domingo, 17 de agosto de 2008

Capítulo 16: _É aquela tal de Anne Marrie.

Piedra corria pelo jardim dos Pinho Medeiros.
_Espera Piedra! _Pedia João que vinha logo atrás da namorada.
_João eu não quero conversar com você agora. _Disse Piedra ainda correndo. _Eu não quero brigar com você.
_Você já está brigando. _Disse João, colocando a mão sobre o ombro de Piedra. _Calma.
_A Louísa de novo? _Perguntou Piedra ao retirar a mão de João do ombro e parar de frente pra ele. _A gente já falou sobre ela antes, não tem mais nada pra ser dito.
_Ela só estava esperando minha irmã. _Disse João.
_No seu quarto? _Disse Piedra.
_O que foi que você viu? A gente não estava fazendo nada. _Disse João.
_Eu sei que não, mas tu tava conversando com ela, depois de tudo que ela fez. _Disse Piedra. _Não ficou combinado da gente nunca mais falar com ela?
_E quantos anos a gente tem? 10? _Disse João. _Deixa de ser boba Piedra. Nem a minha irmã que é menor, não está com raiva dela mais.
_Isso é problema dela, ela não é minha namorada, você é. _Disse Piedra.
_Tu vai mesmo ficar com raiva por causa disso? _Disse João.
_Tu quer me deixar parecendo uma idiota não é? _Disse Piedra.
_Mas é isso que está parecendo. _Disse João.
Piedra virou as costas e voltou a andar rápido, agora já na calçada.
_Calma Piedra! _Pediu João parado no jardim.
_Tchau João. _Disse Piedra.
_Tu está nervosa Pi, espera vamos entrar. _Disse João.
_É isso que eu vou fazer, mas na minha casa. _Disse Piedra antes de bater a porta de sua casa, que ficava a alguns passos da de João.
Rafael se aproximava.
_O que aconteceu guri? _Perguntou Rafael.
_A Piedra entrou lá no meu quarto e viu a Louísa lá. _Disse João com a mão no rosto.
_O que a Louísa estava fazendo lá? _Perguntou Rafael, chegando mais perto.
_Esperando a Patrícia. _Disse João se sentando no meio fio.
_No seu quarto? _Perguntou Rafael se sentando ao lado do amigo.
_Ela estava esperando a Patrícia e entrou quan... Esperai. Qual o problema da guria estar no meu quarto? _Perguntou João.
_João, não ficou combinado que a gente não ia mais conversar com ela depoi... _Disse Rafael.
_Pelo amor de Deus, já passou. _Disse João. _A gente não tem mais 15 anos Rafael, o que passou, passou.
_Mas fora isso, você já foi namorado da guria. A Piedra tem toda razão de ficar com raiva. _Disse Rafael.
_Mas a gente não estava fazendo nada. _Disse João.
_O que vocês estavam fazendo na hora que a Piedra entrou? _Perguntou Rafael.
_Nada, ela estava me mostrando a pulseira que ela ganhou do pai dela. _Disse João.
_Isso quer dizer que ela estava perto de você? _Perguntou Rafael.
_Do meu lado, praticamente em cima de mim. _Disse João com certo desanimo na voz após visualizar a situação.
Rafael sorriu.
_E você quer que a guria não fique com raiva de ti? _Disse Rafael.
Os dois riram.
A porta do casarão atrás dos garotos se abriu e de lá saíram duas garotas. Patrícia e Louísa. As garotas se aproximaram dos garotos sentados.
_Oi Pati. _Disse Rafael.
_Oi Rafa. _Respondeu Patrícia.
Louísa ficou envergonhada por não ser cumprimentada por nenhum dos garotos e depois dos silenciosos segundos torturantes que se passaram Louísa se atreveu a falar:
_João, se quiser eu falo com a Piedra.
_Não, muito obrigado Louísa. _Disse João sem encarar a menina.
_Você é louca Louísa, depois do que você armou. Para de fingir que a boazinha. _Disse Rafael.
_Quando vocês vão tirar ela da cruz heim? _Disse Patrícia. _Vê se cresce Rafael. Vamos Louísa.
_Onde vocês vão? _Perguntou João quando as duas começaram a se afastar dos garotos.
_Na festa do André, mas nem precisa aparecer. Vocês não estão convidados. _Disse Patrícia.
Os dois se entreolharam e continuaram calados por um tempo até:
_Essa Louísa tinha que tomar vergonha, sua irmã só tem quinze anos, ela tinha que andar com gente da idade dela. _Disse Rafael.
_Ela andava rafa, com a gente. Lembra? _Disse João.
_Lembro. _Disse Rafael. _O que mais me intriga é que ela parecia ser uma pessoa legal.
_Ela é, uma pessoa legal. _Disse João.
_Pára João, ela acabou com a gente na escola. _Disse Rafael.
_É. Mas a gente já acabou de estudar. _Disse João.
_Mas eu ainda tenho memória. _Disse Rafael. _E não gosto nem de lembrar a vergonha que ela nos fez passar na frente de todos.
_A guria se sentiu no direito Rafa. _Disse João.
_Mas não estava João. _Disse Rafael.
_A gente começou. _Disse João. _Era o diário da guria. Era intimo.
_O que estava lá também era, pra nós. _Disse Rafael. _Vamos parar de falar da Louísa.
_Esta bem. _Disse João. _Agora eu preciso fazer a Piedra falar comigo de novo.
_Vai ser difícil. _Disse Rafael. _Ela é uma pedra mesmo, a Piedra.
Os dois riram.
_Deixa ela te ouvir falar assim. _Disse João.
Os dois voltaram a sorrir.
_Estou falando serio Rafa. _Disse João sorrindo. _Me ajuda ai vai!?
_Eu? _Perguntou Rafael. _Foi por esses chiliques e por outros que eu terminei com ela.
_Mas demorou pra fazer isso, me dá uma dica vai!? _Pediu João.
_Ela é mimada demais. _Disse Rafael. _Então pra fazer as pazes com ela é só bajular ela o bastante, finja que estava errado, e diga que ela estava certa e que isso nunca mais irá se repetir.
_Bá! To impressionado contigo. Tu devias criar um guia pro futuros namorados da Piedra.
Os dois sorriram.
_Você não quer nada sério com a Piedra não? _Perguntou Rafael ainda sorrindo.
_Ah, vamos dizer que eu não estou planejando um futuro ao lado dela, eu não... _Disse João. _Entende? Eu ainda não a...
_Ama. _Completou Rafael.
_É. Ainda não. _Disse João. _Mas eu gosto dela, entende?
_Entendo, entendo. _Disse Rafael. _Então vamos lá.
Rafael se levantou sacudindo a poeira.
_Hã? O quê? _Disse João. _Ir aonde?
_Venha. Vamos à casa da Pi. _Disse Rafael oferecendo a mão para João poder se levantar.
João aceitou a mão e se pos de pé.
_A casa dela? _Disse João. _Ela não vai atender a gente.
_Eu sei que não, já tentei muitas vezes quando a gente namorava. _Disse Rafael que começou a andar em direção a casa de Piedra. _A gente não, quis dizer eu e ela.
_Eu entendi. _Disse João seguindo o amigo.
Os dois seguiram rápido até a porta da casa de Piedra.
_Eu estou falando pra ti, ela não vai ti atender. _Disse Rafael.
_Eu vou tentar primeiro, isso que você quer fazer é loucura. _Disse João.
_Loucura João? Deixa de ser certinho. _Disse Rafael.
_Espere aqui. _Disse João.
Rafael ficou a frente da porta, parado no jardim de Piedra, enquanto João se aproximou para tocar a campainha.
Depois de alguns segundos a velha Berta, governanta da casa, atendeu ao chamado.
_Pois não? _Disse Berta.
_Olá Berta como vai a senhora? _Disse João sorridente, tentando ser simpático, mas sabia que isso não abalaria a muralha Berta.
_O senhor já estava sendo aguardado. _Disse Berta.
João se surpreendeu, sorriu e olhou para trás procurando o apoio moral de um Rafael distraído esperando a hora de agir.
_Muito obrigado Berta, onde ela está? _Perguntou um gentil João.
_Agora que chegou, devo lhe informar que sua entrada nessa casa está prontamente proibida. _Disse Berta sem expressão, como feição de um mordomo daqueles filmes de terror. _A senhorita Piedra não quer lhe ver nos próximos mil anos.
_Está bem. _Disse João desapontado.
_Lhe desejou a morte e ti xingou de nomes que eu, como uma boa cristã, não me atrevo a repeti-los. _Disse Berta.
_Uau. Tudo bem eu entendi, Berta. _Disse João baixando a cabeça envergonhado.
Ao levantar só deu tempo de ver a porta se fechando.
_É triste dizer isso, mas, eu avisei. _Disse Rafael sorrindo no jardim.
_Essa mulher não é desse mundo. _Disse João. _Sério, ela criou o tropeço.
Os dois riram.
_Anda logo, vamos fazer do meu jeito. _Disse Rafael empurrando João para o lado da mansão.
Os dois andaram pelo lado da casa até ficarem debaixo de uma janela que lançava na escuridão da noite um grande quadrado no jardim. A luz refletia direto do quarto de Piedra.
_Isso não vai dar certo Rafa. _Disse João.
_Vai sim. _Disse Rafael se preparando para escalar a parede. _Você imagina como ela deixou de ser virgem?
_Hã? _Perguntou João. _Você está dizendo...
_Isso mesmo, estou dizendo que minha primeira noite com a Pi foi desse jeito. _Disse Rafael.
_Você subiu? _Disse João. _Foi no quarto dela?
_Aham. _Disse Rafael.
_Você é louco. _Disse João.
_Os pais dela estavam no quarto ao lado. Mais eu pedi pra ela ficar quietinha. _Disse Rafael.
Os dois começaram a gargalhar.
_É por isso que ela parece uma estatua até hoje. _Disse João entre risadas.
_Fala sério, a guria é frígida até hoje. _Disse Rafael sorrindo.
_Teve um dia que ela gritou. _Disse João.
_É mesmo? _Perguntou Rafael.
_É. Ela viu uma barata. _Disse João antes de cair na gargalhada.
Os dois tamparam a boca a fim de abafar as risadas desenfreadas que se seguiram primeiras de uma crise de riso daquelas melhores. Onde não se pode rir, mas é impossível evitar.
Depois de recuperado o fôlego os dois voltaram para o plano.
_Pára de rir. _Disse Rafael sorrindo. _Vamos logo.
_Vai você primeiro. _Disse João. _Se ela me vir primeiro vai me empurrar.
_Covarde. _Disse Rafael dando os primeiros passos da escalada até a janela.
_Quando der pra subir você me chama. _Sussurrou João para Rafael quando devia gritar já que ele estava subindo rápido.
_Está bem, pare de falar agora se não a Berta vai ouvir. _Disse Rafael lá de cima.
_Deus me livre. _Disse João baixinho.
E ele ficou ali observando Rafael entrar pela janela estilo Romeu e Julieta, só que o Romeu da vez ficou em baixo para garantir as coisas, pois o que ele temia não era a família da donzela, mas a própria moça no alto da torre. Esperou, esperou até ver a cabecinha de Rafael apontar de novo na janela e fazer sinal para ele subir. Com dificuldade e medo de cair João subiu devagar e quando por fim chegou até a janela e olhou para dentro do quarto lá estavam os dois sentados na cama. Piedra estava emburrada como de costume e Rafael atrás dela fazendo sinal para o amigo.
_Eu só não fiz um escândalo porque o Rafa me pediu, porque se fosse por você eu ti empurrava agora. _Disse Piedra.
_Eu não disse Rafa. _Disse João ao colocar os pés no chão do quarto.
Rafael fez sinal para João pegar leve e alisou a mão como se quisesse dizer: “Amansa a gatinha, mima ela bastante.” João assentiu com os olhos e começou:
_Piedra me desculpa. _Pediu João com a carinha mais arrependida que lhe ocorreu.
_A gente já conversou sobre ela João, a Louísa não merece a nossa amizade. _Disse Piedra.
_Eu sei, eu entendo. _Disse João.
_Tu me entende? _Disse Piedra com os braços cruzados. _Então porque estava lá conversando com ela?
_Deixa eu explicar Pi, ela estava esperando a Pati ai viu a porta aberta e veio me perguntar uma coisa. _Disse João.
_Quê coisa? _Perguntou Piedra.
Rafael fez sinal negativo com a cabeça para João.
_Nada, ela perguntou se você ainda estava zangada com ela. _Disse João.
_E o que você disse? _Perguntou Piedra.
_Eu disse? Ah, eu disse que você ainda estava tri irritada com ela e eu também. _Disse João.
_E o Rafa? _Perguntou Piedra.
_O Rafa também. _Disse João. _Mas agora me perdoa?
_Não sei não, ela estava muito perto de você pra perguntar só isso. _Disse Piedra.
_Você acha que eu estou querendo esconder algo de você? _Perguntou João.
_Não. _Disse Piedra. _Só acho que você está dando corda demais pra essa guria aloprada.
_Piedra, eu te amo. _Disse João enquanto Rafael segurava pra não rir atrás de Piedra.
_Ama nada. _Disse Piedra.
_Amo sim. _Disse João.
_Ama nada. _Disse Piedra.
_Quem foi que eu larguei pra ficar com você? _Perguntou João.
_Ela. _Disse Piedra já esboçando um sorriso.
_Então, ela não é ninguém comparada a você. _Disse João. _Você é tudo pra mim.
_É raio, estrela e luar. _Cantarolou Rafael. _Manhã de sol, meu iaia meu ioio.
_Pára Rafa, meu pai vai te escutar. _Pediu Piedra sorridente.
Os três sorriam, mas só os dois meninos tinham motivos pra sorrir.

Está vendo? Não acreditem mulheres que os homens não te entendem, eles já te decoraram de cor.

Os três conversaram mais um pouco no quarto e em seguida desceram para os jardins de novo, onde voltaram a sentar no meio fio agora com Piedra.
_O que a gente vai fazer hoje? _Perguntou Piedra.
_A gente? A gente vai ficar namorando a noite toda. _Disse João.
Os dois se beijaram como se não tivessem companhia. Rafael encarou outro lado.
_Ai João, coitado do guri aqui, vai ficar sozinho. _Zombou Piedra.
_Não liguem pra mim, vocês nem são meus amigos mesmo. _Disse Rafael serio.
_Olha Pi ele ficou nervosinho. _Zombou João.
_E o quê é que foi com os dois hoje heim, eu estou só brincando. _Disse Rafael.
_Não gente, é serio. _Disse Piedra sorridente. _O que é que a gente vai fazer hoje? Agora?
_To com preguiça de dirigir até o centro. _Disse João.
_Eu não disse que precisava ir de carro, pode ser por aqui mesmo. _Disse Piedra.
_Nem tem ninguém aqui agora. _Disse Rafael. _O que a gente vai fazer aqui, só nós três?
_Eu sei o quê. _Disse João com cara de pervertido.
Piedra olhou para ele e depois para Rafael e percebeu a proposta indecente que estava recebendo.
_Credo João, não. Suruba não. Que nojo, ele é teu amigo. _Disse Piedra.
_Não tem nada aqui que os dois já não tenham visto. _Disse Rafael.
_Ah e tu anda fazendo o quê por ai com meu namorado heim guri? _Perguntou Piedra.
_Indo a banheiros. _Disse Rafael. _Banheiro de homem é tudo em pé, um do lado do outro.
_E vocês ficam se olhando? _Perguntou Piedra.
_Não é forçado, é uma questão de ego masculino. _Disse João.
_Ego? _Perguntou Piedra.
_É, pra ver qual ego é o maior. _Brincou Rafael sorrindo.
Os dois sorriram.
_O teu é o maior. _Disse Piedra a Rafael.
_É, eu sei. _Riu Rafael.
_Piedra? _Disse João serio.
_É verdade amor, é verdade. _Disse Piedra sorrindo. _Mas o seu é mais fofinho.
_Fofinho? _Se zangou João.
Os dois gargalharam.
_É, pelo menos eu não sou frígida. _Disse João a Piedra.
Piedra parou de rir num instante, enquanto Rafael deitou na grama de rir.
_Eu não sou frígida. _Disse Piedra séria. _Eu somente tenho dificuldades de me expressar durante o ato sexual.
_Minha filha, até a rainha Elizabeth faz mais barulho que você. _Disse João entre risadas.
Os dois não se agüentavam de rir enquanto Piedra continuava seria na calçada.
_Eu vou embora. _Disse Piedra ao se levantar.
_Não calma. _Disse Rafael se recuperando da crise de riso.
_É Piedra calma aí. _Disse João sorrindo ainda. _Eu não quero subir lá de novo.
_E quem disse que eu vou deixar tu entrar dessa vez? _Disse Piedra.
_Calma gente! Calma. _Disse Rafael. _Eu tive uma idéia.
_Se vier com papo de suruba de novo eu juro que... _Disse Piedra.
_Que suruba garota, senta aí. _Disse Rafael, puxando Piedra para sentar.
_Fala Rafa o que é? _Perguntou João. _Se for filme, eu comprei uma coleção de clássicos muito bons.
_Que filme guri. _Disse Rafael. _Vocês sabem por que isso aqui está tão vazio hoje não sabem?
_Eu não, mas reparei que não tem ninguém. _Disse Piedra se sentando novamente.
_Então. _Disse Rafael. _É a festa do André.
_Que festa do André? _Perguntou Piedra.
_O André, aquele lá do final do moinho, lá nos fundos. _Disse João apontando para frente.
_Ah sei, aquele que foi da sala de vocês. _Disse Piedra.
_É esse mesmo. _Disse Rafael. _Então gente.
_Então o quê? _Perguntou Piedra.
_Vamos pra lá agora. _Disse Rafael com um sorriso no rosto.
_Tu tá louco Rafa? _Disse João. _O cara me odeia. Você não viu minha irmã falar que nós estamos convidados?
_Ouvi. _Disse Rafael. _Mas é por isso mesmo que vai ser legal.
_Legal? _Disse Piedra. _O guri é o maior traficante de luxo da região, dizem que o bagulho dele é o melhor e o mais caro, só vende pra gente com dinheiro.
_Mas a gente não quer comprar nada, a gente só quer ir pegar sua irmã na festa. _Disse Rafael.
_Quer? _Perguntou João.
_Sua irmã está na festa? _Perguntou Piedra.
_Hã? _Disse João.
_Você deixou sua irmã ir sozinha pra festa desse tal de André? _Perguntou Piedra.
_Ela não está sozinha a Louísa está com ela. _Disse Rafael.
_Piorou. _Disse Piedra.
_Isso é pra me incentivar a ir Rafa? _Perguntou João.
_Espero que não. _Disse Piedra.
_É sim, quanto pior melhor. _Disse Rafael sorridente.
_A gente não vai. _Disse Piedra.
_Minha irmã está lá sozinha. _Disse João se levantando.
_Sozinha não, com a Louise. _Disse Piedra se levantando.
_Piorou. _Disse João.
_Viu? Quanto pior, melhor. _Disse Rafael se levantando. _Eu dirijo!

Os três entraram correndo no carro e mesmo que Piedra se recusasse a ir a idéia de João ficar no mesmo carro que Louísa não a agradava, é melhor que tudo fosse supervisionado. Rafael estava adorando, quanto menos programado fosse melhor seria. João se preocupava com a irmã cada vez mais, não havia parado para pensar que ela estava na casa de um traficante. Vocês não entenderam. Um TRAFICANTE!
O nome pode assustar esses nobres corpinhos que o mais perto que chegaram de um real traficante foi abraçando um DVD do filme Cidade de Deus. André seguia o estilo Johnny, sabe aquele Johnny que não é Johnny? Esse mesmo. Um filhinho de papai que vendia droga só pros mais chegados, tudo muito discreto sem arma, sem nada, era só pra bancar suas festinhas como essa que estava acontecendo no moinho.
Moinho era o nome do condomínio de luxo onde João, Rafael, Piedra, Patrícia e Louísa moravam. O mais bonito e o mais custoso da cidade de Rosa Velha, que fazia divisa com a capital do estado, Porto Alegre. Rosa Velha lembrava Europa em qualquer detalhe: No clima, na arquitetura, na comida, nas pessoas, na moda. Ainda estava em desenvolvimento mais atraia a atenção de outras regiões por seu alto teor cultural. Ornada por muitos teatros, cinemas, museus, bibliotecas, casas de shows e espetáculos, Rosa Velha era o lugar perfeito para se viver bem. Todo o clima nórdico perdia sua magia quando se chegava ao condomínio Moinho que lembrava muito o estilo americano, casas sem muro e torneadas por madeira. O condomínio recebeu o nome graças a uma velha praça onde continha um moinho velho que foi reformado logo depois da construção das moradias ao seu redor. Como centro do condomínio a praça do moinho era o point jovem da elite do Rio Grande do Sul com alguns bares e uma boate que faziam a noite fria do sul ferver.
O endereço de André, “o traficante”, ficava ao norte do condomínio, numa das regiões menos visitadas, pois lá não havia muitas casas, predominava os lotes vagos sem proprietários.
Ao chegarem à porta do casarão que era o lugar da festa do André, os três desceram do carro e seguiram direto para dentro, onde surpreendentemente não havia ninguém barrando a entrada. Mal entraram e já perceberam que o lugar havia se tornado um antro das perdições, muito sexo, drogas e música eletrônica e suas demais variantes Psy, trance e outras derivadas. Imaginem o que seria o céu para Amy Winehouse, depois que imaginarem vocês terão em mente o que era aquele lugar.
_João vamos voltar pro carro agora. _Disse Piedra.
_Nem pensar, eu tenho que achar minha irmã. _Disse João.
_Boa sorte, ela deve estar por ai jogada no meio desse tanto de gente. _Disse Piedra.
_Talvez eles cremaram ela só pra cheirar as cinzas. _Disse Rafael que estava adorando tudo aquilo. _Diz que é maior barato.
_O quê, cheirar a minha irmã? _Perguntou João no meio da barulhada que fazia a música e os gemidos.
_Não. Cheirar só. Pó mesmo. _Disse Rafael.
_Tu não precisa Rafa, já nasceu drogado. _Disse Piedra.
_Vamos achar ela logo e sair fora daqui. _Disse João.
_Por favor. _Disse Piedra. _Aqui está fedendo a sexo.
_A gente já está ouvindo, sentindo o cheiro, agora só falta fazer não é. _Disse Rafael adorando ver aquele tanto de gente pelada.
_Credo guri, para de pensar nisso, tá precisando arrumar uma namorada urgente. _Disse Piedra.
_Para de conversar vocês dois e me ajudem a procurar a Patrícia. _Disse João, que agora definitivamente não estava mais gostando da situação.
_Ali tem gente em pé olha, naquela sala. _Disse Piedra.
_Vamos lá então. _Disse Rafael indo em direção a sala misteriosa.
Ao chegarem a porta da sala perceberam que o som ensurdecedor vinha de lá. Ali várias pessoas ainda, mesmo que aparentemente, sóbrias e conscientes dançavam sem parar.
_Eu vi a Pati. _Disse Rafael.
_Onde? _Perguntou Piedra mas João não ouviu.
Ele então avistou Louísa e correu até ela para perguntar sobre sua irmã.
_João aonde você vai? A Pati tá ali. _Disse Piedra.
_Vem Piedra vamos chamar a Pati logo e ir embora tá começando a me irritar esse monte de gente doidona. _Disse Rafael pegando a mão de Piedra e a arrastando pra perto de Patrícia.
João não percebeu que os dois se afastaram e continuou seguindo em direção oposta. Ao se aproximar de Louísa ela se aproximou do ouvido dela e gritou:
_Tu viu minha irmã?
_O quê? Eu não tô te ouvindo. _Disse Louísa.
_Você viu a Pati? _Disse João.
_Eu tenho 18 e tu? _Disse Louísa enganada.
_Hã? _Perguntou João.
_O que foi que tu disse? _Perguntou Louísa.
_Nada, Louísa sou eu João. _Disse João, segurando o braço da menina.
_Nossa. _Disse Louísa.
_O que foi? _Perguntou João.
_Eu to doidaça. _Disse Louísa. _Tô vendo meu ex-namorado no lugar de voe.
_Louísa sou eu, cadê a Patrícia? _Repetiu João segurando o braço de Louísa.
_Me solta tu tá me machucando. _Disse Louísa.
_Louísa fala cadê ela, a gente precisa ir embora daqui agora. _Disse João puxando Louísa pelo braço.
_Me solta, eu nem sei seu nome, me solta. _Disse Louísa.
_Hei pode soltar o braço da moça. _Disse André se aproximando rapidamente. _Não tá ouvindo a guria pedir não?
_Isso não é da sua conta. _Disse João ainda segurando o braço de Louísa e a puxando até a porta quando percebeu que Piedra e Rafael já não estavam por perto.
_Agora eu tô conhecendo você. _Disse André enfim de perto, cerrando os olhos para enxergar João na escuridão do ambiente. _Você é aquele mane que estudava lá no colégio, não é?
_Sou e daí? _Disse João puxando o braço de Louísa. _Vamos Louísa de uma vez.
_Eu repeti o ano por tua causa sabia? _Disse André levantando o pulso e batendo na palma da outra mão. _Não passou cola pra mim na prova, olha aí tô estudando até hoje.
_Problema é teu. _Disse João. _Agora me dá licença que eu estou resolvendo um assunto de família aqui.
_Me SOLTA! _Gritou Louísa.
Alguns que ainda tinham consciência do que estava acontecendo ao redor se viraram para Louísa e João e uma dessas pessoas era Piedra. A pobre encarou a cena e foi remetida a uma parecida cena há poucas horas antes.
_Então conversa com o papai aqui. _Disse André ao dar um soco em João.
E antes mesmo que ele pudesse responder, só viu a mão vindo em sua direção e segundos depois tudo estava escuro.

Ao abrir os olhos João sentiu o rosto arder como uma ferida aberta e percebeu pelo calor que escorria pelo seu rosto que ele provavelmente estava sangrando. Rafael e Piedra o carregavam até a saída do casarão, logo atrás Patrícia trazia amparada nos ombros a sua amiga Louísa. Ao chegarem na rua todos pararam diante do carro. Espantados, cocados, assustados. O carro estava detonado. Ele estava totalmente pichado e de vidro só sobravam os caquinhos espalhados pelo asfalto. Não tinha mais lanterna, nem step, nem retrovisor. Tudo quebrado. Com letras garrafais cores de laranja na lateral do carro estavam estampadas as palavras A TURMA DO BALÃO MÁGICO. Rafael olhou para Piedra por cima da cabeça de João que ainda cambaleava depois da pancada que levou e ela respondeu:
_Tá esperando o quê ô... Jairzinho? Vamos logo se não pode ficar pior. _Disse Piedra.
Os cinco entraram no carro e voltaram correndo para pacata e calma rua em que moravam. Depois de uma viagem curta e silenciosa, onde pode se dizer que aconteceu o momento mais constrangedor de todos entre cinco pessoas, todos ali tinham motivos para alimentar o climão. A rua solitária, preta e branca voltou a se encher de vida e cor pra começar pelo carro do Rafael. Todos desceram do carro e é lógico João e Louísa precisaram de ajuda. Ficaram os cinco ali admirando o céu estrelado, todos deitados no jardim de Rafael olhando atentamente o lindo azul escuro cravejado de branco como se algo mais pudesse acontecer. Um momento de calma que sucedeu a tempestade eletrizante daquela noite.
Mais ainda faltava cair um raio da tempestade.
Exatamente 5 minutos depois de ficarem ali repousados sobre a grama do jardim a calma da rua estava chegando ao fim. Se aproximava um carro. Rafael e Piedra, os únicos ainda inteiros da turma levantaram a cabeça para se certificarem do que era, ou de quem era o carro que se aproximava. Um Fusion preto parou diante da única casa da rua que ainda estava à venda. De dentro do veículo saíram duas mulheres e um menino, a mais jovem delas seguiu até a placa de vende se na frente do imóvel e a arrancou do chão com auxilio do garoto.
_Quem são esses aí? _Perguntou Rafael.
_Eu não conheço todos, mas uma ali não me é estranha. _Disse Piedra.
_Quem é? _Perguntou Rafael.
_É a mais nova, eu lembro do rosto dela, eu já vi em algum lugar, em alguma revista. _Disse Piedra se pondo a pensar.
_Vão mudar os três pra cá será? _Perguntou Rafael.
_Ah lembrei. _Disse Piedra.
_Quem é? _Perguntou Rafael.
_É aquela tal de Anne Marrie. _Disse Piedra.

Pacata e calma? Acho que é um título que essa rua pode abandonar a partir de agora.

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