sábado, 7 de junho de 2008

Capítulo 6: No "Café das Marias" com Anne Marrie

1988: Amanhece em São Paulo. Passados exatamente 11 meses depois do nascimento do... ? É. O bebê de Anne Marrie não tinha um nome. Talvez isso a preocupasse se ela tivesse um bebê para chamar. Humberto havia sumido. A família Fonseca se recusava a dar o novo endereço do herdeiro mesmo que Anne insistisse, mesmo que Juliana e Alice dissessem a ela para parar, mesmo que ela fosse presa por invadir o antigo apartamento de Beto. O que ela podia fazer? Como ela iria recuperar seu filho que foi roubado? Ela sabia que ele era o pai, mas acima de tudo ela era a mãe, foi ela que o carregou durante meses, foi ela quem fez 2 minutos de xixi, foi ela que quase, eu disse quase, se tornou uma assassina. E Humberto era um ladrão, sem quase, simplesmente era. Ou não? É certo que ele tinha direitos. Segundo Anne: Quais? Sem ser politicamente correta, Anne acreditava que uma coisa Humberto não podia querer, criar um filho. Sem essa conversa de que ele também é pai, afinal tudo começou quando ele quis se privar do direito disso. Porque naquele momento? Porque quando ela aprendeu a amar alguém mais do que ele? E porque ele realmente queria ser pai? Porque ele não desejou isso antes?

Bem, vamos começar a responder essas perguntas.

Anne ainda estava morando no castelinho com Juliana e entre uma tentativa e outra, ambas frustradas de descobrir o paradeiro de Humberto, Anne terminou o colégio, supletivamente falando. Foi o modo mais rápido e fácil que conseguiu de agradar seu pai, sem perder tempo. Ao contrário da vida da irmã, para Alice nada havia mudado. Ela ainda estudava muito, ainda medicina, e ainda sem namorado. Perfeito para Otton e não para Alice. Juliana estava trabalhando de secretária num escritório de publicidade durante o dia. A noite, só fazia namorar, ainda escondido. Até de Anne. Juliana acreditava que expor seu relacionamento para Anne, deixaria a amiga com inveja. Quando na verdade Anne nem pensava em um homem naquele momento, e sim em um homem e meio. Humberto e o bebê.

A Society havia parado de publicar fotos de Humberto, Anne não sabia o porquê. Talvez por um pedido carinhoso “$” da família Fonseca, ou pelo simples motivo de ele não estar mais indo a festas. Cuidar de um neném são necessários dedicação e tempo livre. O que Anne não conseguia entender é porque todo esse esforço de Beto pra criar essa criança se há meses atrás ele a teria matado.

Todos os dias a mãe sem filho saía de manhã para ver o pai na clínica da família, onde agora Alice estava fazendo estágio. As duas conversavam muito sobre o possível paradeiro de Humberto. E realmente Anne imaginou que depois que o bebê nascesse a palavra Humberto desapareceria da sua boca. Mas ela estava enganada e nunca desejou tanto, deixar de pensar em Beto.

_Eu duvido que ele esteja na cidade. _Disse Alice, enquanto segurava seu copinho de café.

_É provável que ele tenha saído. _Disse Anne. As duas estavam na cantina da clínica. _Se não eu já teria visto ele.

_Anne? Vai fazer um ano. _Disse Alice.

_Eu sei. E é isso que me incomoda. _Disse Anne, olhando paro os dedos da mão. _Pensar que meu filho já vai fazer um ano e eu o vi só uma vez.

_O quê que ele quer? _Disse Alice. _Ele nunca quis esse menino. Foi por isso, que tudo aconteceu.

_O que me lembra de que era pra eu ter matado ele. _Disse Anne.

_Não. O que te lembra que era pra ele ter morrido. _Disse Alice. _E que se fosse isso, de todo jeito há essa hora você também não estaria com seu filho. A não ser que nas penitenciárias exista berçário.

_É. _Anne sorriu forçadamente. Coisa rara.

_Olha Anne. _Começou Alice. _Uma hora ele vai aparecer.

_Não. Não vai. Porque se não já teria feito. _Disse Anne. _Isso tudo é por vingança. Minha culpa.

_Não. _Disse Alice. _Talvez ele realmente quisesse esse filho.

_Pra quê? _Perguntou Anne. _Se você estivesse naquele apartamento aquele dia, você saberia que isso não é verdade. Lice eu sofri tudo por causa disso. Por que ele não queria o bebê.

_Mas então isso nunca vai terminar Anne? Essa busca? _Disse Alice.

_Não, por minha parte não. _Disse Anne, olhando para Alice firmemente.

_Vai ser preciso o quê heim? Pra você parar. Invadir o apartamento dele de novo? Você foi pra cadeia. _Disse Alice, deixando o café sobre a mesa.

_Achei que poderia, sei lá, descobrir alguma coisa. _Disse Anne.

_Anne a vida não é um filme. Nem tudo deixa pistas, talvez porque não exista nada pra se seguir. _Disse Alice. _O que tinha que ser feito já foi feito, a polícia está alerta.

_O pior é que nem dá pra processar o hospital. Porque ele é meu. _Disse Anne sorrindo.

Alice sorriu em seguida.

_Desista Anne. _Disse Alice.

_Desistir Lice? _Disse Anne. _Disso você entende né? Desistiu da sua vida pra viver a do papai.

Alice ficou sem graça e ia se levantando, quando Anne a puxou de volta na cadeira arrependida do que disse.

_Olha, desculpa Lice. _Disse Anne, olhando pra Alice diretamente nos olhos. _Eu estou uma pilha. Me perdoa.

_Tudo bem Anne. Não tem problema. _Disse Alice. _Eu é que devia me desculpar. O que você disse é verdade eu não tenho minha própria vida e acho que os outros também não tem direito.

_Quê isso Lice. Não. Não é assim. _Disse Anne. _Você fez escolhas, mas ainda é sua vida.

_Eu sempre decidi por ele, nunca por mim. _Disse Alice. _Eu não queria estar aqui Anne, você sabe que não. Eu preferiria estar onde a Juliana está agora. Trabalhar com publicidade deve ser fascinante.

_Então trabalha Lice. _Disse Anne. _O que te impedi?

_Anne, não vamos começar com isso. O fato do papai... _Disse Alice.

_Pára Alice. _Disse Anne. _Você sabe que essa história dele jogar a mamãe contra nós, já foi. Quando a gente era menor beleza mas, agora.

_É mais do que isso Anne. A mamãe... _Disse Alice.

_Você realmente acha que a mamãe queria te ver infeliz? _Disse Anne.

_Mas eu não sou infeliz. _Disse Alice. _Tem gente por ai que não tem a mesma oportunidade que eu to tendo.

_Alice? Pelo amor de Deus. _Disse Anne. _Você vai ficar se promovendo a custa dos outros?

_Hã? Não, eu só... _Disse Alice.

_Sua vida não é boa só porque existe gente mais infeliz que você. _Disse Anne. _Que pensamento egoísta.

_Anne você sabe que as coisas não são simples assim. _Disse Alice. _Eu já estou quase me formando e quando acabar tudo. Quando eu fizer o que ele me pediu eu vou poder fazer o que eu quero e sem depender dele.

_Quem te garante que ele não vai te pedir outra coisa? _Disse Anne, segurando a mão de Alice.

_Anne. Eu provavelmente vou trabalhar aqui. _Disse Alice retribuindo o aperto de mão da irmã. _Isso é o máximo que ele pode pedir.

_Você não consegue dizer não. _Disse Anne.

_Vamos parar Anne? Eu tenho que fazer muita coisa aqui hoje. _Disse Alice se livrando das mãos de Anne.

_Olha Lice desculpa ta? _Disse Anne percebendo o desconforto da irmã. _Eu só estou tentando ser sua irmã e te falar...

_Ser irmã Anne? _Disse Alice já de pé. _É isso que eu tenho sido esse tempo todo, ser sua irmã. Acobertei suas mentiras, suas traições, tudo. Pra que ele não soubesse de nada e ainda acreditasse que você era uma boa filha.

Anne ficou olhando para Alice.

_Um ótimo exemplo de comportamento. _Disse Alice.

_Lice eu... _Começou Anne.

_Não Anne, você acabou por hoje. _Disse Alice.

_Você tem razão. Depois de tudo que eu fiz, mesmo assim o papai não me rejeitou. _Disse Anne.

_Não rejeitou porque eu pedi pra ele não fazer isso né Anne? _Disse Alice.

_Não. É pelo simples motivo de ele ser meu pai. _Disse Anne.

_Hã? _Questionou Alice.

_É Lice. Você já experimentou falar pra ele o que você quer da vida? Pediu pra ele te deixar em paz? _Disse Anne. _Não né. Sabe por quê? Porque você tem medo que ele se decepcione.

_Igual aconteceu com você? _Disse Alice na sua desesperada tentativa de ficar brava. _É. Eu tenho medo sim.

_Pois então você devia correr o risco. _Disse Anne aos e levantar e apanhar a bolsa.

_Não Anne, quem gosta de correr riscos aqui é você. Talvez seja por isso que é você que esta correndo atrás do seu filho de UM ano que você viu apenas uma vez. _Disse Alice antes de virar as contas e entrar por um corredor no fim do salão da cantina.

Anne não se zangou com as coisas que a irmã disse, ela entendia a fúria momentânea de Alice.

Todos que estavam sentados na cantina àquela hora tentavam não olhar pra Anne que estava ali em pé, revirando a bolsa a procurar por seus óculos. Quando finalmente achou o fashion objeto e o encaixou por trás das orelhas, ela seguiu desfilando pelos corredores do hospital rumo a porta de saída. Com uma beleza soberana Anne trocava os pés na frente do corpo, desviando olhares, fazendo os maridos levarem pequenos beliscões nos braços e as esposas morrerem de inveja de tamanho refinamento e noção de moda.

Anne Marrie se tornara diferente depois do nascimento do bebê, uma maturidade se apoderou da garota. Ela via as coisas com outros olhos. Nada que passasse a sua frente, ou que atravessasse seus olhos não era automaticamente ligado ao bebê. Tudo era pra ele, ou pelo menos deveria ser. No castelinho, o berço amarelo recostava sobre uma parede a espera de seu recheio. Seguindo pistas falsas, vagas e sem muita credibilidade Anne passava seu dia. Herdeira de uma fortuna, ela não se preocupava em ter emprego, na verdade só terminou os estudos por insistência de Otton. Mesmo assim já havia pensado em entrar para o mundo da moda.

Aquela manhã parecia calma, no caminho de volta para casa tudo estava normalmente... Normal. Nada chamava a atenção de Anne em meio às pessoas que passavam, iam e vinham. Exceto quando um ser em especial lhe fez torcer o pescoço. Anne parou imediatamente, fazendo algumas pessoas esbarrarem nas suas costas.

“_Presta atenção!

_Sai da frente, oh dona!

_Se mexe, garota! Vai andando menina!”

Essas e outras frases mais imundas saíram da boca dos pedestres que vinham atrás de Anne. E parecendo não ouvir as palavras que surgiam ao pé do seu ouvido Anne continuou ali parada olhando a nuca de uma pessoa que ela reconheceu assim que a viu, mas só podia confirmar alguma coisa se visse o rosto, então se pôs a andar em direção contrária a multidão. Nadando contra a corrente humana, Anne trançava por entre as pessoas atrás da pessoa que tanto lhe chamou a atenção. Perto a faixa de pedestres se formava um aglomerado de pessoas esperando o semáforo ficar verde, o homem misterioso se juntou as outras pessoas para alegria de Anne que conseguiu alcançar a nuca aparentemente familiar.

Controlando o impulso de cutucar o desconhecido Anne se dispôs ao seu lado em meio às pessoas, lentamente ela curvou o pescoço para poder ver o rosto do homem e antes que ela pudesse confirmar suas certezas o homem, que reparou que estava sendo encarado, virou o rosto para Anne. Era ele. Roger Fonseca, irmão mais velho de Humberto. Assustado com a presença de Anne ele olhou para os lados tentando acreditar no que ele estava vendo, pra ver se alguém mais via a pequena e linda garota parada ali ou se ela não passava apenas de um pesadelo.

_Anne? _Perguntou Roger, esperando não ouvir nada. Melhor que fosse um fantasma.

_Olá. _Respondeu Anne, sorrindo automaticamente tamanha era sua felicidade em ver alguma coisa que pudesse levá-la ao bebê. _Roger, não é?

_É sim. Como vai? _Disse Roger, forçando um pouco de educação.

_Não muito bem. Mas obrigado por perguntar. _Disse Anne.

O sinal abriu e as pessoas começaram a atravessar a rua. Roger e Anne também.

_Oh sinto muito por isso. Eu soube o que aconteceu, sinto muito. _Disse Roger, desejando que Anne fosse atropelada naquele instante.

_Então você sabe que seu irmão... _Começou Anne.

_Olha, eu estou muito atrasado agora. Me desculpe. _Disse Roger, apressando os passos.

_Se você está com pressa é melhor eu ser breve. _Disse Anne. _Onde ele está?

_Por favor, menina não comece com isso. A minha família tem o direito de viver em paz sem que você fique o tempo todo atrás de nós. _Disse Roger.

Os dois chegaram ao outro lado.

_Pare um momento. _Disse Anne, segurando o braço de Roger.

Roger retirou os dedos de Anne do seu braço com tanta rispidez que Anne sentiu a junta dos ombros se abalarem.

_Tire as mãos de mim garota! _Disse Roger, parando de frente com Anne. _Olha, eu não sei o que voc...

Roger parara de falar assustado e permaneceu com os olhos parados no horizonte, como quem avistava algo assustador.

_O quê? _Perguntou Anne ao se virar pra trás procurando o motivo de tanto espanto. Sem sucesso ela voltou a encarar Roger que continuava a olhar no horizonte, e parecendo recuperar os sentidos vitais ele se pos a falar:

_Olha! Você tem tempo pra tomar um café comigo?

_O quê? _Questionou Anne diante do convite inusitado de Roger. _Como assim? Há um minuto atrás você...

_É. Eu tenho alguns minutos na minha agenda. Está na hora de você saber um pouco do quê está acontecendo. É bem justo. _Disse Roger.

Anne ficou petrificada com o convite, mas sendo esse uma das melhores chances de descobrir algo sobre o bebê e o Humberto, Anne sorriu, como sempre, e disse:

_Tudo bem!

Os dois então andaram poucos passos até um café na esquina da avenida: Café das Marias.

A fachada histórica, dava ao lugar um belo destaque dentro de tantas curvas arquitetônicas das obras e edifícios ao lado. Com o letreiro em letras garrafais e chancelerescas, uma grande xícara de café derramava um líquido negro sobre a soleira da entrada. A porta dupla de madeira, ao estilo dos velhos salons de bang-bang dividia dois ambientes totalmente diferentes, do lado de fora a selva de carros, poluição, asfalto e prédios, quando do lado de dentro a palavra perfeição é pequena para descrever para os amantes de boa comida e conversa o quão perfeito era o Café das Marias.

Ao entrar Roger se aproximou de uma mesa vazia e puxou uma cadeira, Anne se aproximou e se sentou do lado oposto ao dele.

_Já almoçou? _Perguntou Roger.

_Ainda não. Mas estou sem fome. _Respondeu Anne ansiosa.

_Eu tinha marcado com uma pessoa, mas... Deixa pra lá. _Disse Roger correndo o olho pelo lugar. _Depois eu como qualquer coisa em casa.

_Você está morando aqui em São Paulo? _Perguntou Anne tirando os óculos e colocando na bolsa.

_Há muito tempo já. Deve ter uns dois anos. _Disse Roger, que não parava de correr os glóbulos oculares por todo café. Parecia preocupado em ser visto ali com Anne.

_O quê você tem? _Disse Anne, fingindo estar preocupada, quando na verdade queria logo começar o interrogatório.

_Não, nada. _Disse Roger. _E então? Afinal o que você quer de nós.

_Eu quero ele. _Disse Anne rapidamente.

Roger arregalou o olho e pela primeira vez desde que entrou ali olhou para o rosto angelical de Anne.

_Quer dizer... Ele não. Não o Humberto. Mas o meu filho. _Disse Anne, percebendo que estava indo rápido demais.

_Desculpe a resposta, mas... O quê que eu tenho a ver com isso? _Perguntou Roger.

_Tudo. Você é irmão dele. _Disse Anne.

_E o quê diabos o Humberto tem a ver com seu filho? Tirando o fato é claro de ele ser o pai do bebê. _Disse Roger, sempre olhando pra todos os lados.

_Ah, por favor, não vamos começar um joguinho aqui ta bem? _Disse Anne. _Eu estou aqui porque quero meu filho de volta.

_Que jogo? Eu não estou jogando não menina. Meu Deus, você é criança mesmo heim! _Disse Roger, olhando para Anne.

_O quê? _Disse Anne. _Está bem, eu sou criança? Beleza! Porque você quis tomar café aqui comigo então?

_Eu vim tentar tirar você do pé da nossa família. _Disse Roger. _Não basta ter arrastado o nome da minha família na lama?

_EU? _Se irritou Anne. _Se tudo isso é culpa de alguém, é sem dúvida tudo culpa dele, do seu irmão.

_Eu só quero saber o que você quer? _Disse Roger.

_Vai me oferecer dinheiro? Você sabe quem eu sou? _Perguntou Anne.

_Garota, fala logo o que você quer, não estou falando de dinheiro. _Disse Roger, tirando um maço de cigarro do bolso da jaqueta.

_Eu quero saber onde ele está? _Perguntou Anne enquanto ele acendia a um cigarro.

_Pra quê? _Perguntou Roger, soprando a fumaça no ar. _Você ainda gosta dele não é?

_O quê? Não. _Respondeu Anne. _Eu quero saber onde ele está pra eu poder pegar meu filho de volta.

_Quem escuta assim, nem acredita que você já é mãe. Olha essa carinha. _Disse Roger.

_Pra quê isso aqui heim? Fala logo. _Disse Anne.

_Que filho menina? Quem disse que o Beto está com seu neném? _Perguntou Roger, com a boca semi-aberta segurando o cigarro nos lábios enquanto guardava o maço no mesmo bolso da jaqueta.

_Pára de fazer perguntas. Sou eu que quero respostas. Não vamos gastar seu tempo tão precioso. _Disse Anne.

_Na verdade, eu já perdi meu encontro mesmo. _Disse Roger, se virando na cadeira para observara porta de entrada.

_Vou perguntar de novo. Cadê ele? _Disse Anne.

_Ele está bem longe daqui. Na verdade não é muito lon... _Começou Roger.

_Onde? _Perguntou Anne.

_Rio de Janeiro. _Disse Roger.

_Rio? _Disse Anne. _Há quanto tempo ele está lá.

_Desde quando ele se casou. _Disse Roger.

_Casou? _Perguntou Anne, chocada com a novidade. Se fosse antes do bebê, ela sofreria muito.

_É. _Disse Roger. _Ano passado. Desculpa, ele não ter mandado o convite, é que...

_Pára! _Disse Anne. _Eu quero distância daquele ali, eu só to tentando entender o porque de ele ter rouba... Mas é claro, pra ter a família perfeita não é?

_É porque a Poliana... _Tentou Roger terminar a frase.

_Poliana? _Perguntou Anne, abrindo um leve sorriso por puro sexto sentido. Era tudo tão claro. _Ela é estéril ou o quê?

_Eles não estão com seu bebê Anne. _Disse Roger.

_Mas então cadê ele? Porque na noit... _Disse Anne.

_É impossível ele estar com ele. _Disse Roger.

_Por quê? _Perguntou Anne.

_Por que metade da polícia está em cima desse caso. Do seu caso. A qualquer novidade a imprensa está pronta, esperando o próximo escândalo da família Fonseca. _Disse Roger. _Humberto não iria envergonhar o nosso nome...

_Ah besteira! Vocês sempre acobertaram tudo que ele aprontou, e não foi nada leve ta. _Disse Anne.

_Não depois de você. _Disse Roger, soprando fumaça enquanto falava. _Qualquer dinheiro que a gente ofereça não chega nem perto do que as revistas podem ganhar publicando alguma matéria de vocês dois.

_Mas é essa a certeza que eu sei de que ele não roubou meu filho? _Perguntou Anne.

_Quer mais? _Perguntou Roger, olhando para fora através da vitrine.

_É claro! Já que ele está longe de tudo, seria fácil esconder um bebê... _Começou Anne.

_Ah menina você sabe que não. A imprensa desconhece agora onde ele está morando, mas isso é uma questão de tempo. _Disse Roger.

_E? _Questionou Anne.

_Anne! Você não conhece meu irmão? Você ainda consegue achar alguma razão pra ele ter roubado seu bebê? Sério. Foi por causa dele esse escândalo todo, não foi? Por que ele iria querer tanto o bebê agora?

_Eu esperava que você me respondesse, mas pelo visto. _Disse Anne.

_Olha. Eu te garanto que o bebê não está lá, beleza? _Disse Roger.

_Ah claro! Agora eu vou cair na conversa do outro irmão. Acho que ainda não aprendi a lição. _Disse Anne. _Eu só quero saber onde?

_Mesmo que você saiba, não iria adiantar. _Começou Roger, se erguendo no assento. _No dia que seu bebê... É menino ou menina?

_Menino. _Respondeu Anne revirando os olhos, afinal que importância fazia aquilo.

_Então. No dia em que seu Menino nasceu o Humberto não estava em São Paulo. _Disse Roger.

_Quando vocês combinaram de dizer isso? Vocês já sabiam que eu iria passar por aqui ou foi coincidência? _Zombou Anne.

_Ele não estava aqui, porque ele estava se casando. _Disse Roger.

_Ah pára de enrolação Roger! O casamento de um Fonseca não teve nem uma nota na imprensa? _Disse Anne.

_Foi um casamento privado. _Começou Roger. _Só no civil, ninguém soube.

_Olha Roger eu não vou ficar aqui, ouvindo você tentando me convencer que o Humberto é inocente. _Disse Anne enquanto empunhava a bolsa no braço e se levantava.

_Mas ele é. Pelo menos isso ele não fez... _Disse Roger.

_ELE ACABOU COM A MINHA VIDA! _Gritou Anne, e todos ali olharam pra ela.

Roger encarava a garota com um olhar de pena.

Anne se sentou novamente e repetiu baixinho:

_Ele acabou com a minha vida! O que ele fez, eu não digo que aceitei ou perdoei, mas consegui superar, mas o meu filho. Pra quê tirar isso de mim? Por que vocês todos me castigam? _Disse Anne com lágrimas nos olhos.

_Não tem a gente. Não é um complô nem nada disso menina. A nossa família só quer ficar longe de você. Anne, você não representa pra nós um exemplo de pessoa. Não venha se colocar de vítima, porque sei lá. Mas pela sua idade, você sabia no que estava se metendo. Você não é a primeira do Humberto, você sabe disso. E porque tudo isso aconteceu só com você? _Disse Roger.

_Porque ele mexeu com a garota errada. _Disse Anne secando as lágrimas com as mãos.

_Certo. É esse o problema, você. _Disse Roger, apagando o cigarro no cinzeiro da mesa. _Aconteceu tudo diferente de antes, porque foi com você. Você é diferente.

_Mas isso justifica alguma coisa? _Disse Anne. _O quê isso? Você espera que aceite tudo isso que você está falando de mim. Virando o jogo, dizendo que eu sou a culpada. É pra isso que você me chamou aqui?

_Não Anne. _Disse Roger. _Eu te chamei pra ver de perto o que todos falavam sobre você. E pensar que o Beto quase morreu nas suas mãos.

_Eu vou embora! _Anne se levantou no ato e seguiu para a porta.

Roger chamou:

_Anne?

E antes que ela chegasse à saída, parou e se virou lentamente com os olhos virados para o teto esperando ouvir mais uma grosseria de Roger.

_Rua Almerinda, número 76, Leblon. _Disse Roger ainda sentado na mesma posição olhando para a fumaça do cigarro que subia e dançava pelo ar.

Anne anotou o endereço mentalmente e sorriu em seguida:

_Porque você está me ajudando?

_Porque meu irmão mexeu com a menina errada. _Disse Roger.

Anne se aproximou da mesa devagar e de novo de frente com Roger disse:

_Não faz sentido. Você fazer isso tudo por mim. _Disse Anne.

_Não é por você, menina! É pela minha família. Aproveite que ele esta longe e resolva o que tiver de resolver com ele. Eu tentei evitar sua decepção. Ele não está com o seu filho. _Disse Roger.

_Vamos ver então! _Disse Anne e em seguida colocou os óculos no rosto e seguindo para a saída do café.

Andando no meio da multidão Anne se sentia radiante, enfim estava próxima de se encontrar com Humberto de novo. Mas o melhor de tudo era na verdade ver seu filho, durante todo esse tempo cuidado por outras pessoas, como ele reagiria ao ver à verdadeira mãe? Essas questões passavam ligeiras pela cabeça de Anne, não eram páreo o bastante para tanta felicidade e ansiedade. Seguindo direto para o aeroporto Anne parou um táxi e se jogou rápido dentro dele. E como há um ano atrás ela atravessou São Paulo dentro de um carro e como da primeira vez ela iria dar a luz a seu filho. De novo.

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