domingo, 29 de junho de 2008

Capítulo 9: Para o Rio de Janeiro ajudar Anne Marrie

Edna entrou no quarto de Amanda aos prantos, correu até o berço e colocou a criança nos braços. Os berros do bebê brigavam com os soluços da velha para ver qual se sobressaía mais, Edna então levou o bebê até a porta e disse algumas palavras para Lomar o motorista, mas Anne não conseguiu ouvir de debaixo dos ursinhos, apesar do seu máximo esforço.

Nunca estive na cabeça de um assassino, mas suponhamos que matar alguém seja algo perturbador, angustiante. Não vamos dizer que Anne seja uma assassina, é claro que agora ela é, mas vamos pensar no sentido figurado da coisa: Ela não tinha intenção de matar Humberto, não ali e agora. Não estava planejado. Ela não estava arrependida, longe disso, afinal estamos falando de Anne Marrie e nada a livrava de ser Anne Marrie. Alguns diriam que isso é ser egoísta, e a primeira vista é sim, mas já está na hora de tirar a Anne dos tópicos básicos de julgamento humano, não que não existam pessoas por ai igual a ela, mas se existem eles são um numero pequeno, um pequeno grupo de amantes incondicionais. Vamos listar os amores de Anne Marrie. Em primeiro lugar está ela mesma, que sempre prezou sua felicidade e outra característica é fazer de tudo para que isso seja possível, isso explica muita coisa e também envolve outras pessoas. Segundo, antes do bebê essa pessoa foi Humberto, mas depois de dar a luz a um menino, Anne não podia controlar o amor por ele e Humberto passou a ser o último da lista. Que também tem Juliana, Alice e Otton, não necessariamente nessa ordem. Então tá, vamos agora analisar. Já que a Anne deseja ser feliz acima de tudo, o fato de ela estar sem o seu bebê, que foi roubado, a deixa muito infeliz. A princípio quem era o culpado disso? Humberto, por isso ele passou para o último lugar da lista. Pensando assim, para se livrar de futuros problemas, Anne deu um jeito de se livrar de Humberto, como dito antes, ela queria se sentir aliviada em relação a ele. Isso envolve tudo, o perigo de amá-lo novamente, de ter seu bebê roubado novamente, outras preocupações e enfim. Paremos com as teorias e comparações.

Com exceção de Edna e Lomar, apenas dois policiais entraram no quarto de Amanda enquanto Anne pensava seriamente em que atitude tomar. A princípio ela pensou em se entregar e realmente ela iria, até pensar que provavelmente ficaria muito tempo presa, fazendo as buscas pelo seu filho cessarem. É doentio pensar que ela pensasse ainda no paradeiro do bebê depois de ter matado duas pessoas. Sem a mínima idéia de que tinha matado Poliana também Anne continuava sob os ursinhos de pelúcia. E agora pensava em como sair dali. Era quase impossível já que a morte do casal havia atraído quase toda a imprensa do país para porta da casa de luxo no Leblon, bairro nobre do Rio de Janeiro. E não demoraria muito alguém iria olhar o quarto mais atentamente. A fome nem era problema porque a vontade de ir ao banheiro a fazia esquecer qualquer outra necessidade. “O que eu vou fazer? Não vai dar pra sair daqui.” Pensou Anne. “Vou me entregar!” Quando via que não tinha outro modo de sair dali, a não ser que ela estivesse disposta a fazer xixi nas calças, quero dizer: No vestido. “Não! Vou ficar aqui. Se eu vou ser presa como eu vou procurar meu filho?” E nessa constante briga interior Anne ainda se mantinha agachada com as pernas dormentes, com medo de chamar a atenção dos policiais ela se manteve praticamente imóvel desde quando viu que o neném não era seu. O fato de não poder procurar o bebê a atormentava e era a única coisa que a fazia desistir de se entregar, afinal Humberto morreu, não por falta de motivos, mas como ele não estava com o bebê, Anne via o fim dele desnecessário. Parece que Humberto ainda estava dando trabalho para Anne. “Vou ficar aqui, e esperar pra ver o que vai acontecer, até eu poder ir embora.” Pena que nem tudo sai do jeito que a gente quer.

Agora entrava no quarto um policial de meia idade pançudinho e bigodudo o retrato falado de um tira (como dizem os americanos) só faltava ele estar segurando a rosquinha na mão. Ele veio acompanhado por Lomar:

_Ela era bem nova, parecia uma menina mesmo. Eu não estou acreditando até agora que uma criança fez uma barbaridade dessas. _Disse Lomar.

_É. Se você soubesse as coisas que eu vejo por ai. Isso é porque eu não subo lá pra cima né. Dizem que lá as coisas são piores. Não tem lei não é mesmo? _Disse o policial.

_Mas é bem provável que seja ela mesma, depois da história que a dona Edna contou é bem possível. _Disse Lomar.

_Pois eu acredito que essa menina não fez nada, talvez foi coincidência. Talvez nem seja ela que você viu. _Disse o policial.

_Seria coincidência demais o senhor não acha? Uma menina igual parada na porta antes mesmo de eles aparecerem mortos? E ela tinha motivo. _Disse Lomar.

_Achou que tinha né. Ou será que depois de ver que o nenêzinho não era o que ela estava procurando, foi quando ela foi lá e matou os dois? _Perguntou o policial.

_Não acho que não, a dona Edna tinha acabado de sair. Eles estavam acordados ainda, pra entrar e chegar até aqui ela teve que matar os dois antes. _Disse Lomar. _Mas matar o cara dormindo foi sacanagem.

_E dizem que a tendência pro futuro é só piorar. _Disse o policial. _Já vão dar quase oito horas rapaz e nada dessa menina aparecer.

_Pra onde será que ela foi heim? _Perguntou Lomar.

_Olha brother não sei não. Aqui eles já desistiram de procurar, agora a polícia de São Paulo já foi avisada. Isso se ela chegou lá né? _Disse o policial.

_A família dele está vindo pra cá. Deve ser mó barra não é não? _Disse Lomar.

_Eu imagino. Mas também o cara vai se envolver com uma menina novinha dessas. É furada na certa. _Disse o policial. _Eu que sei!

O policial deu uma risadinha de canto de boca e Lomar pode perceber um pedaço de bolo no seu bigode.

_Fez um lanchinho já né? _Perguntou Lomar.

_Oh rapaz, comi só um bolinho ali na padaria, mas ainda to num rango. Domingão. Perdi um almoço daqueles na casa da minha sogra sabe? É duro né? Trabalhar até no domingo. Depois perguntam por que não tem polícia. _Disse o policial, olhando para a barriga e passando a mão sobre ela carinhosamente. E como por acidente do pé da montanha de brinquedos e pelúcias ele viu uma pequena poça de aparentemente um monte de água. Mas Anne que estava com as pernas pinicando e quentinhas, sabia que o líquido não era água, antes fosse.

_O quê é isso aqui? _Perguntou o policial a Lomar quando percebeu a poça.

_O quê. _Disse Lomar que se aproximou do molhadinho para ver melhor.

O policial levou a mão até o xixi mesmo sem saber do que se tratava e de volta colocou o dedo na boca a fim de provar e descobrir de que tratava o líquido.

_É xixi. _Disse o policial.

_Xixi? _Se questionou Lomar. _Mas de onde...

Antes que continuasse a falar ele pode perceber um rosto de uma boneca extremamente humano.

_Quê boneca é essa? _Disse o policial que também percebera o brinquedo.

_Peraí! _Exclamou Lomar ao começar a retirar aos montes os ursinhos e brinquedos de cima de Anne.

Anne se manteve imóvel, no fundo ela acreditou que eles realmente a confundiriam com uma boneca. Mas não Lomar pegou no rosto de Anne com a ponta dos dedos a fim de sentir o calor humano, porque nada lhe fazia acreditar que aquela era a tal garota chamada não sei quê Marrie.

Anne piscou suavemente e olhou para o policial que pulou pra trás quando saiu do estado de hipnose após ver tão rara beleza. Uma boneca viva.

É ela! _Disse Lomar após tirar os dedos do rosto de Anne. _Não é boneca não, é ela mesma, a moça que estava lá fora ontem.

O policial então se aproximou mais e não podia acreditar que era aquele anjinho em forma de gente que havia matado duas pessoas de uma forma tão brutal nos cômodos do fundo. Sem interesse de machucar a garota, ele estendeu a mão a ela, que segurou com delicadeza e se pôs de pé. Mesmo fedendo a xixi Anne Marrie era a coisa mais perfeita que aquele policial já havia visto na vida, era de ficar bobo, a suavidade com qual o rosto de Anne havia sido desenhado era de um talento excepcional, coisa de Deus.

Sorrindo o policial disse:

_Você tem certeza que é ela?

_Claro que tenho, do rosto eu não me lembro muito bem, mas a roupa, o cabelo o tamanho, todo resto. É ela sim. _Disse Lomar, que também admirava a menina Anne, desconfiado das suas certezas. “Como poderia haver tão perfeita criatura na terra? Como uma menina conseguiu fazer aquilo com o senhor Humberto? É ela mesma? Eu to começando a achar que é uma boneca.”

Encantados os dois ficaram ali admirando a beleza de Anne por cerca de dois minutos, ela só fazia olhar para eles sem palavras, estava tão envergonhada. Não por ter matado, ou por ter sido achada, mas pelo fato de ter feito xixi pernas abaixo.

_E agora? Chame alguém, a polícia! _Disse Lomar olhando para Anne.

_Eu sou a policia, esqueceu? _Perguntou o policial enfurecido com Lomar.

_Ah é. Então prende ela, algema, sei lá, faz alguma coisa. _Disse Lomar.

_Calma, calma. _Disse o policial voltando ao seu estado normal. _Vamos sair com ela daqui.

_Claro! _Disse Lomar que foi até a porta e abriu sem tirar os olhos de Anne, que olhava pra baixo, pois não podia encarar ninguém naquele momento.

O policial então se aproximou dela e devagar como se ao toca-la algo fosse acontecer pousou a mão sobre o braço de Anne, que o seguiu a saída.

Anne começou a pensar nos milhares de fotógrafos na porta da casa, então se preocupou em ser capa de todos os jornais e tablóides do dia seguinte:

_Aqui, o senhor podia me dar um pano, ou qualquer coisa para cobrir a cabeça quando a gente sair? _Pediu Anne ao policial que evitava olha-la para não entrar em estado de transe novamente.

Instintivamente o policial virou para garota, ao ouvir suas doces palavras entrarem pelo ouvido e os três pararam de repente. Lomar também ouvira a garota.

_Ca... Clã... Claro! _Começou o policial abobado. _Quero dizer, tudo que a senhorita... Disser pode.. Pode... Pode ser usado contra... Com... Tra... Você no...

Lomar que viu uma toalha logo na entrada do banheiro interrompeu o policial ao jogar a toalha para Anne.

_Obrigada. _Disse Anne ao segurar a toalha nas mãos. Sem perceber o encantamento dos dois homens por ela.

Eles seguiram pelo corredor e foram chamado a atenção de todos enquanto passavam. Não havia um, policial, perito, homem, mulher, sogra, ninguém que não olhasse para eles naquele momento. Curiosos todos se aproximaram para ver quem era a linda moça vinda do quarto com Lomar e o policial Perdigão:

_Quem é ela?

_É ela?

_Onde ela estava?

_Aqui dentro, escondida?

Em meio a tantas perguntas e tumulto Anne viu a oportunidade perfeita para fugir. “Correr pra onde?” pensou ela, e antes que ela pudesse ter certeza do obvio ou seja lugar nenhum, pois ali estava cercado de policiais. Ela viu a porta do aparente quarto de hóspedes aberta, sem esforço ela se desvencilhou das mãos do sargento Perdigão e se jogou pra dentro do quarto. Rapidamente trancou a porta, olhou rápido por todo o cômodo e viu o que ali poderia ser mais útil. Calma! Dessa vez ela não queria uma arma, só queria falar com alguém, uma voz amiga, alguém que a ajudasse naquele momento de desespero. Então sem pensar duas vezes ao avistar o telefone Anne correu ate ele e discou o primeiro número que lhe veio a cabeça. Do outro lado da porta todos estavam loucos, se xingando, gritavam, batiam na porta, tentavam abri-la, faziam de tudo para que não perdesse Anne Marrie de vista outra vez. Eu aconselho procurarem debaixo da cama dessa vez.

_Alô? _Disse Alice do outro lado da linha.

_Alô? Lice? _Disse Anne feliz por ouvir a voz da irmã.

_Anne? O quê aconteceu, você já está em São Paulo? _Disse Alice preocupada.

_Não, ainda não. Escuta. _Disse Anne, segurando o choro. _Eu ainda estou no Rio, depois eu te conto o que aconteceu. Agora venha pra cá agora.

_Agora? Hã, como assim Anne? O quê está acontecendo? _Perguntou Alice, que ouvia os outros baterem na porta.

_A polícia está atrás de mim. _Disse Anne Marrie do outro lado do telefone.

_O quê? Pra quê Anne? O que aconteceu me fala rápido. _Pediu Alice desesperada.

_Não posso falar agora. Você entendeu? Vem pra cá agora, por favor. _Disse Anne assustada com o barulho que se fazia a suas costas.

_Que barulho é esse ai heim? Anne, fala o que aconteceu? _Disse Alice aos berros quando percebeu finalmente que a irmã estava de novo encrencada.

_Me ajuda Lice. _Pediu Anne, em conseguir conter o choro e tampando o ouvido com as mãos para ouvir a irmã melhor.

_Eu vou ajudar, agora. Você ainda está no rio? Fala onde que eu estou indo pra aí agora. O papai está falando que também vai. _Disse Alice, ao perceber o desespero do pai ao gesticular freneticamente na sua frente.

_Vem, por favor! _Anne não conseguia falar mais nada, só podia pedir ajuda e num lapso de consciência ela lembrou que com certeza o caso estava sendo noticia também na TV. _Liga a TV Lice. Liga a TV!

_O quê, pra quê? _Perguntou Alice ainda sem entender nada.

Antes mesmo que Anne pudesse responder os policias arrombaram a porta e entraram no quarto como um bando de animais que fugiram do zoológico.

_Vem, por favor, Eu fiz... _Disse Anne que foi interrompida por um policial que agarrou o trás a fazendo soltar o telefone.

_Alô Anne? _Perguntou Alice antes que a ligação caísse. _Anne? Marrie? Anne?

_O quê é que foi Alice? _Perguntou Otton desesperado.

_Eu não sei pai. Era a Anne, aprecia que tinha um tanto de gente lá eu não entendi muito o que ela falou. _Disse Alice. _Ela está no Rio.

_No Rio? _Disse Otton, nervoso. _O meu Deus o quê é que a sua irmã está fazendo lá no rio?

_Calma pai. _Disse Alice. _Eu sabia que ela estava lá.

_Você sabia e não me contou nada? _Disse Otton ainda mais alterado. _O quê que você tem na cabeça Alice, você sabe conhece sua irmã.

_Pai, eu não te falei porque achei que não fosse nada demais. _Disse Alice. _A Ju me contou que ela foi atrás do Humberto.

_O quê? Ele de novo? _Disse Otton em voz alta. _Ele de novo não Alice, porque que você não me avisou? Eu sou o pai de vocês e tenho o direito de saber o que está acontecendo com minhas filhas.

_Pai? Calma, vamos pensar no que pode ter acontecido. Talvez não seja nada demais. Vamos ligar pra Ju e pedir pra ela vir pra cá. _Disse Alice.

Otton estava andando de um lado para o outro da sala.

_Não quero nem imaginar o que esses dois aprontaram dessa vez. Se sua irmã tiver... _Otton fechou os olhos com força e o alto da sua cabeça começou a ficar vermelho.

_Tinha muita gente gritando lá, ela estava chorando, pedindo ajuda. _Disse Alice, recordando vagamente da conversa e começando a ficar realmente preocupada. _Agora eu estou ficando preocupada pai.

_Você tem que sentir é culpa, por deixar fazer o que ela bem quiser sem me falar. _Disse Otton.

_O senhor quer um chá doutor Otton? _Perguntou Joaninha da porta da cozinha.

_Não Joana, não quero nada. _Respondeu Otton depois de sentar na sua poltrona.

_Joana? Liga pra Juliana Lessa para mim, diz que é urgente, o telefone está na lista. _Disse Alice.

_Sim menina Alice. _Atendeu Joana que correu até o escritório para ligar.

_Ela quer que a gente vá pra lá agora. _Disse Alice.

_Ela deve estar precisando mesmo, por que só fala as coisas quando ela esta realmente necessitada. _Disse Otton, tentando se acalmar. _Fazer o quê? Vamos ter que ir pra lá pra ver o quê está acontecendo.

_Vamos esperar a Juliana chegar pai. _Disse Alice, sabendo do que ia ouvir.

_Juliana, Juliana. _Disse Otton debochando da melhora amiga de Anne. _É por causa dessa aí que a minha filha tá ai oh.

_Para pai, o senhor sabe que a Ju não tem nada a ver com isso, ela gosta muito da Anne, pra ser amiga dela. Isso mesmo, porque depois do que a sua filhinha fez nenhuma menina perdoaria ela. _Disse Alice, tentando se concentrar em cada detalhe da conversa com Anne pelo telefone.

_Eu sei disso, mas é você que fica acobertando os planos da sua irmã. Onde já se viu, ir atrás daquele sujeito de novo. _Disse Otton voltando a se zangar.

_Ela não foi atrás dele, ele foi atrás do filho dela. _Disse Alice, antes de se arrepender de ter aberto a boca.

_O Quê? Ela ainda acha que o neném está com ele? Sua irmã é doida. _Disse Otton.

_Porque pai? Seu neto pode muito bem estar com o pai sim. _Disse Alice.

_Alice eu não vou começar essa discussão com você de novo, e até mesmo você que defende sua irmã do mundo real e de mim, concordou que isso seria muito difícil. _Disse Otton.

_Mas não disse que era impossível. _Disse Alice.

_Deixa de ser boba menina porque ele pegaria esse bebê da Marrie? _Perguntou Otton.

_Sei lá. Foi isso que a Anne deve ter ido perguntar pra ele. _Disse Alice.

_Grande motivo. E como ela descobriu que ele está lá no Rio? _Perguntou Otton.

_Foi o irmão dele que falou pra ela. _Disse Alice.

_O quê? Mas é lógico que isso é armação da família dele pra cima dela Alice. _Disse Otton ao se levantar e começar a trançar pela sala novamente. _E você deixou ela ir sem me avisar?

_Não pai, eu não sabia. Ninguém sabia. A Anne ligou de lá do Rio pra Juliana aqui, depois a Ju me ligou pra falar tudo. _Disse Alice.

_Isso é o que ela te contou não é. Vamos ver o que ela vai dizer quando chegar aqui. Se acontecer alguma coisa com minha Anne, ela vai ver. _Disse Otton.

_Pára pai. Pára de culpar a Juliana. A Anne sabe o que ela está fazendo, pelo amor de Deus, ela já tem 18 anos. _Disse Alice, pela primeira vez naquela noite visivelmente nervosa.

Alice estava a ponto de explodir pois acabara de lembrar que o encontro com Luís não iria acontecer, e pra completar Anne estava passando por algo que ninguém sabia o que era.

_É bom essa Ju aparecer aqui mesmo, eu vou fazer umas perguntinhas pra ela. Ela deve saber mais da sua irmã do que eu e você juntos. _Disse Otton ainda circulando a sala.

Depois de lembrar de Luís Alice não tinha cabeça pra pensar em mais nada.

_O meu jantar. _Pensou Alto Alice.

_Que jantar? _Disse Otton que parou ao ouvir Alice. _Ah sua reunião de emprego?

Alice se arrependera visivelmente de ter dito em voz alta o que estava pensando:

_É. Não vou poder ir mais.

_Pelo menos uma notícia boa. _Disse Otton.

_Pai? _Se zangou Alice.

_É mesmo, você está indo muito bem lá na clínica. Pra quê mudar de emprego? _Disse Otton.

_Estágio, não é emprego. _Disse Alice.

_Filha a clínica é sua. _Disse Otton.

_Isso que me incomoda. _Disse Alice, que acabava de lembrar de uma parte da conversa. _Liga a TV pai!

_O quê Alice? _Perguntou Otton sem entender.

_A Tv. A Anne falou pra gente ligar a TV. _Disse Alice.

Otton ainda sem entender, correu até a TV e rapidamente a ligou.

Na TV passava o jornal dominical, os âncoras do programa apresentavam uma matéria sobre o polêmico vídeo da Madonna feito para promover uma marca de refrigerantes e vendo aquilo nem Alice muito menos Otton acharam resposta ou solução de algo. Logo pensaram: “O que a Anne queria que a gente visse na TV?”. Mas a reposta veio em seguida terminada a matéria um dos apresentadores começou:

_Vamos agora direto para o Rio de Janeiro onde o repórter José Murilo traz as últimas informações sobre o assassinato do casal Humberto e Poliana Fonseca.

A imagem corta direto para um homem branco parado de costas a uma multidão que se aglomerava ao que parecia uma casa ao fundo.

_A suposta assassina do casal foi encontrada segundos atrás ainda dentro da casa. Ao contrário do que todos pensavam a jovem de apenas 18 anos, Anne Marrie Deville, não havia fugido, ela se encontrava escondida sob os brinquedos do quarto da criança. O bebê passa bem e neste momento recebe os cuidados da avó. _Disse o repórter.

A multidão no fundo começa a se mexer, flashes e gritos começam a surgir.

_Parece que a jovem está saindo da casa agora vamos tentar falar com ela.

A câmera se suspendeu no ar procurando o corpo de Anne Marrie na confusão. Mas antes mesmo que a câmera parasse para centralizar a garota no vídeo, de casa Otton e Alice já avistavam a assustada Anne no meio da multidão. Ela estava sendo levada até o carro da polícia por dois policiais um de cada lado, os repórteres se debatiam para conseguir falar com a garota e com dificuldades os dois homens tentavam passar por ali. Os flashes vinham de todos os lugares.

Otton desligou a TV rapidamente.

_Meu Deus! _O quê que a sua irmã fez meu Deus, me diz Alice. O que ela tem na cabeça? _Disse Otton se sentando devagar.

Apesar do choque de Alice ao ouvir a notícia, ela tentou acalmar o pai:

_Calma pai. Agora o senhor tem que ter calma. A gente vai pro Rio agora resolver isso tudo, calma. _Disse Alice.

Joaninha entrou pela sala correndo.

_Gente o que foi isso? A menina Juliana me contou tudo pelo telefone. E agora? _Disse Joana.

_Calma você também Joaninha! Você ligou pra Juliana, o que ela disse? _Perguntou Alice, agachada aos pés da poltrona.

_Ela me contou o quê tá aparecendo na televisão desde de tarde. _Disse Joana.

_Mas ela está vindo pra cá? _Perguntou Alice.

_Tá. Ela tá fazendo a mala da menina Anne pra levar pro Rio de Janeiro e já esta vindo. _Disse Joana.

_Ótimo, que ela já pensou em tud... _Disse Alice.

_Mala? Pra quê mala? _Disse Otton se levantando rapidamente da cadeira.

_Calma pai. _Disse Alice que quase caiu pra trás quando o pai passou por ela.

_Calma doutor se não o senhor vai ter um treco. _Disse Joana preocupada.

_Anda Alice, vai pro quarto trocar essa roupa que a gente já está indo pro aeroporto a gente não pode deixar ela lá sozinha. _Disse Otton em direção ao escritório.

_O que o senhor vai fazer? _Perguntou Alice preocupada com o pai.

_Eu vou ligar para um amigo meu, ele é o melhor advogado de São Paulo, vou mandar ele ir pra lá agora. Enquanto isso você vai trocar de roupa. _Disse Otton antes de entrar para o escritório.

_Vai menina! _Disse Joaninha nervosa só de ver o desespero de Otton.

_Tá bem já vou. _Disse Alice correndo para o quarto. _Quando a Juliana chegar deixa ela entrar.

_Tudo bem menina Alice, pode deixar. _Disse Joaninha antes de correr pra cozinha para ligar a TV de lá.

Quando saíram no hall do edifício Flor de Julho uma centena de repórteres os aguardava. Otton então se agarrou à filha que juntos enfrentaram os selvagens e enfurecidos “Só estou fazendo meu trabalho”. Com muita dificuldade para não soltar um palavrão o que foi dificilmente evitado para não piorar a situação, os dois entraram por fim em um táxi.

_Para o aeroporto. _Disse Otton ao motorista.

No aeroporto a confusão era maior ainda mais repórter, fotógrafos e jornalistas os esperavam no local, fora os que os seguiram desde quando saíram do edifício.

De longe Otton avistou seu amigo que já o esperava de mala nas mãos. Então os dois se aproximaram do homem engravatado.

_Oi como vai? _Disse otton cumprimentando o homem. _Desculpe ligar assim de última hora.

_A gente nunca espera Otton que uma coisas dessas aconteça. _Disse o advogado.

_No caso da minha filha dava pra desconfiar se eu SOUBESSE de algumas coisas antes. _Disse Otton olhando para Alice.

_Pai eu não tive culpa. _Disse Alice.

_Essa aqui é minha outra filha, pelo menos essa e mais ajuizada do que a Anne. _Disse Otton. _Alice esse aqui é o doutor Cássio Reis, ele é meu amigo há anos.

_Prazer. _Disse Alice forçando um sorriso amigável.

_Essa não é uma das melhores situações pra se conhecer alguém não é mesmo? _Disse Cássio retribuindo o sorriso.

_Agora vamos deixar pra conversar na viagem, o vôo sai daqui a pouco.

E os três seguiram para o Rio de Janeiro ajudar Anne Marrie.

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