domingo, 3 de agosto de 2008

Capítulo 14: ... Olivier e Anne Marrie

Olivier entrou pela porta da sala apressado:

_Mãe a tia já foi? _Perguntou Olivier com uma voz de desespero.

_Não filho! Calma. _Disse Alice no seu habitual tom sereno.

_Onde ela está? _Perguntou Olivier largando a mochila em cima do sofá e indo em direção a escada que levava ao segundo andar.

_Ela está lá em cima. _Disse Alice ao se inclinar do sofá para olhar o filho subir as escadas correndo. _Calma Olivier, o que foi?

_Nada mãe. _Disse Olivier a passos largos até o quarto da tia.

Ao abrir a porta Olivier viu a tia sentada na cama com o notebook no colo.

_Oi Oli! _Cumprimentou Anne, sorridente como sempre.

_Oi tia. _Disse Olivier ofegante.

Olivier ficou parado da porta, olhando a tia distraída com o computador. Até que Anne percebeu realmente a presença do sobrinho.

_Ah, Olivier você está ai ainda? _Disse Anne. _Posso te ajudar?

Olivier continuou calado e dos olhos surgiu um leve brilho. Anne já jogou o computador de lado e chamou o sobrinho com as mãos o convidando para se sentar ao seu lado. O menino fechou a porta ao passar por ela e se juntou ao lado da tia na cama e sem que pudesse controlar a abraçou. O ato inesperado de Olivier assustou Anne, ela não sabia o que estava acontecendo e sentiu os ganidos de choro do garoto no peito.

_Olivier, você está chorando? _Perguntou Anne, preocupada.

Mas ele continuou abraçado a ela sem dizer uma palavra, só chorava e parecia ter vergonha disso, pois lutava contra si mesmo para que a próxima lágrima não rolasse.

_Olivier, meu bem. O que foi? _Perguntava Anne, enquanto tentava levantar o rosto de Olivier para enfim matar sua curiosidade de saber o que estava acontecendo.

Mas Olivier não queria sair dali, queria ficar grudado ali pra sempre, estava desabafando e Anne entendeu isso. Acariciando o cabelo do menino ela encostou sua cabeça na dele e o apertava como se quisesse dizer que ela estava ali para ajudá-lo.

_Chora! _Disse Anne.

Os dois ficaram durante alguns minutos abraçados até que Alice irrompeu pelo quarto:

_Olivier, o que foi fil... _Começou Alice preocupada, mas interrompeu a cena quando viu a cena.

Correu até a cama:

_O que foi filho? _Disse Alice chorosa ao perceber que o filho estava chorando.

Anne a lançou um olhar piedoso. Alice apesar de entendê-lo se recusava a sair.

_O que foi Olivier? Conta pra mamãe, heim? _Disse Alice que não agüentava ouvir o filho chorar sem saber do que se tratava, se sentia impotente. _Fala filho pra mim, o que aconteceu?

_Lice, espera um pouco. _Disse Anne também chorosa diante da emoção de Olivier.

As duas ficaram ali esperando Olivier chorar o bastante até ele se sentir a vontade pra falar. Marceline passou pelo corredor serelepe com a boneca nos braços e parou diante da porta do quarto quando percebeu algo de diferente acontecendo.

_O que está acontecendo aqui? _Disse Marceline ao entrar pelo quarto. _Você está chorando Olivier?

_Marceline saia daqui agora, anda, vá brincar lá no seu quarto. _Disse Alice rispidamente.

_Leve ela daqui Alice! _Ordenou Anne antes que Marceline falasse mais ou pudesse interferir na tentativa nas duas de acalmar Olivier que continuava a chorar.

Alice obedeceu a irmã, e saiu do quarto com Marceline contra sua vontade.

_Conversa com ele Anne e qualquer coisa você me chama eu vou estar no meu quarto. _Disse Alice antes de fechar a porta.

_Mãe o que ele tem? Ele caiu? Alguém bateu nele? O que foi? _Disse Marcelina num tom alto que dava pra se ouvir de dentro do quarto.

Anne ficou ali sem saber o que fazer, se calou diante da situação por que não sabia o que dizer além de perguntar o que havia acontecido e para evitar mais constrangimentos decidiu deixar Olivier tomar a iniciativa. Mas isso demorou um pouco, os dois ficaram ali por mais uns dois minutos até que calmamente Olivier levantou a cabeça secando as lágrimas com as mãos na tentativa de esconder da tia que havia chorado como se isso não estivesse evidente demais para se deixar de notar.

_O que aconteceu meu bem? _Perguntou Anne receosa que Olivier começasse outra crise de choro.

_Não vai embora tia. _Pediu Olivier soluçando.

_É por isso que você está chorando Olivier? _Disse Anne espantada.

_Não. _Disse Olivier.

_O que aconteceu? _Perguntou Anne novamente. _Foi algo na escola? Alguém fez alguma coisa com você?

_Não, não é isso tia. _Disse Olivier encarando as mãos molhadas.

_Então qual é o problema Olivier? _Perguntou Anne já angustiada.

_O problema sou eu. _Disse Olivier olhando para Anne enquanto mais uma lágrima rolava no seu rosto. _Eu tia!

Anne se assustou.

_Você meu bem, porquê, o que está acontecendo? _Disse Anne.

Olivier parecia que ia cair no choro novamente mas se segurou fechou os olhos e disse:

_Porque sou diferente tia, não adianta lutar contra isso, eu não consigo mais. Não consigo deixar de ser eu. _Olivier tremia a voz ao falar. _Chega de tentar me enganar, eu não sou um monstro, não pedi pra nascer assim, não devia ser uma vergonha, mais é.

Anne não entendia exatamente o que Olivier estava querendo dizer com aquilo tudo, mas torcia para não ser o que ela desconfiava se tratar.

_Olivier, mas aconteceu alguma coisa. Porque o problema é você meu bem? _Perguntou Anne na esperança que Olivier fosse mais claro.

_Porque eu tentei me enganar tia, eu não fui eu entendeu? Eu sempre me passei por outra pessoa sendo que a todo tempo, eu tinha que buscar meu espaço. _Disse Olivier. _Nesse mundo existem tantas coisas erradas, existem guerras, mortes, violência e não entendo como o amor pode ser o grande monstro da história. Quando na verdade deveria ser a essa palavra, a essas quatro letras juntas, que todos nós devíamos nos munir para vencer os horrores da humanidade.

Anne já sabia do que se tratavam as palavras de Olivier e entendia mais ainda quando ele mencionava o amor. Amor que servia de combustível pra ela, e que de alguma forma complicou tanto sua vida.

_Se tudo fosse mais simples, se todos não usassem essa ética falsa para encararem o mundo e vissem o que realmente importa. No simples valor da coisa, sem credo, cor essa dura palavra preconceito seria inexistente no nosso vocabulário. _Disse Olivier. _Ela está em toda parte, é considerada feia, abominável, mas não incomoda ninguém na hora que se revela. Eu sofro por causa dela tia. E eu não culpo ninguém por isso não, por que até agora ela foi tão soberana em mim que eu deixava de acreditar em mim, tentava me enganar pra quê? Para nada, eu sou tão infeliz.

Anne sabia que era uma situação delicada, e escolhendo as palavras certas disse:

_Você é gay?

Não me pareceu muito adequadas essas palavras não é Anne? Que dirá certas.

Olivier olhou para tia e assentiu com a cabeça.

Anne sorriu, apesar de ser o pior momento para fazer isso:

_Olivier tudo bem. _Começou Anne. _Acho que todos já sabiam disso.

_Eu sei que sabiam. _Disse Olivier.

_Isso não é problema algum, ao contrário acho que você abrindo o jogo agora, vai poder viver de verdade, eu posso te assegurar que não a nada melhor que sentir amor por alguém. Você não pode fugir disso. _Disse Anne.

_Ah, obrigado tia. É disso que eu estou tentando falar. Cansei de mentir pra mim. _Disse Olivier. _Eu sei que não é normal, mas não é uma escolha minha tia eu juro.

_Tudo bem Olivier. _Disse Anne. _Eu também não escolhi a quem deveria amar, e amar não é errado, seja quem for. O sexo é o que menos importa.

Olivier ainda estava cabisbaixo.

_Hei, levanta essa cabeça, nada vai poder te mudar, ninguém vai poder te culpar de nada, eu não vou deixar. _Disse Anne sorrindo.

_Mas você vai embora tia, para o sul.

_Mas Olivier eu não vou perder o contato, eu vou ligar pra você todos os dias. _Disse Anne.

_Eu só tenho você tia, você é minha única amiga, você me entende. _Disse Olivier. _Se você for embora... se você for, eu vou ficar sozinho.

_Não, claro que não. _Disse Anne segurando a mão do garoto. _Você tem sua mãe, seu pai, sua irmã e seus amigos.

_Que amigos tia, eu já te disse eu não tenho amigos, todos me odeiam. _Disse Olivier.

_Nada disso, é você que não gosta de ninguém, já vi várias pessoas virem aqui te chamar. _Disse Anne.

_Atrás de mim é que não foi, eu ganho um dinheiro lá na escola fazendo trabalho para os outros. _Disse Olivier. _É por isso que eles vêem aqui.

Anne sorriu.

_Mas você vai ficar bem. Vamos dizer que você está livre agora. _Disse Anne.

_Livre de quê? Eu não vou contar para os meus pais. _Disse Olivier.

_O quê? Por quê? _Perguntou Anne.

_Eles não iriam entender. _Disse Olivier.

_Mas Olivier, é pra eles mesmo que você tem que contar. _Disse Anne. _Eu não vou estar aqui pra te ouvir, nem nada assim. Você precisa de alguém do seu lado pra te ajudar a enfrentar essa barra.

_Por isso tia, não vai. _Pediu Olivier.

_Eu não posso ficar, eu estou indo atrás do meu filho lembra. _Disse Anne. _Eu estou lutando pelo amor também, pelo meu direito de amar.

_Mas o que a polícia disse sobre a identidade é verdade? _Perguntou Olivier.

_Não sei, mas eu não tenho nada a perder mesmo. _Disse Anne. _Eles deram certeza de que o cara que seqüestrou meu bebê está preso lá no sul.

_Mas tia, pode ser mentira. _Disse Olivier preocupado e também usando isso como pretexto para que ela ficasse. _Acho que você deveria ficar mais um pouco antes de ir.

_Espertinho! _Anne Marrie sorriu. _Está tudo bem, a polícia me mostrou até registros dele lá.

_Então deixa com a polícia tia, deixa ela investigar sozinha. _Pediu Olivier.

_Não Olivier, meu filho pode estar lá também. A polícia cuida do seqüestrador e ai, duvido que eles descubram onde meu filho está. _Disse Anne.

_Mas o que você vai fazer lá, falar com o bandido e depois? _Disse Olivier.

_Depois eu vou atrás do meu filho. _Disse Anne.

_Mas a polícia também. _Disse Olivier.

_É, mas a polícia precisa de mandado pra tudo e eu não. _Disse Anne.

_Então eu vou ficar aqui sozinho mesmo não é? _Disse Olivier.

_Não você vai contar para seus pais! _Ordenou Anne.

_Não tia, não vou. _Disse Olivier.

_Porque você quis contar só pra mim? Porque não pra todo mundo de uma vez, cadê aquele discurso de poucos minutos atrás de amor e tal? _Perguntou Anne.

_Não acho que ninguém iria se chocar com essa revelação, mas agora, aqui, sei lá não sei se adiantaria muita coisa. _Disse Olivier. _A idéia de falar com você e com todo mundo era mudar algo, alguma coisa dentro de mim mesmo, descobrir como é ser livre. Sei lá, essas doideiras que dá nas nossas cabeças de vez em quando.

Doideira? Está falando com a pessoa certa Olivier.

_Mas porque falar agora Olivier, porque neste momento? _Perguntou Anne.

_Porque você está indo embora, eu pensei que quando eu contasse isso você não iria mais. _Disse Olivier. _Mas eu to vendo que não adiantou muito.

_Você não inventou essa história toda só pra eu ficar aqui não né Olivier? _Perguntou Anne mesmo sabendo que isso não era possível.

_Não tia, eu não mentiria sobre isso. _Disse Olivier. _isso é muito serio pra mim.

_Oli, eu não estou te entendendo, o porquê do choro, disso tudo? Tá bem, que você queria que eu ficasse, mas foi só por isso que você me contou? _Disse Anne.

_O choro foi por outro motivo tia, mas não foi só pra você ficar não. _Disse Olivier. _Sei lá, eu estou passando por uma fase de decisão sabe? Está tudo mudando aos poucos, a responsabilidade agora já está quase que obrigatória, e eu estou me sentindo sobrecarregado. Pensando em relação a minha carreira, o fim do colégio, e essa outra questão aí. Eu estou pensando muito, muito, tipo: Queimando os neurônios mesmo. Quase nem estou dormindo a noite, pensando nisso tudo meu jeito de esquecer um pouco de sonhar com muita coisa boa, é pintar. Seu quadro? Eu já terminei ontem.

_Sério? Mas Olivier você foi muito rápido. _Disse Anne. _Mas ficou bonito?

_Ficou bonito igual a você. _Disse Olivier.

_Pára! _Disse Anne sorrindo. _Aí tá vendo? Bom que eu já levo ele comigo lá pro sul.

_Tia, não vai. _Disse Olivier. _Fica aqui, me ajuda.

_Ajudar no quê meu bem? Você não fala no que é. _Disse Anne.

_Olha se você ficar eu prometo que conto com meus pais, mas eu preciso de ajuda. _Disse Olivier

_Não Olivier, você tem que decidir as coisas por você mesmo, não por minha causa. _Disse Anne Marrie.

_Mas é por mim mesmo, se você ficar vai ser bom pra mim. Ainda mais agora que você já sabe. _Disse Olivier.

_Você entendeu o que eu quis dizer, não dá uma de espertinho pra mim não. _Disse Anne.

_O que eu vou fazer? _Perguntou Olivier.

_Não sei, meu bem. _Disse Anne. _Você não quer contar para os seus pais, não quer se assumir pra todo mundo, o negócio é continuar igual está, fingindo.

_Mas é isso que eu não quero mais tia. Não está cabendo dentro de mim sabe? _Disse Olivier.

_Sei, mas não sei. Se isso te perturba tanto, porque não falar a verdade? _Perguntou Anne.

_Bem vinda ao meu confuso mundo. _Disse Olivier. _Não é tão simples quanto parece ainda mais pra mim que penso mil vezes antes de contar algo. Queria ser igual a você tia, fazer o que me desse na telha e pronto. Sem dar satisfação saca?

_Entendo. _Disse Anne. _Mas eu também não posso ficar te cobrando uma coisa que nem de longe imagino como deve ser.

_Pense assim, se você amasse o Humberto e isso fosse segredo estadual, o que de fato era pro vovô, mas seria julgada, condenada por toda a humanidade como uma avessa, um ser errôneo, não natural.

_Mas você está amando um homem? _Perguntou Anne curiosa.

_Não! _Disse Olivier rapidamente. _Graças a Deus não. Isso iria duplicar meus problemas.

_Mas você nunca experimentou... Assim... Com um homem não? _Perguntou Anne.

_Não tia. _Disse Olivier sorrindo. _Nunca tive coragem, a galera lá no colégio já me enche o saco, me zoam e tudo imagina se eu tentasse dar em cima de um menino?

_Ai Olivier, mas você nunca teve curiosidade? _Perguntou Anne.

_Não. Acho que deve ser normal, digo, não muito diferente de beijar uma garota. _Disse Olivier. _É tudo boca não é? Então.

_Nada disso, deve ser bem diferente. _Disse Anne.

_Você diz isso por que não gosta de mulher né tia, mas comigo eu encaro de boa. _Disse Olivier.

_Olha Oli, eu ainda acho que você deve contar pelo menos pra sua mãe, seu pai vai ser um pouco difícil de entender, mas também acho que não vai te expulsar, nem brigar não. _Disse Anne. _Todo mundo já sabe, meu bem.

_É verdade. _Disse Olivier. _Eu sei que meu pai e minha mãe sabem, mas seria tão mais fácil se eles chegassem perto e perguntassem sabe, conversassem comigo sobre esse assunto.

_Mas é tão difícil pra eles quanto pra você. Não espere isso deles. _Disse Anne.

_Eu queria sumir assim, sabe? _Disse Olivier. _Ai sei lá, morar sozinho sem ter que dar satisfação pra pai e mãe.

_Até parece Oli que você é rebelde assim, avisa sua mãe até quando vai ao banheiro. _Disse Anne.

Os dois riram.

_Mas não é disso que eu to falando. _Disse Olivier. _Eu to falando assim, eu tendo minha própria vida, eu posso sei lá... Entendeu?

_Não. _Anne sorriu.

Os dois riram.

_Não é sério. _Disse Olivier ainda rindo. _Seria mais fácil, ai sei lá, se um dia eu viesse a namorar e meus pais soubessem tudo bem, entende?

_Entendi. _Disse Anne sorridente. _Você não teria obrigação de contar, não é?

_Isso. _Disse Olivier.

Anne via em Olivier mais do que um sobrinho, ele era de longe um dos seus melhores ouvintes, nem Juliana entendia ela tão bem. Um amigo, um bom amigo, que via nela também uma grande amiga. Anne tinha seus compromissos, a chance de encontrar seu filho era certa, mas ela reconhecia que Olivier precisava dela. Que tipo de amiga abandonaria seu melhor amigo dessa maneira. Então ela teve mais uma de suas loucas idéias, não absurda para ela, mas tem gente que não vai gostar dessa história.

_Oli, eu estava pensando aqui com meus botões. _Começou Anne.

_Credo tia há quanto tempo que u não ouvia essa expressão. _Riu Olivier.

Os dois riram.

_Eu fiquei presa por vinte anos. _Disse Anne. _Eu falo igual eu falava quando eu entrei na cadeia, na moda dos anos 80. Você não viu que nem as roupas eu mudei.

_Eu vi. Sorte sua que a moda de hoje bebe muito dos anos 70 e 80 senão você estava ferrada. _Disse Olivier.

_Ah, eu não gostei dessas roupinhas que essas menininhas usam hoje, é tudo tão vulgar. Prefiro usar as minhas mesmo. _Disse Anne.

_Mas eu vi você chegando com roupa nova esses dias. _Disse Olivier.

_É, mas eu compro tudo que mais parecer com os anos 80, dei graças a Deus quando vi uma calça de cintura alta outro dia. _Disse Anne sorrindo.

_Mas fala ai qual é a sua idéia. _Pediu Olivier.

_Ah é. _Começou Anne. _Eu estava pensando em uma coisa aqui pra te ajudar, porque eu não quero te deixar aqui sozinho numa situação dessas. Mas a gente vai ter que conversar com os seus pais.

_Tá bem, fala! _Ordenou Olivier curioso.

_Olha, e se você fosse comigo para o sul? _Disse Anne.

Olivier sorriu e em seguida abraçou a tia novamente.

_Não precisa nem falar sua resposta. _Disse Anne sorrindo enquanto Olivier voltava a chorar.

_Tia essa idéia é boa, mas como eu vou? _Perguntou o animado Olivier.

_É, você ainda está estudando não é? _Disse Anne em seguida Olivier concordou com a cabeça. _Isso a gente conversa com seus pais.

_Está bem! _Disse Olivier feliz com a proposta. _Vai ser muito bom se der certo, eu ir morar com você seria perfeito.

_Eu até estava olhando aqui na internet uns cursos e algumas coisas por lá, como casa e escola e tal. _Disse Anne. _Eu não quero mais ficar parada sabe? Quero ter uma profissão, quero trabalhar como todo mundo se não eu vou acabar gastando meu dinheiro todo sem ver.

_Entendi. _Concordou Olivier.

_Aí, eu estava procurando uns cursos por lá, queria fazer alguma coisa que estivesse relacionado com moda, cultura pop, arte num geral. Achei várias escolas de arte por lá, inclusive uma escola de artes que tem ensino médio e você já sai de lá direto pra faculdade. _Disse Anne. _Mas como eu já sou formada essa não ia dar muito certo pra mim, mas já que você vai comigo podia estudar lá.

_Mas eu já estou no primeiro ano tia. _Disse Olivier.

_Ah, sei lá. Vem comigo agora pra lá e começa o primeiro ano de novo lá. _Disse Anne.

_Mas vou perder esse ano tia, já tá quase acabando. _Disse Olivier.

_É ruim eu sei, mas começar desde o primeiro ano estudando arte deve ser diferente de você esperar o ano que vem para começar no segundo, sem ter nenhuma noção do que seus colegas aprenderam no ano anterior. _Disse Anne.

_É verdade tia, vendo desse ponto você tem razão. _Disse Olivier. _Mas eu tenho mamãe e papai, esqueceu?

_Não, pior que não. _Disse Anne. _Pais existem só pra isso, para atrapalhar.

_Mas isso não é um problema para Anne Marrie. _Disse Olivier.

Os dois riram.

O resto do dia foi tranqüilo, questionada por Alice sobre o assunto que rolou no quarto, Anne inventou uma história qualquer, que Olivier estava com problemas na escola. Tudo pensado, já que isso foi à desculpa para Anne pedir a irmã e ao cunhado que o sobrinho fosse morar com ela no sul.

Luís chegou em casa e encontrou Anne, Olivier e Alice sentados no sofá a sua espera.

_O quê isso gente? _Perguntou Luís. _Comitiva me esperando, o que é que é? Reunião de família?

_É. Mais ou menos. _Disse Anne ao lado de Olivier.

_Cadê a Marceline? _Perguntou Luís, colocando o casaco em cima do cabide e entregando a pasta a Alice.

_Eu coloquei ela pra dormir já, as amiguinhas dela estão lá em cima. _Disse Alice pegando a pasta e levando até o escritório.

_Vamos lá. O que vocês querem falar comigo? _Perguntou Luís.

Anne olhou para Olivier que retribuiu o olhar como se quisesse dizer: “Fala você.” Mas Anne apertou a mão do garoto para dar força a ele, e então ele assentiu se ajeitou e disse:

_Pai, eu quero ir morar com a tia Anne lá no sul. _Disse Olivier.

_O quê? _Perguntou Luís assustado, torcendo para que tivesse ouvido errado.

Alice voltou rapidamente quando ouviu o marido.

Lá estavam Luís, Alice, Olivier e Anne Marrie.
Eu estou vendo uma nuvem negra se aproximando da casa da família Vasconcelos. Peguem seus guarda-chuvas e vistam suas capas, porque a tempestade vai começar.

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