domingo, 29 de junho de 2008

Capítulo 9: Para o Rio de Janeiro ajudar Anne Marrie

Edna entrou no quarto de Amanda aos prantos, correu até o berço e colocou a criança nos braços. Os berros do bebê brigavam com os soluços da velha para ver qual se sobressaía mais, Edna então levou o bebê até a porta e disse algumas palavras para Lomar o motorista, mas Anne não conseguiu ouvir de debaixo dos ursinhos, apesar do seu máximo esforço.

Nunca estive na cabeça de um assassino, mas suponhamos que matar alguém seja algo perturbador, angustiante. Não vamos dizer que Anne seja uma assassina, é claro que agora ela é, mas vamos pensar no sentido figurado da coisa: Ela não tinha intenção de matar Humberto, não ali e agora. Não estava planejado. Ela não estava arrependida, longe disso, afinal estamos falando de Anne Marrie e nada a livrava de ser Anne Marrie. Alguns diriam que isso é ser egoísta, e a primeira vista é sim, mas já está na hora de tirar a Anne dos tópicos básicos de julgamento humano, não que não existam pessoas por ai igual a ela, mas se existem eles são um numero pequeno, um pequeno grupo de amantes incondicionais. Vamos listar os amores de Anne Marrie. Em primeiro lugar está ela mesma, que sempre prezou sua felicidade e outra característica é fazer de tudo para que isso seja possível, isso explica muita coisa e também envolve outras pessoas. Segundo, antes do bebê essa pessoa foi Humberto, mas depois de dar a luz a um menino, Anne não podia controlar o amor por ele e Humberto passou a ser o último da lista. Que também tem Juliana, Alice e Otton, não necessariamente nessa ordem. Então tá, vamos agora analisar. Já que a Anne deseja ser feliz acima de tudo, o fato de ela estar sem o seu bebê, que foi roubado, a deixa muito infeliz. A princípio quem era o culpado disso? Humberto, por isso ele passou para o último lugar da lista. Pensando assim, para se livrar de futuros problemas, Anne deu um jeito de se livrar de Humberto, como dito antes, ela queria se sentir aliviada em relação a ele. Isso envolve tudo, o perigo de amá-lo novamente, de ter seu bebê roubado novamente, outras preocupações e enfim. Paremos com as teorias e comparações.

Com exceção de Edna e Lomar, apenas dois policiais entraram no quarto de Amanda enquanto Anne pensava seriamente em que atitude tomar. A princípio ela pensou em se entregar e realmente ela iria, até pensar que provavelmente ficaria muito tempo presa, fazendo as buscas pelo seu filho cessarem. É doentio pensar que ela pensasse ainda no paradeiro do bebê depois de ter matado duas pessoas. Sem a mínima idéia de que tinha matado Poliana também Anne continuava sob os ursinhos de pelúcia. E agora pensava em como sair dali. Era quase impossível já que a morte do casal havia atraído quase toda a imprensa do país para porta da casa de luxo no Leblon, bairro nobre do Rio de Janeiro. E não demoraria muito alguém iria olhar o quarto mais atentamente. A fome nem era problema porque a vontade de ir ao banheiro a fazia esquecer qualquer outra necessidade. “O que eu vou fazer? Não vai dar pra sair daqui.” Pensou Anne. “Vou me entregar!” Quando via que não tinha outro modo de sair dali, a não ser que ela estivesse disposta a fazer xixi nas calças, quero dizer: No vestido. “Não! Vou ficar aqui. Se eu vou ser presa como eu vou procurar meu filho?” E nessa constante briga interior Anne ainda se mantinha agachada com as pernas dormentes, com medo de chamar a atenção dos policiais ela se manteve praticamente imóvel desde quando viu que o neném não era seu. O fato de não poder procurar o bebê a atormentava e era a única coisa que a fazia desistir de se entregar, afinal Humberto morreu, não por falta de motivos, mas como ele não estava com o bebê, Anne via o fim dele desnecessário. Parece que Humberto ainda estava dando trabalho para Anne. “Vou ficar aqui, e esperar pra ver o que vai acontecer, até eu poder ir embora.” Pena que nem tudo sai do jeito que a gente quer.

Agora entrava no quarto um policial de meia idade pançudinho e bigodudo o retrato falado de um tira (como dizem os americanos) só faltava ele estar segurando a rosquinha na mão. Ele veio acompanhado por Lomar:

_Ela era bem nova, parecia uma menina mesmo. Eu não estou acreditando até agora que uma criança fez uma barbaridade dessas. _Disse Lomar.

_É. Se você soubesse as coisas que eu vejo por ai. Isso é porque eu não subo lá pra cima né. Dizem que lá as coisas são piores. Não tem lei não é mesmo? _Disse o policial.

_Mas é bem provável que seja ela mesma, depois da história que a dona Edna contou é bem possível. _Disse Lomar.

_Pois eu acredito que essa menina não fez nada, talvez foi coincidência. Talvez nem seja ela que você viu. _Disse o policial.

_Seria coincidência demais o senhor não acha? Uma menina igual parada na porta antes mesmo de eles aparecerem mortos? E ela tinha motivo. _Disse Lomar.

_Achou que tinha né. Ou será que depois de ver que o nenêzinho não era o que ela estava procurando, foi quando ela foi lá e matou os dois? _Perguntou o policial.

_Não acho que não, a dona Edna tinha acabado de sair. Eles estavam acordados ainda, pra entrar e chegar até aqui ela teve que matar os dois antes. _Disse Lomar. _Mas matar o cara dormindo foi sacanagem.

_E dizem que a tendência pro futuro é só piorar. _Disse o policial. _Já vão dar quase oito horas rapaz e nada dessa menina aparecer.

_Pra onde será que ela foi heim? _Perguntou Lomar.

_Olha brother não sei não. Aqui eles já desistiram de procurar, agora a polícia de São Paulo já foi avisada. Isso se ela chegou lá né? _Disse o policial.

_A família dele está vindo pra cá. Deve ser mó barra não é não? _Disse Lomar.

_Eu imagino. Mas também o cara vai se envolver com uma menina novinha dessas. É furada na certa. _Disse o policial. _Eu que sei!

O policial deu uma risadinha de canto de boca e Lomar pode perceber um pedaço de bolo no seu bigode.

_Fez um lanchinho já né? _Perguntou Lomar.

_Oh rapaz, comi só um bolinho ali na padaria, mas ainda to num rango. Domingão. Perdi um almoço daqueles na casa da minha sogra sabe? É duro né? Trabalhar até no domingo. Depois perguntam por que não tem polícia. _Disse o policial, olhando para a barriga e passando a mão sobre ela carinhosamente. E como por acidente do pé da montanha de brinquedos e pelúcias ele viu uma pequena poça de aparentemente um monte de água. Mas Anne que estava com as pernas pinicando e quentinhas, sabia que o líquido não era água, antes fosse.

_O quê é isso aqui? _Perguntou o policial a Lomar quando percebeu a poça.

_O quê. _Disse Lomar que se aproximou do molhadinho para ver melhor.

O policial levou a mão até o xixi mesmo sem saber do que se tratava e de volta colocou o dedo na boca a fim de provar e descobrir de que tratava o líquido.

_É xixi. _Disse o policial.

_Xixi? _Se questionou Lomar. _Mas de onde...

Antes que continuasse a falar ele pode perceber um rosto de uma boneca extremamente humano.

_Quê boneca é essa? _Disse o policial que também percebera o brinquedo.

_Peraí! _Exclamou Lomar ao começar a retirar aos montes os ursinhos e brinquedos de cima de Anne.

Anne se manteve imóvel, no fundo ela acreditou que eles realmente a confundiriam com uma boneca. Mas não Lomar pegou no rosto de Anne com a ponta dos dedos a fim de sentir o calor humano, porque nada lhe fazia acreditar que aquela era a tal garota chamada não sei quê Marrie.

Anne piscou suavemente e olhou para o policial que pulou pra trás quando saiu do estado de hipnose após ver tão rara beleza. Uma boneca viva.

É ela! _Disse Lomar após tirar os dedos do rosto de Anne. _Não é boneca não, é ela mesma, a moça que estava lá fora ontem.

O policial então se aproximou mais e não podia acreditar que era aquele anjinho em forma de gente que havia matado duas pessoas de uma forma tão brutal nos cômodos do fundo. Sem interesse de machucar a garota, ele estendeu a mão a ela, que segurou com delicadeza e se pôs de pé. Mesmo fedendo a xixi Anne Marrie era a coisa mais perfeita que aquele policial já havia visto na vida, era de ficar bobo, a suavidade com qual o rosto de Anne havia sido desenhado era de um talento excepcional, coisa de Deus.

Sorrindo o policial disse:

_Você tem certeza que é ela?

_Claro que tenho, do rosto eu não me lembro muito bem, mas a roupa, o cabelo o tamanho, todo resto. É ela sim. _Disse Lomar, que também admirava a menina Anne, desconfiado das suas certezas. “Como poderia haver tão perfeita criatura na terra? Como uma menina conseguiu fazer aquilo com o senhor Humberto? É ela mesma? Eu to começando a achar que é uma boneca.”

Encantados os dois ficaram ali admirando a beleza de Anne por cerca de dois minutos, ela só fazia olhar para eles sem palavras, estava tão envergonhada. Não por ter matado, ou por ter sido achada, mas pelo fato de ter feito xixi pernas abaixo.

_E agora? Chame alguém, a polícia! _Disse Lomar olhando para Anne.

_Eu sou a policia, esqueceu? _Perguntou o policial enfurecido com Lomar.

_Ah é. Então prende ela, algema, sei lá, faz alguma coisa. _Disse Lomar.

_Calma, calma. _Disse o policial voltando ao seu estado normal. _Vamos sair com ela daqui.

_Claro! _Disse Lomar que foi até a porta e abriu sem tirar os olhos de Anne, que olhava pra baixo, pois não podia encarar ninguém naquele momento.

O policial então se aproximou dela e devagar como se ao toca-la algo fosse acontecer pousou a mão sobre o braço de Anne, que o seguiu a saída.

Anne começou a pensar nos milhares de fotógrafos na porta da casa, então se preocupou em ser capa de todos os jornais e tablóides do dia seguinte:

_Aqui, o senhor podia me dar um pano, ou qualquer coisa para cobrir a cabeça quando a gente sair? _Pediu Anne ao policial que evitava olha-la para não entrar em estado de transe novamente.

Instintivamente o policial virou para garota, ao ouvir suas doces palavras entrarem pelo ouvido e os três pararam de repente. Lomar também ouvira a garota.

_Ca... Clã... Claro! _Começou o policial abobado. _Quero dizer, tudo que a senhorita... Disser pode.. Pode... Pode ser usado contra... Com... Tra... Você no...

Lomar que viu uma toalha logo na entrada do banheiro interrompeu o policial ao jogar a toalha para Anne.

_Obrigada. _Disse Anne ao segurar a toalha nas mãos. Sem perceber o encantamento dos dois homens por ela.

Eles seguiram pelo corredor e foram chamado a atenção de todos enquanto passavam. Não havia um, policial, perito, homem, mulher, sogra, ninguém que não olhasse para eles naquele momento. Curiosos todos se aproximaram para ver quem era a linda moça vinda do quarto com Lomar e o policial Perdigão:

_Quem é ela?

_É ela?

_Onde ela estava?

_Aqui dentro, escondida?

Em meio a tantas perguntas e tumulto Anne viu a oportunidade perfeita para fugir. “Correr pra onde?” pensou ela, e antes que ela pudesse ter certeza do obvio ou seja lugar nenhum, pois ali estava cercado de policiais. Ela viu a porta do aparente quarto de hóspedes aberta, sem esforço ela se desvencilhou das mãos do sargento Perdigão e se jogou pra dentro do quarto. Rapidamente trancou a porta, olhou rápido por todo o cômodo e viu o que ali poderia ser mais útil. Calma! Dessa vez ela não queria uma arma, só queria falar com alguém, uma voz amiga, alguém que a ajudasse naquele momento de desespero. Então sem pensar duas vezes ao avistar o telefone Anne correu ate ele e discou o primeiro número que lhe veio a cabeça. Do outro lado da porta todos estavam loucos, se xingando, gritavam, batiam na porta, tentavam abri-la, faziam de tudo para que não perdesse Anne Marrie de vista outra vez. Eu aconselho procurarem debaixo da cama dessa vez.

_Alô? _Disse Alice do outro lado da linha.

_Alô? Lice? _Disse Anne feliz por ouvir a voz da irmã.

_Anne? O quê aconteceu, você já está em São Paulo? _Disse Alice preocupada.

_Não, ainda não. Escuta. _Disse Anne, segurando o choro. _Eu ainda estou no Rio, depois eu te conto o que aconteceu. Agora venha pra cá agora.

_Agora? Hã, como assim Anne? O quê está acontecendo? _Perguntou Alice, que ouvia os outros baterem na porta.

_A polícia está atrás de mim. _Disse Anne Marrie do outro lado do telefone.

_O quê? Pra quê Anne? O que aconteceu me fala rápido. _Pediu Alice desesperada.

_Não posso falar agora. Você entendeu? Vem pra cá agora, por favor. _Disse Anne assustada com o barulho que se fazia a suas costas.

_Que barulho é esse ai heim? Anne, fala o que aconteceu? _Disse Alice aos berros quando percebeu finalmente que a irmã estava de novo encrencada.

_Me ajuda Lice. _Pediu Anne, em conseguir conter o choro e tampando o ouvido com as mãos para ouvir a irmã melhor.

_Eu vou ajudar, agora. Você ainda está no rio? Fala onde que eu estou indo pra aí agora. O papai está falando que também vai. _Disse Alice, ao perceber o desespero do pai ao gesticular freneticamente na sua frente.

_Vem, por favor! _Anne não conseguia falar mais nada, só podia pedir ajuda e num lapso de consciência ela lembrou que com certeza o caso estava sendo noticia também na TV. _Liga a TV Lice. Liga a TV!

_O quê, pra quê? _Perguntou Alice ainda sem entender nada.

Antes mesmo que Anne pudesse responder os policias arrombaram a porta e entraram no quarto como um bando de animais que fugiram do zoológico.

_Vem, por favor, Eu fiz... _Disse Anne que foi interrompida por um policial que agarrou o trás a fazendo soltar o telefone.

_Alô Anne? _Perguntou Alice antes que a ligação caísse. _Anne? Marrie? Anne?

_O quê é que foi Alice? _Perguntou Otton desesperado.

_Eu não sei pai. Era a Anne, aprecia que tinha um tanto de gente lá eu não entendi muito o que ela falou. _Disse Alice. _Ela está no Rio.

_No Rio? _Disse Otton, nervoso. _O meu Deus o quê é que a sua irmã está fazendo lá no rio?

_Calma pai. _Disse Alice. _Eu sabia que ela estava lá.

_Você sabia e não me contou nada? _Disse Otton ainda mais alterado. _O quê que você tem na cabeça Alice, você sabe conhece sua irmã.

_Pai, eu não te falei porque achei que não fosse nada demais. _Disse Alice. _A Ju me contou que ela foi atrás do Humberto.

_O quê? Ele de novo? _Disse Otton em voz alta. _Ele de novo não Alice, porque que você não me avisou? Eu sou o pai de vocês e tenho o direito de saber o que está acontecendo com minhas filhas.

_Pai? Calma, vamos pensar no que pode ter acontecido. Talvez não seja nada demais. Vamos ligar pra Ju e pedir pra ela vir pra cá. _Disse Alice.

Otton estava andando de um lado para o outro da sala.

_Não quero nem imaginar o que esses dois aprontaram dessa vez. Se sua irmã tiver... _Otton fechou os olhos com força e o alto da sua cabeça começou a ficar vermelho.

_Tinha muita gente gritando lá, ela estava chorando, pedindo ajuda. _Disse Alice, recordando vagamente da conversa e começando a ficar realmente preocupada. _Agora eu estou ficando preocupada pai.

_Você tem que sentir é culpa, por deixar fazer o que ela bem quiser sem me falar. _Disse Otton.

_O senhor quer um chá doutor Otton? _Perguntou Joaninha da porta da cozinha.

_Não Joana, não quero nada. _Respondeu Otton depois de sentar na sua poltrona.

_Joana? Liga pra Juliana Lessa para mim, diz que é urgente, o telefone está na lista. _Disse Alice.

_Sim menina Alice. _Atendeu Joana que correu até o escritório para ligar.

_Ela quer que a gente vá pra lá agora. _Disse Alice.

_Ela deve estar precisando mesmo, por que só fala as coisas quando ela esta realmente necessitada. _Disse Otton, tentando se acalmar. _Fazer o quê? Vamos ter que ir pra lá pra ver o quê está acontecendo.

_Vamos esperar a Juliana chegar pai. _Disse Alice, sabendo do que ia ouvir.

_Juliana, Juliana. _Disse Otton debochando da melhora amiga de Anne. _É por causa dessa aí que a minha filha tá ai oh.

_Para pai, o senhor sabe que a Ju não tem nada a ver com isso, ela gosta muito da Anne, pra ser amiga dela. Isso mesmo, porque depois do que a sua filhinha fez nenhuma menina perdoaria ela. _Disse Alice, tentando se concentrar em cada detalhe da conversa com Anne pelo telefone.

_Eu sei disso, mas é você que fica acobertando os planos da sua irmã. Onde já se viu, ir atrás daquele sujeito de novo. _Disse Otton voltando a se zangar.

_Ela não foi atrás dele, ele foi atrás do filho dela. _Disse Alice, antes de se arrepender de ter aberto a boca.

_O Quê? Ela ainda acha que o neném está com ele? Sua irmã é doida. _Disse Otton.

_Porque pai? Seu neto pode muito bem estar com o pai sim. _Disse Alice.

_Alice eu não vou começar essa discussão com você de novo, e até mesmo você que defende sua irmã do mundo real e de mim, concordou que isso seria muito difícil. _Disse Otton.

_Mas não disse que era impossível. _Disse Alice.

_Deixa de ser boba menina porque ele pegaria esse bebê da Marrie? _Perguntou Otton.

_Sei lá. Foi isso que a Anne deve ter ido perguntar pra ele. _Disse Alice.

_Grande motivo. E como ela descobriu que ele está lá no Rio? _Perguntou Otton.

_Foi o irmão dele que falou pra ela. _Disse Alice.

_O quê? Mas é lógico que isso é armação da família dele pra cima dela Alice. _Disse Otton ao se levantar e começar a trançar pela sala novamente. _E você deixou ela ir sem me avisar?

_Não pai, eu não sabia. Ninguém sabia. A Anne ligou de lá do Rio pra Juliana aqui, depois a Ju me ligou pra falar tudo. _Disse Alice.

_Isso é o que ela te contou não é. Vamos ver o que ela vai dizer quando chegar aqui. Se acontecer alguma coisa com minha Anne, ela vai ver. _Disse Otton.

_Pára pai. Pára de culpar a Juliana. A Anne sabe o que ela está fazendo, pelo amor de Deus, ela já tem 18 anos. _Disse Alice, pela primeira vez naquela noite visivelmente nervosa.

Alice estava a ponto de explodir pois acabara de lembrar que o encontro com Luís não iria acontecer, e pra completar Anne estava passando por algo que ninguém sabia o que era.

_É bom essa Ju aparecer aqui mesmo, eu vou fazer umas perguntinhas pra ela. Ela deve saber mais da sua irmã do que eu e você juntos. _Disse Otton ainda circulando a sala.

Depois de lembrar de Luís Alice não tinha cabeça pra pensar em mais nada.

_O meu jantar. _Pensou Alto Alice.

_Que jantar? _Disse Otton que parou ao ouvir Alice. _Ah sua reunião de emprego?

Alice se arrependera visivelmente de ter dito em voz alta o que estava pensando:

_É. Não vou poder ir mais.

_Pelo menos uma notícia boa. _Disse Otton.

_Pai? _Se zangou Alice.

_É mesmo, você está indo muito bem lá na clínica. Pra quê mudar de emprego? _Disse Otton.

_Estágio, não é emprego. _Disse Alice.

_Filha a clínica é sua. _Disse Otton.

_Isso que me incomoda. _Disse Alice, que acabava de lembrar de uma parte da conversa. _Liga a TV pai!

_O quê Alice? _Perguntou Otton sem entender.

_A Tv. A Anne falou pra gente ligar a TV. _Disse Alice.

Otton ainda sem entender, correu até a TV e rapidamente a ligou.

Na TV passava o jornal dominical, os âncoras do programa apresentavam uma matéria sobre o polêmico vídeo da Madonna feito para promover uma marca de refrigerantes e vendo aquilo nem Alice muito menos Otton acharam resposta ou solução de algo. Logo pensaram: “O que a Anne queria que a gente visse na TV?”. Mas a reposta veio em seguida terminada a matéria um dos apresentadores começou:

_Vamos agora direto para o Rio de Janeiro onde o repórter José Murilo traz as últimas informações sobre o assassinato do casal Humberto e Poliana Fonseca.

A imagem corta direto para um homem branco parado de costas a uma multidão que se aglomerava ao que parecia uma casa ao fundo.

_A suposta assassina do casal foi encontrada segundos atrás ainda dentro da casa. Ao contrário do que todos pensavam a jovem de apenas 18 anos, Anne Marrie Deville, não havia fugido, ela se encontrava escondida sob os brinquedos do quarto da criança. O bebê passa bem e neste momento recebe os cuidados da avó. _Disse o repórter.

A multidão no fundo começa a se mexer, flashes e gritos começam a surgir.

_Parece que a jovem está saindo da casa agora vamos tentar falar com ela.

A câmera se suspendeu no ar procurando o corpo de Anne Marrie na confusão. Mas antes mesmo que a câmera parasse para centralizar a garota no vídeo, de casa Otton e Alice já avistavam a assustada Anne no meio da multidão. Ela estava sendo levada até o carro da polícia por dois policiais um de cada lado, os repórteres se debatiam para conseguir falar com a garota e com dificuldades os dois homens tentavam passar por ali. Os flashes vinham de todos os lugares.

Otton desligou a TV rapidamente.

_Meu Deus! _O quê que a sua irmã fez meu Deus, me diz Alice. O que ela tem na cabeça? _Disse Otton se sentando devagar.

Apesar do choque de Alice ao ouvir a notícia, ela tentou acalmar o pai:

_Calma pai. Agora o senhor tem que ter calma. A gente vai pro Rio agora resolver isso tudo, calma. _Disse Alice.

Joaninha entrou pela sala correndo.

_Gente o que foi isso? A menina Juliana me contou tudo pelo telefone. E agora? _Disse Joana.

_Calma você também Joaninha! Você ligou pra Juliana, o que ela disse? _Perguntou Alice, agachada aos pés da poltrona.

_Ela me contou o quê tá aparecendo na televisão desde de tarde. _Disse Joana.

_Mas ela está vindo pra cá? _Perguntou Alice.

_Tá. Ela tá fazendo a mala da menina Anne pra levar pro Rio de Janeiro e já esta vindo. _Disse Joana.

_Ótimo, que ela já pensou em tud... _Disse Alice.

_Mala? Pra quê mala? _Disse Otton se levantando rapidamente da cadeira.

_Calma pai. _Disse Alice que quase caiu pra trás quando o pai passou por ela.

_Calma doutor se não o senhor vai ter um treco. _Disse Joana preocupada.

_Anda Alice, vai pro quarto trocar essa roupa que a gente já está indo pro aeroporto a gente não pode deixar ela lá sozinha. _Disse Otton em direção ao escritório.

_O que o senhor vai fazer? _Perguntou Alice preocupada com o pai.

_Eu vou ligar para um amigo meu, ele é o melhor advogado de São Paulo, vou mandar ele ir pra lá agora. Enquanto isso você vai trocar de roupa. _Disse Otton antes de entrar para o escritório.

_Vai menina! _Disse Joaninha nervosa só de ver o desespero de Otton.

_Tá bem já vou. _Disse Alice correndo para o quarto. _Quando a Juliana chegar deixa ela entrar.

_Tudo bem menina Alice, pode deixar. _Disse Joaninha antes de correr pra cozinha para ligar a TV de lá.

Quando saíram no hall do edifício Flor de Julho uma centena de repórteres os aguardava. Otton então se agarrou à filha que juntos enfrentaram os selvagens e enfurecidos “Só estou fazendo meu trabalho”. Com muita dificuldade para não soltar um palavrão o que foi dificilmente evitado para não piorar a situação, os dois entraram por fim em um táxi.

_Para o aeroporto. _Disse Otton ao motorista.

No aeroporto a confusão era maior ainda mais repórter, fotógrafos e jornalistas os esperavam no local, fora os que os seguiram desde quando saíram do edifício.

De longe Otton avistou seu amigo que já o esperava de mala nas mãos. Então os dois se aproximaram do homem engravatado.

_Oi como vai? _Disse otton cumprimentando o homem. _Desculpe ligar assim de última hora.

_A gente nunca espera Otton que uma coisas dessas aconteça. _Disse o advogado.

_No caso da minha filha dava pra desconfiar se eu SOUBESSE de algumas coisas antes. _Disse Otton olhando para Alice.

_Pai eu não tive culpa. _Disse Alice.

_Essa aqui é minha outra filha, pelo menos essa e mais ajuizada do que a Anne. _Disse Otton. _Alice esse aqui é o doutor Cássio Reis, ele é meu amigo há anos.

_Prazer. _Disse Alice forçando um sorriso amigável.

_Essa não é uma das melhores situações pra se conhecer alguém não é mesmo? _Disse Cássio retribuindo o sorriso.

_Agora vamos deixar pra conversar na viagem, o vôo sai daqui a pouco.

E os três seguiram para o Rio de Janeiro ajudar Anne Marrie.

sábado, 21 de junho de 2008

Capítulo 8: Onde está Anne Marrie?

Alice fechou o livro de anatomia e o colocava junto aos outros na estante em frente a sua cama. O quarto era basicamente o sonho de toda garota, mas não digo isso pelo rosa das cortinas, que na verdade nem eram tão rosas assim, estavam mais para um salmón, mas não o original, para ser mais exato a cor era um rosa embasado. Nada “cheguei!”. O quarto era, se é possível imaginar isso, uma boa porção de morangos com chantilly: Doce, suave, cremoso, e extremamente gostoso. Nada de pôster ou fotos de amigos nas paredes, era simples, aconchegante, bonito, limpo, cheiroso e perfeito. Alice então correu até a bolsa e recolheu de lá de dentro um pequeno caderninho forrado com couro, uma agenda. Alice era guiada por ela mesma, que anotava todos seus compromissos e tarefas na agenda. Olhando o que tinha pra fazer aquela noite, como se ela houvesse esquecido, viu o nome dele marcado. Luís era o nome do garoto. Que garoto? Simplesmente o garoto que tinha o projeto de um hospital voluntário na cidade, o único. O quê isso tem demais? Para Alice era muita coisa, ele não era muito bonito, mas tinha lá o seu charme. O convite para trabalhar ao lado dele no hospital surgiu à tarde, quando ele a convidou para sair. Para uma primeira conversa, Alice considerava aquela uma das melhores.

José, Heitor, Vitor e... Esperem ai, me deixem começar de novo. José, Heitor, Vitor e... E... Ah! E Luís, se é que esse já pode ser contado. São esses os homens com quem Alice já teve um encontro, não são muitos eu sei, mas foram marcantes. Ela não percebia o quanto era pequeno aquele número, comparado às listas das garotas da sua idade, isso sem contar que dessa singela lista apenas um deles foi beijado, nada muito romântico, na verdade o beijo foi forçado. Aquela brincadeira de verdade ou conseqüência. Alice esperava realmente que aquela noite fosse a melhor que as outras três. Poderia até acontecer o seu primeiro beijo, ela não contava o primeiro como primeiro, se realmente rolasse um beijo mesmo sendo o segundo seria o primeiro. Entendeu? Igual a música da Madonna, seria como se fosse o primeiro, like a virgin, touched for the very first time.

O encontro era as oito em um restaurante italiano do centro, Alice estava maravilhosa. Sempre se vestiu muito casual, muito Alice sabe? Mas essa noite ela iria surpreender. O vestidinho preto comprado em Paris só ficaria melhor em Audrey Hepburn, a bolsinha, a maquiagem, o cabelo, tudo estava perfeito para aquela “entrevista” de emprego. Alice desfilou até a sala onde Otton estava sentado na mesma poltrona de sempre lendo um livro de contos:

_Alice? _Se questionou Otton, incrédulo em ver sua filha mais velha tão bem arrumada.

_Como estou? _Perguntou Alice, contente pela reação do pai. Ela esperava que Luís ficasse tão maravilhado quanto ele.

_Você está linda minha filha. _Disse otton deixando o livro de lado e se levantando para ver a filha de perto. _Vai sair a essa hora?

_Pai. Por favor. É que eu recebi uma proposta de trabalho. _Disse Alice.

_Proposta? De quem? Trabalhar aonde filha? _Disse Otton. _Você já não está trabalhando lá na clínica.

_É pai, estou fazendo um estágio na sua clínica. _Disse Alice. _É sua. Eu queria trabalhar sozinha, por mérito meu e não porque meu pai é dono do hospital.

_Eu entendi Lice. _Disse Otton. _Mas precisa se arrumar tanto assim para uma entrevista de emprego? Uma hora dessas?

_Aham, eu ainda não consegui o emprego, preciso impressionar ele. _Disse Alice.

_Ele? _Disse Otton retirado os óculos.

_Ai pai! Deixa eu ir, por favor. _Pediu Alice.

_Pode ir Alice, eu não estou te segurando. _Disse Otton cruzando os braços. _Só não estou gostando dessa história de você sair em pleno domingo a noite, com uma roupa dessas, para uma entrevista de emprego com um homem. Ele é seu namorado? Pode dizer, depois das coisas que acontecerão com sua irmã prefiro a verdade.

_Não pai, ele não é meu namorado. É só um jantar formal para conseguir um emprego. _Disse Alice.

_Sem segundas intenções? _Perguntou Otton.

_Sem primeiras, segundas, terceiras, nada. _Mentiu Alice, que esperava muito mais desse jantar do que um emprego.

_Vou fingir que não vi você sair. _Disse Otton voltando a se sentar. _Amanhã quero ouvir boas notícias sobre o emprego e nenhum comentário sobre o jantar.

_Tá pai. Prometo que vou chegar cedo. _Disse Alice indo até o pai e o beijando no rosto em seguida.

Otton retribui com um sorriso, o que é um milagre, enquanto Alice seguiu em direção a porta. Antes de tocar na maçaneta o telefone tocou:

_Deixa que eu atendo! _Disse Alice correndo da porta até o telefone.

Joaninha apareceu na porta da cozinha, enquanto Alice atendia ao telefone.

_Alô? _Disse Alice, esperando ouvir qualquer voz menos a da irmã.

_Alô? Lice? _Disse Anne do outro lado da linha.

_Anne? O quê aconteceu, você já está em São Paulo? _Disse Alice preocupada.

_Não, ainda não. Escuta. _Disse Anne. _Eu ainda estou no Rio, depois eu te conto o que aconteceu. Agora venha pra cá agora.

_Agora? Hã, como assim Anne? O quê está acontecendo? _Perguntou Alice.

_A polícia está atrás de mim. _Disse Anne Marrie do outro lado do telefone.

Alice esperava uma noite com emoções, mas para variar preferiria que elas não tivessem nada a ver com sua irmã. Não foi dessa vez.

Lomar era motorista da família Kaleb a menos de 3 anos, Tinha uma família pequena, uma mulher e uma filha, ganhava um bom salário e em troca disso, era um dos melhores funcionários do corpo serviçal da mansão dos Kaleb. A viúva Edna era a da família que mais requisitava os serviços do rapaz, na verdade tirando ela a família não era muito grande. Depois de perder o marido para o câncer Edna só tinha a filha Poliana como companhia, com a solidão veio o desespero de se casar novamente, e talvez a velhice não a ajudasse muito a ver que seu atual esposo tinha outras mulheres, muitas outras mulheres. No caminho de volta pra mansão depois de visitar a filha como de praxe todo sábado à noite, Edna vinha calada no banco de trás do carro até:

_Lomar, me desculpe por agora pouco. É que eu estou exausta e com muito frio, quero me deitar logo, não quis ser grossa. _Disse Edna ao motorista.

_Imagina senhora. Eu não me ofendi. _Disse Lomar.

_Eu sei que não. _Disse Edna.

O carro entrava pelo portão da mansão quando Lomar disse:

_Eu só estava tentando alertar a senhora sobre uma moça que estava parada na frente da casa da dona Poliana. _Disse Lomar.

_O quê? _Questionou Edna que realmente não entendeu o que Lomar disse.

_Tinha uma moça parada na frente da casa da sua filha. _Disse Lomar.

_Uma moça? Fazendo o quê Lomar? _Perguntou Edna.

_Parecia que ela estava procurando um endereço. _Disse Lomar. _Mas primeiro ela estava lá escondida olhando pra senhora e pra dona Poliana, quando ela me viu se assustou e começou a olhar na bolsa um papelzinho. Com certeza estava procurando algum lugar. _Disse Lomar.

_Como ela era? _Disse Edna desconfiada.

_Era bem novinha, deve ser de menor. _Disse Lomar.

_Menor, Lomar. Menor. _Disse Edna virando os olhos.

_O quê senhora? _Questionou Lomar sem entender o que disse Edna.

_Não se diz “de menor”, tira o “de”. O correto é dizer, “menor”. _Disse Edna. _Mas me fala. O que mais?

_Estava bem vestida, não parecia ser pobre, ou mendinga. _Disse Lomar.

_Mendiga Lomar, sem n depois do di. Mendiga. _Disse Edna revirando os olhos outra vez.

_Desculpe senhora. _Pediu Lomar.

_Continua homem de Deus! _Disse Edna quando o carro parou a porta da mansão.

_Está bem. A senhora quer que abra a porta do carro pra senhora? _Perguntou Lomar.

_Não Lomar. Senta aí e acaba de falar o que você começou. _Disse Edna.

_Sim senhora. _Disse Lomar. _Era bem bonita, os cabelos eram escuros e o...

_É ela. _Disse Edna antes de saltar do carro.

Lomar chegou a sair do carro quando percebeu que Edna havia saído, mas antes que ele pudesse dar a volta no carro para abrir a porta ela já estava entrando pela porta da mansão.

Edna correu em direção ao escritório e nem percebeu a empregada lhe chamar pelo nome. Sentada na poltrona ela discou para casa de sua filha, mas ninguém atendeu do outro lado. O telefone estava ocupado. Preocupada ela repetiu a ação várias vezes e sem sucesso ela desligou, sabia quem era a moça do lado de fora da casa de Poliana. Anne podia ser perigosa quando contrariada e todos sabiam que ela tinha motivos o bastante para fazer mal a alguém, principalmente naquela casa. A empregada entrou pela porta:

_Desculpe incomodar senhora, mas é que...

_O quê é isso Karen? Eu te chamei aqui? O que você quer? _Disse Edna com a mão sobre os olhos.

_Desculpa senhora, mas é que a dona Poliana ligou tem uns cinco minutos. _Disse Karen.

_Ai, graças a Deus. _Disse Edna.

_Mas é que ela não diss... _Tentou disser Karen.

_Está tudo bem querida, pode ir agora. Vai. _Disse Edna, mas Karen se manteve imóvel. _Anda menina, saí!

_Desculpa senhora, mas é que ela... _Tentou Karen de novo.

_MEU DEUS o quê está acontecendo com esses empregados hoje? _Disse Edna olhando para o alto.

_Com licença senhora. _Disse Karen antes de desaparecer pela porta.

Edna ficou aliviada por saber que Poliana estava bem, segura. Depois de um tempo chegou se lembrou que ela estava muito cansada e que o sono seria uma boa opção. Ao sair do escritório Edna se encontrou com Karen que a esperava na porta.

_Karen, o Andréas já chegou? _Perguntou Edna enquanto se encaminhava para as escadas.

_Não senhora, saiu depois da senhora e nem ligou pra dar satisfações até agora. _Disse Karen atrás de Edna.

Edna parou ao pé da grande escadaria que levava ao segundo andar da casa, e em seguida virou de frente para Karen.

_E eu to de olho em você heim mocinha! Alguém andou me dizendo que você está preocupada demais com meu marido. _Disse Edna. _Não quero perder mais uma empregada porque ela foi estúpida o bastante pra seduzir a marido da patroa.

_Quem disse isso senhora? _Disse Karen olhando para o chão.

_Eu disse neném. Eu vi como você fica expert em limonada na hora que o senhor Andréas está com sede na piscina. _Disse Edna. _Me desculpe meu bem, mas pelo menos das piranhas aqui dentro da minha casa eu tenho que ficar de olho.

_O quê isso senhora? _Disse Karen com as bochechas vermelhas.

_É. Espero mesmo que só sua bochecha fique quente quando você vir o senhor Andréas daqui pra frente, ouviu? _Disse Edna, voltando a subir os degraus.

_Sim senhora. _Disse Karen nervosa. _A... Senhora deseja mais alguma coisa?

_Não Karen pode dormir agora. _Disse Edna do alto da escada gigante.

O Rio amanheceu, para os amantes do verão, perfeito. Sol e mar em sintonia para os praieiros de plantão. Pra pegar uma onda, um bronzeado, alguns se sentavam nas areias ainda frias da praia. Para alguns daquela cidade maravilhosa nem tudo estava tão bonito assim. Digo isso pensando em Edna desacordada em seu sono, a velha chifruda e viúva nem imaginava que a sua filha estava naquele momento morta no chão de casa. Não lamento por Poliana ou Humberto jovens mortos pelas mãos da desafortunada Anne Marrie, lamento por Edna a pobre coitada que agora teria somente Andréas como família, e ela nem estava mais tentando se enganar de que ele era um bom marido. A notícia sobre sua filha não poderia chegar em pior hora. Se é que existe um bom momento para uma notícia de morte.

Ao abrir os olhos e apalpar o travesseiro vazio ao seu lado Edna já se irritou logo ao acordar. Depois de fazer toda a higiene pessoal Edna se maquiou como fazia todos os dias e desceu em seguida para tomar o café com a esperança de encontrar Andréas na mesa.

_Bom dia Ladies? _Saudou Edna, que apesar não ver Andréas a mesa estava de bom humor. Por enquanto.

_Bom dia Senhora Kaleb. _Disseram as serviçais como se estivessem ensaiadas.

_Quantas horas pelo amor de Deus? _Perguntou Edna enquanto se servia com biscoitos.

_Já são 10 da manhã senhora. _Respondeu Karen enquanto servia o suco à patroa.

_Alguém ligou? _Disse Edna.

_Não senhora. _Disse Karen.

_Nem minha filha, a Poliana? _Disse Edna.

_Não senhora. Ela só ligou ontem à noite, mas não disse nada então desliguei. _Disse Karen.

_Como não disse nada? _Questionou Edna que misturava seu chá.

_É senhora. Ela só perguntou por você ai eu disse que a senhora não havia chegado, ai eu ouvi um barulho e ficou mudo o telefone, eu fiquei esperando, chamando o nome dela, mas ela não respondeu. _Disse Karen.

_Ela não respondeu? A ligação caiu? _Perguntou Edna.

_Não, só ficou mudo. Parece que ela não estava me ouvindo. _Disse Karen.

_Que estranho. Vou mandar ela comprar outro aparelho ou será o daqui de casa que está ruim? _Disse Edna.

_Não sei dizer senhora. _Disse Karen.

_Manda chamar o Lomar, que eu vou dar uma passadinha lá. _Disse Edna.

No caminho para casa de Poliana e Humberto, Edna contou ao motorista o motivo da visita dominical.

_Não é estranho Lomar? _Perguntou Edna.

_É senhora. _Disse Lomar.

_Você acha que tem algo haver com aquela senhorita parada na frente da casa dela ontem à noite? _Perguntou Edna.

_Não sei senhora, talvez. _Disse Lomar.

_Torça para aquela moça não ser quem eu estou pensando que é, porque se for, eu vou ficar mais preocupada. _Disse Edna. _Eu falei pra Poliana: Filha, não muda para uma casa porque não é seguro. Disse até para o Humberto que era melhor se eles morassem em algum condomínio fechado. Com essa menina solta meu Deus, segurança é prioridade. Essa tal de Anne é perturbada. Os Fonseca fizeram de tudo pra afastar essa menina do meu genro e ela vem atrás dele aqui no Rio. O que ela quer, tentar matar ele de novo? Já falei pra ele entrar na justiça e conseguir uma ordem judicial pra ela ficar sei lá, uns 500 km de distância no mínimo. O pior é que minha neta também está correndo perigo com ela por ai. Vai que ela acha que sei lá, ela é filha dela. Já que o neném dela foi roubado né.

_Essa menina sofreu não é senhora? _Disse Lomar.

_Sofreu? _Disse Edna. _Quem sofreu nessa história foi o Humberto coitado, que ficou dias no hospital a beira da morte por causa dessa menina.

_Desculpa senhora. É porque a senhora disse que o filho dela foi roubado. Só fiquei com pena dela, é que eu tenho uma filha e não imagino como seria ficar sem ela. _Disse Lomar.

_Deve ser triste mesmo, mas isso aconteceu depois do caso dela com Humberto. Mas ela o culpa pelo seqüestro. É por isso que fico preocupada com minha filha, não quero perder ela por causa de uma doida igual essa menina. _Disse Edna.

Mal havia acabado de dizer aquelas palavras e o carro parou diante da casa do casal. Lomar acompanhou Edna até a porta da frente e mesmo depois de bater umas dez vezes ninguém havia aparecido.

_Ai meu deus, será que eles estão dormindo ainda? Já está tarde. Meu Deus! _Disse Edna quando os regadores se ergueram dos jardins e começaram a molhar a grama.

Com esforço para não se molhar Edna forçou o corpo contra a porta e com a mão na maçaneta sem querer a abriu. Antes que ela pudesse estranhar o fato da porta estar aberta o choque de ver o corpo da filha estirado no chão veio antes. Sem poder controlar as lágrimas que escorreram pelos olhos Edna se pôs de joelhos ao lado de Poliana enquanto Lomar seguia em direção ao quarto de bebê para acalmar Amanda que chorava sem parar.

20 minutos depois a polícia estava por todo lugar, recolhendo provas, tirando fotos e tentando contactar a principal suspeita. Uma tal de Anne Marrie. Depois de ouvir Lomar e Edna a polícia tinha sérias razões para acreditar que Anne era responsável pelos assassinatos. No quarto de hotel onde ela estava hospedada não havia mais ninguém, só a mala, só as roupas e nenhuma Anne. Os aeroportos, as rodoviárias e as estradas estavam vigiados não havia lugar em que Anne Marrie pudesse se esconder naquele momento. O dia passou e nenhuma notícia da jovem assassina apareceu, ninguém sabia do paradeiro da garota. Onde está Anne Marrie? Todos se perguntavam.

Já ouviu falar que aquilo que a gente procura está no lugar mais obvio de se procurar? Pois então, quem disse que ela saiu do número 76 da Rua Almerinda.

domingo, 15 de junho de 2008

Capítulo 7: Uma lágrima de Anne Marrie

O hotel parecia bem aconchegante, Anne não havia se preparado para viagem para o Rio o máximo que deu pra fazer foi passar em casa e pegar algumas peças de roupas e ajeitar mais ou menos na mala velha de Ellen. Nem ao menos avisou ninguém de onde estava indo, sem ter tempo para passar no banco para pegar mais dinheiro, achou suficiente o que carregava na bolsa, Anne seguiu direto para o aeroporto. O motorista ganhou um bom dinheiro por passear por quase toda São Paulo junto com Anne, e esperar ela na porta do castelinho aumentou ainda mais a corrida, sem querer ela ajudou alguém a pagar as contas do mês. Quem disse que Anne Marrie também não é solidariedade?

Assim que abriu a mala em cima da cama já anoitecia no Rio, tudo parecia bem calmo, e mesmo que não estive para Anne tudo estava perfeito. Ela até fingiu que não viu uma barata sair por debaixo da porta. Ela estava em outro nível de sensibilidade, nada ali era capaz de a tirar do estado de dormência que fazia seu sorriso pregar no rosto e não se desmanchar por nada, nem por uma barata. Lembrando-se de que todos em São Paulo estariam desesperados com seu sumiço ela correu até o telefone e ligou pra casa, o castelinho. O telefone mal fez a primeira chamada e Juliana atendeu com uma voz ofegante do outro lado:

_É você? _Perguntou Juliana.

_É sou eu, Anne. _Disse Anne num tom parecido com a voz de Alice.

Fez-se silêncio do outro lado da linha.

_Juliana? _Perguntou Anne, pensando que a ligação havia caído.

_Ah Anne, até que enfim né? _Disse Juliana. _Onde você está sua louca?

_Você não vai acreditar, to aqui no Rio. _Respondeu Anne.

_O quê? Como assim você está no Rio? Que Rio? Tipo Rio de Janeiro? _Se chocou Juliana.

_É Ju. Depois eu te conto o que aconteceu, melhor. _Disse Anne. _Mas e aí, a Lice ta perguntando por mim? Meu pai deve estar louco né?

_Sua irmã está te procurando por toda a cidade. Vocês brigaram? _Disse Juliana.

_O quê? Não. Sei lá, acho que não. Aquilo não foi briga. _Disse Anne.

_É, mas você sabe como a Alice é né? Dramática! _Disse Juliana. _Ela está achando que você sumiu por causa da briga. Foi por isso?

_Não. A gente nem brigou. Foi só uma discussãozinha, nada sério. Não pra mim. Nem estava pensando nisso mais. _Disse Anne.

_Mas o que você está fazendo aí então? _Perguntou Juliana.

_Seguindo uma pista quentinha. _Começou Anne. _Eu topei adivinha com quem hoje lá no centro?

_Quem? _Perguntou Juliana.

_Com o irmão do Humberto, aquele que chama Roger, lembra dele? _Disse Anne.

_Hã? Mais ou menos. De vista só. Você me falou dele uma vez. Mas ele não sai muito na Society não né? _Perguntou Juliana.

_Não. O pai dele não gosta muito dele sei lá porque, mas ai ele saiu de casa quando ele era novinho ainda. Nem mora com eles mais. _Disse Anne.

_Tá! Mas e aí, o que ele te falou? Ele brigou com você? _Perguntou Juliana.

_Ele ficou enchendo o saco quando a gente sentou lá no Café das Marias...

_Vocês foram tomar café? _Perguntou Juliana. _Mas ele não devia te odiar, sei lá. Você quase matou o irmão dele.

_E não é menina? Eu fiquei com medo, mas ele falou assim, fácil. Pensei que eu não ia conseguir nada, mas ele falou tudo de uma vez. _Disse Anne. _Fez uma horinha, antes de falar onde ele estava, mas ele falou tudo.

_Aí no Rio? _Perguntou Juliana.

_É. _Respondeu Anne.

_Isso ta me cheirando a armação heim amiga. _Disse Juliana.

_Será? _Perguntou Anne, pensando na primeira vez nessa possibilidade.

_Claro né Anne. Ele falou tudo sem pedir nada em troca? _Disse Juliana.

_É verdade. Meio estranho né? _Disse Anne. _Mas parece que ele estava com raiva de alguma coisa. Talvez ele brigou com o Humberto.

_Pode ser, mas e se não for isso? _Perguntou Juliana.

_Ah, eu já estou aqui mesmo, amanhã eu descubro se é mentira ou não. _Disse Anne.

_Ele te deu o endereço? _Perguntou Juliana.

_Aham, o endereço completo. _Disse Anne sem conseguir segurar uma risadinha no final da frase.

_Você é louca Anne. Você devia ter esperado um pouco, conversado com nós primeiro. _Disse Juliana.

_Ah Ju, eu fiquei com vontade de vir de uma vez. _Disse Anne. _Já esperei demais, e mesmo se eu ficasse vocês não iam me deixar vir.

_Não íamos mesmo. Isso esta me cheirando a cilada. _Disse Juliana.

Ao fundo da outra linha Anne ouviu baterem na porta.

_Quem é? _Perguntou Anne curiosa.

_Não sei, esperai rapidinho! _Disse Juliana.

O barulho do telefone descansando em cima da mesinha foi seguido do barulho da porta se abrindo. Alguns segundos depois, Juliana pegou o telefone de novo e começou:

_É meu namorado Anne, vou ter que sair agora, sexta a noite né meu bem. _Disse Juliana com a voz feliz.

_Está bem Ju, divirta-se. _Disse Anne.

_Pode deixar amiga. _Disse Juliana. _E aqui? Você vai ligar pra Alice daí?

_Ah Ju faz esse favor pra mim. _Começou Anne. _Se não eu vou ter que explicar tudo de novo e depois da briga que a gente teve não vai ser uma conversa legal.

_Mas você disse que não tinha brigado! _Disse Juliana, ironicamente.

_Não! Não é isso. E a gente não brigou mesmo. _Disse Anne.

_Tá, eu entendi. _Disse Juliana.

_Ah e se não minha conta aqui vai ficar muito cara e eu não saí daí com muito dinheiro. _Disse Anne.

_Pode deixar, que eu ligo lá pra sua casa e vou ligar pra minha mãe também, ela veio aqui te procurar pra te levar num desfile e não te achou. Ficou toda preocupada. _Disse Juliana.

_Ah que gentil da parte dela Ju! Manda um beijo pra ela, agradeça pelo convite e peça desculpas por mim. _Disse Anne.

_Ok. _Disse Juliana.

_Tchau Ju. _Disse Anne.

_Até amiga. _Disse Juliana. _E boa sorte aí com o Beto.

_Obrigada! _Disse Anne.

_Tchau e beijo. _Disse Juliana antes de a ligação cair.

Anne colocou o telefone no gancho e foi direto pra janela para apreciar a vista, que não era uma das melhores. Um pouco afastado do litoral o hotel era de 3 estrelas e não muito confortável, mas dava para dormir um pouco e relaxar até que chegasse a hora de ir atrás do bebê. Será que Anne ia conseguir dormir com tanta coisa prestes a acontecer? O sono só veio às 4 da manhã depois de tanto rolar de um lado pro outro no colchão duro do quarto.

Já de pé Anne escolheu o melhor modelo que havia trago para o Rio. Uma calça Jeans compunha o visual da turista, uma camiseta regata verde fazia contraste com o cinto de couro largo na cintura, um óculos escuros e os cabelos presos a um coque. Pelas ruas do Rio de Janeiro com o que parecia pra ela um bom disfarce, Anne seguiu andando atrás de informação. Na bolsa tudo o que precisava: Um mapa do Rio comprado em uma banca de jornal, algumas fichas de telefone, um papelzinho com o endereço de Humberto escrito por ela antes de entrar no avião e é claro um batom bem vermelho.

_Senhor? Senhor? _Chamou Anne um senhor de cabeça branca que passava por ali.

O Senhor parou imediatamente quando percebeu que a garota estava perdida.

_Sim. _Disse o velhinho.

_O senhor podia falar onde é esse lugar aqui oh. _Disse Anne erguendo ao velho o papelzinho amassado.

O senhor então puxou do bolso esquerdo da blusa um óculos remendado e com esforço leu o pedaço de papel.

_Minha filha, esse endereço é lá no Leblon. Tá um pouco longe daqui. _Disse o velho.

_Obrigada! _Disse Anne pegando o papel de volta.

Sabendo da distância da casa de Humberto, Anne se apressou a entrar dentro de um táxi. O dinheiro estava apertado, mas ficar andando por uma cidade que ela nem conhecia não ia dar um final feliz.

O Rio era até bonitinho, se isso ficar claro para vocês. Porque tirando o cristo redentor que fazia a diferença na paisagem o resto era bem parecido com outras praias com uma cidade no meio.

Anne fez questão de dizer ao taxista que a deixasse a uma quadra do endereço no papel, pois não queria que Humberto a visse logo de cara, ela queria se preparar antes para enfrentar sua quase vítima de novo. Então Anne desceu do carro apreensiva com o coração na boca, tremia os joelhos e suava nas mãos que apertavam o papel com força.

A rua era de longe uma das mais bonitas que Anne já vira na vida só perdia é claro para a rua do castelinho onde ela morava com Juliana. Usando os óculos como um grande escudo para que não a reconhecesse caso Humberto ou Poliana a avistassem antes que ela pudesse vê-los primeiro. Devagar Anne deslizou pela calçada procurando atentamente o número 76 nas casinhas perfeitamente colocadas sobre os milhares de jardins fabulosamente esculpidos por alguns brilhantes e talentosos jardineiros. Anne avistou do outro lado da rua uma casa audaciosa com uma arquitetura ousada, cheia de curvas, parecia mais uma obra de Niemeyer.

Anne parou a umas três casas de distância e começou a analisar o imóvel. Todo branco com detalhes em gesso, a casa era cercada por um vasto campo verde de onde cresciam flores rosadas, tudo protegido por grandes barras de ferro pintadas de branco, que formavam um portão onde possivelmente era o caminho para a garagem. Em meio às barras uma das colunas que se juntavam as grades, era onde descansavam no alto dois números um sete seguido por um seis. Era ali no número “76” onde Humberto estava vivendo com Poliana e o bebê de Anne. Ela realmente desconfiava disso naquele momento, Juliana poderia estar certa, talvez Roger só estivesse querendo dar uma lição nela, a fazendo ir até o Rio de Janeiro atrás de nada. Mas o palpite de Juliana estava prestes a cair por terra.

Humberto saia pela porta da frente, segurando nos braços uma grande bolsa amarela com um ursinho rosa na lateral. Era uma bolsa para bebês, parecida com a que Alice havia comprado para o enxoval do filho de Anne. Poliana vinha logo atrás empurrando um carrinho de bebê azul marinho parando para beijar o marido e pegar a bolsa das mãos dele enquanto ele seguia até os fundos provavelmente para pegar o carro. Anne ficou ali do outro lado disfarçando enquanto avistava o casal feliz sair de carro, ela não podia acreditar que Poliana havia roubado tudo que um dia ela sonhou ter, uma família. Paremos com a hipocrisia, Anne sempre quis Humberto ainda mais agora que ele estava estupidamente bonito. E o fato de ele ter roubado o seu bebê para viver feliz com Poliana, que provavelmente devia ser estéril a deixava muito enciumada, ali ela não sabia se queria o filho de novo ou somente que Poliana caísse fora da vida dos dois e ela tomasse o lugar dela.

O carro passou por ela que se virou de costas rapidamente para que eles não a reconhecessem. Sem saber o que fazer Anne, se aproximou da casa de número 76, era ainda mais bonita de perto, o verde dos jardins se projetavam nas paredes brancas da casa, alguns galhos repleto de flores subiam até a altura dos joelhos. Eram fortes na cor e enchiam os olhos de beleza. Tudo parecia lavado com muita água e amaciante, tinha um cheiro delicioso e a aparência limpa. Para completar a beleza, talvez para tornar aquilo tudo mais torturante pra Anne agüentar, vários jatos de água se ergueram do chão jogando água por todo lado e as gota que choviam sobre o jardim em contraste com o sol formavam pequenos arco-íris. Maravilhoso.

De volta ao hotel Anne se torturava ao lembrar do que acontecera aquela manhã, o que virá foi muito perturbador. O almoço pareceu descer sem gosto por sua garganta, ela desejava aquela vida pra ela, talvez o lugar que Poliana esteve esse tempo todo fosse tudo o que Anne mais desejou na vida. A comida não importava. Pensando a tarde toda no que fazer, Anne caminhou pelo redondeza a fim de se distrair um pouco. Numa tentativa desesperada de encontrar o que fazer e também de algum conselho a seguir Anne ligou novamente para o castelinho:

_Alô, Ju? _Perguntou Anne quando a ligação foi completada.

_Oi Anne. _Respondeu Juliana.

_E aí como foi à noite heim? _Sorriu Anne, antes de perceber o que acabara de fazer. Era a primeira vez que questionava a amiga sobre seu namoro.

_Tudo ótimo como sempre. _Disse Juliana, antes de mudar de assunto. _Mas e você como se saiu hoje lá com o Humberto? Você falou com ele?

_Não. Consegui achar o endereço e o Roger não estava mentindo, ele mora mesmo lá. _Disse Anne.

_E aí? _Questionou Juliana.

_Eu vi ele, a Poliana e o bebê. _Disse Anne pela primeira vez desde que saiu da rua Almerinda pensando no seu filho.

_Então eles pegaram mesmo seu bebê? _Disse Juliana. _Que filha da mãe!

_É. Eu não consegui ver meu filho, mas eles saíram com ele de carro. _Disse Anne, se lembrando da torturante cena. _A casa deles é perfeita Ju, você tem que ver.

_Mas e aí, você não foi falar com eles não? _Perguntou Juliana.

_Não né Ju. O quê eu ia falar pra eles? Devolve meu bebê ai agora, anda, tô mandando!

_É claro né Anne! _Disse Juliana. _Como você vai fazer isso? Como você vai pegar seu bebê de volta?

_Não sei. Estou pensando em chamar a polícia para ir comigo, vai ficar mais fácil, não? _Disse Anne.

_Não. Vai gerar muito falatório, vai ser capa da Society se você fizer isso. _Disse Juliana.

_Não estou nem aí Juliana. Espero que saia mesmo na capa pra ele ter o que merece, já que os Fonseca preservam tanto o nome assim, vamos ver como eles vão se livrar dessa. E ainda é pouco pelo que eu já passei. _Disse Anne.

_Claro, você está certinha. _Começou Juliana. _Mas como você vai provar que o neném é seu filho?

_Não vai ser difícil, porque ele é. _Disse Anne.

_Amiga, você tem que ter mais provas que isso. _Disse Juliana.

_A Poliana não ficou grávida, nunca esteve. _Disse Anne.

_Quem te falou isso? _Disse Juliana.

_Ninguém. Mas se o neném fosse dela mesmo, porque o Roger não me disse lá na cafeteria? _Perguntou Anne.

_Anne, ele podia estar mentindo. Quem garante que o que ele disse é verdade? _Disse Juliana.

_Porque ele mentiria só sobre isso? O endereço estava certo. E todo o resto. _Disse Anne.

_Olha, você pode estar entrando numa fria sabia? Espera um pouco, já que você esta por aí, fica mais uns dias vigiando como você está fazendo, até você ter certeza. _Disse Juliana.

_Ju, eu não trouxe tanto dinheiro assim, não vai durar muito, amanhã eu vou lá, bato na porta e faço o que tenho de fazer: Pego meu filho e volto para aí e ai eu vou pensar se vou denunciar ele ou não. _Disse Anne.

_Claro que vai! Você está louca Anne? Depois de tudo isso ele vai sair de liso de novo. Nem pensar, vai entregar ele pra polícia sim, ele seqüestrou seu filho. _Disse Juliana.

_É filho dele também. _Disse Anne.

_Eu não acredito no que eu to ouvindo Anne. Antes você queria matar ele, agora você está dividindo seu filho com ele, ele não queria o bebê, lembra? _Disse Juliana.

_Lembro. _Disse Anne.

_Olha Anne, seja lá o que você tenha visto hoje, não mude suas idéias por nada, pegue seu filho e volte pra cá. _Disse Juliana.

_Vou esperar amanhã, hoje já está ficando tarde pra eu ir lá né? _Perguntou Anne.

_Isso. Fica aí, descansa e amanhã você vai lá com calma. _Disse Juliana.

_Tudo bem. _Disse Anne. _ E aí você falou com a Alice?

_Liguei pra ela ontem assim que acabei de falar com você. _Disse Juliana.

_E ela? Ficou brava? _Perguntou Anne.

_Não muito, ficou mais aliviada por saber que você estava aí. Ela também acha que o Roger te enganou. Vou ligar pra ela agora pra falar que você achou o Beto. _Disse Juliana.

_Obrigada Ju! _Disse Anne.

_De nada amiga. _Disse Juliana. _Liga mais tarde se quiser, eu não vou sair hoje não.

_Por quê? _Disse Anne espantada. _Hoje é sábado.

_Eu sei, é que eu estou muito cansada da semana. _Disse Juliana.

_Tudo bem Ju, até mais então. _Disse Anne.

_Tchau Anne. _Disse Juliana.

As horas pareciam não passar, o tempo comprimia Anne a esmagando por dentro. Cada segundo arrastado mais aumentava a ansiedade de amanhecer logo e resolver tudo isso de uma vez, deitada sozinha na cama admirando o teto descascado Anne ficou ali acordada pensando em qualquer coisa que a fizesse esquecer um pouco o Humberto, a Poliana e o bebê. A barata seria uma ótima companhia agora. Conversar com alguém ajudaria a passar o tempo. Sem perceber Anne cochilou e quando acordou angustiada procurou o relógio na mala esperando que os ponteiros marcassem umas 5 da manhã pois o céu ainda estava escuro, mas para seu desespero o relógio informava as 23h15min que eram onze horas e quinze minutos. Mentira? Anne ficou desesperada. Como assim ainda são onze horas? Num salto Anne tirou o pijama e colocou um vestido preto até os joelhos e com o mesmo cinto de couro que usara de manhã ela saiu pela rua em busca de algo o que fazer. Ao passar por vários barzinhos pela noite boemia do Rio de Janeiro nenhum deles pareceu convidativo a Anne, samba e pagode não era a sua praia e tentando se enganar ao invés de fazer o que queria Anne foi até o calçadão. O famoso calçadão de Copacabana, inspiração para muitas pessoas, usada por muitos poetas, compositores e artistas o calçadão era uma coisa bonita de se ver. Um monte de tijolinhos em cores oposta artisticamente colocados um a um formando um belo desenho ondulado por toda a orla da praia. Ao chegar ali e pisar pela primeira vez em um dos pontos da cidade que fazem o Rio de Janeiro ser o Rio de Janeiro Anne sentiu, sentiu... Sentiu... Sentiu nada. Ficou ali parada, fingindo para os transeuntes cariocas, que era legal ficar ali. Olhando o mar Anne pensou: “O que eu to fazendo aqui? Parada. Olhando pro mar? Pra quê? Eu não agüento mais esperar.”

Anne entrou no primeiro táxi que viu passar e seguiu direto para a Rua Almerinda, nº. 76, Leblon. Parando no mesmo lugar que de manhã, Anne desceu do carro e do outro lado da rua como antes ela ficou parada olhando para a casa de Humberto. A casa parecia bem diferente agora, mais simples como as outras. As luzes acesas da casa indicavam que Humberto e ou Poliana ainda estavam acordados. Sem saber o que estava prestes a fazer Anne seguiu em direção ao portão principal e para sua surpresa antes que ela chegasse mais próxima ao portão a porta da frente se abriu e de dentro saiu uma senhora aparentemente com uns 60 anos:

_Até amanhã minha filha. E não precisa me levar até em casa porque o Lomar sabe bem o caminho. _Disse a velhota.

Anne se escondeu atrás de uma árvore quando viu Poliana sair e encostar na porta da frente.

_Ah o Lomar está aí? Porque a senhora não me falou mamãe? _Perguntou Poliana.

Anne sabia agora que talvez fosse esse o real motivo para que Humberto se mudasse para o Rio com Poliana, a mãe dela morava lá.

_Ele está ali me esperando. Deixa eu ir meu amor. _Disse a velha ao atravessar o portão.

Anne olhou automaticamente para o carro de luxo parado a porta da casa, não havia percebido ele ali antes, o motorista Lomar olhava pra Anne desconfiado. Anne então fingiu estar mexendo na bolsa, tirou um papel dela, virou para casa que estava ao seu lado e se mostrou mais interessada em ver qual era o número do imóvel. Tentando disfarçar o motivo da sua presença ali naquele local à uma hora daquelas.

_Tchau mamãe. _Disse Poliana da porta enquanto o motorista saia do carro apressado e abria a porta traseira.

_Onde você está com a cabeça Lomar? Eu vou congelar aqui. _Resmungou a velha.

_É que tem uma moç... _Começou Lomar.

_Levou chifre outra vez Lomar? Pelo amor de Deus! Estou achando que o seu negócio é outro heim? _Sorriu a velha.

_Quê isso senhora. _Disse Lomar sem jeito.

Poliana ficou da porta vendo o carro se afastar bairro a dentro. Anne via tudo de longe de novo, voltara ao lugar de onde chegou.

O que poderia ficar pior, já passava da meia noite e Anne estava parada numa rua deserta no Rio de Janeiro tentando recuperar seu filho. Mas para isso ela iria ter que falar com Humberto e ela não queria isso a exemplo do que aconteceu na ultima conversa dos dois. E como uma ajudinha divina, pensou Anne antes de agradecer: "_Obrigada Senhor." O portão da frente na casa dos recém casados estava aberto, encostado de leve. Era a oportunidade perfeita pra Anne, afinal melhor do que ter que enfrentar os dois sem saber as conseqüências, seria pegar o seu filho como Humberto fez a um ano no hospital, escondido. Sorrateiramente Anne caminhou até o portão e ao passar por ele todo o cuidado para não fazer barulho foi tomado. “E agora como eu vou achar o quarto do meu filho? E se ele dormir com os dois no mesmo quarto?” pensando nisso Anne Caminhou pelo lado da casa fitando cada janela em busca de algum sinal de um quarto do bebê. Enfim ela avistou por uma das janelas uma cortina com ursinhos dos mais variados tipos, e Anne sabia que era ali o quarto do seu filho. Mas como o resto das janelas da casa, havia uma grade sobre cada uma. Na esperança de encontrar uma porta nos fundos da casa, Anne continuou a passos curtos e silenciosos pela garagem onde estavam dois carros de luxo um atrás do outro e ao fundo deles uma pequena porta parecia ser a entrada dos fundos da casa. A cada passinho Anne rezava, rezava e rezava pedindo aos céus que a porta estivesse aberta, ao tocar a maçaneta e girar lentamente para evitar ruídos a porta se abriu. E todos os anjos estavam com Anne ali agora. Essa seria a única explicação.

A cozinha era perfeita, daquelas que a gente só vê em revista de decoração. Descrevê-la daria um pouco de trabalho, a cada detalhe outro detalhe. Seria complicado demais. A luz de repente se acendeu e virando automaticamente para olhar tal feito, Anne viu Poliana parada com a mão sobre o interruptor.

Anne ficou parada olhando para aquela mulher grande, carnuda, com os cabelos vermelhos e enrolados sobre os ombros, pareciam que voavam numa constante ventania insensível. Poliana se pos de costas e voltara para o interior da casa. Anne não podia deixar o que quer que fosse atrapalhar os seus planos. Então seguiu Poliana e reparou quando ela pos a mão sobre o telefone. Sem pensar rapidamente pegou uma estátua de madeira que adornava um dos cantos da sala magicamente decorada e por trás atingiu a cabeça de Poliana. A mulher caiu no chão desacordada, mas o tapete persa abafou a queda, e Anne deu graças a isso. Chamar a atenção de Humberto àquela hora estragaria seus planos. Devagar Anne foi caminhando pelo corredor olhando cada porta e realmente desejando não encontrar o quarto de Humberto, mas como nem tudo são felicidades, lá estava. A terceira porta a direita. Anne nunca esteve no quarto de Humberto, nem daquele apartamento onde levava quase todas as garotas da cidade, somente as ricas, é claro!

Ali era tudo muito simples o que deixava tudo mais sofisticado. Sem perceber Anne caminhou até a cama de Humberto onde ele estava deitado de barriga pra cima com os olhos fechados e as mãos sobre o forte peito nu. Olhando aquele rosto tão de perto de novo Anne até conseguia sentir o que sentira antes, mas seu bebê estava tão perto que fazia do amor dela por Humberto quase umas cócegas no coração, algo que um dia foi bom, mas não é mais. E aos poucos o sentimento de raiva, ódio e vingança foram crescendo dentro de Anne, a intensidade do amor que um dia ela sentiu por aquele homem era somada a força do tempo que Anne sofreu por ele. E não dizem que a vingança é um prato que se come frio? Então. O prato de Humberto já havia passado da hora de ser comido.

Anne queria sentir o que sentiu naquela noite no apartamento de Humberto de novo. Alívio. Foi tão bom pra ela acreditar que ele estava morto. Ele representava todos os seus problemas em uma só pessoa. Mas o que ajudaria ela nisso? Anne correu o olho pelo quarto a procura de algo cortante, a forma perfeita de matar Humberto sem fazer alarde, sem chamar a atenção dos vizinhos só ia fazer um pouco de sujeira, mas o que seria um pouco de sangue pra alguém que causou muito mais dor a milhares de pessoas. Anne só sentia pelo lençol de linho. “Tão bonito, a Poliana deve ter gastado um tempo escolhendo esse.” Sem sucesso na sua busca superficial Anne não achou nada mais interessante do que uma caneta de pena que estava no criado mudo ao lado de Humberto. Com medo de acordar ele, Anne sabia que se isso acontecesse ela não teria tantas chances como da primeira vez afinal, ele estava bêbado aquele dia e se ele acordasse ali, naquele momento, teria total vantagem sobre ela. Pegou a caneta cuidadosamente e num só golpe enviou o objeto na garganta de Humberto e sentiu o sangue dele quente na mão. Ele arregalou os olhos assustado e numa tentativa de total desespero apertou o pulso de Anne com força, rapidamente os dedos foram afrouxando em torno do braço da menina e Humberto foi ficando mais branco do que já era. Para garantir que dessa vez ele não sobrevivesse Anne voltou a golpear o ex-amor duas, três, quatro vezes. E quando o sangue já fazia parte do quarto, Anne percebeu que junto ao líquido vermelho traços azuis desenhavam o curso que o sangue fazia do pescoço de Humberto, passando pelo travesseiro, pelos lençóis, até o chão. Era a tinta da caneta que se misturava com o sangue. Dessa vez ela não podia deixar de verificar, pegando os pulsos de Humberto para ver se ainda tinham vida Anne sentiu pela última vez o coração dele, será que um dia ele amou alguém como ela o amou? Espero que sim porque agora não dava mais tempo. Passando a mão sobre a parte ainda limpa do lençol para limpar as mãos sujas de sangue, ela subiu os olhos para ver o rosto dele de perto pela última vez. E lá estavam eles: Os malditos olhos azuis outra vez, agora tão sem brilho comparado ao que era antes. Olhando pra eles Anne lembrou de que foi a primeira coisa que ela viu em Humberto. Os olhos. E ali ela teve certeza que foi por eles que ela se apaixonou o resto foi conseqüência de encantamento. E sentindo bem no fundo, uma nostalgia gostosa de como era bom olhar para aqueles olhos tão bonitos e brilhantes olhando pra ela, Anne incontrolavelmente começou a chorar.

Uma lágrima de Anne Marrie caiu e escorria também no rosto de Humberto, suavemente ela passou a mão sobre as pálpebras dele. E assim foi o fim de Humberto: Morto com uma caneta por uma menina de 18 anos. Consequência de um erro que ele não pode se desculpar (e duvido que o faria) e não vai poder cometer de novo graças a Anne. Ela estava certa, ele mexeu com a garota errada.

Ainda com as mãos um pouco sujas de sangue Anne secava as lágrimas no rosto enquanto de volta para o corredor procurava o quarto do filho e que sem dúvida era o último do corredor, o que trazia os dizeres na porta: “A CEGONHA PASSOU POR AQUI”.

Anne abriu a porta devagar e caminhou até o berço, como o resto da casa o quarto também era impecável na decoração, um urso gigante, realmente gigante, quase do tamanho da porta era um dos milhões de brinquedos decorativos que estavam espalhados pelo quarto. Tudo com tema de urso. Anne voltou a se emocionar quando estava perto de pegar seu bebê, abraça-lo pela primeira vez. Quando afastou o mosquiteiro que estava em volta do berço Anne não acreditou quando viu um bebezinho de mais ou menos um ano deitadinho de lado e na cabeça trazia um grande laço. Laço? O vestido rosa dava um toque todo especial ao pequeno ser humano, as orelhas furadas, a pulseirinha de ouro no pulso com o nome “Amanda” quase não dava pra ver no meio das dobrinhas. Anne ficou parada olhando aquela menininha dormindo calmamente, chegou a olhar pelo quarto procurando outro berço, cesta, cama ou algum menino quase da mesma idade, mas que fosse um menino. O filho dela. Só havia uma maneira de saber se a menininha não era menininho, e rapidamente Anne retirou a fralda da menina, para alivio dela estava limpa, e ali estava a prova. Aquele bebê não era dela. Roger estava certo, Humberto não estava com o filho de Anne Marrie. Talvez não tivesse sido mais fácil ter batido na porta e perguntado? Agora Anne estava com um assassinato na mão ao invés do filho.

Troca justa?

sábado, 7 de junho de 2008

Capítulo 6: No "Café das Marias" com Anne Marrie

1988: Amanhece em São Paulo. Passados exatamente 11 meses depois do nascimento do... ? É. O bebê de Anne Marrie não tinha um nome. Talvez isso a preocupasse se ela tivesse um bebê para chamar. Humberto havia sumido. A família Fonseca se recusava a dar o novo endereço do herdeiro mesmo que Anne insistisse, mesmo que Juliana e Alice dissessem a ela para parar, mesmo que ela fosse presa por invadir o antigo apartamento de Beto. O que ela podia fazer? Como ela iria recuperar seu filho que foi roubado? Ela sabia que ele era o pai, mas acima de tudo ela era a mãe, foi ela que o carregou durante meses, foi ela quem fez 2 minutos de xixi, foi ela que quase, eu disse quase, se tornou uma assassina. E Humberto era um ladrão, sem quase, simplesmente era. Ou não? É certo que ele tinha direitos. Segundo Anne: Quais? Sem ser politicamente correta, Anne acreditava que uma coisa Humberto não podia querer, criar um filho. Sem essa conversa de que ele também é pai, afinal tudo começou quando ele quis se privar do direito disso. Porque naquele momento? Porque quando ela aprendeu a amar alguém mais do que ele? E porque ele realmente queria ser pai? Porque ele não desejou isso antes?

Bem, vamos começar a responder essas perguntas.

Anne ainda estava morando no castelinho com Juliana e entre uma tentativa e outra, ambas frustradas de descobrir o paradeiro de Humberto, Anne terminou o colégio, supletivamente falando. Foi o modo mais rápido e fácil que conseguiu de agradar seu pai, sem perder tempo. Ao contrário da vida da irmã, para Alice nada havia mudado. Ela ainda estudava muito, ainda medicina, e ainda sem namorado. Perfeito para Otton e não para Alice. Juliana estava trabalhando de secretária num escritório de publicidade durante o dia. A noite, só fazia namorar, ainda escondido. Até de Anne. Juliana acreditava que expor seu relacionamento para Anne, deixaria a amiga com inveja. Quando na verdade Anne nem pensava em um homem naquele momento, e sim em um homem e meio. Humberto e o bebê.

A Society havia parado de publicar fotos de Humberto, Anne não sabia o porquê. Talvez por um pedido carinhoso “$” da família Fonseca, ou pelo simples motivo de ele não estar mais indo a festas. Cuidar de um neném são necessários dedicação e tempo livre. O que Anne não conseguia entender é porque todo esse esforço de Beto pra criar essa criança se há meses atrás ele a teria matado.

Todos os dias a mãe sem filho saía de manhã para ver o pai na clínica da família, onde agora Alice estava fazendo estágio. As duas conversavam muito sobre o possível paradeiro de Humberto. E realmente Anne imaginou que depois que o bebê nascesse a palavra Humberto desapareceria da sua boca. Mas ela estava enganada e nunca desejou tanto, deixar de pensar em Beto.

_Eu duvido que ele esteja na cidade. _Disse Alice, enquanto segurava seu copinho de café.

_É provável que ele tenha saído. _Disse Anne. As duas estavam na cantina da clínica. _Se não eu já teria visto ele.

_Anne? Vai fazer um ano. _Disse Alice.

_Eu sei. E é isso que me incomoda. _Disse Anne, olhando paro os dedos da mão. _Pensar que meu filho já vai fazer um ano e eu o vi só uma vez.

_O quê que ele quer? _Disse Alice. _Ele nunca quis esse menino. Foi por isso, que tudo aconteceu.

_O que me lembra de que era pra eu ter matado ele. _Disse Anne.

_Não. O que te lembra que era pra ele ter morrido. _Disse Alice. _E que se fosse isso, de todo jeito há essa hora você também não estaria com seu filho. A não ser que nas penitenciárias exista berçário.

_É. _Anne sorriu forçadamente. Coisa rara.

_Olha Anne. _Começou Alice. _Uma hora ele vai aparecer.

_Não. Não vai. Porque se não já teria feito. _Disse Anne. _Isso tudo é por vingança. Minha culpa.

_Não. _Disse Alice. _Talvez ele realmente quisesse esse filho.

_Pra quê? _Perguntou Anne. _Se você estivesse naquele apartamento aquele dia, você saberia que isso não é verdade. Lice eu sofri tudo por causa disso. Por que ele não queria o bebê.

_Mas então isso nunca vai terminar Anne? Essa busca? _Disse Alice.

_Não, por minha parte não. _Disse Anne, olhando para Alice firmemente.

_Vai ser preciso o quê heim? Pra você parar. Invadir o apartamento dele de novo? Você foi pra cadeia. _Disse Alice, deixando o café sobre a mesa.

_Achei que poderia, sei lá, descobrir alguma coisa. _Disse Anne.

_Anne a vida não é um filme. Nem tudo deixa pistas, talvez porque não exista nada pra se seguir. _Disse Alice. _O que tinha que ser feito já foi feito, a polícia está alerta.

_O pior é que nem dá pra processar o hospital. Porque ele é meu. _Disse Anne sorrindo.

Alice sorriu em seguida.

_Desista Anne. _Disse Alice.

_Desistir Lice? _Disse Anne. _Disso você entende né? Desistiu da sua vida pra viver a do papai.

Alice ficou sem graça e ia se levantando, quando Anne a puxou de volta na cadeira arrependida do que disse.

_Olha, desculpa Lice. _Disse Anne, olhando pra Alice diretamente nos olhos. _Eu estou uma pilha. Me perdoa.

_Tudo bem Anne. Não tem problema. _Disse Alice. _Eu é que devia me desculpar. O que você disse é verdade eu não tenho minha própria vida e acho que os outros também não tem direito.

_Quê isso Lice. Não. Não é assim. _Disse Anne. _Você fez escolhas, mas ainda é sua vida.

_Eu sempre decidi por ele, nunca por mim. _Disse Alice. _Eu não queria estar aqui Anne, você sabe que não. Eu preferiria estar onde a Juliana está agora. Trabalhar com publicidade deve ser fascinante.

_Então trabalha Lice. _Disse Anne. _O que te impedi?

_Anne, não vamos começar com isso. O fato do papai... _Disse Alice.

_Pára Alice. _Disse Anne. _Você sabe que essa história dele jogar a mamãe contra nós, já foi. Quando a gente era menor beleza mas, agora.

_É mais do que isso Anne. A mamãe... _Disse Alice.

_Você realmente acha que a mamãe queria te ver infeliz? _Disse Anne.

_Mas eu não sou infeliz. _Disse Alice. _Tem gente por ai que não tem a mesma oportunidade que eu to tendo.

_Alice? Pelo amor de Deus. _Disse Anne. _Você vai ficar se promovendo a custa dos outros?

_Hã? Não, eu só... _Disse Alice.

_Sua vida não é boa só porque existe gente mais infeliz que você. _Disse Anne. _Que pensamento egoísta.

_Anne você sabe que as coisas não são simples assim. _Disse Alice. _Eu já estou quase me formando e quando acabar tudo. Quando eu fizer o que ele me pediu eu vou poder fazer o que eu quero e sem depender dele.

_Quem te garante que ele não vai te pedir outra coisa? _Disse Anne, segurando a mão de Alice.

_Anne. Eu provavelmente vou trabalhar aqui. _Disse Alice retribuindo o aperto de mão da irmã. _Isso é o máximo que ele pode pedir.

_Você não consegue dizer não. _Disse Anne.

_Vamos parar Anne? Eu tenho que fazer muita coisa aqui hoje. _Disse Alice se livrando das mãos de Anne.

_Olha Lice desculpa ta? _Disse Anne percebendo o desconforto da irmã. _Eu só estou tentando ser sua irmã e te falar...

_Ser irmã Anne? _Disse Alice já de pé. _É isso que eu tenho sido esse tempo todo, ser sua irmã. Acobertei suas mentiras, suas traições, tudo. Pra que ele não soubesse de nada e ainda acreditasse que você era uma boa filha.

Anne ficou olhando para Alice.

_Um ótimo exemplo de comportamento. _Disse Alice.

_Lice eu... _Começou Anne.

_Não Anne, você acabou por hoje. _Disse Alice.

_Você tem razão. Depois de tudo que eu fiz, mesmo assim o papai não me rejeitou. _Disse Anne.

_Não rejeitou porque eu pedi pra ele não fazer isso né Anne? _Disse Alice.

_Não. É pelo simples motivo de ele ser meu pai. _Disse Anne.

_Hã? _Questionou Alice.

_É Lice. Você já experimentou falar pra ele o que você quer da vida? Pediu pra ele te deixar em paz? _Disse Anne. _Não né. Sabe por quê? Porque você tem medo que ele se decepcione.

_Igual aconteceu com você? _Disse Alice na sua desesperada tentativa de ficar brava. _É. Eu tenho medo sim.

_Pois então você devia correr o risco. _Disse Anne aos e levantar e apanhar a bolsa.

_Não Anne, quem gosta de correr riscos aqui é você. Talvez seja por isso que é você que esta correndo atrás do seu filho de UM ano que você viu apenas uma vez. _Disse Alice antes de virar as contas e entrar por um corredor no fim do salão da cantina.

Anne não se zangou com as coisas que a irmã disse, ela entendia a fúria momentânea de Alice.

Todos que estavam sentados na cantina àquela hora tentavam não olhar pra Anne que estava ali em pé, revirando a bolsa a procurar por seus óculos. Quando finalmente achou o fashion objeto e o encaixou por trás das orelhas, ela seguiu desfilando pelos corredores do hospital rumo a porta de saída. Com uma beleza soberana Anne trocava os pés na frente do corpo, desviando olhares, fazendo os maridos levarem pequenos beliscões nos braços e as esposas morrerem de inveja de tamanho refinamento e noção de moda.

Anne Marrie se tornara diferente depois do nascimento do bebê, uma maturidade se apoderou da garota. Ela via as coisas com outros olhos. Nada que passasse a sua frente, ou que atravessasse seus olhos não era automaticamente ligado ao bebê. Tudo era pra ele, ou pelo menos deveria ser. No castelinho, o berço amarelo recostava sobre uma parede a espera de seu recheio. Seguindo pistas falsas, vagas e sem muita credibilidade Anne passava seu dia. Herdeira de uma fortuna, ela não se preocupava em ter emprego, na verdade só terminou os estudos por insistência de Otton. Mesmo assim já havia pensado em entrar para o mundo da moda.

Aquela manhã parecia calma, no caminho de volta para casa tudo estava normalmente... Normal. Nada chamava a atenção de Anne em meio às pessoas que passavam, iam e vinham. Exceto quando um ser em especial lhe fez torcer o pescoço. Anne parou imediatamente, fazendo algumas pessoas esbarrarem nas suas costas.

“_Presta atenção!

_Sai da frente, oh dona!

_Se mexe, garota! Vai andando menina!”

Essas e outras frases mais imundas saíram da boca dos pedestres que vinham atrás de Anne. E parecendo não ouvir as palavras que surgiam ao pé do seu ouvido Anne continuou ali parada olhando a nuca de uma pessoa que ela reconheceu assim que a viu, mas só podia confirmar alguma coisa se visse o rosto, então se pôs a andar em direção contrária a multidão. Nadando contra a corrente humana, Anne trançava por entre as pessoas atrás da pessoa que tanto lhe chamou a atenção. Perto a faixa de pedestres se formava um aglomerado de pessoas esperando o semáforo ficar verde, o homem misterioso se juntou as outras pessoas para alegria de Anne que conseguiu alcançar a nuca aparentemente familiar.

Controlando o impulso de cutucar o desconhecido Anne se dispôs ao seu lado em meio às pessoas, lentamente ela curvou o pescoço para poder ver o rosto do homem e antes que ela pudesse confirmar suas certezas o homem, que reparou que estava sendo encarado, virou o rosto para Anne. Era ele. Roger Fonseca, irmão mais velho de Humberto. Assustado com a presença de Anne ele olhou para os lados tentando acreditar no que ele estava vendo, pra ver se alguém mais via a pequena e linda garota parada ali ou se ela não passava apenas de um pesadelo.

_Anne? _Perguntou Roger, esperando não ouvir nada. Melhor que fosse um fantasma.

_Olá. _Respondeu Anne, sorrindo automaticamente tamanha era sua felicidade em ver alguma coisa que pudesse levá-la ao bebê. _Roger, não é?

_É sim. Como vai? _Disse Roger, forçando um pouco de educação.

_Não muito bem. Mas obrigado por perguntar. _Disse Anne.

O sinal abriu e as pessoas começaram a atravessar a rua. Roger e Anne também.

_Oh sinto muito por isso. Eu soube o que aconteceu, sinto muito. _Disse Roger, desejando que Anne fosse atropelada naquele instante.

_Então você sabe que seu irmão... _Começou Anne.

_Olha, eu estou muito atrasado agora. Me desculpe. _Disse Roger, apressando os passos.

_Se você está com pressa é melhor eu ser breve. _Disse Anne. _Onde ele está?

_Por favor, menina não comece com isso. A minha família tem o direito de viver em paz sem que você fique o tempo todo atrás de nós. _Disse Roger.

Os dois chegaram ao outro lado.

_Pare um momento. _Disse Anne, segurando o braço de Roger.

Roger retirou os dedos de Anne do seu braço com tanta rispidez que Anne sentiu a junta dos ombros se abalarem.

_Tire as mãos de mim garota! _Disse Roger, parando de frente com Anne. _Olha, eu não sei o que voc...

Roger parara de falar assustado e permaneceu com os olhos parados no horizonte, como quem avistava algo assustador.

_O quê? _Perguntou Anne ao se virar pra trás procurando o motivo de tanto espanto. Sem sucesso ela voltou a encarar Roger que continuava a olhar no horizonte, e parecendo recuperar os sentidos vitais ele se pos a falar:

_Olha! Você tem tempo pra tomar um café comigo?

_O quê? _Questionou Anne diante do convite inusitado de Roger. _Como assim? Há um minuto atrás você...

_É. Eu tenho alguns minutos na minha agenda. Está na hora de você saber um pouco do quê está acontecendo. É bem justo. _Disse Roger.

Anne ficou petrificada com o convite, mas sendo esse uma das melhores chances de descobrir algo sobre o bebê e o Humberto, Anne sorriu, como sempre, e disse:

_Tudo bem!

Os dois então andaram poucos passos até um café na esquina da avenida: Café das Marias.

A fachada histórica, dava ao lugar um belo destaque dentro de tantas curvas arquitetônicas das obras e edifícios ao lado. Com o letreiro em letras garrafais e chancelerescas, uma grande xícara de café derramava um líquido negro sobre a soleira da entrada. A porta dupla de madeira, ao estilo dos velhos salons de bang-bang dividia dois ambientes totalmente diferentes, do lado de fora a selva de carros, poluição, asfalto e prédios, quando do lado de dentro a palavra perfeição é pequena para descrever para os amantes de boa comida e conversa o quão perfeito era o Café das Marias.

Ao entrar Roger se aproximou de uma mesa vazia e puxou uma cadeira, Anne se aproximou e se sentou do lado oposto ao dele.

_Já almoçou? _Perguntou Roger.

_Ainda não. Mas estou sem fome. _Respondeu Anne ansiosa.

_Eu tinha marcado com uma pessoa, mas... Deixa pra lá. _Disse Roger correndo o olho pelo lugar. _Depois eu como qualquer coisa em casa.

_Você está morando aqui em São Paulo? _Perguntou Anne tirando os óculos e colocando na bolsa.

_Há muito tempo já. Deve ter uns dois anos. _Disse Roger, que não parava de correr os glóbulos oculares por todo café. Parecia preocupado em ser visto ali com Anne.

_O quê você tem? _Disse Anne, fingindo estar preocupada, quando na verdade queria logo começar o interrogatório.

_Não, nada. _Disse Roger. _E então? Afinal o que você quer de nós.

_Eu quero ele. _Disse Anne rapidamente.

Roger arregalou o olho e pela primeira vez desde que entrou ali olhou para o rosto angelical de Anne.

_Quer dizer... Ele não. Não o Humberto. Mas o meu filho. _Disse Anne, percebendo que estava indo rápido demais.

_Desculpe a resposta, mas... O quê que eu tenho a ver com isso? _Perguntou Roger.

_Tudo. Você é irmão dele. _Disse Anne.

_E o quê diabos o Humberto tem a ver com seu filho? Tirando o fato é claro de ele ser o pai do bebê. _Disse Roger, sempre olhando pra todos os lados.

_Ah, por favor, não vamos começar um joguinho aqui ta bem? _Disse Anne. _Eu estou aqui porque quero meu filho de volta.

_Que jogo? Eu não estou jogando não menina. Meu Deus, você é criança mesmo heim! _Disse Roger, olhando para Anne.

_O quê? _Disse Anne. _Está bem, eu sou criança? Beleza! Porque você quis tomar café aqui comigo então?

_Eu vim tentar tirar você do pé da nossa família. _Disse Roger. _Não basta ter arrastado o nome da minha família na lama?

_EU? _Se irritou Anne. _Se tudo isso é culpa de alguém, é sem dúvida tudo culpa dele, do seu irmão.

_Eu só quero saber o que você quer? _Disse Roger.

_Vai me oferecer dinheiro? Você sabe quem eu sou? _Perguntou Anne.

_Garota, fala logo o que você quer, não estou falando de dinheiro. _Disse Roger, tirando um maço de cigarro do bolso da jaqueta.

_Eu quero saber onde ele está? _Perguntou Anne enquanto ele acendia a um cigarro.

_Pra quê? _Perguntou Roger, soprando a fumaça no ar. _Você ainda gosta dele não é?

_O quê? Não. _Respondeu Anne. _Eu quero saber onde ele está pra eu poder pegar meu filho de volta.

_Quem escuta assim, nem acredita que você já é mãe. Olha essa carinha. _Disse Roger.

_Pra quê isso aqui heim? Fala logo. _Disse Anne.

_Que filho menina? Quem disse que o Beto está com seu neném? _Perguntou Roger, com a boca semi-aberta segurando o cigarro nos lábios enquanto guardava o maço no mesmo bolso da jaqueta.

_Pára de fazer perguntas. Sou eu que quero respostas. Não vamos gastar seu tempo tão precioso. _Disse Anne.

_Na verdade, eu já perdi meu encontro mesmo. _Disse Roger, se virando na cadeira para observara porta de entrada.

_Vou perguntar de novo. Cadê ele? _Disse Anne.

_Ele está bem longe daqui. Na verdade não é muito lon... _Começou Roger.

_Onde? _Perguntou Anne.

_Rio de Janeiro. _Disse Roger.

_Rio? _Disse Anne. _Há quanto tempo ele está lá.

_Desde quando ele se casou. _Disse Roger.

_Casou? _Perguntou Anne, chocada com a novidade. Se fosse antes do bebê, ela sofreria muito.

_É. _Disse Roger. _Ano passado. Desculpa, ele não ter mandado o convite, é que...

_Pára! _Disse Anne. _Eu quero distância daquele ali, eu só to tentando entender o porque de ele ter rouba... Mas é claro, pra ter a família perfeita não é?

_É porque a Poliana... _Tentou Roger terminar a frase.

_Poliana? _Perguntou Anne, abrindo um leve sorriso por puro sexto sentido. Era tudo tão claro. _Ela é estéril ou o quê?

_Eles não estão com seu bebê Anne. _Disse Roger.

_Mas então cadê ele? Porque na noit... _Disse Anne.

_É impossível ele estar com ele. _Disse Roger.

_Por quê? _Perguntou Anne.

_Por que metade da polícia está em cima desse caso. Do seu caso. A qualquer novidade a imprensa está pronta, esperando o próximo escândalo da família Fonseca. _Disse Roger. _Humberto não iria envergonhar o nosso nome...

_Ah besteira! Vocês sempre acobertaram tudo que ele aprontou, e não foi nada leve ta. _Disse Anne.

_Não depois de você. _Disse Roger, soprando fumaça enquanto falava. _Qualquer dinheiro que a gente ofereça não chega nem perto do que as revistas podem ganhar publicando alguma matéria de vocês dois.

_Mas é essa a certeza que eu sei de que ele não roubou meu filho? _Perguntou Anne.

_Quer mais? _Perguntou Roger, olhando para fora através da vitrine.

_É claro! Já que ele está longe de tudo, seria fácil esconder um bebê... _Começou Anne.

_Ah menina você sabe que não. A imprensa desconhece agora onde ele está morando, mas isso é uma questão de tempo. _Disse Roger.

_E? _Questionou Anne.

_Anne! Você não conhece meu irmão? Você ainda consegue achar alguma razão pra ele ter roubado seu bebê? Sério. Foi por causa dele esse escândalo todo, não foi? Por que ele iria querer tanto o bebê agora?

_Eu esperava que você me respondesse, mas pelo visto. _Disse Anne.

_Olha. Eu te garanto que o bebê não está lá, beleza? _Disse Roger.

_Ah claro! Agora eu vou cair na conversa do outro irmão. Acho que ainda não aprendi a lição. _Disse Anne. _Eu só quero saber onde?

_Mesmo que você saiba, não iria adiantar. _Começou Roger, se erguendo no assento. _No dia que seu bebê... É menino ou menina?

_Menino. _Respondeu Anne revirando os olhos, afinal que importância fazia aquilo.

_Então. No dia em que seu Menino nasceu o Humberto não estava em São Paulo. _Disse Roger.

_Quando vocês combinaram de dizer isso? Vocês já sabiam que eu iria passar por aqui ou foi coincidência? _Zombou Anne.

_Ele não estava aqui, porque ele estava se casando. _Disse Roger.

_Ah pára de enrolação Roger! O casamento de um Fonseca não teve nem uma nota na imprensa? _Disse Anne.

_Foi um casamento privado. _Começou Roger. _Só no civil, ninguém soube.

_Olha Roger eu não vou ficar aqui, ouvindo você tentando me convencer que o Humberto é inocente. _Disse Anne enquanto empunhava a bolsa no braço e se levantava.

_Mas ele é. Pelo menos isso ele não fez... _Disse Roger.

_ELE ACABOU COM A MINHA VIDA! _Gritou Anne, e todos ali olharam pra ela.

Roger encarava a garota com um olhar de pena.

Anne se sentou novamente e repetiu baixinho:

_Ele acabou com a minha vida! O que ele fez, eu não digo que aceitei ou perdoei, mas consegui superar, mas o meu filho. Pra quê tirar isso de mim? Por que vocês todos me castigam? _Disse Anne com lágrimas nos olhos.

_Não tem a gente. Não é um complô nem nada disso menina. A nossa família só quer ficar longe de você. Anne, você não representa pra nós um exemplo de pessoa. Não venha se colocar de vítima, porque sei lá. Mas pela sua idade, você sabia no que estava se metendo. Você não é a primeira do Humberto, você sabe disso. E porque tudo isso aconteceu só com você? _Disse Roger.

_Porque ele mexeu com a garota errada. _Disse Anne secando as lágrimas com as mãos.

_Certo. É esse o problema, você. _Disse Roger, apagando o cigarro no cinzeiro da mesa. _Aconteceu tudo diferente de antes, porque foi com você. Você é diferente.

_Mas isso justifica alguma coisa? _Disse Anne. _O quê isso? Você espera que aceite tudo isso que você está falando de mim. Virando o jogo, dizendo que eu sou a culpada. É pra isso que você me chamou aqui?

_Não Anne. _Disse Roger. _Eu te chamei pra ver de perto o que todos falavam sobre você. E pensar que o Beto quase morreu nas suas mãos.

_Eu vou embora! _Anne se levantou no ato e seguiu para a porta.

Roger chamou:

_Anne?

E antes que ela chegasse à saída, parou e se virou lentamente com os olhos virados para o teto esperando ouvir mais uma grosseria de Roger.

_Rua Almerinda, número 76, Leblon. _Disse Roger ainda sentado na mesma posição olhando para a fumaça do cigarro que subia e dançava pelo ar.

Anne anotou o endereço mentalmente e sorriu em seguida:

_Porque você está me ajudando?

_Porque meu irmão mexeu com a menina errada. _Disse Roger.

Anne se aproximou da mesa devagar e de novo de frente com Roger disse:

_Não faz sentido. Você fazer isso tudo por mim. _Disse Anne.

_Não é por você, menina! É pela minha família. Aproveite que ele esta longe e resolva o que tiver de resolver com ele. Eu tentei evitar sua decepção. Ele não está com o seu filho. _Disse Roger.

_Vamos ver então! _Disse Anne e em seguida colocou os óculos no rosto e seguindo para a saída do café.

Andando no meio da multidão Anne se sentia radiante, enfim estava próxima de se encontrar com Humberto de novo. Mas o melhor de tudo era na verdade ver seu filho, durante todo esse tempo cuidado por outras pessoas, como ele reagiria ao ver à verdadeira mãe? Essas questões passavam ligeiras pela cabeça de Anne, não eram páreo o bastante para tanta felicidade e ansiedade. Seguindo direto para o aeroporto Anne parou um táxi e se jogou rápido dentro dele. E como há um ano atrás ela atravessou São Paulo dentro de um carro e como da primeira vez ela iria dar a luz a seu filho. De novo.