domingo, 24 de agosto de 2008

Capítulo 17: E o primeiro dia de uma nova vida para Anne Marrie

_Querida cheguei! _Disse Luís quando entrou em casa.
_Oi Luís da Silva Sauro. _Disse Alice o recebendo com um beijo.
_Onde estão as crianças? _Perguntou Luís.
_A Marceline está lá em cima. _Disse Alice.
Luís parou por um momento e depois voltou a colocar sua coisa em cima da mesinha ao lado da porta.
_É que às vezes eu esqueço. _Disse Luís.
_É? Eu não. _Disse Alice.
_O jantar já está pronto senhora. _Disse Luzia do corredor ao lado da escada.
_Já estamos indo Luzia, obrigada. _Disse Alice.
Alice foi até o pé da escada:
_Marceline a janta está na mesa meu amor.
_Mãe pára de gritar a minha cam está ligada. _Disse Marceline do andar de cima.
_Cam? _Repetiu Alice sem entender.
_Webcam querida. _Disse Luís ao se sentar no sofá.
_Webcam? Meu Deus o que aconteceu com as Barbies? _Disse Alice se dirigindo até a cozinha.
_Alice, venha cá um instante. _Pediu Luís.
_Sim. _Disse Alice antes de se juntar ao marido no sofá.
_A gente precisa conversar. _Disse Luís.
_Na mesa de jantar amor, vamos se não vai esfriar. _Disse Alice ao se levantar.
_Espera. _Disse Luís segurando o braço dela. _É sobre Olivier.
_O quê é? _Disse Alice.
_Estou pensando em ir buscar ele de volta. _Disse Luís.
_Vamos pro escritório, a Marceline não pode escutar essa conversa. _Disse Alice séria.
Os dois seguiram calados até o escritório.
_Isso está fora de cogitação. _Disse Alice.
_Por quê? _Perguntou Luís.
_Porque ele decidiu ir. _Disse Alice.
_Ele só tem 15 anos. _Disse Luís.
_Eu sei, mas a gente concordou em deixá-lo ir. Não seria justo com ele agora. _Disse Alice.
_Não tem nada de errado Alice, nós somos os pais dele e temos direito de errar. _Disse Luís.
_Não está certo. _Disse Alice.
_Ele é novo demais pra viver sozinho. _Disse Luís.
_Ele não está sozinho. _Disse Alice.
_Sua irmã é louca. _Disse Luís.
Alice o lançou um olhar de reprovação.
_Desculpa, não quis dizer isso. _Disse Luis. _Só quero dizer, ela não consegue nem tomar conta dela mesma.
_Você acha que eu não estou preocupada? Você acha que eu consigo encostar a cabeça no travesseiro e dormir em paz? _Disse Alice chorosa.
_Não e nem eu. _Disse Luís.
_Eu passei a vida toda cuidando da Anne, o mais longe que ela ficou de mim foi na prisão e eu só conseguia dormir tranqüila porque sabia que lá não tinha homens. _Disse Alice ainda mais emocionada. _O Olivier nunca viajou sem a gente.
_E agora vai morar no sul. _Disse Luís. _Com a tia assassina.
_Já pedi pra não dizer isso. _Pediu Alice rígida.
_Tudo bem, desculpe. _Disse Luís.
_Você acha que ele vai concordar em voltar? _Perguntou Alice.
_Ele não tem que querer, não tem idade pra decidir nada na vida dele. _Disse Luís. _É por isso que nós somos os pais e ele o filho.
_Eu sei, você diz isso sempre. _Disse Alice. _Mas agora é diferente.
_Diferente por quê? _Perguntou Luís.
_Porque ele não está pedindo permissão pra ir ao cinema, tudo se trata dele, de quem ele é. _Disse Alice.
_Não venha com seu discurso liberal. _Disse Luís. _É o nosso filho tá bom? Nosso filho.
_Por isso a gente tem que entender mais do que ninguém. _Disse Alice. _Acontece nas melhores famílias, e só as melhores conseguem lhe dar com o assunto.
_Que assunto? O fato de ele ser gay? _Perguntou Luís.
_Fala baixo. _Pediu Alice depois de olhar para porta.
_Ele nem tem certeza do que vai vestir. _Disse Luís.
_Nós não estamos falando de uma escolha Luís. _Disse Alice.
_Ah tá você quer me dizer que ele nasceu assim? _Disse Luís. _Quando o médico bateu na bunda dele ele disse: Bate mais gostosão!
_Pare de tirar sarro. _Disse Alice irritada.
_Não estou tirando sarro. _Disse Luís.
_Eu só acho que não tem haver com uma escolha. _Disse Alice. _Você acha que ele desejou ter aquela conversa conosco, ou sofrer preconceito pelo resto da sua vida?
_Ele pode estar se enganando Alice. _Disse Luís.
_Se enganando? _Perguntou Alice. _A gente se engana quando confundi alguém na rua com outra pessoa, não quando estamos falando de nós mesmos.
_Na idade dele é comum se atrair por qualquer coisa, inclusive por um... por um... por um homem. _Disse Luís.
_Você se atraia por homens Luís, com quinze anos? _Perguntou Alice.
_Não, uma vez eu estava n... _Disse Luís. _Mas isso não vem ao caso.
_Não vem porque desde quando você se lembra como homem gostava de mulheres, não é mesmo? _Disse Alice. _Então. Isso deve acontecer com ele também só que ao contrário.
_Mas ele nem parece gay. _Disse Luís.
_Por favor, Luís você sempre soube como eu. _Disse Alice.
_Não. Não soube. _Disse Luís.
_Ele ama o nascer do sol, escuta o ABBA e sua bebida preferida é vitamina de pêra. _Disse Alice.
_Isso não quer dizer que ele seja gay, ele só é sensível. _Disse Luís.
_Porque você está fazendo isso? _Perguntou Alice com a mão na testa.
_Isso o quê? _Perguntou Luís.
_Negando. _Disse Alice.
_Eu não estou negando. _Disse Luís.
_Você está tentando não acreditar nos fatos. _Disse Alice. _O quer dizer negar.
_Ele só está confuso, ele não é gay. _Disse Luís.
_Ele disse que é na sala aqui ao lado, semana passada, você estava lá, você ouviu. _Disse Alice.
_Eu já disse, ele estava confuso. _Disse Luís. _Deve ter acontecido algo na escola pra ele não querer mais voltar lá.
_Foi isso que ele tentou nos dizer pra nós deixarmos ele ir. _Disse Alice.
_Então você também ouviu, isso pode ser verdade. _Disse Luís. _Quando ele falou que era gay, foi no susto, ele estava tentando arrumar uma desculpa boa o bastante pra nos convencer.
_E conseguiu. _Disse Alice.
_Quando eu falei com ele sozinho eu vi nos olhos dele que eram outros motivos, ele mentiu pra nós sobre o motivo de ir embora. _Disse Luís.
_Não. Ele contou a verdade, deve ser duro pra ele enfrentar os colegas no colégio. _Disse Alice.
_Ninguém sabe que ele é. _Afirmou Luís.
_É escola Luís, você já esteve em uma. _Disse Alice. _Eles julgam a pessoa e pronto. Não se importam com mais nada.
_Eu quero dizer, ele não parece ser gay, não está evidente. _Disse Luís. _Júlia, aquela garota que andava com ele, ele namorou com ela não é mesmo? Então.
_Alguns deles constituem família. _Disse Alice.
_Olivier também pode. _Disse Luís. _Ele ainda tem essa opção.
_Não é opção Luís, pára de repetir isso como se não tivesse entendido _Disse Alice. _Você está querendo que ele se esconda pra sempre. Isso pode acabar em suicídio, ou transformando ele em um tarado ou coisa do tipo.
_Não diga isso. _Disse Luís fechando os olhos.
_Você não entendeu ainda não é. _Disse Alice.
_Entendi que se ele continuar vivendo lá no sul sem limites assim, sim ele vai virar gay. _Disse Luís.
_Ele já é um. _Disse Alice emocionada.
_Nada que não possa ser concertado. _Disse Luís esperançoso. _Ele pode vir aqui pra casa, eu posso ajudá-lo com isso. Conhecer algumas garotas novas, entrar sei lá em um time de futebol, eu posso até dar um carro pra ele.
_E mesmo assim você nunca vai deixar de saber que seu filho é uma bicha. _Disse Alice.
_Alice. _Disse Luís.
Ouve uma pausa dramática.
_Isso não vai comprá-lo e nem deveria. _Disse Alice.
_Então o que eu devo fazer? _Perguntou um Luís triste.
_Nada. _Disse Alice. _Nem Você, nem eu, nem ninguém deve fazer nada pra mudar isso. Se você o ama...
_Claro que eu amo. _Disse Luís choroso.
_Eu sei que sim amor, eu sei que sim. _Disse Alice. _Então pra quê essa conversa? Olha pras coisas que você disse. Trazer ele pra cá não vai mudar as coisas, ele vai continuar sendo do jeito que ele é. O nosso bebê ainda vai continuar a ser nosso bebê.
_Eu só estou tentando lhe dar com a situação. _Disse Luís emocionado.
_Eu entendo. _Disse Alice. _Ninguém imagina que isso possa acontecer e quando menos se espera...
_Eles viram gays? _Perguntou Luís.
_Não. _Riu Alice. _Eles vão embora.
_Talvez a gente devesse visitar ele na semana que vem. _Disse Luís.
_Isso só iria piorar as coisa, dê um tempo pra ele. _Disse Alice. _Espera ele ligar e pedir isso.
_Ele não vai fazer isso. _Disse Luís.
_Eu sei, por isso já não me agüento de saudade. _Disse Alice começando a chorar.
_Eu também, mas eles devem ter acabado de chegar lá agora e a gente já está aqui sofrendo como se já tivesse passado um ano. _Disse Luís.
_É que eu não agüento. _Disse Alice. _Eu amo demais.
_É eu sei. _Disse Luís. _Isso é de família.

Enquanto isso em Rosa Velha:
_Como tu sabe que é ela? _Perguntou Rafael curioso. _Eu não sei quem é Anne Marrie.
_Claro que sabe. _Disse Piedra. _É aquela guria que matou o namorado lembra? Há 20 anos atrás. Ela acabou de sair da cadeia e não pára de procurar o filho dela.
Rafael ficou olhando para Piedra.
_O quê foi que tu tá me olhando? _Perguntou Piedra.
_Continua, eu ainda não sei quem é. _Disse Rafael.
_Ela é louca. Tentou matar o namorado duas vezes e da ultima vez não deixou ele escapar, tudo porque ela achou que ele tinha roubado o filho dela. _Começou Piedra. _O filho deles. Dizem que ela é apaixonada por ele até hoje.
_Mas não foi ela que o matou? _Perguntou Rafael.
_Foi. _Disse Piedra.
_Então porque ela fez isso, ela não o amava? _Disse Rafael.
_È por isso que dizem que ela é doida. _Disse Piedra.
Anne Marrie estava ajudando Olivier com as malas enquanto Juliana abria a porta da nova casa da amiga.
_Vamos até lá ajudar. _Pediu Piedra.
_O quê? Não. _Disse Rafael rapidamente.
_Porque não? _Disse Piedra.
_A guria é uma assassina, e se ela não gostar de nós? _Disse Rafael.
_Ela vai gostar da gente, pelo menos de mim né. _Disse Piedra. _E ela não é mais guria, já deve ter quarenta anos.
_O quê? _Se chocou Rafael. _Tu tá brincando não é?
_Não. _Sorriu Piedra.
_Ela parece ser mais nova que a gente. _Disse Rafael diante da beleza de Anne Marrie.
_Que tu não. _Disse Piedra mangando de Rafael.. _Tu parece que tem 12.
_E eu dou 20 pra ti. _Disse Rafael rindo.
_Cala a boca! _Pediu Piedra. _Levanta daí e vamos até lá ajudar.
_Nem-pen-sar. _Disse Rafael pausadamente.
_Deixa de ser medroso. _Disse Piedra. _É só a gente fazer amizade que assim ela não vai querer nos matar.
_Quem te disse? _Disse Rafael. _Pelo o que você falou ela matou o cara por amor.
_Então espero que ela me odeie. _Disse Piedra.
_Nem precisa fazer força pra isso. _Disse Rafael.
_Cala a boca, levanta daí e vamos até lá. _Disse Piedra.
_E a turma aqui? _Perguntou Rafael.
_Eles não vão pra muito longe mesmo. _Disse Piedra ao se levantar.
Os dois seguiram até o carro de Anne calmamente e a cada movimento brusco lhes garanto que os dois sairiam correndo.
_Pára de me empurrar. _Ordenou Piedra.
_Se você parar de tremer. _Riu Rafael.
_Duas coisas: Eu não estou tremendo. E porque eu estou na frente? _Disse Piedra receosa.
_Porque você que teve a idéia então você que morra primeiro. _Disse Rafael. _Como ela fez? Eu digo, como ela o matou? Revólver, faca?
_A canetada. _Disse Piedra.
_Vamos embora. _Disse Rafael agarrando o braço de Piedra.
_Não, agora já estamos perto demais, ela percebeu que a gente estava chegando. _Disse Piedra quando Anne os avistou e abriu um lindo e encantador sorriso.
_Oi. _Cumprimentou Anne quando eles se aproximaram.
_Oi. _Disse Piedra nervosa segurando um forçado sorriso no rosto.
_Olá. _Devolveu Rafael aquela linda menina que de perto era mais bonita que de longe.
_Vocês moram por aqui? _Perguntou Anne.
Anne estava praticando alguns exercícios para se dar melhor com as pessoas. Nunca foi muito sociável e desejava agora manter as aparências de uma pessoa normal, já que pretendia mudar seu estilo de vida. Uma nova vizinhança, sem ninguém para vigiá-la e estamos falando de Alice, praticamente com uma criança para tomar conta que era Olivier e em busca do seu real amor, seu filho perdido, Gérard.
Os dois ficaram extasiados diante da beleza de Anne. Como Deus em sua infinita sabedoria poderia ter cometido um erro tão grande com o resto da humanidade ao criar uma única peça de real beleza chamada Anne Marrie.
Rafael não conseguia dizer uma palavra e a história de assassina já tinha sido apagada de sua memória.
Anne sorriu diante do silencio de ambos então Piedra disparou a falar:
_Quem, nós? Ah sim, é... Eu moro... aqui perto... aqui... é...
_Ela mora naquela casa ali oh. _Apontou Rafael com o dedo a casa ao lado da sua. _E eu naquela ali do lado.
_Bem na frente da minha? Então agora nós somos vizinhos. _Disse Anne Marrie num sorriso estonteante. _Sou Anne Marrie.
Anne ofereceu a mão e Rafael aceitou de imediato empurrando Piedra para o lado.
_O meu é Rafael, Rafael Lacerda. _Disse o menino.
_Cortez. O segundo nome dele é Cortez, não Lacerda. _Sorriu Piedra, feliz em envergonhar Rafael na frente da nova vizinha.
_Mas eu uso Lacerda, Pedrita. _Disse Rafael também feliz por tirar sarro do nome da amiga sem culpa.
Piedra o encarou feio.
_Desculpa tá, é que o guri aqui já passou da hora de dormir. _Disse Piedra feliz novamente. _O meu nome é Piedra Schreisen.
_Encantador. _Disse Anne num tom educado o que a deixava mais perfeita.
_E o segundo nome dela também não é Schreisen, é Amarante. _Disse Rafael sorrindo.
Anne acompanhou o garoto.
_É que minha mãe é da Argentina e lá... _Disse Piedra nervosa. _Deixa pra lá.
_Tudo bem, tudo bem. _Disse Anne sorrindo.
_Alguém aqui falou Argentina? _Disse Olivier se aproximando dos três.
Ele também estava praticando um pouco alguns modos sociáveis.
_Eu falei. _Disse Piedra. _Minha mãe é de lá.
_Que legal. Eu adoro a Argentina. _Disse Olivier sorridente.
_Ela não. _Disse Rafael sorrindo.
_Dá pra calar a boca? _Pediu Piedra.
_Esse aqui é meu sobrinho Olivier. _Disse Anne apresentando o menino.
_Rafael. _Disse o garoto ao apertar a mão de Olivier.
_Piedra. _Disse a garota ao apertar a mão de Olivier.
_Prazer. _Disse Olivier.
_Eles moram aqui na frente Oli, são nossos novos vizinhos. _Disse Anne animada.
_Legal. _Disse Olivier entusiasmado com os possíveis novos amigos.
_Vocês são de onde? _Perguntou Rafael.
_São Paulo. _Respondeu Piedra.
_É, São Paulo. _Disse Anne sorridente.
_Ai desculpa. _Pediu Piedra envergonhada.
_Como você sabia de onde a gente vinha? _Perguntou Olivier.
_O sotaque. _Disse Rafael para salvar a pele da amiga. _Vocês tem o sotaque muito forte.
Todos sorriram, Piedra e Rafael de nervoso, mas isso não deu pra notar.
_Aquela ali é minha melhor amiga, Juliana. _Disse Anne apontando para a amiga que tentava abrir a porta.
Juliana acenou para os garotos.
_Ela mora aqui tem um tempo, me ajudou com a mudança e a compra da casa. _Disse Anne.
_É eu já vi ela por aqui. _Disse Piedra retribuindo o tchauzinho.
_Eu sei ela está tentando comprar essa casa pra mim tem uma semana. _Disse Anne contente. _Ainda bem que ela conseguiu.
_Ainda bem. _Sorriu Rafael.
Os quatro ficaram se encarando e sorrindo até:
_Vocês precisam de ajuda? _Perguntou Rafael.
_Não, obrigada. _Disse Anne.
_É, são só algumas malas, o resto chega amanhã. _Disse Olivier segurando uma mala nas mãos.
_Então a gente se vê amanhã? _Disse Piedra.
_Se vocês precisarem de ajuda a gente pode ficar. _Disse Rafael desejando continuar a encarar a beleza de perto.
_Não! _Beliscou Piedra. _Nós temos que ir agora, nossos amigos estão ali nos esperando.
Anne e Olivier apertaram os olhos para olhar para o outro lado da rua onde três corpos estavam ainda estirados no chão.
_Eles estão bem? _Perguntou Anne.
_Sim, sim, estão ótimos. _Disse Piedra sorridente. _Só precisam dormir.
_Eles moram por aqui também? _Perguntou Olivier.
_Aham, são seus vizinhos também. _Disse Rafael. _Moramos todos na mesma rua.
_Demais. _Disse Olivier.
_Não, na verdade somos bem pouquinhos, agora que vo... _Começou Piedra.
_Ele quis dizer que gostou, achou legal. _Sorriu Anne.
Todos riram exceto Piedra.
_Eu sabia, eu entendi. _Disse Piedra. _Só estava tentando explicar.
_Aham. _Disse Rafael sorridente.
_Agora a gente tem que ir mesmo. _Disse Piedra.
_Tudo bem. _Disseram Anne e Olivier.
Piedra puxou Rafael pela camisa para que eles atravessassem a rua.
_Vem Rafa! _Pediu Piedra enquanto Rafael se recusava a sair dali.
_Está bem já estou indo. _Disse Rafael nervoso. _E sejam bem vindos ao Moinho.
E então abriu um sorriso.
_Vamos Rafa, agora. _Disse Piedra. _Antes que a Pati comece a vomitar.
_Já estou indo. _Repetiu Rafael quando finalmente deu as costas a Anne e Olivier para se juntar a Piedra. _Deixa de ser chata guria, você que queria ir lá agora fica me perturbando. Eles são legais.
Anne e Olivier podiam ouvir os comentários.

Anne acordou no dia seguinte e se lembrou da ultima vez em que teve planos, sonhos. Coisas boas que ela planejou que acontecessem. A vida dela sempre foi cheia de impulsos, guiada pela sua bússola chamada amor que a levou a cometer coisas nunca pensadas por ela. Há mais de 20 anos atrás Marrie estava sentada na calçada em frente ao apartamento de Humberto, que ainda estava infelizmente vivo, e ela planejava ter uma família, um bom marido que a amasse, um filho que uniria mais ainda os dois e uma casa onde ela poderia ser feliz para sempre. Uma hora depois e todos esses planos haviam desaparecido. Depois disso tudo, ela tinha pelo menos uma parte deles, uma casa. Uma casa realmente dela, sem regras, sem horário pra sair e entrar, era dela, um desejo precoce para uma garota que sonhou sempre com a sua liberdade e pela primeira vez a conseguiu. Ela morou com Juliana no castelinho é verdade, mas nada lá era dela. Sua cozinha, sua sala, seu banheiro, seu corredor, sua porta, sua janela, seu lustre, seu sofá, seu abajur, suas panelas, seus talheres, seus tapetes, sua máquina de lavar. Era tudo dela, não só um quarto na casa, mas a casa toda, das paredes até o saleiro da cozinha. Tudo. O sol parecia bater na janela para entrar no quarto, tudo estava meio desorganizado, havia caixas por toda a casa e o cheiro da madeira nova inundava o quarto vindo dos móveis que ainda esperavam para serem montados. Um colchão jogado no meio do quarto sem muito conforto foi onde Anne e Olivier passaram a primeira noite. A primeira noite no moinho. Anne podia sonhar de novo, planejava encontrar o filho e cria-lo junto ao seu querido sobrinho. Mal recordava que o filho dela provavelmente já estava criado, por alguém que ele chamava de mãe ou pai, o que ele tinha como família sem saber ou não que era adotado. Anne imaginava e queria acreditar que o filho dela a sentisse como ela sentia. Esta francesinha nunca foi de ter sexto sentido, em nenhum sentido. Desculpem o trocadilho. Quis dizer de forma alguma, nem como no filme, nem como o Homem-Aranha, nem como uma mulher. Mas ela sentia pela primeira vez o filho perto dela, uma palpitação no peito, um frio na espinha, uma adrenalina inexplicável, um arrepio na nuca que segundo ela eram presságios de um futuro feliz, ela estava perto de encontrar seu filho e eu posso afirmar que sim.
Olivier levantou mais cedo que a tia e se animou em preparar todo o desjejum. Anne sentiu o cheiro de café forte quando abriu a janela ao se levantar. Os cabelos jogados pra trás pareciam um véu quando dançavam com o vento à medida que ele entrava pela sala. O sul não foi exatamente uma escolha para Anne Marrie recomeçar sua vida, mas coincidentemente era um lugar adorado por ela, o mais próximo que ela poderia chegar da Europa, de suas raízes. Mas o que ela esperava ter como vista não era o que ela viu naquela manhã. Roger descia do carro e se dirigia até a casa de Anne. Ela o observou incrédula, imaginando que a única explicação seria que Humberto virou seu fantasma particular ou como poderia alguém estar em exatos momentos cruciais na vida de uma pessoasem que ele fizesse parte dela. Sabem aquela frase em que dizem que a pessoa estava com a faca e o queijo na mão? Pois então, foi Roger que deu a faca para Anne cortar o queijo da vez que era Humberto, o que a fez entrar para a cadeia por exatos 20 anos. Livre finalmente quem ela voltou a encontrar? Roger estava do lado de fora da Penitenciária Feminina Maria da Glória aquele dia, admirando a liberdade da menina que praticamente ele prendeu. Exagerei, mas vocês entenderam. Três momentos digamos que marcantes na vida de Anne, por fim o terceiro. Um momento de liberdade e esperança total, sujeito a mudanças.
Olivier ouviu a campainha da cozinha e correu para atender, quando se surpreendeu com a tia já de pé.
_Pode deixar que eu atendo. _Disse Anne que nem precisava perguntar quem era do outro lado.
A porta se abriu e lá estava ele, um velho Roger não muito diferente de 20 anos atrás exceto pelo cabelo grisalho.
_Posso entrar? _Perguntou Roger.
_É claro que não. _Respondeu Anne. _O que você quer aqui?
_Eu sei que você não vai me ouvir, eu sei que você me odeia como odeia a minha família. Então eu vou ser bem direto. _Disse Roger.
_Eu não odeio sua família. _Disse Anne.
_Tanto faz. _Disse Roger. _Eu estou aqui para te ajudar.
_A ultima vez que eu recebi uma ajuda sua eu fui parar na prisão. _Disse Anne que ainda estava de pijama.
_Você matou meu irmãozinho porque você quis e porque ele merecia. _Disse Roger no seu habitual tom rude. _Vamos esquecer o passado, e falar do futuro.
_Fala logo. _Disse Anne curiosa sobre a ajuda ofertada.
_Vamos lá. _Disse Roger. _Acredite ou não, eu sei onde seu filho está.

Como eu disse, pensei que o dia para encontrar Gérard estava perto, mas não imaginei que tudo fosse acontecer tão rápido. E o primeiro dia de uma nova vida para Anne Marrie começou.

Um comentário:

Renata Kanitz disse...

Qdo vc vai filmar isso?!!!
Bjocas e pena estar longe pra nao poder ver isso tudo acontecer!
Saudades, seu blog ja ta add!