o teste de gravidez caído no chão bem próximo da caixinha. Enquanto Alice saltava as roupas e pegava no closet uma mala para arrumar as roupas da irmã. Depois de ver a irmã arrumando suas roupas na mala Anne voltou a chorar, Alice tentando ajudar chamou a irmã para ajudar a fazer a mala. Chorando as duas terminaram a mala e juntaram o resto das roupas dentro do closet, quando Joaninha chegou com dois copos de água.

_Oh meninas, o que foi isso? _Disse Joana com os olhos marejados. _Eu pensei que o Doutor ia matar você menina, as duas né. Pra onde cê vai meu pai do céu?

_Calma Joaninha, ela vai ficar no hotel hoje, amanhã a gente vai arrumar um lugar melhor pra ela ficar. _Disse Alice, segurando o ombro da irmã, que enxugava as lágrimas.

_Olha menina Alice, a Anne pode ficar lá em casa, mas não tem luxo nenhum não.

_Obrigada Joana, muito obrigada mesmo, mas a gente da um jeito viu, obrigada amor. _Disse Alice sorridente à Joaninha.

As três então saíram do quarto em direção a sala, esperando encarar seu pai novamente Anne foi pra sala com uma mala na mão e abraçada no ombro pela irmã que segurava sua mão com força.

_Eu não vou deixar ele te machucar viu, ele não vai falar mais nada, a gente vai sair bem rápido antes que ele fale qualquer coisa. _Disse Alice, dando força à irmã. _Eu vou te levar para o hotel viu. Vou ficar com você lá hoje, depois eu volto pra cá mais a noite e amanhã volto no hotel pra gente decidir o que fazer. Mas se quiser eu durmo lá com você hoje.

_Não Lice, não precisa. _Disse Anne, nas suas primeiras palavras depois da briga. _Eu quero ficar sozinha. _Mentiu Anne, ela maquinava na sua cabeça outro plano.

Joaninha foi na frente para ver onde Otton estava e voltou correndo.

_Meninas o pai de vocês não tá lá na sala não, eu acho que ele deve ter ido pro quarto dele. _Disse Joana. _Ou então saiu.

_Não sair ele não saiu não. _Disse Alice. _Bem eu acho que não né. Mas melhor assim a gente sai sem confusão. Joaninha quando a gente chegar lá no hotel eu te ligo aqui, pra você me contar onde o papai se meteu.

_Pode deixar menina Alice, eu fico aqui, vou fazer um chazinho e ver se ele tá lá no quarto. _Disse Joana em direção à cozinha.

Anne deixava naquele momento a casa onde viveu durante anos, desde sua infância, triste ela não estava, via depois daquela porta a chance de realizar seus sonhos, de correr atrás deles com os próprios pés. Sair da rédea curta do pai e parar de falar tantas mentiras, e o melhor de tudo poder ficar com Humberto pra sempre, gritar pro mundo seu amor por ele, sem medo de ser descoberto por alguém.

Alice e Anne caminhavam sobre o hall do edifício Flor de Julho e Alice se assustou quando olhou para Anne e encontrou no rosto da irmã um sorriso ao invés de lágrimas. Sem entender Alice continuou andando ao lado da irmã, tentando achar uma razão no meio da confusão para explicar o sorriso de Anne Marrie.

7 comentários:

Unknown disse...

Thi!! Muito boa a história até agora! Me lembra bastante "Juno", não tudo, mas o caso de gravidez precoce, é pelo fato de ser recente mesmo que me lembrou. Continue a escrever, mal posso esperar pelo próximo capítulo!! Só você e sua criatividade mesmo...

Unknown disse...

Muito bom, meu caro...

To rachando de sono mas não aguentei deixar a história pra depois. Realmente instigante, adoro contos assim!

Continue que estou ansioso pelo próximo capítulo =D

Marilha disse...

OPAA!! Muito legal! *-*
Sou colega da Weelen, quer dizer, mais da williane... mas isso não entra em questão aqui,né ahhahahahhahahha.

Você escreve bem! A história tá fodástica...
o final me surpreendeu, pensei que a jovem Anne teria outra visão em relação ao 'abalo' que teve, as perdas familiares que sofreu!

Nhaa!! *-*
Amei... to esperando a continuação!!
MUITTOOO BOMMMM!! \o

Blog Bio Estilo disse...

Thi, muito bom!!!! Adorei a historia, seus conflitos são muito emocionantes, prende a gente!!!!
Adorei conhecer a Anne Marrie, ela é dez!!!!
Estou ansiosa esperando o próximo capítulo!!!! Poste logo viu!!
Beijos e boa sorte pra vc com seu maravilhoso livro!!

Afogamento na barragem do Caia disse...

Bem...em um primeiro momento curioso, em um segundo momento instigante e um terceiro momento de grande expectativa!!!!!!!!!!!
Aguardo loucamente pelo ´próximo capítulo.

Roberta Duarte disse...

Muito boa a história. Parabéns!
Aguardo o próximo capítulo!!!
A propósito, tb tenho um blog literário. As histórias são mais simples e talz..mas engraçadas
se puder conferir

http://asdesaventurasdenicky.blogspot.com/


bjussss

Unknown disse...

Bem ti a primeira parte eu li e gostei. Vou lendo aos poucos e vou deixando um comentario para cada um.
Mas pra frente vou expressando minha opinião pelo conjunto.